29 novembro 2021

Jesus abandonado

Carta de Chiara à Jesus Abandonado

Caro Jesus,
Escolhi como minha herança o teu abandono, quando me sinto abandonada.
Reconheço, muitas vezes ao dia, que Tu morreste pelos meus pecados e pelas minhas infidelidades; mas quando cometo algum pecado, perco a paz, como se não pudesse ser mais perdoada.
Iludo-me dizendo que é delicadeza de consciência a obsessão que minhas infidelidades provocam em mim, mas na verdade, trata-se de orgulho refinado.
Ainda que tivesse cometido de olhos abertos, que importa, Jesus?
Seria a prova de que não te amo, mas não deve ser motivo para não te amar no futuro, pelo contrário!
Acreditar no teu amor, mesmo se sou mesquinha, quer dizer ser fiel à tua herança. O teu Amor seria menos divino se me amasses por eu ser virtuosa. Reconhecer-te, abraçar-te nas humilhações que seguem minhas infidelidades agrada-te pois, então, só o amor te pode reconhecer. A inteligência não chega a tanto.
“Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor” (Jo 4,8).
O Ideal da santidade não consiste na alegria que experimento depois de uma vitória sobre mim mesma e tampouco no me sacrificar pelos irmãos até a morte com a certeza de Te agradar; seria demasiado.
O Ideal da santidade consiste em Te procurar quando não te sinto, quanto por ter seguido minha natureza, Te sinto distante.
A santidade não consiste em ser sem defeitos, mas em acreditar no teu Amor, não obstante, a precisamente, pelos meus defeitos.
Faz, Jesus Abandonado, que eu seja fiel à tua herança que, num arrebatamento de amor, escolhi para mim. 

Chiara LUBICH

28 novembro 2021

O amor recíproco

Já dissemos outras vezes que o núcleo fundamental da espiritualidade da unidade, característica do Movimento dos Focolares, é o amor, em especial, o amor recíproco.
Mas o amor recíproco é, antes de tudo, o mandamento de Jesus por excelência, como ele mesmo disse:
"Eis o meu Mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei ".
Assim Jesus propôs um modelo desse amor "como Eu vos amei ", o modelo que é ele mesmo.
Depois acrescentando "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos ", determinou a medida que deve ter nosso amor. A sua mesma medida: dar a vida.
É por isso que no Movimento se busca ter essa medida no amor, procurando estar sempre prontos a morrer uns pelos outros. Naturalmente não nos é pedida a vida em cada momento, mas esta prontidão deve constituir a base de cada  ato nosso de amor aos irmãos.

O que representa, portanto, o amor recíproco no Movimento?

É o seu distintivo, assim como era para os primeiros cristãos. Eles não se distinguiam das outras pessoas pelos grandes empreendimentos, pelas obras grandiosas, pelos profundos estudos, pela eloqüência brilhante, nem mesmo pelos milagres.
Eles se distinguiam pelo amor recíproco. Essa era a realidade. "Vede como se amam - diziam os pagãos - e como estão prontos a dar a vida uns pelos outros ".
É assim também que procuramos fazer - com a graça de Deus - no nosso Movimento; é este o nosso esforço.
Desde o início o Espírito Santo acentuou de tal forma a necessidade da recíproca caridade, para poder chamar-se cristãs, que as primeiras focolarinas fizeram um pacto. Olhando-se umas às outras, disseram: "Eu estou pronta a morrer por você... Eu por você..."E todas por cada uma. Esse foi como um alicerce para a construção desse Movimento.
O amor recíproco é tão importante que sempre tivemos em grande consideração a frase de São Pedro: "Antes de tudo mantenham entre vocês a mútua e contínua caridade ".
"Antes de tudo". Esta é a base que vem antes de qualquer atividade nossa: dos estudos, do trabalho, da oração... Não podemos fazer nada se não tivermos assegurada a mútua e contínua caridade; nem trabalhar, nem dormir, nem comer, nem mesmo rezar... Esta é a plataforma de tudo, o resto se constrói sobre isso.
Pode ser que vocês já tenham escutado uma oração que diz assim: "Tu nos deste o teu Espírito para fazer de todas as nações um só povo novo que tem por Estatuto o preceito do amor ".
Esta frase impressionou-nos profundamente pois constatamos, mais uma vez, como o "Estatuto do Povo de Deus " e, portanto, de toda a Igreja, é o Mandamento do Amor. E relacionamos este Estatuto com o da nossa Obra de Maria, no qual está escrito que a regra básica, a norma na qual todas as outras normas têm valor e sem a qual nada tem sentido (nem a oração, nem o apostolado, nem o dar os próprios bens) é Jesus no meio, efeito do amor recíproco.
E causou-nos grande alegria constatar como o Espírito Santo agiu em relação a nós. Como somos, por assim dizer, um "pequeno povo de Deus " - pois participam da Obra de Maria jovens, adultos, crianças, pessoas de todas as vocações - o Espírito Santo não podia deixar de nos dar por Estatuto, o mesmo Estatuto do "grande Povo de Deus ", isto é: o amor recíproco. Esta é a característica da nossa vida, o nosso típico modo de ser, válido para todos os membros do Movimento.
Então, a primeira conclusão a que chegamos é esta: a única coisa que temos para fazer é viver o mandamento do amor recíproco. O resto vem como conseqüência, porque o amor ilumina todos os outros nossos deveres. Experimentemos viver assim o dia inteiro! É uma experiência que merece ser feita.
Pois, fazendo a experiência constatamos que a atuação do Mandamento Novo de Jesus é que dá o " brilho ", o "esmalte" o "último retoque" à nossa vida cristã, à comunidade dos seguidores de Jesus. Porém, muitas vezes, falta este "brilho " nas comunidades cristãs, porque o amor recíproco não vem em evidência.
Sem dúvida, a freqüente falta de atuação do Mandamento Novo de Jesus por parte daqueles que deveriam vivê-lo, deve-se a muitos obstáculos que se apresentam. Um deles, por exemplo, é o amor próprio; muitas vezes olhamos somente para nós mesmos e não pensamos no próximo: a nossa preocupação não é "amar ".
Ou então, somos vaidosos, apegamo-nos às nossas idéias, queremos salvar as aparências, a fama, a boa reputação, procuramos satisfação humanas e espirituais... E nos esquecemos de colocar em prática o Mandamento do amor recíproco. O que devemos fazer; então, para deixar caminho livre ao amor, ao amor recíproco?
A segunda conclusão à qual podemos chegar é esta: 
Nós sabemos que o caminho pelo qual nos conduz a vivência da espiritualidade da unidade é eminentemente positivo. O nosso empenho, portanto, não é tanto "tirar" os nossos defeitos, mas "acrescentar" algo na nossa vida, acrescentar amor.
E para manter perfeito, íntegro e constante o nosso amor recíproco, é necessário de nossa parte um esforço constante em viver para o outro, ou como nós dizemos, "viver fora de nós mesmos ".
Por exemplo, surge dentro de mim um pensamento de orgulho? Digo a mim mesma: "deixo de lado este pensamento", e coloco-me à disposição para amar quem estiver mais próximo, ao meu lado. Tenho vontade de comprar algo, algum objeto que é desnecessário, supérfluo? Procuro vencer este desejo. Somos levados a assistir certos programas de televisão, ou ler certos livros, revistas, que nada constróem? Deixemos isso de lado e lancemo-nos a amar quem necessita de nós...
Fazendo assim, o dia inteiro, o amor ocupará cada vez mais espaço na nossa vida e quando estivermos diante de cada pessoa, será mais espontâneo interessar-me concretamente por eles... Se entre nós fizermos assim, o amor recíproco se tornará mais forte e será sempre mais a nossa característica, o nosso modo de viver...

O Mandamento Novo vivido dessa forma produz ainda efeitos extraordinários

Primeiramente, percebemos um salto de qualidade na nossa vida espiritual: experimentamos os dons do Espirito Santo, uma luz nova que nos ajuda a ver os acontecimentos em Deus, provamos uma alegria que nunca experimentamos antes. Sentimos a paz, a paciência para com todos, abrem-se novos horizontes e nos tornamos mais generosos.
Ao mesmo tempo, este amor recíproco, testemunha Cristo ao mundo. Muitas vezes, nós nos encontramos num mundo descristianizado, sem Deus, e a nossa maneira característica de testemunhá-lo é justamente o amor recíproco "Nisto reconhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros ".
O amor recíproco é também um amor que conquista o mundo para Cristo. Jesus disse: "Que todos sejam um (mediante o amor) para que o mundo creia ". E o mundo realmente crê quando vê o testemunho do amor recíproco.
Outra conseqüência muito importante da vivência do amor recíproco é que  nos leva a colocar em comum os bens materiais e espirituais.
Pratica-se a comunhão dos bens materiais desde o início do Movimento e recentemente, de forma mais explicita ainda.
Podemos dizer que a comunhão de bens já existente é como um sinal profético, pois mesmo se ainda acontece em pequena escala já pode mostrar ao mundo como ele seria se os homens fossem unidos.
Quando os bens, que atualmente são causa de divisões entre pessoas e países, puderem ser partilhados, muitos dos atuais problemas estarão resolvidos.
Para atuar o Mandamento Novo  coloca-se em comum não só os bens materiais, como também os bens espirituais. As belas experiências que a nova vida comporta, são comunicadas por amor, como as experiências da Palavra de Vida.
Colocando em comum os bens espirituais, para a edificação mútua, contribui-se para a santificação do outro como para a própria. E o amor leva a santificar-nos todos juntos.
Lembrando o que dissemos no início, a característica essencial dos primeiros cristãos, o modo como eram reconhecidos pelos pagãos era justamente: "Vede como se amam e estão prontos a morrer uns pelos outros ".
Isto talvez dependia também do fato de que, naqueles tempos de perseguição, não era raro o caso de alguém se oferecer para morrer no lugar do outro. Todavia, permanece o fato que esta medida de amor entre os primeiros cristãos era visível, eram reconhecidos justamente por isto.
Será que nós também podemos ser reconhecidos hoje por este mesmo amor recíproco, por este amor que se vê, e que existia entre os primeiros cristãos?
Vamos "elevar o termômetro " da nossa caridade recíproca de modo que mesmo um simples sorriso, um gesto, uma palavra, um conselho, um elogio e até uma correção, dirigidos aos irmãos,  revelem a nossa disposição de estar prontos a morrer por eles.         Que nosso amor seja visível.

Em nossa Obra tudo é animado pelo amor recíproco.

Não podemos fazer nada se antes não existir esse amor, que traz a presença de Jesus no nosso meio. Todas as nossas atividades, também as Mariápolis, as Jornadas, os diversos encontros como este, apoiam-se sobre esses pilares.
O nosso Movimento quer levar ao mundo, antes de tudo com o seu exemplo, o amor recíproco de forma que se realize a unidade. Mesmo porque o seu primeiro objetivo é contribuir para a realização do "Que todos sejam um".
E foi através desse amor recíproco vivido, que esse ideal se estendeu sobre toda a terra, de irmão a irmão, de todas as nações, idades, condições sociais, crenças religiosas. E ainda hoje continua a difundir-se sempre mais intensamente, para chegar à nossa meta, que é a unidade.
Por isso, queremos partir daqui com um desafio dirigido a cada um e a todos: vamos fazer a experiência de viver entre nós o amor recíproco, este "amor que se vê " e que se irradia ao nosso redor.
Vamos viver assim, ser assim, amar assim, a cada dia. E à noite nos encontraremos transformados e com um novo entusiasmo pela maravilhosa e divina vida que Deus nos deu. E veremos, pouco a pouco, também o mundo ao nosso redor, se transformar.  


25 novembro 2021

Muitas vezes o amor não é amor

Porque muitas vezes o amor não é amor no mundo, vale para ele o ditado: «O amor é cego». Mas, se uma alma começa a amar, como Deus ensina — Deus que é Amor — vê logo, logo, que o amor é luz. De resto, Jesus o disse: «E quem me ama, será amado por meu Pai. Eu o amarei e a ele me manifestarei» (Jo 14,21).
Um turbilhão de vozes de procedências as mais variadas inunda com freqüência a nossa alma, sobretudo quando ela não sabe bem o que seja amar a Deus. São vozes insonoras, mas fortes: vozes do coração, vozes do intelecto, vozes de remorso, vozes de saudade, vozes das paixões... E nós seguimos ora uma, ora outra, preenchendo o nosso dia com atos que concretizam aquelas vozes ou ao menos são, de algum modo, determinados por elas.
Por isso, às vezes, a vida, ainda que vivida na graça de Deus, tem somente breves réstias de Sol; e tudo o mais fica imerso em um tédio, que uma voz, mais forte do que todas as outras, levanta-se amiúde para condenar, como a dizer que aquela não é a verdadeira vida, a vida plena.
Se, ao contrário, a alma se volta para Deus e começa a amá-lo, e seu amor é verdadeiro, é concreto, é de cada instante, de vez em quando percebe uma voz, entre as muitas que acompanham a vida.
Mais do que voz, é uma luz que se infiltra suavemente no intrincado concerto da alma. E um pensamento quase imperceptível que a ela se oferece, mais delicado talvez do que os outros, mais sutil.
Esta é, às vezes, voz de Deus.
Então, a alma que se decidiu pelo Senhor, que com Ele não regateia, mas a Ele tudo quer dar, extrai do pântano aquele repuxo límpido e sereno; é uma safira em meio a tantos seixos; é como o ouro em meio ao pó.
Toma-o, limpa-o, expõe-no e o traduz em vida.
Se, porventura, aquela alma decidiu caminhar para Deus com outras, a fim de que o Pai se rejubile com o amor fraterno entre os seus filhos, ela — depois de se aconselhar com quem lhe representa Deus na terra — comunica, com discrição, o seu tesouro aos outros, para que o bem seja comum, o divino circule e, como numa competição, um aprenda do outro a amar melhor o Senhor.
Agindo assim, a alma amou em dobro: amou ao fazer o que Deus queria, amou ao comunicar aos irmãos. E Deus, fiel a suas palavras eternas, continuará progressivamente a se revelar a ela.
Tudo isto é sumamente desejável, até que o nosso coração seja imerso o dia inteiro só em pensamentos de Céu, a ponto de transbordar; e a nossa vida, alimentada pelos Sacramentos, seja por eles identificada.
Damos Deus, se o temos; e o temos, se o amamos.
Então, poderão acender-se pequenos sóis, no mundo sombrio e monótono, que apontarão a muitos o caminho. Sóis que aquecerão, na humildade total de suas vidas completamente imoladas ao Senhor, em que eles já não falam, mas fala Ele; em que já não vivem, mas vive Ele.


Chiara LUBICH

Giordani e a família

«Principal função da família é crescer e multiplicar: aumentar a vida, cooperar na obra criativa do Criador. A sua unidade não se interrompe, mas aumenta e se prolonga na prole. Na prole o amor dos esposos encarna-se, a unidade torna-se pessoa: pai, mãe, filho, formam uma vida à imagem e semelhança – de alguma maneira – da divindade da qual foram criados e são vivificados. Três pontos pelos quais passa o circuito do único amor, que parte e se alimenta do amor de Deus». (Giordani, 1942).

Ao traçar o perfil divino da família, nesse texto Giordani antecipa o que em seguida será declarado nos textos do Vaticano II, seja salientando o privilégio dos esposos de «cooperar na obra criativa do Criador», seja ao ver a família como espelho da vida trinitária, da qual deriva o seu desígnio. Uma doutrina muito amada por João Paulo II, que a inserirá como tema de suas históricas catequeses sobre o amor humano, na década de 1980.

No dia 23 de junho passado, a Comissão preparatória do Sínodo divulgou o Instrumentum Laboris, objeto de reflexão para os padres sinodais no próximo mês de outubro, para depois propor ao Santo Padre possíveis soluções a serem atuadas em favor da família. O documento, centralizado na vocação e missão da família, inicia com um olhar sobre as múltiplas problemáticas que investem a família hoje e os graves desafio culturais e sociais que a comprometem. Mas tal situação crítica não foi percebida apenas nesses tempos. Em 1975, uma carta do episcopado do Quebec continha uma análise preocupante nesse sentido. A carta tocou profundamente Giordani, ao ponto que citou alguns trechos dela num seu escrito, para depois oferecer a sua mensagem, alta e luminosa, a todas as famílias:

«As dificuldades da vida não esmagam uma família ancorada em Deus; enquanto que, em casos demais, a destroem porque ancorada apenas no dinheiro. A união dos cônjuges é a força deles: mas a união é fruto do amor. Amarem-se, portanto, faz parte do interesse terreno e celeste deles, aproveitando as provações, os sofrimentos, os desenganos, para santificar-se.

O matrimônio não une somente os esposos um ao outro, enquanto esposos, pai e mãe: une-os a Deus. Essa unidade em Deus, do homem e da mulher, dos pais e dos filhos, é o sentido mais profundo do matrimônio e da família». (Giordani, 1975).

Do Centro Igino Giordani

Trechos retirados de: Igino Giordani, Família comunidade de amor, Città Nuova, Roma, 2001 e Igino Giordani, A sociedade cristã, Città Nuova, Roma, 2010


23 novembro 2021

Acima de tudo, revesti-vos do amor

«Mas, acima de tudo, revesti-vos do amor, que é o vínculo da perfeição.»

Estas palavras são decisivas para a nossa vida e o nosso testemunho no mundo. Para explicar a conduta do cristão, Paulo gosta muito de empregar a imagem das vestes que o seguidor de Cristo deve usar. E também aqui, na Carta aos Colossenses, ele compara as virtudes, que devem tomar lugar no nosso coração, a muitas peças de roupa. São elas: a misericórdia, a bondade, a humildade, a mansidão, a paciência, o suportar, o perdão.

Mas, "acima de tudo, revesti-vos do amor" - afirma Paulo, quase que imaginando o amor como uma cintura que une tudo e dá um perfeito caimento ao vestuário. Portanto, é necessário o amor porque para um cristão não basta ser bom, misericordioso, humilde, manso, paciente... Ele deve amar os irmãos e as irmãs.

Mas alguém poderá questionar: amar não é, por acaso, ser bons, misericordiosos, pacientes, saber perdoar? Sim, mas não é só isso.

O amor foi-nos ensinado por Jesus e amar consiste em dar a vida pelos outros. O ódio tira a vida dos outros ("quem odeia é homicida"), o amor lhes dá a vida. Somente morrendo a si mesmo pelos outros é que cada cristão possui o amor. E se ele tem o amor - diz Paulo -, será perfeito, e todas as suas demais virtudes alcançarão a perfeição.

«Mas, acima de tudo, revesti-vos do amor, que é o vínculo da perfeição.»

Certamente alguns de nós podem ter uma boa disposição para com os irmãos e as irmãs, perdoando e suportando. Mas, se observarmos bem, aquilo que frequentemente nos falta pode ser justamente o amor. Mesmo com as mais santas intenções, a natureza nos leva a nos fecharmos em nós mesmos e, conseqüentemente, quando amamos os outros, usamos meias medidas.

Porém não somos cristãos se agirmos unicamente assim. É preciso elevar o nosso coração à tensão máxima. Diante de cada próximo que encontramos durante o dia (na família, no trabalho, em toda parte), devemos dizer a nós mesmos: "Coragem, responda a Deus; é o momento de amar, com um amor tão grande que põe em jogo também a vida".

«Mas, acima de tudo, revesti-vos do amor, que é o vínculo de perfeição.»

Esta Palavra do Apóstolo convida-nos, portanto, a examinar até que ponto nossa vida cristã é animada pelo amor, o qual, como vínculo de perfeição, é a ligação que nos leva à mais alta unidade com Deus e entre nós.

Agradeçamos, então, ao Senhor por ter derramado em nossos corações o seu amor, que nos torna sempre mais capazes de escutar, de identificar-nos com os problemas e com as preocupações dos nossos próximos; de partilhar com eles o pão, as alegrias e as dores; de derrubar certas barreiras, que ainda nos dividem; de deixar de lado certas atitudes de orgulho, de rivalidade, de inveja, de ressentimento por eventuais ofensas recebidas; de superar a terrível tendência à crítica negativa; de sair do nosso isolamento egoísta para colocar-nos à disposição de quem está em necessidade ou na solidão; de construir, por toda parte, a unidade que Jesus deseja.

É esta a contribuição que nós, cristãos, podemos dar à paz mundial e à fraternidade entre os povos, especialmente nos momentos mais trágicos da história.


Chiara Lubich
Fundadora dos Focolares
Palavra de vida, Dez de 2001

22 novembro 2021

Uma contradição

O homem foi criado para ser feliz e buscar a felicidade: ele a deseja, suspira por ela, mas dificilmente a encontra. Toda manhã eu me consagro a Jesus Abandonado, e é só através dele que eu encontro a paz, a luz, ou, numa palavra, a felicidade. Poderia dizer algo a respeito desse fato, que parece uma contradição?

Parece uma contradição, mas não é.
Sabemos que em cada dor devemos ver o semblante de Jesus Abandonado. Isso porque se somos, por exemplo, incompreendidos, vemos nele “o incompreendido”; se caímos numa “armadilha” podemos ver naquilo que lhe aconteceu uma “armadilha”; se nos sentimos fracassados, vemos nele alguém que também se sentiu “fracassado”...
Jesus Abandonado está presente em cada dor; por isso, é preciso abraça-lo dizendo-lhe do fundo do coração: “Es tu, e eu te quero; a ti eu me doei”.
Depois, no momento seguinte, deve-se passar a amar o próximo ou qualquer outra vontade de Deus.
E então você perceberá que aquela dor desaparece. Às vezes, você se surpreende ao sentir que a dor realmente se foi, não existe mais, e se sente em paz e livre para caminhar, viver e amar.
O fato é que, numa espiritualidade cristã como a nossa – que tem como referencia a paixão de Jesus –, o crucifixo, Jesus Abandonado, está intimamente ligado ao Espírito Santo. E quando, como Jesus, também nós dizemos que é chegada a nossa hora de sofrer, que por isso a queremos porque é um aspecto de Jesus Abandonado, e a aceitamos como Jesus aceitou a dor, também nós experimentamos o Espírito Santo. O que sentimos de belo, de livre, de amor, em nosso coração, é efeito do Espírito Santo.
Não se trata, pois, de uma contradição encontrar em Jesus Abandonado a paz e a alegria. É, ao contrário, uma coisa lógica, segundo a paixão de Jesus, segundo o mistério da salvação.

Chiara Lubich


11 novembro 2021

Qual a escolha certa?

Castel Gandolfo, 12 de janeiro de 1988

Aproxima-se para nós a idade da escolha para a nossa vida. Como podemos fazer para entender qual é a escolha certa? Como distinguir a vontade de Deus das nossas fantasias e dos nossos desejos?

Diria que vocês devem ser iluminadas pelo íntimo de vocês. É preciso que seja Jesus que lhes diga qual será o caminho de vocês: casarem-se, entrarem para o convento ou para o focolare1, dedicarem-se à arte ou à política. E não vocês. E, para serem iluminadas, devem amar. Portanto, continuem a viver o Ideal, viver o Ideal, viver o Ideal. Foi assim que fiz: procurava amar, amar, e Jesus me chamou; senti fortemente que Ele queria isso. Portanto, amem, amem, amem, sigam em frente, vivam o Ideal, e Ele iluminará vocês e as fará entender seus caminhos. E depois, aconselhem-se também com alguém que possui mais experiência, porque pode ser que vocês tenham receio de confundir as fantasias com o chamado de Deus. […]

Então, duas coisas: viver o Ideal e pedir conselhos a pessoas um pouco mais maduras que já fizeram as próprias escolhas, para que ajudem vocês a diferenciar bem se o que têm no íntimo vem da fantasia ou se é justamente a vontade de Deus.

Chiara Lubich 

04 novembro 2021

A sua escolha

Além disso, aquela circunstância guardava uma mensagem para nós: Jesus Abandonado apresentava-se pela primeira vez, para que o escolhêssemos, ou melhor, para que Ele nos escolhesse, para que nos convidasse a ser suas discípulas: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16).

Portanto, Ele se colocava à frente de uma multidão de gente que, conosco, o seguiram, o seguem e o seguirão.

E não tivemos dúvidas.

Foi um chamado forte e decisivo, o seu.

Dessa forma, Jesus Abandonado logo se tornou o nosso tudo.

#ChiaraLubich 

02 novembro 2021

A maior dor

Mas, quase simultaneamente, vemos que, ao adjetivo “crucificado”, vem juntar-se um outro: “abandonado”.

O que significa isto? Como se deu a manifestação de Jesus Abandonado como vocação específica nossa?

Em 24 de janeiro de 1944, um sacerdote nos dissera que a maior dor de Jesus foi quando gritou na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Mt 27,46; Mc 15,34).

Na época, ao contrário, o pensamento corrente entre os cristãos era que fora a dor sentida no Getsêmani. Mas nós, tendo uma grande fé nas palavras do sacerdote porque ministro de Cristo, acreditamos que a dor do abandono fora a dor máxima.

Por outro lado, sabemos hoje que essa convicção está-se tornando patrimônio comum da teologia e da espiritualidade.

O encontro com aquele sacerdote foi uma circunstância extrínseca, mas — constatamos isso agora — era a resposta que Deus dava a uma prece nossa, quando, fascinadas pela beleza do seu Testamento, nós, primeiras focolarinas, todas unidas, havíamos pedido a Jesus, em seu nome, que nos ensinasse a realizar a unidade, que Ele rogara ao Pai antes de morrer.

E até hoje, nestes cinquenta e seis anos de vida do Movimento, sempre experimentamos que é justamente o amor a Jesus crucificado e abandonado aquilo que possibilita colocar em prática a unidade.


#ChiaraLubich