“Ai de vós, ricos!” (Lc 6, 24). “É mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” (Mc 10,25).
Jesus é duro com os ricos? Com a riqueza, sim; pelos ricos, ele tem extrema compaixão. “Extrema”, porque vivem à beira do abismo e correm continuamente o risco de cair dentro dele. Vivem num equívoco, apoiando a vida em algo que não tem consistência e que contém o veneno da morte: “Na prosperidade, o homem não entende, é parecido ao gado gordo que se abate”, diz o Salmo 48, com a linguagem carnuda do Antigo Testamento. Jesus grita contra os ricos para acordá-los da hipnose em que estão mergulhados, para tentar - eis a compaixão extrema – afastá-los do abismo.
Mas também porque a riqueza os torna cegos e não permite que vejam Lázaro à porta. Não que talvez lhe façam algum mal; simplesmente não o percebem, ignoram-no. Não entra na vida deles de ricos. E com isso não percebem que Lázaro vale mais do que os bens, exatamente porque ele não os tem. Ele é uma pessoa, não um manequim oco como eles.
A mentira da riqueza é um perigo para todos, porque possui uma força sedutora: também o pobre pode ser rico, pelo menos em desejo. Trata-se de um vírus contagioso que se alastra e devora as pessoas por dentro, esvaziando-as da própria humanidade. Por isso Jesus proclamou: “Bem-aventurados os pobres em espírito – até nas fibras mais profundas – porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3), aquele reino no qual os ricos não entram. Os pobres são bem-aventurados, isto é, realizados, inteiros, verdadeiros, felizes, sem precisar de outra coisa a não ser a própria humanidade e Deus, sua única confiança.
Jesus disse isso e, sobretudo, viveu isso, radicalmente. Quem sabe por que os cristãos e a Igreja muitas vezes pensam e vivem de maneira diferente?!
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