31 dezembro 2019

É preciso "ser o amor"

 Há quem faça as coisas “por amor”. Há quem faça as coisas procurando “ser o Amor”. Quem faz as coisas “por amor” pode fazê-las bem; mas pensando, por exemplo, em prestar um grande serviço a um irmão, digamos doente, pode aborrecê-lo com seu falatório, com seus conselhos, com suas ajudas, com uma caridade pouco sensata e pesad a. Coitado: ele terá um mérito, mas o outro, um peso… Tudo isso porque é preciso “ser o Amor”. O nosso destino é como o dos astros: se giram, existem, se não giram, inexistem. Nós existimos — entendendo-se que vive em nós não a nossa vida, mas a vida de Deus — se não cessamos um instante de amar. O amor nos abriga em Deus, e Deus é o Amor. Mas o Amor, que é Deus, é luz, e com a luz vemos se o modo como nos aproximamos do irmão e o servimos está em conformidade com o coração de Deus, está como o irmão gostaria, como ele sonharia se tivesse a seu lado não nós, mas Jesus.

30 dezembro 2019

Não fiquei triste

Não fique triste!

Procure o conforto que o céu dá a todos aqueles que se conformam e aceitam as dores com resignação.

Se aquela criatura que você ama acima de tudo, mais do que  você mesmo, foi ingrata com você, não fique triste: peça que o Pai a ajude e que ela se torne cada vez mais feliz...

Entregue ao Pai Todo-Compreensivo aqueles a quem você ama, e ame-os você também.

29 dezembro 2019

Obras, obras

“Fazer-se um”, viver o outro, participar totalmente. “Fazer-se um” não apenas com palavras ou com sentimentos. “Fazer-se um” cristãmente significa arregaçar as mangas, significa agir: obras, obras; fazer, fazer. Jesus demonstrou o que é o amor ao curar os doentes , ressuscitar os mortos, lavar os pés dos discípulos. Fatos, fatos: isso é amar.

28 dezembro 2019

"Cortar" para melhor amar

É preciso atuar perfeitamente o “fazer-se um” com cada próximo, cortando tudo aquilo que pode servir de obstáculo. Muitos fatores podem comprometer essa nossa atitude de amor. Às vezes, são as distrações, outras vezes, o desejo de transmitir precipitadamente nossa id eia , de dar inoportunamente nosso conselho. Em outras ocasiões, estamos pouco dispostos a “nos fazermos um” com o próximo porque deduzimos que ele não vai entender nosso amor, ou somos contidos por outros julgamentos sobre ele. Em certos casos, somos impedidos pelo interesse oculto de conquistá-lo para a nossa causa. Ainda mais: somos incapazes de “nos fazermos um” porque nosso coração já está tomado por nossas preocupações, por nossas dores, por nossas coisas, por nossos programas. Como podemos, então, “fazermo-nos um” e como as preocupações, as dores, as angústias do irmão podem nos penetrar? É realmente necessário cortar ou pôr de lado tudo o que preenche nossa mente e nosso coração. Sim, “cortar” para sermos mais livres, mais completos no amor. “Cortar”, para melhor amar.

27 dezembro 2019

Perder Deus por Deus

A prática de “fazer-se um” com os outros não é simples. Ela exige o vazio total de nós: que tiremos de nossa cabeça as ideias, que tiremos do coração os afetos, que tiremos da vontade toda coisa, que façamos até as inspirações se calarem, que percamos Deus em nós pelo Deus presente no irmão para nos identificarmos com os outros. Nos primeiros tempos do Movimento, quando eu conversava com uma pessoa que vinha confidenciar comigo, eu me exercitava demoradamente — pois me vinha a vontade de dar logo determinada resposta — em pôr de lado minhas ideias, até que ela esvaziasse em mim aquilo que preenchia seu coração. Agindo assim, eu estava convencida de que, no final, o Espírito Santo haveria de me sugerir exatamente aquilo que eu deveria dizer. Por quê? Porque, “criando o vazio”, eu amava, então Ele se manifestava. Tive confirmação milhares de vezes de que, se tivesse interrompido a conversa na metade, teria dito alguma coisa que não era correta, não era iluminada, mas era simplesmente “humana”. Ao passo que, deixando por amor que o interlocutor fizesse entrar em mim os seus anseios, os seus sofrimentos, e permitindo que ele descarregasse em mim o seu fardo, eu encontrava a resposta que resolvia tudo, ou me surgiam as ideias para ajudá-lo.

26 dezembro 2019

Morrer para o próprio eu

Fazer-se um” abrange todos os aspectos da vida e é a expressão máxima do amor. Vivendo assim, morremos para nós mesmos, para o próprio eu e para todo apego espiritual. Podemos alcançar aquele “nada de si” a que aspiram as grandes espiritualidades e aquele vazio de amor que acontece no ato de acolher o outro. Damos espaço para o outro, que sempre encontrará um lugar em nosso coração. “Fazer-se um” significa apresentar-se diante de todos em atitude de aprender, porque, de fato, há muito que aprender.

25 dezembro 2019

E vieram à luz

23 de agosto de 1971

      Todas as obras de Deus são conduzidas de modo igual. Ou seja, por Deus e não pelos homens. Por isso, aqueles que as começam fazem questão de afirmar que não tinham nenhum programa. É um orgulho legítimo deles, como dizer: aqui Deus deve ter intervindo.
      Eis o que diz são Vicente a propósito da sua obra: “O bem que Deus quer cumpre-se quase por si só, sem que pensemos nisso. Assim nasceu a nossa congregação […]; assim nasceu a companhia das Filhas da Caridade e a das Damas […]. Assim vieram à luz todas as obras das quais nos ocupamos atualmente. E nenhuma dessas atividades foi empreendida por nós com um programa bem definido. Foi Deus, que queria ser servido naquelas ocasiões específicas, que as suscitou pessoalmente, sem dar na vista. E, se Ele se serviu de nós, não sabíamos para onde tudo se encaminharia. Por isso, deixamo-lo fazer…”
      Coisa semelhante poderíamos dizer de cada obra nossa, seção, ramificação etc. Por exemplo, quem pensava que o Ideal fascinaria os jovens e nasceria o Movimento Gen? Acredito que ninguém. E assim poderíamos enumerar as outras expressões da Obra1.
      Portanto, pensamos também que as pessoas usadas por Deus são nada: é a pura verdade. Mas, diante do Deus da Obra, sempre nos ajoelhamos e olhamos com um sagrado temor, e veneração, e admiração, a Obra de Deus. E devemos ser imensamente gratos a Ele por termos sido escolhidos, entre tantos, para colaborar com ela.

24 dezembro 2019

Um novo horizonte

Caíram nossos projetos e limitações.
      Sempre desconfiados de nós mesmos, estávamos perfeitamente abandonados a Deus. Conhecíamos apenas o momento presente e não hipotecávamos o futuro, porque não estava em nossas mãos.
      Sabíamos que a vontade de Deus era a vontade de um Pai e podíamos entregar-nos a Ele sem medo. Sem dúvida, Ele teria querido o que quer que fosse para o nosso bem.
      A vontade de Deus como Ele no-la manifestava era para nós a expressão do amor do Pai pelos filhos. Portanto – mesmo não enxergando no começo – entregávamo-nos de bom grado a Ele e aos seus desígnios para nós, com toda a confiança e abandono. Nós acreditávamos no amor. […]
      Todos nos sentíamos entregues a uma aventura divina sobre a qual nada sabíamos, a não ser que Aquele que no-la propunha e preparava era Deus, um Pai, e que todas as circunstâncias à nossa volta e dentro de nós – tanto por Ele desejadas, quanto por Ele permitidas –, eram vozes do seu amor.

23 dezembro 2019

O verdadeiro amor

Há um ponto da arte de amar que ensina como coloca r em prática o verdadeiro amor pelos outros. É uma fórmula simples, feita de apenas duas palavras: “fazer-se um”. “Fazer-se um” com os outros significa assumir os fardos deles, as preocupações deles, partilhar os sofrimentos e as alegrias deles.

22 dezembro 2019

Tu e ele, dois membros de Cristo

Cada Palavra de Deus é o mínimo e o máximo que Ele te pede. Por isso, quando lês: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19), tens a medida máxima da lei fraterna. O próximo é um outro tu mesmo e como tal deves amá-lo. Se ele chora, chorarás com ele; se ri, rirás com ele; se é ignorante, far-te-ás ignorante com ele, e se perdeu o pai, identificar-te-ás com a dor dele. Tu e ele sois dois membros de Cristo e, sofra um ou outro, para ti é o mesmo. Porque, para ti, o que vale é Deus, que é Pai de ambos. E não arranjes desculpas para o amor. O próximo é quem quer que passe ao teu lado, pobre ou rico, bonito ou feio, ignorante ou culto, santo ou pecador, de tua pátria ou estrangeiro, sacerdote ou leigo, quem quer que seja. Procura amar a quem te passa ao lado no momento presente da vida e descobrirás em teu espírito novos germes de forças antes não conhecidas: elas darão sabor à tua vida e respostas a teus mil porquês.

21 dezembro 2019

Estamos cansados

Estamos cansados, Senhor, cansados sob o peso da cruz! E, a cada pequena cruz, parece-nos impossível carregar as maiores. Estamos cansados, Senhor, cansados sob o peso da cruz! O pranto nos prende a garganta e engolimos lágrimas amargas. Estamos cansados, Senhor, cansados sob o peso da cruz! Apressa a hora da chegada, que não mais existe estação de alegria para nós aqui. Existe só desolação. Pois o bem que amamos está todo no além. Ao passo que aquém, estamos cansados, cansados demais, sob o peso da cruz. A Virgem ao lado está, bela, mas mesta criatura. Ajude, em sua solidão, a solidão nossa, de agora.

20 dezembro 2019

Os frutos não faltam

Neste ínterim, o Senhor nos lapidava. Com o cinzel do seu amor fazia de modo que nos desapegássemos de tudo para ter apenas a Ele. Desapegar-nos do que tínha mos e do que éramos. Era a liberdade dos filhos de Deus: não ter e não ser. Não ter o que pensávamos ser nosso e que sabíamos ser de Deus. Não sermos nós para sermos Ele. Os frutos exteriores se multiplicavam com tal extensão que constatávamos ser necessária a cruz para a irradiação do Evangelho. Se ela não tivesse existido, não teríamos aquele equilíbrio necessário para levar adiante uma Obra de Deus. De fato, a dor é um meio de que Deus se serve para tirar a prepotência do orgulho e do amor próprio, para deixar que só Deus aja em nós. Exultávamos de alegria por causa dos frutos, mas, graças à cruz, não nos exaltávamos.

19 dezembro 2019

Mães de almas

Além disso, vivendo desse modo, as conversões se multiplicavam ao nosso redor. Estava presente em nossa alma a Palavra “sem efusão de sangue não há remissão” ( Hb 9,22). E também sem efusão de lágrimas não existem transformações radicais de almas. Víamos que aquela luz, aquela alegria, aquela paz peculiares, irrompidas da dor amada, tocavam e enterneciam até as pessoas mais difíceis. Experimentávamos que, pregados na cruz, éramos mães e pais de almas . A vida em unidade com Jesus Abandonado, portanto, tinha como efeito a fecundidade máxima.

18 dezembro 2019

Recompõe a unidade

Jesus Abandonado era também Aquele que recompunha a unidade entre nós, sempre que ela ficava comprometida. Só na unidade, onde Jesus está no meio, encontráramos a plenitude da vida. Fora dela, o vazio. E o antídoto, então, era Ele. Quem estava no focolare, ferido pelo abandono do irmão, compreendia que passava por um estado de alma semelhante ao Seu e se esforçava para tirar proveito dessa dor. Não apenas isso, mas via no irmão um outro Jesus Abandonado a ser amado. E o amor restabelecia a unidade. Se os que deram início ao Movimento não tivessem tido Jesus Abandonado nas provações da vida, este carisma da unidade não existiria, a menos que Deus quisesse tê-lo suscitado igualmente em outros lugares. Jesus Abandonado venceu em nós cada batalha, as mais terríveis batalhas. Mas era necessário sermos loucos de amor por Ele, síntese de todas as dores do corpo e da alma; remédio , portanto, de cada dor da alma e alívio de cada dor do corpo. Quando Ele chegava, nós o abraçávamos com ímpeto e n’Ele encontrávamos a vida.

17 dezembro 2019

Aspirar à santidade

Para a “nova evangelização”, requer-se ainda, e considera-se necessária, a santidade.
Também aqui, o que dizer da nossa experiência?
Os diversos membros do Movimento que vários bispos consideram aptos a serem propostos como modelos, começando assim um processo para beatificá-los, não serão talvez uma confirmação de que não só é possível tornarmo-nos santos seguindo o nosso carisma, como também que o anseio à santidade, graças a Deus, está presente em nossa Obra em todos os seus membros, chamados a evangelizar o mundo, como todos os cristãos?
Doravante, será dever de todos os cristãos inclinarem-se à santidade, se quiserem contribuir com eficácia para a “nova evangelização”.

16 dezembro 2019

Tendo conhecido a Deus

Quando, tendo conhecido Deus, não tivemos o merecimento de sua luz, porque não fomos vigilantes no amor e nos deixamos abater pela cruz sem desfrutar da graça, a alma tateia no escuro e na angústia, e o procura. Procura o Amor, clama por Ele, por Ele implora, grita às vezes e geme. Mas não o encontra. Não o encontra porque não ama. Deus não cede. Ele tem uma lei imutável. Passarão o céu e a terra (cf. Mc 13,31). E são palavras suas sem exceções. A alma não tem direito ao amor antes de amar. Recebe amor quando tem amor para dar. Deus a criou à sua imagem e semelhança e nela respeita a dignidade com que a revestiu. É ela que há de tomar a iniciativa e amar, como que por primeiro, correspondendo à graça. Então Deus vem, manifesta-se a quem o ama, dá a quem tem e este continuará na abundância. A alma que ama participa de Deus e sente-se rainha. Nada teme. Tudo para ela adquire valor. Passa-se da morte para a vida quando se ama.

15 dezembro 2019

A tua tática é uma só

Observei que a tua tática é uma só, mas não monótona, talvez porque o teu agir és Tu, Senhor. Tu és o Amor sempre novo. E a tua tática é esta: quando as almas se contentam com sombras — não falo de sombras efêmeras — isto é, quando a vida é para ti, mas não contigo identificada, mandas freq u entemente uma dor. Então, a alma a ti retorna e profere o seu “sim”. Mas, às vezes, este sim está perfumado por um sentimento de gratidão profunda e imerso numa prece singular: “Sim, Senhor, encontrando a cruz, nela te encontro. Obrigado por me teres reconduzido a ti, e não somente ao que a ti se refere, pois, mais do que tudo, atrai-me a solidão contigo, aquela mesma que enfrentarei, forçosamente, no dia do encontro, se não a tiver escolhido agora com o amor. E Tu, que tudo podes, faze que eu consiga em teu nome este colóquio contínuo entre ti em mim e ti mesmo, em que eventos, homens e coisas são apenas combustível para o nosso puro amor ”. Só esta é vida verdadeira, porque centelha de ti, vida sem engano, sem desilusão, sem trégua e sem ocaso.

14 dezembro 2019

O exame

Se fosses estudante e viesses a saber, por acaso, as perguntas do exame de fim de ano, tu te sentirias um felizardo e prepararias bem as respostas. A vida é uma prova e, no final, ela também deverá passar por um exame. Mas o infinito amor de Deus já disse ao homem quais serão as perguntas: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber” (Mt 25,35). As chamadas obras de misericórdia serão a matéria do exame, aquelas obras em que Deus vê se o amamos realmente, tendo-o servido no irmão. Talvez seja por isso que o Papa, com frequência, simplifica a vida cristã, ressaltando as obras de misericórdia. E nós fazemos a vontade de Jesus se transformamos a nossa vida numa contínua obra de misericórdia. Afinal, não é difícil nem muda tanto o que já estamos fazendo. Trata-se de elevar cada contato com o próximo a um plano sobrenatural. Qualquer que seja a nossa vocação: de pais ou de mães, de agricultores ou de funcionários, de deputados ou de chefes de Estado, de estudantes ou de operários, temos continuamente, durante o dia, ocasião direta ou indireta de dar de comer aos famintos, de instruir os ignorantes, de suportar as pessoas molestas, de aconselhar os indecisos, de rezar pelos vivos e pelos mortos. Uma nova intenção a cada gesto nosso em favor do próximo, seja ele quem for, e cada dia da vida servirá para preparar-nos ao dia eterno, entesourando bens que a traça não corrói.

13 dezembro 2019

Invasão de amor

O mundo está cheio de insatisfeitos, porque o homem não acertou a fonte de sua felicidade. O astro brilha no céu e a Terra subsiste porque eles se movem; o movimento é a vida do universo. O homem só é plenamente feliz quando aciona e não deixa morrer o motor de sua vida: o amor. Mesmo quem se julga feliz porque contraiu um bom matrimônio, porque recebeu uma herança, porque vive de luxo, de esporte, de divertimentos, cedo ou tarde sente vazios na alma, infalíveis. Por outro lado, o infeliz, a quem a vida tudo parece negar, se começa a amar, possui mais do que o rico e goza, na terra, a plenitude do Reino dos Céus. É uma verdade. É uma realidade. A humanidade enlanguesce em busca de paz , espera, constrói para poder usufruir, mas, quando seria o tempo, se entristece com a perspectiva da morte que desejaria jamais chegasse. Os filhos de Deus são os filhos do amor! Combatem com uma arma que é a vida mesma do homem. A sua luta está em recompor na ordem pessoas e sociedades, para que aquelas brilhem mais do que as estrelas, e estas componham constelações imorredouras, nos páramos eternos do Deus dos vivos. Se o homem visse os homens como Deus os vê, teria uma sensação de horror. Porque até os melhores, os que se elevaram com a arte ou a ciência acima do comum, cultivaram apenas uma parte do espírito, deixando o resto atrofiado. Só o amor em uma alma, só Deus em uma alma pode nela dilatar o fulgor, com equilíbrio de partes. Uma alma que ama é, no mundo, um pequeno sol que transmite Deus. Uma alma que não ama, vegeta, é pouco da Igreja, nada de Maria, antítese de Cristo.
O mundo precisa de uma invasão de amor, e isto depende de cada um. É o homem, o homem na graça de Deus, o depositário desse precioso elemento. Morre todo dia um número incontável de homens: inclusive os grandes, e deles pouco resta. Passa um santo para a Vida eterna — despertando, quando o Senhor o chama, para a idêntica vida de antes, transformada — e dele todos falam. Sua memória passa de geração em geração e seu exemplo é seguido por muitíssima gente. Diante daquele leito onde jaz um corpo e não mais uma pessoa, ninguém consegue entender a morte; mas, ao contrário, todos sentem o que é a Vida. O amor não morre e, porque serve, faz ser rei.

12 dezembro 2019

Pôr nos ombros todos os pesos dos outros


      É preciso compreender o amor no seu sentido mais verdadeiro, no modo mais acertado.
      O ser humano se sente realmente amado pelo outro, quando esse outro consegue fazê-lo feliz. Então entendemos que, às vezes, nosso amor não é verdadeiro amor quando, por exemplo, tratamos de assuntos, mantemos atitudes, damos atenção àquilo que ao outro não interessa.
      O verdadeiro comportamento que traduz as palavras “amor” e “amar” é “fazer-se um”, ir ao encontro do irmão, de suas carências, assumir as necessidades e as dores dele. Então, dar de comer, de beber, oferecer um conselho, uma ajuda, adquirem sentido.
      O que acontece se nos comportamos assim?
      Acontece o mesmo que se dá quando, ao constatarmos os grandes problemas de tantas regiões do Terceiro e do Quarto Mundos, atormentadas com o flagelo da miséria, da falta de moradia, de roupa, de trabalho etc., compreendemos que não se pode pretender que essas pessoas pensem em formar uma cultura, por exemplo, ou em elevar seu espírito com a oração. É preciso antes fazer que elas sejam aliviadas do peso da miséria que as esmaga. Depois, é possível pensar também em tudo aquilo que se refere à vida da pessoa humana: sua instrução, seu desenvolvimento integral etc.
      A mesma coisa acontece com cada uma das pessoas quando as amamos com o “fazer-se um”. Agindo assim, arrancamos delas completamente aquilo que preenche seus corações e que pode ser motivo de angústia. Elas percebem que pomos em nossos ombros o que as oprime, e se sentem livres.
      Mas, sentindo-se aliviadas, livres, eximidas de preocupações, estão prontas para dar acolhida também à mensagem de amor, de paz, que queríamos levar até elas.
      E serão atraídas pela vida nova, evangélica, que descobrem em nós — vida a que todos aspiram no fundo do coração —, porque é uma vida imaginada por Deus para todos os filhos seus.

11 dezembro 2019

“Cortar” para melhor amar

      É preciso atuar perfeitamente o “fazer-se um” com cada próximo, cortando tudo aquilo que pode servir de obstáculo.
      Muitos fatores podem comprometer essa nossa atitude de amor.
      Às vezes, são as distrações, outras vezes, o desejo de transmitir precipitadamente nossa ideia, de dar inoportunamente nosso conselho. Em outras ocasiões, estamos pouco dispostos a “nos fazermos um” com o próximo porque deduzimos que ele não vai entender nosso amor, ou somos contidos por outros julgamentos sobre ele. Em certos casos, somos impedidos pelo interesse oculto de conquistá-lo para a nossa causa.
      Ainda mais: somos incapazes de “nos fazermos um” porque nosso coração já está tomado por nossas preocupações, por nossas dores, por nossas coisas, por nossos programas.
      Como podemos, então, “fazermo-nos um” e como as preocupações, as dores, as angústias do irmão podem nos penetrar?
      É realmente necessário cortar ou pôr de lado tudo o que preenche nossa mente e nosso coração. Sim, “cortar” para sermos mais livres, mais completos no amor. “Cortar”, para melhor amar.

10 dezembro 2019

Perder Deus por Deus

      A prática de “fazer-se um” com os outros não é simples. Ela exige o vazio total de nós: que tiremos de nossa cabeça as ideias, que tiremos do coração os afetos, que tiremos da vontade toda coisa, que façamos até as inspirações se calarem, que percamos Deus em nós pelo Deus presente no irmão para nos identificarmos com os outros.
      Nos primeiros tempos do Movimento, quando eu conversava com uma pessoa que vinha confidenciar comigo, eu me exercitava demoradamente — pois me vinha a vontade de dar logo determinada resposta — em pôr de lado minhas ideias, até que ela esvaziasse em mim aquilo que preenchia seu coração. Agindo assim, eu estava convencida de que, no final, o Espírito Santo haveria de me sugerir exatamente aquilo que eu deveria dizer.
      Por quê? Porque, “criando o vazio”, eu amava, então Ele se manifestava. Tive confirmação milhares de vezes de que, se tivesse interrompido a conversa na metade, teria dito alguma coisa que não era correta, não era iluminada, mas era simplesmente “humana”. Ao passo que, deixando por amor que o interlocutor fizesse entrar em mim os seus anseios, os seus sofrimentos, e permitindo que ele descarregasse em mim o seu fardo, eu encontrava a resposta que resolvia tudo, ou me surgiam as ideias para ajudá-lo.

09 dezembro 2019

O caminho que lhe convém

Procure pensar. Não seja autômato!

Você faz parte da Humanidade, é uma peça importante da Humanidade, e por menor que seja sua cultura, você tem o dom de raciocinar.

Pense com sua própria cabeça, procure saber donde vem e para onde vai. Não viva às cegas!

Seja você mesmo!

Só você pode descobrir o caminho que lhe convém.

08 dezembro 2019

“Aspirar à santidade”

      Para a “nova evangelização”, requer-se ainda, e considera-se necessária, a santidade.
      Também aqui, o que dizer da nossa experiência?
      Os diversos membros do Movimento que vários bispos consideram aptos a serem propostos como modelos, começando assim um processo para beatificá-los, não serão talvez uma confirmação de que não só é possível tornarmo-nos santos seguindo o nosso carisma, como também que o anseio à santidade, graças a Deus, está presente em nossa Obra em todos os seus membros, chamados a evangelizar o mundo, como todos os cristãos?
      Doravante, será dever de todos os cristãos inclinarem-se à santidade, se quiserem contribuir com eficácia para a “nova evangelização”.

07 dezembro 2019

Lançados no infinito

 Os santos são portentos que, vista no Senhor a grandeza deles, por Deus jogam, quais filhos seus, tudo de seu. Dão sem pedir em troca. Dão a vida, a alma, a alegria, todo liame terreno, toda riqueza. Livres e sós, lançados no infinito, anseiam que o Amor os introduza nos Reinos eternos. Mas já nesta vida sentem encher-se-lhes o coração de amor, do verdadeiro amor, do único amor, que sacia, que consola, daquele amor que fere as pálpebras da alma e doa lágrimas novas. Ah! Homem algum sabe o que é um santo. Deu e ora recebe; e um fluxo incessante passa entre Céu e terra, liga a terra ao Céu, e verte dos abismos enlevo raro, linfa celeste, que não para no santo, mas passa sobre os cansados, sobre os mortais, sobre os cegos e paralíticos na alma, e irrompe, e orvalha, e soleva, e seduz, e salva. Se queres saber do amor, indaga ao santo.

06 dezembro 2019

A pequena semente

Nunca viste numa estrada abandonada, mas acariciada pela primavera, despontar a tenra erva e reflorescer, sem cessar, a vida? Assim acontece com a humanidade que te circunda, se deixas de enxergá-la com o olhar da terra e a revigoras com o raio divino da caridade. O amor sobrenatural em tua alma é um sol, que não admite trégua ao reflorescer da vida. É uma vida, que é a pedra angular no teu ângulo de vida. Nada mais é preciso para soerguer o mundo, para restituí-lo a Deus. O dom da palavra, a fineza do trato, o lampejo da arte, o cabedal da cultura, a experiência dos anos, são dotes, certamente, que não se devem descurar. Mas, para o Reino eterno vale o que tem mais vida. É linda, e boa, e saborosa, e colorida, a fatia perfumada da maçã, mas, enterrada, morre e não deixa traço. A pequena semente, que não agrada ao paladar, insípida e insulsa, enterrada, produz novas maçãs. Assim a vida em Deus, a vida do cristão, o caminho incandescente da Igreja. Ela, alta e solene, apoia-se em seguidores de Cristo que os séculos disseram insensatos, tolos, loucos…; sobre as quais investiu a fúria do príncipe do mundo, para destruir deles qualquer vestígio.
Resistiram. O Pai os podou para que, presos à videira, dessem frutos abundantes; e os exaltou, gloriosos, no Reino da vida. Tu, eu, o leiteiro, o agricultor, o porteiro, o pescador, o operário, o camelô… E os outros todos, idealistas desiludidos, mães carregadas de pesos, noivos em vésperas de núpcias, velhinhas sem brilho à espera da morte, jovens vibrantes, todos… Todos são matéria-prima para a sociedade de Deus. Basta que haja neles um coração que mantenha alta, ereta, direcionada a Deus, a chama do amor.

05 dezembro 2019

Um “novo” apostolado

A fé e o amor, que Ele vivia em nós, aproximaram-nos daquelas pessoas que a cada dia Ele nos fazia encontrar; e esse amor, espontaneamente, livremente, trouxe-as para o mesmo ideal.

Jamais pensamos em fazer apostolado. Esta não nos parecia uma bela palavra. Alguém havia abusado dela, deturpando-a. Queríamos apenas amar para amá-lo.

E logo percebemos que esse era o verdadeiro apostolado.

Sete, quinze, cem, quinhentos, mil, três mil e tantas outras pessoas de todas as vocações, de todas as condições. Todo dia, cresciam em volta de Jesus entre nós.

04 dezembro 2019

É inconcebível

É inconcebível, é extraordinário, é algo que se grava sempre mais profundamente em minha alma o teu ficar ali em silêncio no sacrário. Vou à igreja de manhã, e lá te encontro. Corro para a igreja ao sentir que te amo, e lá te encontro. Passo ali por acaso, ou por hábito, ou por respeito, e lá te encontro. E toda vez, Tu me dizes uma palavra, me retificas um sentimento, vais, na realidade, compondo com notas diversas um único canto, que o meu coração sabe de cor, e me repete uma palavra só: eterno amor. Ó Deus! Melhor não podias inventar. Aquele teu silêncio em que o bulício de nossa vida amortece, aquele palpitar silencioso que toda lágrima enxuga; aquele silêncio… aquele silêncio, mais sonoro que uma angélica harmonia; aquele silêncio que à mente traz o Verbo, ao coração doa o bálsamo divino; aquele silêncio em que toda voz se reconhece canalizada, toda prece ressoa transformada; aquela tua presença arcana… Ali está a vida; ali, a espera; ali, o nosso pequeno coração repousa, para retomar sem trégua o seu caminho.

03 dezembro 2019

Antes de subir ao Calvário

Antes de subir ao Calvário, talvez nas horas mais íntimas passadas com seus apóstolos, disse Jesus, conversando com eles na última ceia: “Filhinhos…” (Jo 13,33); aliás, há quem traduza: “Meus meninos…”. Por eles fizera-se homem e, agora, estava para derramar o sangue daquela maneira, para salvá-los. Tinha toda razão de chamá-los “filhinhos”. Então, morre na cruz e, três dias depois, aparece a Madalena em pranto e diz: “Vai, porém, a meus irmãos e dize-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17). É amor verdadeiro e divino, amor encarnado em Jesus, aquele que lhe faz dizer “filhinhos” não só aos discípulos presentes mas, por meio deles, a quantos o seguiriam. Contudo, mostra-se ainda mais amor quando diz a Madalena: “Vai a meus irmãos”. Talvez seja possível conceber Deus como Pai, pois no pai sempre há uma superioridade que o distingue do filho. Mas, Deus como irmão, que conosco adora no Céu o seu e o nosso Pai, é um mistério tamanho, só possível de vislumbrar se considerarmos que Deus é realmente o Amor. O Amor que, depois de ter merecido, como Homem, todos os títulos de paternidade para com os homens, pelos quais se encarnou, viveu e morreu, no findar de sua vida terrena, coloca-se ao lado dos outros, que Ele reconciliou com o Pai, fazendo-os partícipes de sua Divindade, fazendo-os semelhantes a si pelo seu Amor. Diz-se, de fato, que o Amor faz semelhar a si, e iss o se constata em Jesus com uma clareza ímpar. Além disso, o que caracteriza Jesus Salvador é que Ele dirigiu aquelas palavras de fraternidade a uma mulher, antes pecadora. E é justamente dela que se serve para avisar os Apóstolos, os que compunham sua Igreja nascente. A encarnação e a paixão de Jesus tinham como escopo a salvação do que estava perdido. Ele converge sempre para isto e não se contradiz jamais. A Igreja também fora fundada para continuar essa missão; por isso, Jesus faz que seja Maria Madalena a comunicar aos seus eleitos a notícia mais extraordinária, o milagre mais excelso. Aquela morte fora sobretudo por ela, pelos pecadores, que o amor e o sangue de Jesus haviam purificado e feito dignos até mesmo de anunciar aos que deveriam — por vocação — transmitir ao mundo a grande mensagem da ressurreição de Jesus e, por Ele e com Ele, a de todos os que o amam.

02 dezembro 2019

Encontrar Jesus vivo

Do diário de Chiara Lubich 19 de abril 1998.


Deparar com o Movimento dos Focolares não significa encontrar uma comunidade, ou uma espiritualidade, ou uma obra na igreja, ou um movimento. Muito menos significa encontrar um curso de exercícios espirituais ou curso de catequese, ou um rito, ou uma atmosfera particular.
Não!
Deparar com o Movimento dos Focolares, significa encontrar Jesus vivo!
É assim que devemos explicar a nossa história.
Portanto, ao encontrar o movimento...
Jesus não se apresenta a nós como uma realidade do passado, mas do presente. Ele responde, ele mantém aquilo que promete: ele está vivo. E, como evidência disso, o entusiasmo, a alegria, o testemunho para muitos.
Se o movimento teve e tem sucesso, e o número dos seus aumenta, é porque quem encontra, encontra o Senhor. Senhor que, depois, não podemos mais esquecer, ao qual, mesmo se dele nos afastamos, não podemos deixar de retornar. E é um dos fatos mais tocantes destes dias.

01 dezembro 2019

A todos os homens de boa vontade

Sabemos que na base de quase todas as religiões mais importantes do mundo existe, embora formulada em termos diferentes, a “Regra de Ouro”, a norma realmente áurea que prescreve fazer aos outros o que se deseja feito a si mesmo. Isso é cristianismo. E são cristãos por natureza os que afirmam isso. Acho que um princípio desses é válido não só para os cristãos, não só para as outras religiões, mas também para todos os homens de boa vontade, porque se trata de um princípio razoável, sadio e justo, universal.

30 novembro 2019

A “Regra de Ouro”

Outra característica do amor — conhecida, reproduzida em todos os livros sagrados e que, se vivida, bastaria ela sozinha para transformar o mundo inteiro numa família — é: amar como a si mesmo, fazer aos outros aquilo que se gostaria fosse feito a si, não fazer aos outros aquilo que não se gostaria fosse feito a si. É a chamada “Regra de Ouro”, tão bem expressa por Gandhi quando afirmou: “Tu e eu somos uma coisa só. Não posso te maltratar, sem me ferir”. O Evangelho a anuncia nestes termos: “Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles” (Lc 6,31). Na tradição muçulmana é conhecida assim: “Nenhum de vós é verdadeiro fiel, se não deseja para o irmão o que deseja para si mesmo”. Desse princípio emana uma norma que, se fosse aplicada, seria, sozinha, o maior propulsor da harmonia entre indivíduos e grupos, no coração das famílias e nos Estados. Pensar como seria o mundo se a “Regra de Ouro” fosse posta em prática, não apenas entre as pessoas isoladamente, mas também entre os povos, as etnias, os Estados, exprimindo-a, por exemplo, assim: “Amar a pátria dos outros como a sua”…

29 novembro 2019

Propósitos diários

Levantar-se de manhã e dizer apenas isto: “Serei a primeira a amar todos aqueles que encontrar durante o dia. Esse aqui e aquele outro, sempre primeiro, sempre primeiro, sempre primeiro”.
Determinar-se sempre a amar primeiro. Que vida maravilhosa! 
Dá força, faz circularem muitas graças, porque o amor, entre outras coisas, atrai o Espírito Santo, inunda com uma luz imensa. É o que Jesus diz: “Quem me ama, a ele me manifestarei” (Jo 14,21). De fato, amar o irmão significa amar a Ele, que sempre se manifesta com a sua luz. E chovem tantas graças, que à noite estaremos talvez cansados, mas felizes.

28 novembro 2019

O que vale é amar

No amor, o que vale é amar. Assim é nesta terra. O amor — falo do amor sobrenatural, que não exclui o natural — é uma coisa muito simples e muito complexa. Exige a tua parte e conta com a parte do outro.
Se tentares viver de amor, verás que, nesta terra, convém que faças a tua parte. A outra, nunca sabes se virá, nem é necessário que venha.
Às vezes, ficarás decepcionado, porém jamais perderás a coragem, se te convenceres de que, no amor, o que vale é amar.
E amar a Jesus no irmão, a Jesus que sempre a ti retorna, talvez por outros caminhos.
Ele deixa a tua alma como aço contra as intempéries do mundo, e a liquefaz no amor por todos os que te rodeiam, contanto que tenhas presente que, no amor, o que vale é amar.

27 novembro 2019

Gratuidade

No amor humano, geralmente, amamos porque somos amados. Também quando o amor é bonito, amamos no outro algo de nós mesmos. Existe sempre um quê de egoísta no amor humano, ou então, esperamos amar quando o interesse nos leva a amar.      
Por sua vez, o amor divino, sobrenatural é gratuito, ama primeiro.
Portanto, se quisermos deixar viver o “homem novo” em nós, se quisermos deixar acesa em nós a chama do amor sobrenatural, devemos também nós ser os primeiros a amar.

26 novembro 2019

Foi Ele quem nos ensinou

      Talvez tenha sido para nos ensinar a “amar primeiro” que, naquele tempo de guerra, Deus não nos tenha estimulado logo a amar todos os irmãos. Mas nos direcionou para os necessitados, os pobres, os doentes, os presos, os órfãos. Parece, agora, que Ele nos tinha colocado antolhos para que o reconhecêssemos somente neles, principalmente neles.
      Todos os pobres da cidade estavam na linha de mira.
      No tempo livre do trabalho, minhas primeiras companheiras e eu, carregando malas pesadas, os visitávamos em seus cortiços: eram Jesus. Sonhávamos que um dia, no dia do Juízo Final, o Senhor nos mostraria aquela roupa dada, aquele cachecol, aquelas luvas de que nos tínhamos privado, bordados de pérolas preciosas, como aconteceu com a pequena cruz que Catarina de Sena deu ao seu pobre.
      O Senhor nos havia apontado no pobre alguém que podíamos “amar primeiro”.

25 novembro 2019

Por aqueles menos dignos de serem amados

      O amor de Deus tomou a iniciativa e nos amou quando éramos tudo, menos dignos de sermos amados (“mortos pelo pecado”).
      Essa consideração me faz lembrar o início do nosso Movimento, quando Deus acendeu em nossos corações a “centelha” (conforme expressão de João Paulo II2) do nosso grande Ideal.
      Será que, naquela época, na devastação da guerra e no deserto que nos envolvia, teríamos encontrado alguém mais que tomasse a iniciativa de nos amar?
      Não. Portanto, éramos nós que, por uma dádiva particular de Deus, acendíamos a chama do amor em muitos corações, com o anseio de fazer que ela se alastrasse em todos. Tampouco olhávamos se os próximos eram dignos de nosso amor, para poder amá-los; mas atraíam-nos, antes, os mais pobres, em quem melhor vislumbrávamos o semblante de Cristo, e os que mais precisavam de sua misericórdia.

24 novembro 2019

Como o Criador


      A fé no amor que Deus faculta às suas criaturas, fé típica de nós, cristãos, descobrimo-la em muitos irmãos e irmãs de outras religiões, a começar pelas abraâmicas, que afirmam a unidade do gênero humano, o zelo que Deus dispensa a toda a humanidade e a obrigação de cada criatura humana de agir como o Criador, com imensa misericórdia por todos.
      Reza um provérbio muçulmano: “Deus perdoa cem vezes, mas reserva a sua suprema misericórdia para aquele cuja piedade poupou a menor de suas criaturas”.
      Que dizer da compaixão sem limites por todos os seres vivos que Buda ensinou, aconselhando seus primeiros discípulos: “Ó monges, deveríeis trabalhar pelo bem-estar de muitos, pela felicidade de muitos, movidos de compaixão pelo mundo, pelo bem-estar dos homens”?
      Portanto, amar a todos. É um princípio universal. Sentido pelos seres humanos de qualquer época, e debaixo de qualquer céu.

23 novembro 2019

A revolução cristã

      O amor por todos é fecundo demais. É experiência de tanta gente que bastaria viver apenas esse aspecto da caridade, ou seja, do amor verdadeiro, o amor de Deus, para deflagrar uma revolução ao redor, partindo do próprio bairro: a revolução cristã, aquela revolução que os primeiros cristãos levaram ao mundo de então.

22 novembro 2019

Ao alcance de todos

      Nos dias de hoje, não basta banir a guerra. A paz requer que se supere a categoria de inimigo, qualquer que seja o inimigo. Aliás, ela exige que se ame o inimigo.
      Isso os discípulos de Cristo podem fazer.
      Mas, como o amor pulsa no íntimo de cada coração humano, isso também as pessoas que não possuem uma fé religiosa podem fazer, talvez a título de filantropia, de solidariedade, de não-violência. Igual àqueles que, sendo de outros credos, são chamados por sua religião a pôr em ação o respeito e o amor ao próximo.

21 novembro 2019

Por um mundo novo

      É preciso criar um mundo novo, onde todos se amam.
      É isso o que Deus quer. E é preciso começar por algum lugar.
      É um ponto estratégico, o dos cristãos: poderem começar a amar porque — sendo amados por Deus — sabem amar também os inimigos.
      De fato, os cristãos são particularmente capazes de superar as dificuldades encontradas quando se ama, porque o amor que possuem é um amor forte. Na qualidade de filhos de Deus, participam do mesmo amor de Deus, de Deus que é Amor.

20 novembro 2019

O tempo me escapa veloz

O tempo escapa-me veloz, aceita a minha vida, Senhor! No coração te guardo, é o tesouro que deve guiar os meus passos. Tu, segue-me, vela-me, é teu o amar: exultar e sofrer. Ninguém recolha um suspiro. Oculta em teu sacrário eu vivo, trabalho para todos. O toque da minha mão seja teu; só teu o timbre da minha voz. Neste trapo que sou, retorne teu amor ao mundo árido, com a água que jorra abundante da tua chaga, Senhor! Clareie a divina Sapiência a tristeza sombria de tantos, de todos. E Maria resplandeça.

19 novembro 2019

A falsa prudência

O que estraga certas almas é uma falsa “prudência” — como é chamada. É uma prudência humana, que vem à tona toda vez que o divino aflora. Parece uma virtude, mas é mais antipática do que o vício. Não quer incomodar ninguém. Deixa os ricos irem para o inferno (“já tendes a vossa consolação”) (Lc 6,24) porque não os esclarece. Sabe-se lá o que poderia acontecer! Deixa que na família, ao lado, se espanquem ou até se matem, porque poderiam dizer que se está intrometendo na vida alheia, ou que se poderia acabar como testemunha no tribunal. E são só aborrecimentos! Aconselha moderação aos santos porque poderia acontecer alguma coisa com eles. Esta prudência, como uma mordaça, isola e se isola, porque nasce do medo. Sobretudo, implica com Deus, porque se Ele interferisse demais no mundo, através de seus filhos fiéis, poderia provocar uma revolução, e aqueles filhos, tanto quanto Cristo, poderiam perder a vida, odiados como Ele pelo mundo. É uma falsa virtude, que creio seja alimentada ou apoiada pelo demônio, que muito pode operar em semelhante clima. Houve alguém que jamais a teve: Jesus Cristo. Quando saiu para pregar, queriam matá-lo já na primeira fala. “Ele porém, passando pelo meio deles, prosseguia seu caminho” (Lc 4,30). Olhando a sua vida com os olhos desses prudentes, dir-se-ia toda ela uma imprudência. Não só! Se esses prudentes fossem lógicos em seu raciocínio, chegariam a concluir que a morte, a cruz, foi Ele mesmo quem procurou… com sua imprudência. Creio não haver palavra de Jesus que não esbarre nesta gente. É porque Deus e o mundo estão em antítese perfeita, e só aqueles que sabem desvencilhar-se do mundo, para seguir as pegadas de Cristo, podem dar alguma esperança à humanidade.

18 novembro 2019

Deus é poderoso

Deus é poderoso, é o Todo-Poderoso. Maria foi definida “a toda-poderosa por graça”. Ela também é poderosa: pode e obtém. Nós somos miseráveis. E aqueles dentre nós que se julgassem diferentes estariam enfileirados conosco só por esse fato. Mas a nossa impotência, a nossa pobreza — se amamos a Deus —, talvez nos possam ser úteis. Elas nos podem fazer obter alguma coisa. Se o Pai dos Céus quis que Jesus fosse nosso irmão, se preparou na humanidade uma Imaculada para sua vinda, é porque estávamos em más condições, chagados na alma, pecadores. O pecado deve ser odiado. Mas, a vinda de Jesus à terra por Maria, se bem entendida, pode matar-nos de alegria, se Deus não amparar. Jesus na terra… irmanado conosco… diz: “Se pedirdes alguma coisa a meu Pai em meu nome, Ele vo-la dará” (Jo 14,13-14), como o bom filho di ria ao irmão rebelde de quem tem dó: “Vai lá e pede a papai em meu nome”, é certo que ele conseguirá mais facilmente. Jesus na terra… Jesus nosso irmão… Jesus que morre por nós entre ladrões; Ele, o Filho de Deus, nivelado aos outros. Quem sabe seremos também um pouco poderosos junto ao Coração do Pai, se nos mostrarmos como somos: seres miseráveis que talvez tenham feito poucas e boas, mas que dizem, arrependidos e reconciliados em seu amor: “Afinal, se vieste para nosso meio, foi porque nossa fraqueza te atraiu, nossa miséria te feriu até à compaixão”. O certo é que não há na terra nem mãe, nem pai que espere um filho perdido e tudo faça para que ele volte, tanto quanto o Pai celeste.

17 novembro 2019

As virgens prudentes e as virgens insensatas

As virgens prudentes e as virgens insensatas. O azeite é o amor. Quem tem o amor é virgem. Por isso, olhando as coisas pelo lado divino, é mais virgem Madalena do que muitas virgens orgulhosas da própria virgindade ou, ao menos, que não amam. E Jesus não pode conhecê-las, porque o Amor só conhece o Amor. O Esposo reconhece a esposa naquela que traz o seu sobrenome, alguma coisa de si, como que Ele mesmo nela transferido, una com Ele. Ora, Deus é propriamente a Caridade. Nada é mais seu do que ela, que Dele é essência.

16 novembro 2019

Qualquer de vós, que não renunciar



      “Qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33).

      “Qualquer”. Portanto, as palavras de Jesus são dirigidas a todos os cristãos.

      “Tudo”. É o que pede a todos, para serem cristãos. Não podemos ser apegados nem mesmo à nossa alma (que é uma de nossas posses), mas devemos desapegar-nos de tudo.

      E aqui Jesus Abandonado é Mestre universal.

15 novembro 2019

Ao alcande de todos

Nos dias de hoje, não basta banir a guerra. A paz requer que se supere a categoria de inimigo, qualquer que seja o inimigo. Aliás, ela exige que se ame o inimigo.
Isso os discípulos de Cristo podem fazer.
Mas, como o amor pulsa no íntimo de cada coração humano, isso também as pessoas que não possuem uma fé religiosa podem fazer, talvez a título de filantropia, de solidariedade, de não-violência. Igual àqueles que, sendo de outros credos, são chamados por sua religião a pôr em ação o respeito e o amor ao próximo.

14 novembro 2019

Há quem faça as coisas por amor


      Há quem faça as coisas “por amor”. Há quem faça as coisas procurando “ser o Amor”. Quem faz as coisas “por amor”, pode fazê-las bem; mas pensando, por exemplo, em prestar um grande serviço a um irmão, digamos doente, pode aborrecê-lo com seu falatório, com seus conselhos, com suas ajudas, com uma caridade pouco sensata e pesada.

      Ele terá um mérito, mas o outro, um peso. Tudo isso porque é preciso “ser o Amor”.

      O nosso destino é como o dos astros: se giram, existem, se não giram, inexistem. Nós existimos — entendendo-se que vive em nós não a nossa vida, mas a de Deus — se não cessamos um instante de amar.

      O amor nos abriga em Deus, e Deus é o Amor.

      Mas o Amor, que é Deus, é luz, e com a luz vemos se o modo como nos aproximamos e servimos o irmão está em conformidade com o Coração de Deus, está como o irmão gostaria, como ele sonharia se tivesse a seu lado não nós, mas Jesus.

13 novembro 2019

Se estamos unidos, Jesus está entre nós

Se estamos unidos, Jesus está entre nós. E isso vale! Vale mais do que qualquer outro tesouro que nosso coração possa ter: mais do que a mãe, o pai, os irmãos, os filhos. Vale mais do que a casa, o trabalho, os bens; mais do que as obras de arte de uma grande cidade como Roma; mais do que os nossos afazeres, mais do que a natureza que nos circunda, com as flores e os campos, o mar e as estrelas; vale mais do que a nossa própria alma. Foi Ele que, inspirando os seus santos com suas verdades eternas, marcou época em cada época. Essa é também a sua hora: não a de um santo, mas Dele, Dele entre nós, Dele vivendo em nós, que edificamos, em unidade de amor, o seu Corpo Místico. Mas, é preciso dilatar o Cristo, fazê-lo crescer em outros membros; tornarmo-nos, como Ele, portadores de Fogo. Fazer de todos um e em todos o Um! Vivamos, então, na caridade, a vida que Ele nos dá momento por momento. É mandamento fundamental o amor fraterno. Por isso, tem valor tudo o que é expressão de sincera e fraterna caridade. Nada do que fazemos tem valor, se nisso não há sentimento de amor pelos irmãos; pois Deus é Pai e tem no coração, sempre e unicamente, os filhos.

12 novembro 2019

Servir

Amar quer dizer servir. Jesus nos deu o exemplo. Primeiro, com a morte de cruz favoreceu a humanidade inteira que foi, que é e que será. Mas depois, deu-nos também o exemplo quando lavou os pés. Era Deus, e nos lavou os pés, a homens. Portanto, também nós podemos lavar os pés dos nossos irmãos.
      Podemos, não. Devemos. Isso é o cristianismo: servir, servir a todos, reconhecer patrões em todos. Se nós somos servos, os outros são patrões.
      Servir, servir. Procurar alcançar a primazia evangélica, sim, mas pondo-nos a serviço de todos.
      A serviço… Eis uma ideia que pode revolucionar o mundo. O cristianismo não é uma brincadeira, o cristianismo é uma coisa séria, não é uma mão de verniz, um pouco de compaixão, um pouco de amor, um pouco de esmola.
      O cristianismo é exigente, é plenitude de vida.

11 novembro 2019

As palavras de um pai


      As palavras de um pai são sempre valiosas, pois é preciso acreditar em quem fala com amor. Mas, se um pai dita as últimas palavras antes de deixar a terra, elas ficam gravadas na alma dos filhos, e valem por todas as outras juntas: são o testamento.

      O amor paterno é nada diante do amor de um Deus.

      Também Jesus, o Deus humanado, falou. Também Ele deixou um testamento: “Que sejam um… que todos sejam um” (Jo 17,11.21).

      Quem orienta a própria vida para a unidade, centrou o coração de Deus.

      No mundo, somos todos irmãos, mas cada um passa pelo outro ignorando-o. E isso acontece mesmo entre cristãos batizados.

      A Comunhão dos Santos existe, o Corpo Místico existe. Mas, esse Corpo é como uma rede de galerias escuras.

      A energia para iluminá-las existe; em muitos é a vida da graça. Mas Jesus não queria só isto quando se dirigiu ao Pai, invocando. Queria um Céu na terra: a unidade de todos com Deus e entre si, isto é, a rede de galerias iluminada; a presença de Jesus em cada relação com os outros, além da sua presença na alma de cada um.

      Este é o seu testamento, o desejo mais precioso de Deus que por nós deu a vida.

10 novembro 2019

A vida é bela

Não ponha limites à sua vida!

Procure ouvir as notas harmoniosas e sublimes do canto maravilhoso que se evolua da natureza.

Viva sorridente e alegre, para espantar as preocupações, para aliviar as lutas.

Mergulhe sua alma na alma da natureza: absorva a luz do sol, goze a suavidade da lua, contemple o esplendor das estrelas, aspire o perfume das flores.

A vida é bela, apesar das dores e dos contratempos.

09 novembro 2019

Jamais desanime

O homem não pode viver isolado.

Lembre-se de que cada companheiro de jornada é um amigo que o ajuda a quem você precisa também ajudar.

A cooperação existe entre todas as coisas criadas.

Procure você também cooperar com tudo e com todos, em benefício da própria Terra que o acolhe bondosamente, permitindo sua evolução.

Ajude sempre, e jamais desanime.

08 novembro 2019

No amor, o que vale é amar

No amor, o que vale é amar. Assim é nesta terra. O amor — falo do amor sobrenatural, que não exclui o natural — é uma coisa muito simples e muito complexa. Exige a tua parte e conta com a parte do outro. Se tentares viver de amor, verás que, nesta terra, convém que faças a tua parte. A outra, nunca sabes se virá, nem é necessário que venha. Às vezes, ficarás decepcionado, porém jamais perderás a coragem, se te convenceres de que, no amor, o que vale é amar. E amar a Jesus no irmão, a Jesus que sempre a ti retorna, talvez por outros caminhos. Ele deixa a tua alma como aço contra as intempéries do mundo, e a liquefaz no amor por todos os que te rodeiam, contanto que tenhas presente que, no amor, o que vale é amar.

07 novembro 2019

O frio

O frio gela; mas, quando excessivo, queima e corta. O vinho fortifica; mas, quando demasiado, debilita as forças. O movimento é o que é; mas quando vertiginoso, parece estático. O Espírito de Deus vivifica; mas quando é muito… inebria. Jesus é o Amor porque é Deus; mas o grande amor por nós levou-o a clamar “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?…” (Mt 27,46), quando Ele se mostra apenas homem.

06 novembro 2019

Dá-me todos os que estão sós


      Senhor, dá-me todos os que estão sós…

      Senti em meu coração a paixão que invade o teu, por todo o abandono em que nada o mundo inteiro.

      Amo todo ser doente e só: até as plantas sem viço me causam dó…, até os animais solitários.

      Quem consola o seu pranto?

      Quem tem pena de sua morte lenta?

      E quem estreita ao próprio coração o coração desesperado?

      Meu Deus, faze que eu seja no mundo o sacramento tangível do teu Amor, do teu ser Amor: que eu seja os braços teus que estreitam a si e consomem no amor toda a solidão do mundo.

05 novembro 2019

Serenidade

Se tiver que discutir, faça-o com serenidade.

Lembre-se de que seu adversário tem os mesmos direitos que você, de fazer-se ouvido.

Ouça-o com a mesma atenção que gosta de receber.

Não tumultue a discussão: os direitos dele são iguais aos seus.

E, quem sabe, muitas vezes a razão estará com ele.

Então, discuta com serenidade, e conquiste fama de sábio e de homem bem educado.

04 novembro 2019

Bela, a mãe!


      É tão bela a Mãe, no recolhimento perene em que o Evangelho no-la mostra: “Conservava a lembrança de todos estes fatos em seu coração” (Lc 2,51).

      Aquele silêncio pleno exerce um fascínio sobre a alma que ama.

      Como poderia eu viver Maria no seu místico silêncio, quando a nossa vocação é, por vezes, falar para evangelizar, sempre aos quatro ventos, em todos os lugares, ricos e pobres, dos subterrâneos às estradas, às escolas, em todo canto?

      Maria também falou. E deu Jesus. Ninguém jamais no mundo foi apóstolo maior. Ninguém jamais teve palavra como Maria, que deu à luz o Verbo encarnado.

      Maria é real e merecidamente Rainha dos Apóstolos.

      E ela calou-se. Calou-se porque dois não podiam falar. A palavra há de apoiar-se sempre em um silêncio, como uma pintura sobre um fundo.

      Calou-se porque criatura. Porque o nada não fala. Mas sobre aquele nada, falou Jesus e disse: Ele mesmo.

      Deus, o Criador e o Tudo, falou por sobre o nada da criatura.

      Como então viver Maria, como perfumar a minha vida com o seu fascínio?

      Fazendo calar em mim a criatura e deixando falar nesse silêncio o Espírito do Senhor.

      Assim vivo Maria e vivo Jesus. Vivo Jesus em Maria.

      Vivo Jesus vivendo Maria.

03 novembro 2019

A morte é vida

«A morte não me incute medo. Sobretudo eu entendi claramente isso: quem vê a morte é quem não morre, ou seja, a pessoa que vê a outra morrer. Mas quem morre vê a vida, porque a morte é o encontro com Cristo. Você fecha os olhos, por assim dizer, se tiver tempo de fechá-los, ou melhor, você os abriu aqui e os abre de novo lá. Você vê Cristo, o Cristo que salva, que ama, etc., que será também o seu juiz, certamente. Porém, se durante a vida você procurou fazer algo por Ele, naquele momento Ele virá ao seu encontro, eu creio, com toda a bondade.
Portanto, a certa altura perde-se o medo da morte. Quando muito, eu tenho medo das dores que podem preceder a morte, pelo terror de senti-las; talvez, dores agudas - como estou observando em muitas pessoas - ao ponto de não resistir e me lamentar. Mas, também neste caso me consola o próprio Cristo que segui: Jesus crucificado e abandonado, pois ele gritou: "Meu Deus,...", e, portanto, ele suportará também o meu clamor, as minhas lamentações, não vai pretender que eu sorria em certos momentos».


02 novembro 2019

Trabalho

TRABALHO é sinônimo de nobreza. Não desdenhe o trabalho que lhe coube realizar na vida. 
O trabalho enobrece aquele que o faz com entusiasmo e amor. 
Não existem trabalhos humildes. 
Só se distinguem por serem bem ou mal realizados. 
Dê valor ao seu trabalho, fazendo com todo o amor e carinho, e estará desta maneira dando valor a si mesmo.

01 novembro 2019

Isolado

0 homem não pode viver isolado.
Lembre-se de que cada companheiro de jornada é um amigo que o ajuda e a quem você precisa também ajudar.
A cooperação existe entre todas as coisas criadas. 

Procure você também cooperar com tudo e com todos, em benefício da própria Terra que o acolhe bondosamente, permitindo sua evolução. 
Ajude sempre, e jamais desanime.

31 outubro 2019

O colóquio

      De uma conferência telefônica
      Rocca di Papa, 22 de dezembro de 1994

      E aqui estamos no quinto instrumento da nossa espiritualidade coletiva, que denominamos “colóquio”.
      Ele também serve muito para o progresso de nossa vida espiritual. […]
      Assim como nem sempre são suficientes nossos cuidados para manter a saúde do corpo, mas nos confiamos a especialistas, talvez para um check-up completo; assim como não basta lavar e cuidar com precaução do nosso carro para viajarmos tranquilos, mas, de vez em quando, é necessário o olho de lince do mecânico, também é bom controlar de vez em quando a caminhada de nossa alma com alguém que conhece mais do que nós a vida do espírito. […]
      Também Jesus fazia colóquios com pessoas individualmente. O Evangelho traz alguns. E foram tão importantes quanto os seus discursos para as multidões.
      Por exemplo, Ele conversou sozinho com a samaritana (cf. Jo 4,1-26), bem como conversou de noite com Nicodemos (cf. Jo 3,1-21).
      Visto que se encontrava junto a um poço e tinha sede, pediu de beber à samaritana e, na mesma circunstância, revelou-lhe a situação dela: tinha vivido com cinco homens e nenhum deles era seu marido, como também não era o que tinha naquele momento.
      Apesar disso, continuando o colóquio, Jesus fala com aquela mulher até mesmo sobre o dom de Deus, a graça, que nos faz filhos de Deus, e a ela se revela inclusive como Messias: “Sou eu, que estou falando contigo” (Jo 4,26).
      Revelações grandiosas, divinas… a uma pobre samaritana, com quem Jesus não deveria nem ter falado, segundo os costumes.
      E a Nicodemos, cuja fé e piedade conhecia, Jesus diz que quem não é gerado pelo Alto não pode ver o Reino de Deus; que, portanto, é necessário renascer da água e do Espírito por meio do batismo.
      Outra revelação altíssima referente ao Reino. O quanto Jesus amava as pessoas!
      E é justamente Dele que precisamos aprender a fazer os colóquios.
      Ele não fecha os olhos para a realidade das pessoas que tem diante de si: a samaritana pecadora; Nicodemos, homem de piedade, embora medroso. E encontra, em todos os casos, o modo de revelar a eles as grandes realidades que veio doar ao mundo.
      É assim que nós nos devemos comportar nos colóquios que fazemos com os nossos irmãos: devemos partir da situação presente deles – que viremos a conhecer se nos colocarmos na atitude apropriada (a de amá-los com todo o coração e a mente) e se estivermos totalmente vazios (como nos ensina o mistério de Jesus Abandonado) – para que o irmão possa abrir-se totalmente, esvaziando em nosso coração a enchente que às vezes tem em seu espírito, de modo que se dê início à realização, entre nós, daquele relacionamento trinitário que devemos estabelecer com ele.
      Depois, ouvindo o Espírito Santo que certamente fala em nós se tivermos amado, falamos, prontos não só a fazer voltar a paz e a serenidade ao irmão, mas a lhe revelar novamente, em seus mil matizes, o Ideal que um dia o iluminou e arrastou pelo caminho da espiritualidade coletiva.
      E como nos devemos comportar se somos nós que estamos em posição de receber?
Já está claro. Também nós devemo-nos dispor a estabelecer um relacionamento trinitário com o irmão ou a irmã, que está presente para nos ajudar. E, também nesse caso, Jesus Abandonado é mestre, Aquele que, tendo dado tudo, tornou-se o vazio.
      Mas aqui, é preciso criar o vazio em nós, doando a nossa situação espiritual com as suas lutas e as suas vitórias, os seus regressos e os seus progressos.
      E depois, colocamo-nos em atitude de ouvir, certos de que o Espírito Santo dará a sua luz a quem nos deve iluminar, e conscientes de que é sobretudo a Ele, ao Espírito Santo, que devemos a nossa gratidão se fomos ajudados, aliviados e encorajados.
      Se tudo decorrer desse modo, também aqui, como na “hora da verdade”, o resultado será uma alegria profunda: alegria pela paz readquirida ou ampliada, alegria por enxergar de novo e cada vez melhor o nosso caminho atrás de Jesus, causa de toda nossa felicidade.

30 outubro 2019

A hora da verdade

      De uma conferência telefônica
      Rocca di Papa, 24 de novembro de 1994

      Desta vez, apresento-lhes outro instrumento típico e útil à espiritualidade coletiva e, sem dúvida, o mais árduo e o mais difícil para o nosso “homem velho”. Mas, considerando a medida com a qual queremos amar o próximo, ou seja, até dar a vida, acho que seja também praticável.
      Trata-se da “hora da verdade”.
      Embora de modo bastante diferente, ela lembra um hábito que ocorria entre os primeiros cristãos, os quais, desejando a perfeição para se manterem seguidores de Jesus e amando os irmãos em quem tinham plena confiança, chegavam, às vezes, até a confessar os próprios pecados uns aos outros.
      Trata-se aqui de outra coisa bem diferente. Os pecados nós os contamos aos confessores, mas, pela caridade, que também nutrimos por nossos semelhantes e pelo desejo de cooperar para que também eles se santifiquem conosco, empenhamo-nos a lhes oferecer, com amor, o que neles podemos observar de negativo e positivo.
      É uma prática exigente, mas serve muito para a Santa Viagem.
      No Movimento, costumava-se colocá-la em prática desde os primeiros tempos e ainda hoje temos dela uma muito boa impressão.
      O fato é que um irmão pode ser realmente útil para o outro, como uma mão sabe lavar a outra. A esse propósito, lembro de um provérbio africano que diz que o irmão é como um olho que temos atrás da cabeça. E isso quer significar que o irmão vê onde nós não vemos.
      É preciso reunir-se num grupo não numeroso demais. […] Para que [a hora da verdade] produza seus frutos, será necessário dispor de um pouco de tempo e agir com calma.
      Um responsável deverá estar presente, como moderador, para confirmar ou corrigir o que for dito.
      Antes de qualquer outra coisa, será bom renovar o pacto entre todos, para que tudo se desenrole somente no amor pleno.
      E qual disposição de ânimo deverá ter quem for submetido ao julgamento fraterno dos demais? Com o ânimo de quem sabe que é sempre um simples servo (cf. Lc 17,10), de que é nada, porque assim é cada um perante Deus. Desse modo, não se perturbará nem se exaltará com tudo o que for dito.
      Depois, sorteia-se um do grupo. E, sob a orientação do moderador, cada irmão dirá algum defeito daquele que foi escolhido, alguma imperfeição, algum senão que achar que notou nele. Depois, refazendo a rodada, cada um dirá também alguma virtude, alguma qualidade que pôde notar.
      No final – essa é a nossa constatação contínua – todos são tomados por uma grande alegria e não se sabe a razão. Talvez seja a experiência da liberdade cristã; a atuação da Palavra: “A verdade vos tornará livres” (Jo 8,32). […]
      “A hora da verdade” é uma espécie de maquiagem espiritual. É como quando se aplica o cosmético no rosto: ele tira as impurezas e deixa a pele macia e elástica, e dá uma sensação de bem-estar; algo semelhante acontece para as nossas almas.
      A “hora da verdade” é uma verdadeira bênção em nossa corrida para a santidade. Procuremos praticá-la com alegria, no momento oportuno. Deus ama a quem dá com alegria (cf. 2Cor 9,7).

29 outubro 2019

Comunhão das experiências da Palavra de Vida

      De uma conferência telefônica
      Rocca di Papa, 27 de outubro de 1994

      Desta vez, falamos da “comunhão das experiências da Palavra de Vida” […]. Não se deve confundi-la com a “comunhão de alma”, do modo como a descrevi na última vez, mas é uma prática distinta que, como vocês sabem, remonta aos primeiros dias da vida do Movimento.
      De fato, a Palavra de Vida tem uma importância fundamental para nós. A nossa Obra nasceu como uma encarnação dela.
      Por meio da Palavra vivida com radicalismo Cristo se forma em nós.
      Além disso, a Palavra é importantíssima porque, por meio dela, assumimos como nossa toda aquela grande regra (era assim que víamos o Evangelho desde os primeiros tempos) de onde haurimos a nossa espiritualidade. […] Mas isso não basta.
      Somos chamados a pôr em comum nossas experiências relativas a ela. Por quê? Porque é isso que Deus quer numa espiritualidade coletiva e é uma grave omissão deixar de colocar essa comunhão em prática.
      Os santos não hesitam muito em atribuir essa transgressão ao inimigo dos homens (ao demônio).
      Em uma carta, santo Inácio de Loyola fala da “falsa humildade” como uma arma que o demônio usa para prejudicar as pessoas. Diz ele: “Vendo o servo de Deus tão bom e humilde que […] acha que é completamente inútil […] faz com que ele pense que, se fala de alguma graça [e acrescentamos: como seria a luz que vem do fato de viver a Palavra] que Deus Nosso Senhor lhe concedeu, graça de obras, propósitos e desejos, peca com [uma] espécie de vanglória porque fala em sua honra. Portanto, faz com que ele não fale dos benefícios recebidos do seu Senhor, impedindo assim de dar frutos em outros e em si mesmo, uma vez que a lembrança dos benefícios contribui sempre para coisas maiores” (Carta de 18.6.1537, in Loyola, 1977, p. 725-726).
Eu acrescentaria que algumas vezes não se pratica a comunhão sobre as experiências da Palavra de Vida por preguiça ou porque somos arrastados por um falso ativismo e, portanto, mais levados a olhar fora do que dentro.
      Não! Nós devemos ser fiéis aos nossos deveres, devemos agarrar com força esse outro instrumento de nossa espiritualidade coletiva toda vez que for vontade de Deus (e estamos estabelecendo isso para todas as diversas vocações da Obra).

28 outubro 2019

A comunhão de alma

De uma conferência telefônica
      Rocca di Papa, 22 de setembro de 1994

      A “comunhão de alma” deve ser feita entre nós para colocar em comum os bens espirituais que possuímos, e assim colaborar para a santificação do outro como para a nossa. Sabemos que: nós “somos” na medida em que “somos para os outros”.
      Põe-se em comum tudo o que é belo e útil com vistas à santidade e, não por último, os frutos da nossa meditação. […]
      [Com ela] confrontamo-nos todo dia com o nosso Ideal, por meio da leitura da Sagrada Escritura, de trechos da nossa espiritualidade, de escritos dos santos ou de documentos da Igreja apropriados para essa finalidade. Colocamo-nos na presença de Deus; consideramos o estado de nossa vida espiritual; deixamo-nos iluminar por um assunto ou outro que temos à frente; falamos com a Santíssima Trindade, com Jesus, ou o Pai, ou o Espírito Santo, ou então, com Maria, sobre tudo o que diz respeito à nossa alma; fazemos propósitos a serem postos em prática coerentemente.
      Tudo isso é bom? É ótimo! E deve ser feito cada vez melhor, toda vez possivelmente com maior zelo.
      Mas, o simples fazer meditação, até perfeitamente, ainda não é um princípio da nossa espiritualidade coletiva. […] Somos chamados a fazer render em proveito também dos outros o que Deus nos fez entender na meditação e o que foi o fruto dela. E isso é feito na “comunhão de alma”.
      Então, é necessário estabelecer um tempo com os nossos irmãos ou as nossas irmãs para fazer isso. […] Serve de encorajamento lembrar que aquilo que não se comunica se perde; ao passo que aquilo que se doa volta reforçado à alma do doador, além de se tornar útil para os outros.
      Um exemplo da “comunhão de alma” é nos dado por Maria diante da prima Isabel. No Magnificat, a Mãe de Jesus, a toda humilde, fala de si, daquilo que Deus operou nela, e faz isso para a glória de Deus. É evidente que entre ela e a prima já havia o amor mútuo, mas o Magnificat o corroborou.
      O mesmo devemos fazer também nós, ficando atentos a que tudo sirva unicamente ao bem dos irmãos e que nada tenha a ver com a nossa vanglória.
      Comecemos, então, a pôr em prática com regularidade esse segundo princípio da nossa espiritualidade. Essa comunhão espiritual sempre dará um novo impulso à nossa vida ideal.

27 outubro 2019

Os tesouros do rei

Welwyn Garden City (Londres), 20 de novembro de 1996

      Faz-se uma comunhão das riquezas espirituais, porque está escrito que “é bom manter ocultos os tesouros do rei; porém, é ótimo revelá-los” [cf. Tb 12,7]. Então, nós dizemos: É preciso mantê-los escondidos, para não “dar” – como diz o Evangelho – “as coisas santas aos cães” [cf. Mt 7,6], mas é preciso revelá-las quando, no entanto, é o momento oportuno. Por exemplo: entre nós, dispomo-nos na sexta-feira, entre nós focolarinas, no meu focolare, todas juntas. Então, eu digo alguma coisa sobre como passei a semana, coisas alentadoras que tive a impressão de entender, talvez dificuldades que superei, ou que tive dificuldade em superar, ou como entendi melhor Jesus Abandonado, ou como quero amá-lo, ou o que procurei fazer. As outras fazem a mesma coisa, de modo que é um enriquecimento recíproco dos bens espirituais. Tudo é feito como dádiva de amor. E os outros o aceitam como dádiva de amor. Essa é a comunhão de alma.

26 outubro 2019

Amou-nos

Loppiano, 18 de abril de 2000

      O pacto do amor mútuo foi o que fizemos quando entendemos que o mandamento de Jesus era o que Jesus mais desejava, e então nos lançamos: “E eu estou pronta a morrer por você”; “Eu estou pronta a morrer por você”.
      Depois, com o tempo, entendemos que existia prontidão neste sentido: que, se por acaso fôssemos chamadas por Deus a morrer mesmo, morreríamos; enquanto isso, dividíamos as coisas entre nós. Ultimamente, entendemos ainda mais profundamente que, na realidade, diante do irmão, é preciso morrer de fato, não com o sangue, mas com a alma, o que significa perder tudo, tudo, tudo, para inserir-se nele, para entendê-lo, para abraçar as suas dores, os seus pesares, os seus… e vice-versa. O amor mútuo é: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Amou-nos até o abandono, portanto, também nós: vivermos Jesus Abandonado, sermos nada para entrarmos no outro.

25 outubro 2019

Criar as condições necessárias

De uma conferência telefônica
      Suíça, 13 de setembro de 1990

      Devemos antes criar as condições necessárias, suscitar a atmosfera adequada para, depois, poder dizer ao outro, com coragem: “Eu – com a graça de Deus – quero estar pronto a morrer por você”. E, por sua vez, poder ouvir: “E eu, por você”.
      Depois devemos agir com coerência, atiçando o fogo do amor com relação a cada próximo. Desse modo, vivemos também a Palavra de Vida do mês de setembro que diz: “Não fiqueis devendo nada a ninguém… a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei” (Rm 13,8).

24 outubro 2019

Disposição para “dar a vida”

      De uma palestra aos jovens da Jornada Mundial da Juventude
      Santiago de Compostela, 16 de agosto de 1989

      Se alguém ama, é frequente ser amado de volta, e por isso o amor se torna mútuo. E esse é o mandamento próprio de Jesus. Vocês sabem, na Trindade vive-se o amor e, portanto, Jesus trouxe o amor mútuo, porque as pessoas da Santíssima Trindade se amam assim.
      De fato, Jesus diz que esse mandamento é “seu” – “o meu mandamento” – e é “novo”, termos que não se encontram em outras partes [do Evangelho]. Diz: “Amai-vos como eu vos amei” (cf. Jo 15,12). É uma medida! Morreu por nós e diz que é preciso amar um ao outro até dar a vida: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida” (cf. Jo 15,13).
      Portanto, vocês entendem que ceder um espaço na barraca de lona, uma cama de campanha, uma coisa qualquer, em comparação com a vida, já que é essa a medida…
      E os seguidores de Jesus não poderão dizer que são autênticos se não forem capazes de dar a vida.
      É algo muito exigente, mas não tenham medo. Existem os que os precederam: Jesus como primeiro, os santos. […]
Nem sempre nos é solicitado dar a vida: agora, por exemplo, vocês, no máximo, têm de ficar ouvindo e eu, falando alguma coisa: não é realmente dar a vida. Mas, no fundo, é preciso ter sempre esta disposição: se me for solicitada [a vida], eu a dou; se me for solicitada… No fundo, é preciso tê-la.

23 outubro 2019

O dia do Amor

De uma conferência telefônica
      O dia 12 de abril daquele ano era uma Quinta-Feira Santa. Chiara celebrava esse dia como “o dia do amor”.
     
      Rocca di Papa, 12 de abril de 1990

      Este é o dia do amor, porque é tudo amor o que neste dia se comemora.
      Amor, o sacerdócio ministerial. […]
      Amor, a Eucaristia, na qual Jesus se deu inteiramente a nós.
      Amor, a unidade, efeito do amor, que Ele num dia como hoje suplicou ao Pai.
      Amor, o seu “Mandamento Novo”, que nos deixou.
      E é sobre o Mandamento Novo de Jesus que gostaria de me deter.
      Nós o propusemos no Genfest6 como uma grande oportunidade para se chegar a um mundo unido. E todos, uns mais, outros menos, vão agora se esforçar para colocá-lo em prática.
E nós, que estamos no coração da Obra, os seus mais íntimos, o que fazermos?
      Minha proposta é esta.
      Hoje começa o tríduo pascal. São três dias solenes.
      Pois bem, em um desses dias, devemos encontrar um momento solene em que renovaremos entre nós […] onde for possível, aquele pacto que as primeiras focolarinas fizeram quando declararam umas às outras: “Eu estou pronta a morrer por você, eu por você, eu por você…”.
      É verdade que até essa pequena, grande coisa, nem sempre é de todo fácil: mesmo nas estruturas fundamentais de nossa Obra, o respeito humano pode ter-se infiltrado. Talvez para alguns seja mais fácil tomar essas decisões diretamente com Deus. Mas a nossa espiritualidade é coletiva e não podemos traí-la.
      O pacto de outrora foi o marco histórico do Movimento. Ali, Jesus se pôs em nosso meio. Portanto, encontremos o modo de renová-lo. Depois, esforcemo-nos para viver de acordo.
      O nível sobrenatural vai aumentar em toda a Obra, e nos tornaremos de modo melhor – como devemos ser – os primeiros operários de um mundo unido.
      O Ressuscitado será mais resplandecente entre nós, com o seu Espírito, como requer a festa de Páscoa, que nos preparamos para festejar. Sem esquecer que o dia de amanhã, Sexta-Feira Santa, lembra Jesus Abandonado, a chave divina que torna realmente possível estarmos prontos a morrer um pelo outro.

22 outubro 2019

Renovar o “pacto de amor mútuo”

      Uma declaração sagrada
      De uma conferência telefônica
      Sierre (Suíça), 25 de agosto de 1994

      O primeiro princípio sobre o qual se apoia [a nossa espiritualidade] é, sem dúvida, o Mandamento Novo de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (cf. Jo 15,12). […]
Não será nada mau – penso eu – que nos exercitemos um pouco em profundidade nesse primeiro princípio, fundamento de toda a construção.
      E o que fazer concretamente?
      Eu diria que reavivássemos esse amor entre nós e, para que o nosso agir tenha seriedade e se assinale como que uma nova etapa no caminho da nossa Santa Viagem4, aconselharia a vocês e a mim que nos redeclarássemos esse amor entre nós, […] com todos aqueles com os quais convivemos normalmente, embora de modos diferentes. Fizéssemos como fizeram as primeiras focolarinas quando se declararam: “Estou pronta a morrer por você; eu, por você”, ou seja, todas por qualquer uma, lançando assim os fundamentos da nossa Obra5. E depois, procurar viver coerentemente, com toda a intensidade.
      Isso não significa, vocês sabem disso, que, mediante o amor mútuo, a unidade se realiza uma vez para sempre. Ela precisa ser renovada todo dia, mediante propósitos e fatos. […]
      É sagrada essa declaração de amor mútuo, é sagrado esse pacto que lhes peço; é solene, mesmo quando feito na simplicidade; e não está isento de dificuldades. De fato, será fácil pronunciá-lo com alguns; com outros, será necessário preparar o terreno. É um ato não isento de sacrifício, porque às vezes será necessário vencer o respeito humano, outras vezes, superar a indolência ou a rotina espiritual em que talvez tenhamos caído. Será necessário praticar a humildade para fazer o amor próprio calar; em resumo, pagar o primeiro preço da passagem de um modo de viver individual para uma espiritualidade coletiva.
      Mas, Deus abençoará todo esforço e, se depois formos fiéis ao que dissemos, ele nos dará a alegria de divisar a sua presença, efeito da unidade, aonde quer que nos dirijamos.