03 dezembro 2019

Antes de subir ao Calvário

Antes de subir ao Calvário, talvez nas horas mais íntimas passadas com seus apóstolos, disse Jesus, conversando com eles na última ceia: “Filhinhos…” (Jo 13,33); aliás, há quem traduza: “Meus meninos…”. Por eles fizera-se homem e, agora, estava para derramar o sangue daquela maneira, para salvá-los. Tinha toda razão de chamá-los “filhinhos”. Então, morre na cruz e, três dias depois, aparece a Madalena em pranto e diz: “Vai, porém, a meus irmãos e dize-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17). É amor verdadeiro e divino, amor encarnado em Jesus, aquele que lhe faz dizer “filhinhos” não só aos discípulos presentes mas, por meio deles, a quantos o seguiriam. Contudo, mostra-se ainda mais amor quando diz a Madalena: “Vai a meus irmãos”. Talvez seja possível conceber Deus como Pai, pois no pai sempre há uma superioridade que o distingue do filho. Mas, Deus como irmão, que conosco adora no Céu o seu e o nosso Pai, é um mistério tamanho, só possível de vislumbrar se considerarmos que Deus é realmente o Amor. O Amor que, depois de ter merecido, como Homem, todos os títulos de paternidade para com os homens, pelos quais se encarnou, viveu e morreu, no findar de sua vida terrena, coloca-se ao lado dos outros, que Ele reconciliou com o Pai, fazendo-os partícipes de sua Divindade, fazendo-os semelhantes a si pelo seu Amor. Diz-se, de fato, que o Amor faz semelhar a si, e iss o se constata em Jesus com uma clareza ímpar. Além disso, o que caracteriza Jesus Salvador é que Ele dirigiu aquelas palavras de fraternidade a uma mulher, antes pecadora. E é justamente dela que se serve para avisar os Apóstolos, os que compunham sua Igreja nascente. A encarnação e a paixão de Jesus tinham como escopo a salvação do que estava perdido. Ele converge sempre para isto e não se contradiz jamais. A Igreja também fora fundada para continuar essa missão; por isso, Jesus faz que seja Maria Madalena a comunicar aos seus eleitos a notícia mais extraordinária, o milagre mais excelso. Aquela morte fora sobretudo por ela, pelos pecadores, que o amor e o sangue de Jesus haviam purificado e feito dignos até mesmo de anunciar aos que deveriam — por vocação — transmitir ao mundo a grande mensagem da ressurreição de Jesus e, por Ele e com Ele, a de todos os que o amam.

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