28 fevereiro 2018

Todo o Evangelho, Palavra por palavra

JÁ NOTASTE que, se não tens noção do alfabeto e das poucas regras gramaticais que se aprendem no ensino fundamental, continuas a vida inteira analfabeto, sem saber ler nem escrever, embora tendo inteligência e vontade? Do mesmo modo, se não sabemos assimilar, uma a uma, as Palavras de Vida que Jesus esculpiu no Evangelho, nós, embora “bons cristãos”, continuamos “analfabetos do Evangelho”, incapazes de escrever com a nossa vida: Cristo. QUANTO MAIS vou em frente, mais vejo a beleza da Palavra de Vida1. É a pílula que concentra em si tudo aquilo que Jesus trouxe à terra: a mensagem evangélica. Também hoje procurarei ser Palavra viva. COMO NA HÓSTIA SANTA está Jesus inteiro, e também em cada fragmento dela, assim também no Evangelho está Jesus inteiro, e também em cada uma das suas Palavras. SÃO PALAVRAS de um Deus, as suas, densas de uma força revolucionária, insuspeita. Sabendo assimilá-las em nosso espírito, geramos Cristo até mesmo espiritualmente em nosso coração. Sim, isso é o que devemos fazer: nutrirmo-nos da Palavra de Deus e, assim como hoje todo o alimento necessário ao corpo pode ser tomado numa pílula só, do mesmo modo nos podemos nutrir de Cristo vivendo apenas uma das suas Palavras por vez. De fato, Ele está presente em cada uma delas. Desse modo, se o que conta é o ser e não o ter – como se diz hoje – e se – podemos acrescentar – é o ser que conta mais do que o fazer, devemos estar certos de que, com a Palavra, o Ser por excelência está em nosso coração, aliás, cresce em nosso coração. É Deus Aquele que é. Será o Ser, portanto, que poderá agir em nós. QUANDO ENSINAVA, Jesus falava com autoridade, e seus discursos são uma série de afirmações impostas pela Verdade em pessoa. Por isso, convém “re-evangelizar-se”, assimilando-os um a um, até penetrarem no fundo da alma, como que essência dela, nova forma mentis do “homem novo” em nós. Fazer isso é a mais profunda, íntima, segura revolução, também hoje necessária. TODAS AS PALAVRAS de vida do Evangelho devem ser impressas pouco a pouco na alma, a ponto de não sermos mais capazes de raciocinar a não ser como Cristo.

27 fevereiro 2018

Fazer uma comunidade cristã florescer

NÃO VIVÍAMOS a Palavra de Deus apenas individualmente, cada uma por conta própria. As experiências úteis, as iluminações, as graças obtidas da vivência eram postas em comum, deviam ser postas em comum, pela exigência da Espiritualidade da Unidade, que espera nos santifiquemos juntos. Sentíamos o dever de comunicar aos outros tudo o que experimentávamos, mesmo porque éramos conscientes de que, doando , a experiência permanecia, para edificação de nossa vida interior, ao passo que, não doando, a alma lentamente ia empobrecendo. MUDARAM todos os relacionamentos com Deus e com os irmãos e, com a Palavra e pela Palavra, floresceu uma comunidade cristã. Pessoas que antes nem se conheciam tornaram-se irmãs, até colocarem em prática a comunhão dos bens materiais e espirituais entre si; gente até então dispersa tornou-se povo, comunidade, porção de Igreja viva. E QUALQUER UM DENTRE NÓS , sem sutilezas e raciocínios, que acreditava em suas Palavras com o encanto de uma criança, e colocava-as em prática, usufruía desse paraíso antecipado, que é o Reino de Deus em meio a homens unidos em seu nome. O FATO É QUE o destino da semente é morrer para dar vida à árvore, como o destino da Palavra de Deus é ser “ingerida” para dar vida a Cristo em nós e a Cristo entre nós. ESTEJAMOS UNIDOS em nome do Senhor, vivendo a Palavra de vida que nos faz um (cf. Fl 2,16). Pensei no enxerto das plantas, onde dois ramos descascados, ao contato das duas partes vivas, tornam-se uma coisa só. Quando duas almas poderão consumar-se em um? Quando forem vivas, ou seja, quando estiverem descascadas do humano e, mediante a Palavra de Vida vivida, encarnada, forem Palavras vivas. Duas Palavras vivas podem consumar-se em um. Se uma não for viva, a outra não se poderá unir. EMBORA DISTANTES, uma Luz nos ligará, imperceptível aos sentidos e desconhecida do mundo, porém, por Deus estimada mais do que qualquer outra coisa: a Palavra de Vida.

26 fevereiro 2018

Uma nova estação

(PENSAMENTOS DE IGINO GIORDANI)

29 de junho de 1948

O destino da árvore frutífera dá um pouco a imagem do homem que frutifica na sua estação fecunda. Até quando floresce, ao redor da árvore há cantos e trinos, zéfiro e sol;
e quando amadurece suas maças, a natureza inteira, orgiástica, envolve-a de calor. Depois, os agricultores retiram-se aos refeitórios, aos tinelos e aos celeiros e, após algumas palpitações de vida e cores no outono, penetra o frio silêncio, sob o céu cinzento, donde as folhas, como últimas lágrimas, caem na terra seca. E assim acontece ao homem quando superou a idade de maior rendimento. Desilusões e amizades caem, como as folhas, e o silêncio sobem de todos os lados, a paisagem se entristece e ele permanece sempre a contemplar, mudo espectador, o avanço de sua própria ruína.
Da mesma forma, como naquele frio e naquela solidão, a árvore prepara a nova primavera, concentra calor e seiva, assim o homem pode fazer daquele afastamento invernal de amigos e de forças a concentração de um vigor pleno de uma nova existência: utilizar aquele abandono dos homens para aderir a Deus, preencher aquela perda de humanidade com a graça divina. E então, dentro do silêncio agigantado pela ingratidão e avareza, sobre a velhice descamada e fria, pode encher-se do calor de Deus, ascender interiormente enquanto declina externamente: dar aos homens um fruto que não se conta na economia, mas se calcula na teologia. No inverno do homem começa a primavera de Deus.

21 de junho de 1965
O tronco torna-se sempre mais desfolhado, nu. Desaparecendo as flores, cortados os frutos (quem os comeu?...), caíram às folhas, romperam-se os ramos. Humanamente, haveria lugar para o desespero.
Divinamente, ao invés, podemos ter esperança poIs que esta diminuição é uma diminuição do homem a fim de que Deus nele cresça: sempre há compensação — há quase a teandria[1] — mas à parte de Deus cresce anelando fazer-se tudo, até que chegue o dia em que não existas mais; existe Ele, e te tomas parte d’Ele, e do nada te fazes tudo.

2 de janeiro de 1960
Com o passar dos anos, os velhos, em muitos casos, retornam á religião ou se tornam mais religiosos. Esta evolução é chamada involução, este progresso, regresso, senilidade. No entanto, é um aviso instintivo da aproximação de Deus, ou melhor, da casa.
Da árvore caem as folhas, o tronco abre os ramos para o céu; recebe água, é envolta pela névoa, ferida pelos raios; olha para o alto, não mais iludida com a folhagem, não mais iludida com aquilo que passa, já habituada, prelibando o que permanece. A minha pessoa morada de Maria, situada na sua vontade, recolhe-se, sempre mais, à morada do amor Eterno, cuja obra-prima é a Mãe.

24 de agosto de 1960
Aparece nos jornais, com freqüência, que algum velho — quase sempre aposentado — sobe ao sétimo andar e dali se jogam no vazio para pôr fim à vida. Ou, mais exatamente, à solidão que sofria, a doença dos velhos, criaturas arrancadas da massa para o isolamento, do rumor para o silêncio.
É uma solução lógica, embora errada.
A velhice é uma reviravolta critica, decisiva: a fase de preparação para o encontro com o Tudo, com o Eterno, com a Beleza: o encontro com o calor da juventude que não morre. É um período de evolução que chamam involução; de progresso que chamam regresso; de juventude do espírito que chamam senilidade.
O mal-estar físico e moral denota a inquietude diante da proximidade de Deus. Nessa idade avançada, a existência humana aparece como uma árvore no inverno. Ao cair das folhas, o tronco abre os ramos nus e secos para o céu e recebe água, nuvens e raios sem nenhum amparo. Mas, livre do ornamento do verde, olha direto para o alto, não mais iludido pela folhagem nem por aquilo que, florescendo de repente, cresce e morre.
E habitua-se a conversar com o céu, a sondar as nuvens, explorar as estrelas, percebendo, aos poucos, um mundo novo sem rumores e aparências.

23 de junho de 1958
Ao observar, cheio de pena, o cair das folhas (ilusão de fama, poder e amizade) da árvore da minha vida, neste outono que caminha para o inverno, percebo, melhor, que a solidão, sempre mais profunda e densa, que me rodeia é causada para efetuar um encontro amoroso mais intenso com Deus: a alma encontra finalmente tempo e conforto para estar com o Esposo. Chamam — esta — solidão, de aproximação da morte, mas é um encaminhamento para a vida. Agora, finalmente, posso deixar a minha alma escutar o Espírito Santo, conviver com os anjos e bem-aventurados, unir-se a Cristo, unir-se a Deus. E Deus é a vida. Antes, inúmeras distrações e interrupções impediam a passagem do espírito divino, que é a Vida; agora, a união, aos poucos, torna-se constante. Aprendo e preparo a vida do paraíso.
Sempre quis atingir Deus porque sempre tive fome de vida. No entanto, mesmo ao aproximar-me d’Ele, como válvulas, intercalava os meus estudos, as minhas amizades, os meus hábitos. Freqüentemente comprazia-me neles, parava diante das criaturas e dos fantasmas, sacrificava o essencial ao acessório, o divino ao humano.

15 de novembro de 1957
Estou chegando ao outono da vida: os últimos frutos foram colhidos e consumidos, as últimas folhas levadas pelas ondas frias do vento. Bem sei que a juventude interior resiste fortificada pelas provações. A carência de afetos e contentamentos vindos dos homens a temperaram e quase a aguçaram, proa que avança rumo ao mistério. De tal maneira que a flor fecha-se ao anoitecer da vida para reabrir-se na eternidade.

6 de dezembro de 1957
Se a existência física é uma combustão, façamos do nosso corpo um turíbulo onde se versa, sem trégua, o incenso da oração. Assim, por um outro aspecto, é a união do humano e do divino, do corpo e do espírito; sempre uma projeção da unidade, do Homem-Deus. Todo ato de caridade derramado sobre aquelas brasas há de acender uma chama. Toda dor que nos for oferecida produzirá cinza e será uma consumação, como a chama do altar, se todo o amor, o sofrimento — o sofrimento transformado em amor
— for destinado para onde a gravitação o transporta: ao Amor Eterno. A química torna-se suporte da mística. Dá-se à natureza a possibilidade de libertar-se, abre-se a sua boca à oração. Também a matéria e as células foram criadas para voltar ao Criador.

26 de fevereiro de 1957
Têm razão quando comparam o ciclo da existência com o ciclo das estações. Ela é como a árvore que cresce, floresce e frutifica enquanto entre seus ramos, os pássaros fazem seus ninhos. Depois vem a má estação, os trabalhos e o tempo, e desfolha os ramos e os resseca: até que o divino podador os poda. Poda e reduz a planta ao essencial: a uma cruz.

15 de novembro de 1957
Caem as folhas e os frutos, e nas ervas secas do chão floresce outra primavera. Na solidão dilatada pelo próximo inverno, Deus aparece, aproxima-se, e com Ele, o relacionamento se torna mais íntimo e imediato. Na medida em que perdemos na economia humana, adquirimos na economia divina. As criaturas se distanciam para que eu me enlace ao Criador. Não encontro amor para encontrar o Amor.
A estação findará, findará também a ação com a reação dos homens, quando, finalmente, estiver com Deus. Nele não há mais história, que é um registro do tempo, quase uma crônica fúnebre. Na eternidade, a vida é pura e plena porque se desenvolve em unidade com Deus. E Deus está além do tempo com suas estações, frutos e folhas.
Vista assim, a existência é uma árvore que cresce para o céu a fim de florescer na eternidade. Estações e tragédias, desilusões e sofrimentos são podas. A árvore cresce sob uma amarga chuva (água e sol, o pranto) para mondar-se, até tornar-se pura haste elevada da terra ao céu.
A vida não é senão um processo de amadurecimento pela purificação que a dor traz. Quando amadurece, é Deus quem colhe o fruto, transplantando a árvore ao paraíso.

24 de junho de 1960
O amor é a linfa que faz a flor crescer. No homem, alimenta a liberdade; a vida no amor revela-se como um desenvolvimento na liberdade: processo de libertação. Somos de tal maneira ligados aos nossos limites, como galhos ao tronco, que quando estes aos poucos, vão sendo podados, parece-nos uma perda, mas na verdade é um ganho.
(Diário de Fogo Igino Giordani, 1980)



1.         Teandria, no seu sentido original, diz respeito à “natureza humano-divina de Jesus”: no texto:
             o “humano no divino”. (n.d.t.)

25 fevereiro 2018

Uma sociedade para todas as idades


TERCEIRA IDADE, FONTE PARA UM MUNDO UNIDO


Porém, pode nascer uma pergunta: envelhecer e vivenciar os anos da terceira idade é algo positivo?
Minha mãe, que partiu para o céu aos 94 anos, afirmava que a ela foi concedida uma vida longa, porque havia cuidado de seus pais de modo intenso e um pouco especial, no lugar de sua irmã que não podia. Ela me repetia aquilo que Deus nos comandou na Antiga Lei e que depois Jesus reafirmou: “Honra teu pai e tua mãe para que se prolonguem os teus dias sobre aterra” (cf. Mt 15,5; Dt 5,16).
Portanto! devemos pensar que se Deus dá uma vida longa como prêmio a um comportamento tão admirável para com os pais, significa que envelhecer é um bem.
E é verdade, simplesmente porque vivemos uma única vez e, se a vida é uma dádiva, quanto mais longa ela for, maior será o dom.
Todavia, por vezes, a vontade de Deus pode nos reservar uma vida breve. Porém, se nela alcançarmos a sabedoria do coração, será considerada longa. Foi o que aconteceu com Santa Teresinha do Menino Jesus, que viveu pouco mais de vinte anos. Ela, porém, já havia vivido bastante, porque chegou à meta: embora fosse “pequena”, inclusive pela infância espiritual que a animava, já era madura pela sabedoria do coração.
Uma longa vida serve para desenvolver no espírito humano a sapiência, a sabedoria, a experiência para si e para muitos.
Meu pai dizia sempre: “Com o tempo muitas coisas se ajustam”. Ele não teria podido externar essa sua sábia convicção, se não tivesse tido tempo na vida: morreu aos 74 anos.
Eu conheci muitas pessoas idosas e duas delas me marcaram mais: Igino Giordani, de quem se falará neste congresso, e o Patriarca Ecumênico Atenágoras I.
            Encontrei-me com Atenágoras umas dez vezes para importantes colóquios que envolviam a Igreja, o ecumenismo e o nosso Movimento. Todavia o que mais me impressionava era a sua pessoa. O interessante é que ninguém percebia que ele era ancião, por mais que o demonstrasse a sua longa barba branca.
Era possuidor de um carisma e já este fato proporciona uma juventude perene. E era sábio, um sábio na mente e no coração, porque também o seu coração ardia pelos ideais que o consumiam, tal como aquele de celebrar um dia juntamente com o Santo Padre, no único Cálice. Ele parecia e era realmente um profeta.
Graças a Deus existem estes exemplos que renovam a estima pela vida do homem e da mulher em idade avançada! Este é um hábito generalizado no Oriente, que no Ocidente se perdeu. prejudicando a sua civilização.
Na Ásia e também na África os idosos não são apenas respeitados, mas venerados, ouvidos, obedecidos, porque
— todos reconhecem — possuem a sabedoria.
Porém, nos questionamos, para que serve a vida de uma pessoa idosa, se ela é reduzida a bem pouco no seu período terminal?
É preciso lembrar que a vida do homem não se limita ao tempo que ele transcorre aqui na terra. Ela continua e pode atingir a alegria do paraíso, se Deus o considerar pronto e purificado de suas culpas.
Por isso, ao invés de enfrentar essa invenção da misericórdia de Deus, que é o purgatório, quase sempre muito doloroso, é melhor começar a descontá-lo já daqui (pois é mais fácil e tem mais valor), suportando as penas que normalmente a velhice acarreta até o momento do encontro com o Pai.
Logicamente, precisamos ter fé para raciocinar assim.

Mas o que a fé nos diz é verdade.
Às vezes também me perguntam como foi que cheguei aos 77 anos e por que as minhas atividades em vez de diminuírem foram aumentando.
A minha resposta é esta: depende do estilo de vida que, com a ajuda de Deus, procurei e procuro impor a mim mesma. E a vida evangélica, seguir os mandamentos e os conselhos de Jesus, cujo peso é sempre leve e suave (cf. Mt 11,30).
Motivados assim a tristeza, as angústias, os problemas não nos fazem sucumbir. São Pedro, já velhinho, recomenda aos anciãos, pastores do rebanho, que lancem toda e qualquer preocupação em Deus, porque Ele cuida de nós (cf. Pd 5,7) e isso nos dá alívio pois passamos para um Outro os nossos pesos.
Pode parecer incrível, mas é exatamente assumindo o princípio de São Paulo: “Não conheço senão Cristo e Cristo crucificado” (cf. 1 Cor 2,2), ou seja, preferindo o sofrimento e o esforço para viver a virtude a todo o resto, que encontramos a plenitude da vida. Porque só quem se lança nos braços da cruz é que encontra o amor e o amor é a alegria.


(Mensagem de Chiara ao Congresso Internacional do Movimento Humanidade Nova, Rimini (Itália), 18 de abril de 1997).

24 fevereiro 2018

Viver a Palavra

NÓS, QUANDO MUITO, meditávamos a Palavra de Deus, nela penetrávamos com a mente, dela extraíamos uma ou outra consideração e, se fôssemos fervorosos, um ou outro propósito. Aqui [em nossa comunidade] era bem diferente. A Palavra era esmiuçada em suas mais diversas aplicações, no contato contínuo com a vida, e provocava uma transformação em cada um e no grupo. Quando a vivíamos, não era mais o eu, ou o nós, quem vivia, mas a Palavra em mim, a Palavra no grupo. E isso significava revolução cristã, com todas as suas consequências. TODO O NOSSO EMPENHO consistia em viver o Evangelho. A Palavra de Deus penetrava profundamente em nós a ponto de mudar a nossa mentalidade. O mesmo acontecia também com todos os que tinham algum contato conosco. Essa nova mentalidade, que se ia formando, manifestava-se como uma verdadeira contestação divina ao modo de pensar, de querer e de agir do mundo. E provocava em nós uma re-evangelização. NÃO NOS BASTAVA viver a Palavra quando tínhamos oportunidade, mas nutríamo-nos dela em todos os instantes da nossa vida. É assim: como o corpo respira para viver, a alma, para viver, vivia a Palavra. ENTENDEMOS que o mundo precisa de uma terapia de… Evangelho, porque só a Boa-Nova pode dar novamente a ele a vida que lhe falta. Por isso é que vivemos a Palavra de vida… Encarnamo-la em nós até sermos aquela Palavra viva. Bastaria uma Palavra para nos santificarmos, para sermos outro Jesus. Pelo tempo afora, vivemos muitas Palavras da Sagrada Escritura, de modo que elas continuam sendo patrimônio indelével de nossa alma. Nossa tarefa é viver a Palavra no momento presente da nossa vida. Todos podemos vivê-la, qualquer que seja a vocação, qualquer que seja a idade, o sexo, a condição em que estejamos, porque Jesus é Luz para todo homem que vem a este mundo. Com esse método simples, re-evangelizamos as nossas almas e, com elas, o mundo… AQUELE QUE OUVE a palavra de Deus e a põe em prática é como a casa sobre a rocha. Só os cristãos que põem em prática a Palavra de Deus saberão alcançar a vitória em tempos de perseguição. Poderão vir ventos e tempestades, mas eles não se abalarão.

23 fevereiro 2018

Cada Palavra é Amor

NO COMEÇO do nosso novo caminho, o Senhor fizera-nos intuir o valor do amor, ao preparar em nós o terreno para ler o Evangelho. Já o havia feito, mas agora, na leitura do Evangelho, punha em evidência máxima as Palavras que dizem respeito ao amor e impelia-nos com força a vivê-las. Portanto, podia-se dizer também de nós o que se dizia dos primeiros cristãos: o amor de caridade (amor a Deus e ao próximo) era a primeira coisa que um membro da comunidade aprendia a viver (cf. 1Jo 2,7). VIVENDO UMA PALAVRA , depois outra, e mais outra, tínhamos constatado que, pondo em prática qualquer Palavra de Deus, no final, os efeitos eram idênticos. Por exemplo, vivendo a Palavra: “Bem-aventurados os puros de coração…” ( Mt 5,8), ou, “Bem-aventurados os pobres em espírito…” ( Mt 5,3), ou, “Bem-aventurados os mansos…” ( Mt 5,4), ou, “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” ( Mt 22,39), ou, “Não faças a ninguém o que não queres que te façam” ( Tb 4,15), chegávamos à mesma conclusão, obtínhamos os mesmos efeitos. O fato é que cada Palavra, embora sendo expressa em termos humanos e diferentes, é Palavra de Deus. Mas, como Deus é Amor, cada Palavra é caridade. Acreditamos ter descoberto, naquela época, sob cada Palavra, a caridade. E, quando uma dessas Palavras caía em nossa alma, tínhamos a impressão de que se transformava em fogo, em chamas, transformava-se em amor. Podíamos afirmar que a nossa vida interior era toda amor. SE PENETRAS no Evangelho – e esta é uma bela aventura para ti – te encontras, de repente, como se estivesses na crista de uma montanha. Portanto, já no alto, já em Deus, mesmo se, olhando para o lado, percebes que a montanha não é uma montanha, mas uma cadeia de montanhas, e a vida para ti é caminhar pelo divisor de águas até o fim. Cada Palavra de Deus é o mínimo e o máximo que Ele te pede. Por isso, quando lês: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19), tens a medida máxima da lei fraterna. VIVAMOS A PALAVRA, que é o Amor Verdadeiro e o Verdadeiro Amor.

22 fevereiro 2018

A Palavra contém Deus

É EXTRAORDINÁRIO! Pouco o conhecemos, se não lemos o Evangelho com amor. Muitas vezes, fizemos dele uma imagem nossa, a partir de alguma piedade tradicional medíocre. Mas, no Evangelho, Ele aparece como é: é Deus. Revela-se continuamente: Deus . Um Deus… que fala, que se cansa, que caminha, que tem discípulos… Um Deus-Homem! AS PALAVRAS DE JESUS! Deve ter sido a sua maior… arte, se assim se pode dizer. O Verbo que fala com palavras humanas. Que conteúdo, que timbre, que voz, que intensidade! Haveremos de reouvi-las no Paraíso. Ele me falará, Ele nos falará. Isso será o Céu amanhã, logo. O EVANGELHO na Igreja é Jesus histórico explicado: a Revelação. AS EXPRESSÕES do Evangelho de João “a tua palavra”, “as palavras que me comunicaste”, “que saí de junto de ti” e “que me enviaste” (cf. Jo 17), de certo modo são sinônimas, ou melhor, as palavras que Jesus disse aos apóstolos são o próprio Verbo gerado pelo Pai, ou melhor, estão todas no Verbo gerado. Essa interpretação me dá certa embriaguez espiritual porque, se assim é, a Palavra de Deus que nós vivemos, a qual comungamos, é justamente Jesus. Por isso, se vivemos a Palavra o dia inteiro, estamos em comunhão contínua . QUE ABISMOS as Palavras de Deus encerram! Elas contêm o próprio Deus. CADA PALAVRA de Vida é Jesus. EM CADA PALAVRA está toda a Palavra, do mesmo modo que, na Palavra, está cada Palavra.

21 fevereiro 2018

O "quero" do amor

Do Diário

Chiara comenta o versículo 24 de Jo 17: “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que contemplem minha glória, que me deste, porque me amaste antes da fundação do mundo”. 22 de julho 1970 Talvez seja esse o trecho do testamento que mais me maravilhou, desde a primeira leitura. Nunca, jamais se ouviu algo semelhante na terra. [...] Quero: é o quero do amor. O quero que tem seu pequeno eco no “quero” dos santos, como em Catarina [de Sena] em suas cartas. O quero de quem está ultraconvicto de pedir apenas coisas agradáveis àquele a quem se pede, a quem pelo qual se reza e se está convicto de pedir coisas grandes. [...] Quer que vejamos a Sua glória. Está indo para o seu reino e nos quer levar consigo. Possui um tesouro para mostrar aos seus amigos e o amor o incita a não manter nada escondido deles, aliás, tal é o ardor da oração, que dá a impressão de que faria de tudo para nos levar a saborear o que Ele é e a participar disso. Trata-se de uma realidade, da realidade de Deus, que existia antes da fundação do mundo. [...] Se nosso coração não arde por Ele, se nossa vida não rompe com tudo aquilo que não é Ele, ou é para Ele, somos menos que homens, somos inconscientes e ingratos.

20 fevereiro 2018

A Obra, um corpo

18 de agosto de 1970

Nestes tempos, inclusive independentemente de nós, a própria humanidade é considerada como uma unidade, como um corpo. [...] O que um irmão distante faz [devemos] sentir feito por [nós] mesmos. Quando os meus olhos olham, sou eu que olho; quando a minha mão pega um objeto, sou eu que o pego; quando a minha mente medita um pensamento, sou eu que o medito. Mas isso vale porque as partes do meu corpo formam uma unidade para a alma que o mantém vivo. [...] A Obra é um corpo, um Cristo que tem todas as principais prerrogativas exigidas pelo Evangelho.

19 fevereiro 2018

Paciência e desprendimento

Procure dar exemplos de paciência e desprendimento, servindo a todos com bondade e dedicação.

A verdadeira vida é a vida do amor e do serviço.

Derrame seu amor sobre todas as coisas criadas, desde a tenra plantinha até as constelações que gravitam nos espaços sidéreos.

Mas, sobretudo, seja paciente e desprendido com as criaturas humanas, que vivem a seu lado, como seus companheiros de jornada.

18 fevereiro 2018

Unidade e meios de comunicação

Unidade e meios de comunicação (violeta)

De uma aula na ocasião da outorga da láurea honoris causa em Ciências das Comunicações sociais Bangkok, 5 de janeiro de 1997

Para levar a unidade, que significa evangelizar o mundo, é necessário antes de tudo aquele meio imprescindível que é o homem, que são os homens, os apóstolos. É necessário que eles sejam o fermento indispensável, o sal, a luz no mundo. Somente assim, os meios de comunicação levarão em toda parte uma fé viva, um amor ardente, o reino de Deus entre os homens. [...] Mas não é somente o fim pelo qual o Movimento trabalha que tornou [os meios de comunicação] tão próximos de nossa vida. É o próprio espírito do Movimento que exige os meios de comunicação. E isso pelo fato de que nele se vive, e ele propõe, uma espiritualidade não só pessoal, mas também comunitária, coletiva. Isso significa que aqui, neste Movimento, não se pode ir sozinho a Deus. Significa que não se pode crescer na união com Ele só individualmente, mas juntos, com outros. E isso comporta: comunicar. E, quando a comunhão deve acontecer entre alguns, entre muitos, implica o meio de comunicação, os meios de comunicação...

17 fevereiro 2018

De uma aula na ocasião do recebimento do doutorado

De uma aula na ocasião do recebimento do doutorado h.c. em Psicologia

Malta, 26 de fevereiro de 1999

Psicologicamente, para um indivíduo não é possível ter o “senso da própria identidade”, se não há outros que o reconheçam como sujeito. Psicólogos de todas as tendências afirmam que os homens têm necessidade de confirmar-se mutuamente em seu ser individual, mediante encontros e contatos genuínos. De fato, temos necessidade de nos sentirmos e de sermos reconhecidos “diferentes”, para podermos ser um dom para os outros. Mas para ser dom pessoal é necessário entrar em comunhão. E aqui está a diferença entre os chamados “grupos psicológicos” e a comunidade cristã como é concebida por Jesus. Um grupo psicológico é composto de indivíduos que se associam em vista de alguma finalidade específica (clube esportivo; associação civil, política ou religiosa; sindicatos; colégios; seminários...) e que, por isso, interagem limitando-se aos interesses comuns que buscam atingir; de forma que, em relação a todo o resto, cada um permanece fechado em si mesmo. A comunidade cristã, pelo contrário, não se forma a partir de motivações extrínsecas, mas pela natureza do amor, que gera comunhão. E que esta seja possível é um dado de experiência. É evidente que a motivação para realizá-la vem do convite de Jesus “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei...”; “...que sejam um...”, e é de natureza religiosa; mas os efeitos psicológicos são extraordinários: cada um, sendo relação de amor para os outros, realiza-se de fato como pessoa autêntica.

16 fevereiro 2018

Pensamentos universal de bondade e amor 

Não aceite maus conselhos!

Não se deixe sugestionar por palavras de desânimo! 

 Sempre existe uma saída para qualquer problema, por mais complexo e difícil que nos pareça. A Força Divina que rege os universos está dentro de nós. 

Ligue-se ao Pensamento Universal de Bondade e Amor, e vencerá todos os obstáculos.

15 fevereiro 2018

União com Deus

Em diálogo com um grupo numeroso de pessoas reunidas para um curso de vários dias de aprofundamento da espiritualidade da unidade

Grächen (Suíça) 21 de julho de 1995

Nem sempre é fácil encontrar a intimidade com Deus. Como podemos fazer para encontrar um relacionamento imediato com Jesus?

um modo de alcançar a união com Deus, bastante rápido, e típico da nossa espiritualidade. Se você sabe estabelecer uma comunicação autêntica com os irmãos, se consegue penetrar no irmão, se acolhe em si real e completamente o irmão, com todos os seus problemas, as suas ideias, e ama de tal modo a ponto de ser aceito pelo outro, na prática você vive com o irmão como a Santíssima Trindade; e esse modo de viver já experimentado é a estrada mais rápida para chegar à união com Deus e à intimidade com Ele. A comunicação com o irmão o leva à união com Deus. E quando faz isso o dia inteiro, à noite, quando você se recolhe para rezar, sente que inicia a intimidade com Deus, que o céu se abriu, que alguma coisa como que se escancarou, e então pode falar com Deus.

14 fevereiro 2018

Comunhão de bens

De um discurso aos membros consagrados no focolare para difundir o espírito da unidade

Castel Gandolfo, 5 de dezembro de 1997

No Movimento, vive-se a comunhão de bens. Sabemos, certamente, que outras pessoas na Igreja realizaram e realizam essa comunhão, mas em geral eram e são pessoas escolhidas, com uma vocação específica, como os religiosos nos mosteiros e conventos. No Movimento, quem a realiza é a sociedade, portanto, também os leigos, como outrora os primeiros cristãos. Para colocá-la em prática, espelhamo-nos na Comunhão dos Santos e vivemos segundo o modelo da Trindade, onde vale o Omnia mea tua sunt [Tudo o que é meu é teu] (cf. Jo 17,10). [...] Outra novidade desse aspecto consiste em como fazer uso dos bens e do dinheiro na Obra. Em geral, não é cada um que dá o que é seu, como os focolarinos, ou o supérfluo, como outros, cada um individualmente, mas este é determinado conjuntamente e colocado em comum...

13 fevereiro 2018

Comunhão de bens (vermelho)

De um discurso aos responsáveis do Movimento dos Focolares no mundo 5 de novembro de 1995

Tínhamos entendido desde os primeiros tempos que a fidelidade ao amor recíproco, vivido segundo o modelo de Jesus Crucificado e Abandonado, [...] terminaria na unidade, segundo a vida da Trindade.” [...] “É a vida da Santíssima Trindade que nós devemos procurar imitar, amando-nos entre nós [...], como as Pessoas da Trindade se amam entre si. E o dinamismo da vida intratrinitária é o dom de si mútuo e incondicional, é a total e eterna comunhão [“Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu” ( Jo 17,10)] entre Pai, Filho – na Trindade – e no Espírito [...]”.

12 fevereiro 2018

Não ter receio de falar de unidade

Em diálogo com um grupo numeroso de pessoas de várias idades, condição social e eclesial, comprometidas em viver e difundir a espiritualidade da unidade na Croácia, Eslovênia, Bulgária, Romênia, Bósnia–Herzegovina, Macedônia. Zagreb (Croácia), 18 de abril de 1999

Pela experiência que fizemos do comunismo, determinadas palavras, como fraternidade e unidade, perderam o seu verdadeiro sentido; aliás, algumas vezes podem soar de modo negativo. Como conseguir mostrar a beleza da unidade verdadeira, baseada em Deus?

Diria que o problema de vocês era também o nosso, no início do Movimento. De fato, não havia ninguém que usava a palavra “unidade” onde vivíamos na Itália, [dela falava] somente o mundo comunista. Assim como não havia ninguém, por exemplo, que usava a palavra “amor”, que era usada somente no sentido pior, ruim. E também a palavra “fraternidade” era usada somente em outros ambientes. Mas seguimos em frente assim mesmo, convictos de uma coisa: que a nossa unidade, sendo apoiada em Deus, duraria. Não fazíamos considerações sobre a “outra” unidade, certas de que a nossa duraria. Assim, a nossa palavra “fraternidade” também duraria, porque [...] [Jesus] disse que devemos ser todos irmãos: “Todos vós sois irmãos” (Mt 23,8). Portanto, seguimos em frente, e tenho a impressão de que vencemos, porque aquela outra unidade empalideceu um pouco, embora a palavrinha “unidade” seja muito bela, bela também para aqueles que a usavam como simples palavra; mas, como conteúdo, o nosso nos parece melhor, e sobreviveu. Assim também a fraternidade, que se realiza no mundo inteiro por meio não somente dos católicos, mas de muitos outros cristãos, inclusive através de fiéis de outras religiões, como os muçulmanos, por meio de pessoas de boa vontade dotadas de grandes capacidades e às quais somos muito agradecidos... Essa fraternidade perdura e se amplia cada vez mais. Por isso, diria: não se preocupem, sigam em frente, continuem a falar de unidade; se, realmente, alguém não entende, digam: “A unidade de Jesus”. E o mesmo vale para a fraternidade, e se realmente alguém não entende, digam: “Mas Jesus disse para sermos todos irmãos”. Acrescentem uma explicação, por amor a essas pessoas, mas vão em frente com coragem, sem se preocuparem com nada.

11 fevereiro 2018

Promover a fraternidade

Em diálogo com Bispos de diversas Igrejas, reunidos em congresso para aprofundar a vida e a doutrina da espiritualidade da unidade

Baar (Suíça), 16 de novembro de 2001

Como tornar mais compreensível o conceito da fraternidade?

Esta é uma pergunta que me atormenta. Como nos exprimirmos sem reforçar conceitos genéricos demais? Procuro responder a uma coisa por vez. Primeiro, o que entendemos [...] por fraternidade: é aquela realidade pela qual todos os homens deveriam se considerar irmãos e irmãs, por serem todos filhos de um único Pai. Certamente, para nós cristãos, esse conceito é um tanto particular, pois coincide com a unidade que Jesus pediu em seu testamento: “Que todos sejam um”. A unidade, por assim dizer, é a superfraternidade, porque é unidade em Deus por meio de Jesus Cristo pelo Espírito Santo; é unidade em Deus. Como somos filhos de Deus, somos “um” de um modo especial, temos uma fraternidade um pouco característica, cristã, que em geral não é possível no mundo que não é cristão. [...] Nós cristãos, com o nosso amor sobrenatural, amando [aqueles do mundo que não é cristão], e eles nos amando com aquele amor que possuem dentro de si e que nós devemos ajudar a desenvolver, a fazer entender que existe, criamos no mundo, em todo o mundo, a fraternidade. [...] Outra coisa: Como se fazer entender pelo homem da rua? Diria aqui algo que talvez se revele novo: começando nós a vivermos. Se começamos a viver a fraternidade, fazemos experiências. Por exemplo: encontro um muçulmano, conversamos, tornamo-nos amigos, depois ele passa também a fazer parte do Movimento. Em lugar de falar de fraternidade, começo a contar a minha experiência, mas é necessário que eu a tenha vivido [para] poder apresentá-la. Uma experiência de vida nunca é difícil, é sempre possível oferecê-la, basta saber explicá-la bem, basta amar, usar as palavras que todos entendem. Portanto, a minha resposta é: para se fazer entender pelo homem da rua, basta começar a viver essa fraternidade com todos, e doar as próprias experiências.

10 fevereiro 2018

Amar a dor de cada desunidade

De uma conferência telefônica

Rocca de Papa, 25 de outubro de 1990

Este mês, para ressaltar um aspecto concreto do amor [a Jesus Abandonado], procuremos amá-lo nas dificuldades próprias da unidade entre nós. Sabemos que a unidade [...] nas várias comunidades nossas, não é algo que se consegue de uma vez por todas; ela deve ser reconstruída cada dia. E podemos fazer isso amando a dor resultante de uma unidade não perfeita, que pode sempre acontecer. Isso significa estar sempre prontos a nos vermos novos uns aos outros, significa ter paciência, suportar, saber “passar por cima”; significa confiar, esperar sempre, acreditar sempre. Significa, sobretudo, não julgar. O julgamento simplesmente humano em relação aos outros, especialmente em relação aos responsáveis, é terrível, é a passagem através da qual o demônio da desunião penetra; com ele, todo o bem da alma lentamente se dissolve e a própria vocação pode vacilar. Aperfeiçoemos, portanto, esse amor pelos outros, repleto de matizes dolorosos: são o aspecto concreto da nossa disposição de morrermos uns pelos outros; são os pequenos ou grandes obstáculos a serem superados com o amor a Jesus Abandonado para que a unidade seja sempre plena. Assim, o Ressuscitado viverá sempre resplandecente em toda a nossa Obra, no mundo inteiro, e a levará ainda mais avante no cumprimento dos desígnios de Deus.

Concluímos este tópico com uma oração de Chiara Lubich sobre Jesus Abandonado e a unidade, que expressa a dinâmica profunda de sua vida.

Jesus, o meu coração te espera na vida ao limiar Quando no Paraíso o teu amor eu irei amar. Oh, quantas vezes desejei aquele instante, meu Jesus, No qual viverei eternamente aquela paz que és Tu. Bem sabes, porém, que minha alma se sacia só então Quando na terra todos unidos tiverem entrado em Teu coração. Dá-me, pois, de sofrer ainda pela unidade Que uma só voz seja no teu coração a humanidade.

09 fevereiro 2018

Supere sua dor com heroísmo 

Você está sofrendo?

Supere sua dor com heroísmo, porque só os vencedores conseguirão o prêmio que se encontra à espera deles. 

Não se apresse, mas também não desanime. 

Supere sua dor com heroísmo, busque alegria, e viva com a sensação otimista daquele que sabe lutar sem desfalecimento. 

E verifique que sua vida se transformará num hino de ação de graças ao PAI Todo-Bondade.

08 fevereiro 2018

Realizar-se na unidade


   Das respostas em um festival organizado pelos jovens do Movimento dos Focolares
   Roma, 20 de maio de 1995
   Chiara, vivemos 70 anos na Rússia com a ideia do coletivismo, buscando construir uma sociedade comunista. Agora muitos pensam que a unidade seja um achatamento do indivíduo dentro da coletividade. Como posso explicar a eles que a unidade, ao contrário, leva à plena realização da pessoa?”
   Leva a isso porque a verdadeira unidade é aquela que é feita à imagem da Santíssima Trindade. Temos um só Deus em Três Pessoas distintas, diferentíssimas uma da outra: o Pai não é o Filho, o Filho não é o Pai, o Pai e o Filho não são o Espírito Santo.
   Portanto, a unidade, a verdadeira unidade, aquela pela qual Jesus rezou ao Pai “que todos sejam um como eu e tu” (cf. Jo 17,21-22) permite que você se realize. É o contrário daquilo que se pode pensar.
   E como a unidade acontece? Com o amor. Quanto mais você dá, mais se realiza, mais é você mesmo, porque temos aquilo que damos; o que damos é o que nos faz ser. E nós seremos se vivermos a unidade, um bem diferente do outro, com personalidades diferentes um do outro, no entanto, todos um em Cristo Jesus.
   Assim, as nossas nações, quando forem unidas, quando realmente a pátria do outro for amada como a própria, terão as suas maravilhosas características incrementadas pela unidade, e todas serão um, a grande família dos filhos de Deus.
   De um discurso ao Movimento apostólico de Schönstatt
   Chiara passa em revista os diversos pontos da espiritualidade relacionados à unidade, para depois deter-se na unidade.
   Schönstatt (Alemanha), 10 de junho de 1999
   [...]
   O Senhor, iluminando-nos, fez-nos entender de modo especial determinadas palavras do Evangelho, especialmente as que se referem ao amor. Por isso, essas palavras, que nos atingiram como um raio, passaram a compor as linhas de desenvolvimento – dizia Paulo VI – de uma espiritualidade nova: a espiritualidade da unidade.
   Vocês podem dizer: mas quais são?
   Deus-Amor, mas, para amá-lo, fazer a vontade de Deus. E qual vontade de Deus? Amar. E se amamos a todos, também nos amamos. E, se nós nos amamos, eis a unidade. E para ter a unidade, Jesus Crucificado e Abandonado: aqui é todo um mistério que deveria ser elucidado à parte. Mas para ter a unidade plena: a Eucaristia. E quem é a imagem da unidade, a mãe da unidade? Maria. O que é a Igreja? A Igreja é a unidade organizada, a Igreja é o amor, dizia Paulo VI em Sidney, é o amor organizado, é a caridade organizada, a comunhão. Todas essas notas que nós extraíamos do Evangelho formaram a nossa espiritualidade, que, na prática, pode-se apresentar como uma medalha, cuja espessura são todas essas palavras; de um lado, há a unidade e, do outro, há Jesus Abandonado.
   [...]
   A unidade. No fim, quando se vive toda essa espiritualidade, por inteiro, de modo heroico, de modo pleno, o que acontece? Acontece – e agora lhes digo uma coisa muito simples, mas profunda – que nos tornamos o que somos, como dizia santo Agostinho. Nós já somos outro Cristo, porque somos batizados; já somos corpo de Cristo, porque temos o vínculo entre nós e somos corpo de Cristo; já somos Cristo, com Cristo cabeça e corpo de Cristo; já somos Igreja, porque somos batizados. Porém, o batismo faz uma parte, devemos fazer a outra, para podermos ser realmente Igreja, individualmente Cristo, realmente corpo de Cristo. O carisma da unidade ajuda a fazer com que os cristãos, e a Igreja, e as comunidades, e os grupos, tornem-se o que são. Já somos Igreja, já somos Cristo... Com esse carisma, tornamo-nos aquilo que somos.

07 fevereiro 2018

Amar Jesus Abandonado nas dificuldades

De uma carta a Padre Massimei

23 de abril de 1948

Jesus Crucificado e Abandonado! Ele é tudo! Se o mundo o conhecesse! Se aqueles que seguem a unidade o acolhessem como única meta, como único tudo! Então, a unidade nunca mais teria desequilíbrios, nunca mais teria rupturas. Procure abraçá-lo, Padre. Se eu não o tivesse tido nas provações da vida, não haveria a unidade; a menos que Jesus não tivesse querido suscitá-la igualmente em outros lugares.

06 fevereiro 2018

Serviço

De um escrito 2 de dezembro de 1946, 7 horas

Quem quiser ser portador da Unidade, deve manter-se constantemente num abismo de humildade, a ponto de perder até mesmo a sua alma em favor e no serviço de Deus no próximo. Não se recolhe em si senão para ali encontrar Deus e para rezar pelos irmãos e por si. Vive constantemente “esvaziada” porque está toda “enamorada” pela vontade de Deus. ... “Enamorada” pela vontade do próximo a quem quer servir por amor a Deus. O servo só faz aquilo que o patrão manda. Se todos os homens, ou pelo menos um grupo até exíguo de homens, fossem verdadeiros servos de Deus no próximo, o mundo não tardaria a ser de Cristo.

05 fevereiro 2018

Rezar

Logo depois da leitura luminosa de Jo 17, tornou-se hábito para Chiara e suas primeiras companheiras pedir a Jesus, após a comunhão eucarística, que se servisse da boca delas para repetir essa oração ao Pai, diariamente. Escreveu às suas companheiras, em outubro de 1947: “Na missa da manhã, deixem-se elevar por Jesus ao Pai Eterno, na Sua oração. Jesus obtém tudo Dele. Ofereçam depois a vida de vocês: ‘ut omnes unum sint’ [para que todos sejam um]”. Em novembro, talvez do mesmo ano, escreveu a Anna Merchiori: “Deixa que Jesus reze, quando Ele está vivo, vive no teu coração, após a comunhão. Deixa-o repetir Sua última oração ao Pai, para que sejas digna de viver pelo maior ideal: Deus”.

Da Palavra de Vida de janeiro de 2008

A Palavra de Vida proposta era: “Orai continuamente” (1 Tess 5,17), por ocasião da semana de oração pela unidade dos cristãos. A Palavra escolhida este ano, por um amplo grupo ecumênico dos Estados Unidos, vem da primeira carta de são Paulo aos cristãos de Tessalônica, na Grécia. Era uma comunidade pequena, jovem, e Paulo sentia a necessidade de que a unidade entre seus membros fosse cada vez mais firme. Por isso, convidava-os a “conservar a paz”, a serem pacientes com todos, a não retribuírem o mal com o mal, mas a procurar sempre o bem entre eles e para com todos, e também a “orar continuamente”, como que salientando que a vida de unidade na comunidade cristã só é possível quando existe uma vida de oração. O próprio Jesus orou ao Pai pela unidade dos seus: “Que todos sejam um”.

04 fevereiro 2018

Acreditar que todo homem é candidato à unidade

De uma conferência telefônica

Melbourne, 2 de fevereiro de 1982

As frases “Para os fracos, fiz-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo.” (1 Cor 9,22) nos lembram o método típico de quem segue o caminho da unidade para chegar ao “Ut omnes”: ‘fazer-se um’ com cada próximo. Sim, este é o caminho porque é o mesmo que Deus percorreu para manifestar-nos o Seu amor: fez-se homem como nós, e foi crucificado e abandonado para colocar-se no mesmo nível de todos. Fez-se verdadeiramente fraco com os fracos. E assim iniciou o caminho para o “Ut omnes”. Dobrou-se em nossa direção mas não se quebrou, exatamente como a cana de bambu, que, nas Filipinas, por exemplo, é bastante utilizada porque se dobra mas não se quebra. Nós somos chamados a participar da realização do “Ut omnes” e então, antes de tudo, devemos reavivar a nossa fé que cada homem, cada homem é chamado à unidade, porque Deus ama a todos. E não aleguemos desculpas: ‘aquele ali nunca vai entender’, ‘aquele é pequeno demais para compreender’; ‘aquele outro é meu parente e eu o conheço bem, é apegado às coisas da terra’; ‘este aqui acredita no espiritismo’, ‘aquele é de uma outra religião’, ‘esse é velho demais para mudar’, etc. Não! Deixemos de lado todas essas desculpas! Deus ama a todos e a todos espera. Nosso único dever é amar a cada um, servi-lo, fazendo-se um até o fim, exceto no pecado. Jesus vai conquistá-lo, se não for agora, daqui a dez, vinte ou trinta anos, mas acontecerá! Essa é a minha experiência.

03 fevereiro 2018

Onde há unidade, ali está Jesus

Trento, 1º de abril de 1948

Irmãos, que tudo caia. A unidade, jamais! Onde há unidade, ali está Jesus! Enlacem os três jovens corações de vocês e façam um só coração: o coração de Jesus! Sejam o ve rdadeiro focolare de Assis. Tragam sempre entre vocês três esse fogo aceso. E não tenham medo de morrer. Vocês já experimentaram que a unidade exige a morte de todos para dar vida ao Um! Sobre a morte de vocês, vive a Vida! A Vida que, sem saberem, vivifica muitas almas. Jesus disse: “Pro eis sanctifico me ipsum” ! [E, por eles, a mim mesmo me santifico ( Jo 17,19)] Para fazer a unidade de toda Assis e do mundo, estejam unidos entre vocês. É o único modo. Aquela unidade na qual o Amor vive lhes dará força para enfrentar cada desunidade exterior e preencher cada vazio. Façam isso como sacrossanto dever, embora lhes traga imensa alegria! A quem vive a unidade, Jesus prometeu a plenitude do gáudio! E nada temam. Temam somente se apegarem a algo que não seja Jesu s entre vocês. Esse é o ideal de vocês e nosso.

02 fevereiro 2018

Um compromisso pessoal constante e radical

De uma conferência telefônica

Rocca de Papa, 28 de dezembro de 1995

Podemos nos perguntar: quanto uma espiritualidade coletiva, toda comprometida em evidenciar a comunhão, a comunidade, exige de compromisso pessoal? Do nosso esforço individual? Devemos responder: exige ao menos tanto quanto as outras espiritualidades. De fato, como podemos amar os outros se nada temos de pessoal para oferecer, ou temos pouco? Além disso, Jesus não disse que é necessário para os outros santificar a si mesmo: “ Pro eis sanctifico me ipsum ” ( Jo 17,19)? O compromisso pessoal, inclusive para nós, portanto, deve ser constante e radical.

01 fevereiro 2018

A cura de seu coração 

Se alguém queixar-se da vida a seu lado, responda com palavras de encorajamento.

Não aumente o peso a quem já sente demasiado o peso que carrega. 

Se alguém se lamenta da vida, procure mostrar os lados bons e belos da existência. 

Não contribua com suas próprias lamentações para o desânimo do companheiro. 

Reanime-o com esperança e com bom ânimo, com palavras de incentivo e coragem. 

Talvez desse remédio dependa a cura de seu coração desalentado.