13 março 2020

Viver em perigo

“Ai de vós, ricos!” (Lc 6, 24). “É mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” (Mc 10,25).
      Jesus é duro com os ricos? Com a riqueza, sim; pelos ricos, ele tem extrema compaixão. “Extrema”, porque vivem à beira do abismo e correm continuamente o risco de cair dentro dele. Vivem num equívoco, apoiando a vida em algo que não tem consistência e que contém o veneno da morte: “Na prosperidade, o homem não entende, é parecido ao gado gordo que se abate”, diz o Salmo 48, com a linguagem carnuda do Antigo Testamento. Jesus grita contra os ricos para acordá-los da hipnose em que estão mergulhados, para tentar - eis a compaixão extrema – afastá-los do abismo.
      Mas também porque a riqueza os torna cegos e não permite que vejam Lázaro à porta. Não que talvez lhe façam algum mal; simplesmente não o percebem, ignoram-no. Não entra na vida deles de ricos. E com isso não percebem que Lázaro vale mais do que os bens, exatamente porque ele não os tem. Ele é uma pessoa, não um manequim oco como eles.
A mentira da riqueza é um perigo para todos, porque possui uma força sedutora: também o pobre pode ser rico, pelo menos em desejo. Trata-se de um vírus contagioso que se alastra e devora as pessoas por dentro, esvaziando-as da própria humanidade. Por isso Jesus proclamou: “Bem-aventurados os pobres em espírito – até nas fibras mais profundas – porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3), aquele reino no qual os ricos não entram. Os pobres são bem-aventurados, isto é, realizados, inteiros, verdadeiros, felizes, sem precisar de outra coisa a não ser a própria humanidade e Deus, sua única confiança.
      Jesus disse isso e, sobretudo, viveu isso, radicalmente. Quem sabe por que os cristãos e a Igreja muitas vezes pensam e vivem de maneira diferente?!

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