30 setembro 2019

Jesus abandona-se novamente ao Pai

Mas, justamente porque humanidade e divindade em Cristo são uma coisa só, pois Jesus é Deus, Ele tem a força de superar esta imensa provação, grande como Deus, e, no mesmo grito, em que todo o poder do Amor onipotente está velado mas abrangido, abandona-se novamente ao Pai, unindo-se de novo com Ele.
Não fora Jesus Deus, isto não teria sido possível. Por isso é que no abandono Ele mais do que nunca se revela Deus1.
Nessa dor, e por ela, é que Jesus cumpre tudo o que devia: “Consummatum est”.
Diz João Paulo II, sempre na Salvifici doloris:
Junto com esse peso horrível medindo o mal “total” de voltar as costas a Deus, contido no pecado, Cristo, mediante a divina profundidade da união filial com o Pai, percebe de modo humanamente inexprimível este sofrimento que é o desapego, a repulsa do Pai, o rompimento com Deus. Mas exatamente por meio deste sofrimento, Ele realiza a redenção e pode dizer, ao expirar: “Tudo está consumado” (cf. Jo 19,30). (SD, 18)
Por esta dor também a sua humanidade ressurgirá glorificada e será digna de subir à direita do Pai. E, por esta dor, particularmente, os homens se tornam filhos de Deus.
É o pensamento de são João da Cruz:
Nessa hora em que sofria o maior abandono sensível, [Ele] realizou a maior obra que superou os grandes milagres e prodígios operados em toda a sua vida: a reconciliação do gênero humano com Deus, pela graça. (João da Cruz, 1996, p. 207)

29 setembro 2019

A cruz

  “Tome a sua cruz…” (Mt 16,24).
      Estranhas e únicas essas palavras. Também essas, como as demais palavras de Jesus, têm algo daquela luz que o mundo não conhece. São tão luminosas que os olhos apagados dos homens, inclusive dos cristãos lânguidos, ficam ofuscados e, portanto, cegos.
      Nada talvez seja mais enigmático, mais difícil de entender, do que a cruz. Ela não penetra na cabeça nem no coração dos homens. Não entra porque não é compreendida, porque nos tornamos muitas vezes cristãos de nome, apenas batizados; talvez praticantes, mas imensamente distantes daquilo que Jesus queria que fôssemos.
      Ouve-se falar da cruz na Quaresma, beija-se a cruz na Sexta-Feira Santa, pendura-se a cruz nas salas de aula. Ela marca com seu sinal alguns atos nossos, mas não é compreendida. Talvez o erro esteja todo aqui: no mundo não se compreende o amor.
      Amor é a palavra mais bela, porém, a mais deformada, a mais deturpada. É a essência de Deus, é a vida dos filhos de Deus, é o alento do cristão, e tornou-se patrimônio, monopólio do mundo; está nos lábios daqueles que não teriam o direito de pronunciá-la.
      É verdade; no mundo, nem todo amor é assim. Ainda existe, por exemplo, o sentimento materno que enobrece o amor — porque misto de dor —; existe ainda o amor fraterno, o amor nupcial, o amor filial, bom, sadio: vestígio, talvez inconsciente, do Amor do Pai, Criador de tudo. Mas, o que não é compreendido é o amor por excelência, é entender que Deus, que nos fez, desceu até nós, homem entre os homens, viveu conosco, ficou conosco, e deixou-se pregar na cruz por nós, para nos salvar.
      É sublime demais, belo demais, divino demais, pouco humano demais, por demais sangrento, doloroso, agudo, para ser entendido.
      Talvez se entenda alguma coisa através do amor materno, pois amor de mãe não são só afagos, beijos; é sobretudo sacrifício.
      Assim também Jesus: o amor o levou à cruz, por muitos considerada loucura.
      Mas só aquela loucura salvou a humanidade, plasmou os santos.
      De fato, os santos são homens capazes de entender a cruz. Seguindo Jesus, o Homem-Deus, eles aceitaram a cruz de cada dia como a coisa mais preciosa da terra; brandiram-na, às vezes, como uma arma, tornando-se soldados de Deus; amaram-na por toda a vida, conheceram e experimentaram que a cruz é a chave, a única chave que abre um tesouro, o tesouro. Abre pouco a pouco as almas à comunhão com Deus. E assim, através do homem, Deus mostra-se de novo ao mundo, e repete — embora de modo infinitamente inferior, mas parecido — os atos de outrora, quando, homem entre os homens, bendizia a quem o maldizia, perdoava a quem o insultava, salvava, curava, pregava palavras de Céu, saciava famintos, fundava sobre o amor uma nova sociedade, mostrava o poder Daquele que o enviara. Em suma, a cruz é o instrumento necessário através do qual o divino penetra no humano e o homem participa da vida de Deus com maior plenitude, elevando-se do reino deste mundo ao Reino dos Céus.
      Mas, é preciso “tomar a própria cruz…”, despertar pela manhã aguardando-a, sabendo que só através dela nos chegam aqueles dons que o mundo não conhece, aquela paz, aquele gáudio, aquela noção de coisas celestes, pela maioria desconhecidas.
      A cruz… coisa bem comum. Tão fiel, que não falta ao encontro nem um só dia. Bastaria aceitá-la para tornarmo-nos santos. A cruz, símbolo do cristão, que o mundo rejeita, acreditando que, fugindo dela, foge da dor, e não sabe que ela escancara a alma, de quem a entende, para o Reino da Luz e do Amor. Aquele amor que o mundo tanto busca, mas não possui.

28 setembro 2019

Torna-nos perfeitos na unidade

Jesus Abandonado era quem nos tornava perfeitos na unidade . Jesus dissera em seu testamento: “Eu neles e Tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade” ( Jo 17,23). Se Jesus estava em mim , se Jesus estava no outro , se Jesus estava em todos, seríamos, naquele instante, perfeitos na unidade. Mas — repito — para que Jesus estivesse em nós devíamos amar Jesus Abandonado em todas as dores, vazios, fracassos e tristezas da vida. Se Jesus estava em mim e nos outros, encontrando-nos, reconhecíamo-nos um no outro e sentíamo-nos irmãos. E a graça nos estimulava a viver este ideal com decisão e perseverança justamente para que jamais faltasse a perfeição da unidade.

27 setembro 2019

Na catedral de Trento, em busca da verdade

    De respostas a jovens que se preparavam para entrar no focolare

    Estudante do Instituto de Ensino Superior Rosmini de Trento, Chiara ficou fascinada principalmente pela filosofia. É daquele período um episódio que revela a sua relação profunda com Jesus Eucaristia.

    Rocca di Papa (Roma), 30 de dezembro de 1976

    Quando fazia filosofia, ia estudar na catedral. Havia um cantinho no fundo iluminado por uma fresta, como as de um presídio, e à luz daquela pequena abertura, eu estudava filosofia olhando para Jesus Eucaristia, a fim de que Ele me iluminasse sobre como entender a verdade. A passagem de uma verdade humana – como, por exemplo, o sistema kantiano – para uma verdade sobrenatural aconteceu em contato com Jesus Eucaristia. E já ali, Jesus Eucaristia agia.

26 setembro 2019

A audiência com o Onipotente

De uma palestra aos gen

    Em 1947, depois de o novo Movimento ter recebido a aprovação do bispo de Trento, as “autoridades da Igreja em Roma manifestaram apreensões” – conta a própria Chiara – “quanto a essa nova realidade. Começou, então, um estudo longo e aprofundado por parte da Congregação para o Santo Ofício8, que se concluiu em 1962 com a aprovação pontifícia. Era uma coisa simples e obrigatória para a Igreja, mas para nós queria dizer angústia e insegurança”9. Angústia e insegurança agravadas pela morte de Pio XII, que era favorável ao novo Movimento. Mais uma vez, a presença de Jesus Eucaristia se revelou determinante, como Chiara explicaria aos jovens do Movimento.

    Rocca di Papa, 9 de julho de 1974
    O Ideal que nascia era novo demais e tinha de passar por um estudo aprofundado por parte da Igreja. Viver na angústia era para nós o pão de cada dia. “Será que estamos no caminho certo?” O coração nos dizia que sim, mas somente a Igreja nos podia confirmar isso. […]
    Quem nos deu a coragem para seguir em frente? Quem nos sustentou? Jesus Eucaristia. Pensávamos: ainda não conseguimos ter uma audiência com o papa, com o vigário de Cristo; mas todos os dias, em todas as horas, podemos ter uma audiência com o próprio Cristo. E, indo até Jesus, lhe dizíamos: No fundo, o papa é teu vigário; ordena-lhe e diz a ele que somos seus filhos, que a nossa Obra quer servir somente a Igreja.
    E Jesus fez isso de modo impressionante: as aprovações que vieram, escritas e orais, quase nem se podem contar.
    Vocês entendem que com Ele somos onipotentes?
    Os gen devem ter o reto sentido dos valores e assumir esta ideia: nós temos a possibilidade de tratar todos os dias com Ele, o Onipotente, das nossas dificuldades, podemos contar a Ele as nossas alegrias, podemos confiar a Ele o Movimento Gen, a Igreja, a unidade dos cristãos, dos povos...

25 setembro 2019

Tu és tudo, eu sou nada

De respostas a jovens que se preparavam para entrar no focolare

O primeiro grupo de jovens que Chiara atraiu ao redor do seu Ideal, dos quais surgiram pouco a pouco os membros do Movimento nascente, reunia-se todo sábado na sala Massaia, que os frades capuchinhos puseram à disposição da Ordem Terceira Franciscana de Trento. Lá, ela fazia as suas palestras, preparando-se de modo original.

    Rocca di Papa, 30 de dezembro de 1976

Antes de falar às primeiras focolarinas, o Senhor havia posto dentro de mim o seguinte: que eu não me devia preparar. Por quê? Se me preparar – pensava – vou dizer uma coisa humana; se, no entanto, eu deixar o Espírito Santo falar, direi uma coisa divina. […]
Aos sábados, numa sala, eu me encontrava com aquelas que depois se tornariam as primeiras focolarinas; uma hora antes, eu ia diante da Eucaristia e dizia a Jesus: “Tu és tudo, eu sou nada. Tu és tudo, eu sou nada”, porque sabia que era assim. “Tu és tudo, eu sou nada. Tu és tudo…”, durante uma hora. Depois, saía a todo vapor e me via diante desse grupo de moças – eram somente moças, mas depois vieram também os rapazes – e, ali, abria a boca e falava.

24 setembro 2019

Os santos e a cruz


      Por estar muito próximo ainda da passagem de Jesus pela terra, Inácio, bispo de Antioquia, interpreta ao pé da letra as palavras “toma a tua cruz” no caminho para o martírio, e escreve aos Romanos:
      Pedi para mim apenas a força interior e exterior, para que eu não só diga, mas queira ser cristão; não só seja chamado, mas de fato o seja. […] Então, quando o mundo não puder mais ver o meu corpo, serei verdadeiramente discípulo de Jesus Cristo. […] É agora que começo a ser um verdadeiro discípulo. Que nenhuma coisa visível ou invisível me impeça de obter a posse de Jesus Cristo! Fogo, cruz, encontro com as feras, dilaceramentos, esquartejamentos, deslocamentos de ossos, mutilações dos membros, trituração de todo o corpo, os mais perversos suplícios do diabo caiam sobre mim, contanto que alcance a posse de Jesus Cristo. […] Ouvi, antes, o que agora vos escrevo, pois é na plenitude da vida que exprimo meu desejo ardente de morrer. Minhas paixões humanas foram crucificadas, não há em mim fogo para amar a matéria. Não há senão a “água viva” que murmura dentro de mim e me diz: “Vem para o Pai”. (Aos Romanos, 1985, pp. 22-23)
      Os santos, que são os cristãos realizados, apreenderam o segredo, o valor da cruz.
      A propósito, assim diz Grignion de Montfort:
      A Sabedoria, enquanto espera o grande dia do seu triunfo no Juízo Final, quer a cruz como distintivo e arma de todos os eleitos. Com efeito, não acolhe filho algum que não a tenha como distintivo, nem recebe discípulo algum que não a traga na fronte, sem enrubescer; no coração, sem desgosto; e nos ombros, sem arrastá-la ou rejeitá-la […]. Não aceita soldado algum que não a empunhe como uma arma para defender-se e atacar, para desbaratar e esmagar todos os seus inimigos. Grita para eles: “Tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33) […]. Eu, o vosso chefe, venci o meus inimigos com a cruz, e vós também o fareis por meio deste sinal! (Grignion de Montfort, 1990, pp. 204-205)

23 setembro 2019

Uma relação esponsal


      DO SACRÁRIO, Jesus me ensinava que eu devia atraí-lo a mim com o amor, como que aspirá-lo em mim, e que Ele era Palavra de Vida, e que eu, vivendo a Palavra, o teria amado como Esposa e Ele teria sido eu… Vivendo a Palavra cada momento.
      CADA MOMENTO que vivo a Palavra é um beijo na Boca de Jesus, aquela Boca que só disse Palavras de Vida.
      E, de Boca a boca, a Palavra passa. Ele comunica si mesmo (que é Palavra) à minha Alma. Eu sou una com Ele! E nasce Cristo em mim (cf. Ct 1,2).      
      TODA A MINHA VIDA deve ser apenas uma relação de amor com meu Esposo. Tudo aquilo que foge disso é vaidade. Tudo aquilo que não é a Palavra vivida é vaidade.
      PARA NÓS, para cada um de nós, a Palavra de Vida é a vestimenta, a roupa nupcial da nossa alma esposa de Cristo.       
      A PALAVRA DE DEUS é como a roupa que vestimos todos os dias: o uniforme do cristão, que exterioriza o conteúdo evangélico do nosso ser filhos de Deus. Protege e mantém o fogo que a graça e a caridade acenderam em nós, preserva dos ímpetos excessivos dos inimigos da alma que correm pelo mundo, fora e dentro de nós, e principalmente coloca o nosso espírito em posição de conquista e não de defesa.

22 setembro 2019

A Palavra contém Deus

JESUS É EXTRAORDINÁRIO! Pouco o conhecemos, se não lemos o Evangelho com amor.
Muitas vezes, fizemos dele uma imagem nossa, a partir de alguma piedade tradicional medíocre. Mas, no Evangelho, Ele aparece como é: é Deus. Revela-se continuamente: Deus. Um Deus… que fala, que se cansa, que caminha, que tem discípulos… Um Deus-Homem!
AS PALAVRAS DE JESUS!
Deve ter sido a sua maior… arte, se assim se pode dizer. O Verbo que fala com palavras humanas. Que conteúdo, que timbre, que voz, que intensidade!
Haveremos de reouvi-las no Paraíso. Ele me falará, Ele nos falará. Isso será o Céu amanhã, logo.
O EVANGELHO na Igreja é Jesus histórico explicado: a Revelação.
AS EXPRESSÕES do Evangelho de João “a tua palavra”, “as palavras que me comunicaste”, “que saí de junto de ti” e “que me enviaste” (cf. Jo 17), de certo modo são sinônimas, ou melhor, as palavras que Jesus disse aos apóstolos são o próprio Verbo gerado pelo Pai, ou melhor, estão todas no Verbo gerado.
 Essa interpretação me dá certa embriaguez espiritual porque, se assim é, a Palavra de Deus que nós vivemos, a qual comungamos, é justamente Jesus. Por isso, se vivemos a Palavra o dia inteiro, estamos em comunhão contínua.
QUE ABISMOS as Palavras de Deus encerram! Elas contêm o próprio Deus.
CADA PALAVRA de Vida é Jesus.
EM CADA PALAVRA está toda a Palavra, do mesmo modo que, na Palavra, está cada Palavra.

21 setembro 2019

Ser família, vivendo o amor recíproco

      Como toda família tem as suas exigências, também a família natural tem as suas leis. Por exemplo, a característica de toda família natural, de uma boa família desta terra, é a convivência de todos os membros: pai, mãe, filhos e avós que moram sob o mesmo teto. Depois, essa vida comunitária da família é mais evidente em certos momentos quando, por exemplo, todos sentam à mesa. Na família, mesmo que cada um possua algum objeto pessoal, em geral os bens são colocados em comum. Na família, o sofrimento de um membro é sentido por todos. Cada um se preocupa, ajuda, economiza para o outro; alguns trabalham a mais para completar um orçamento insuficiente. A alegria de um é também a alegria de todos. Todos se alegram com uma promoção, com um casamento, com um aniversário.
      Numa boa família, os sábios ensinamentos dos pais tornam-se critério de vida. Sim, em toda família, como Deus a fez, existe a solidariedade, o amor recíproco, a compreensão, a participação.
      Também a família dos filhos de Deus tem suas características. Será que podemos encontrar um modelo, um exemplo no qual nos espelhar para entender como deve ser essa família segundo o pensamento de Deus?

20 setembro 2019

A eucaristia

 Igreja é o Corpo de Cristo, é Cristo que continua. De que maneira a Eucaristia faz Igreja?

Para entender isso, é necessário verificar os efeitos da Eucaristia comparados aos efeitos de outros sacramentos.
Nos outros sacramentos, unimo-nos a Jesus por meio da graça especial existente em cada um. Por exemplo, o Batismo purifica o homem do pecado original e de outros pecados. Portanto, é o sacramento de um novo nascimento. Já o sacramento do Matrimônio dá a graça para viver a vida matrimonial unidos em Cristo.
O efeito da Eucaristia é diferente. Nela está o próprio Jesus e, consequentemente, é o próprio Jesus que entra em nós. E Ele em nós realiza algo muito grande: transforma-nos Nele. É extraordinário, mas é a realidade.
São Tomás de Aquino afirma: “O efeito próprio da Eucaristia é a transformação do homem em Deus” (Sent. IV, dist. 12, q. 2; a I), a sua divinização. Na Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja está escrito: “A participação do Corpo e Sangue de Cristo não faz outra coisa senão transformar-nos naquilo que tomamos” (n.26).
É diferente do alimento que comemos e que se transforma em nós. Acontece exatamente o contrário: somos nós que nos transformamos Nele. É como diz santo Alberto Magno: “Toda vez que duas coisas se unem, é a mais forte que vence. É a mais potente que transforma nela a mais fraca. Por isso, como esse alimento possui uma força mais poderosa do que aqueles que o recebem, transforma nele mesmo os que Dele se nutrem” (De Euch. 4, tr. 9, c 2 — B 29, 217).
Os Padres e os doutores da Igreja falam claramente: “Sob a aparência do pão foi-nos dado o Corpo, sob a aparência do vinho foi-nos dado o Sangue, para tornarmo-nos, tendo participado do Corpo e do Sangue de Cristo, ‘concorpóreos’ e ‘consanguíneos’ Dele” (Cirilo de Jerusalém, Cat. Myst. 4,3 — pg 33, 1100).
Como afirma Alberto Magno: “Nós nos tornamos ossos dos seus ossos, carne da sua carne, membros dos seus membros” (De Euch. 3, tr. 1, c 5 — B 38, 257). Não se trata de uma união física, mas de uma união das nossas pessoas com o corpo glorificado de Cristo presente na Eucaristia. Somos realmente concorpóreos, porém, num sentido novo, num sentido místico.
A Eucaristia, todavia, não produz apenas a transformação individual de cada cristão em Cristo, mas também, como verdadeiro sacramento de unidade, gera a unidade entre os homens, a comunhão entre os irmãos (irmãos em Jesus e irmãos uns dos outros). Ela realiza a família dos filhos de Deus.
Jesus, mediante a Eucaristia, une os cristãos a Ele mesmo e entre eles, formando um único corpo, dando vida à Igreja na sua essência mais profunda, onde ela se exprime como caridade, unidade, corpo de Cristo.
A Eucaristia faz Igreja, edifica realmente a Igreja. Essa é a maravilha que produz.

19 setembro 2019

Um novo programa de vida

Compreendíamos claramente que no amor está tudo, que o amor recíproco “devia” constituir o último chamado de Jesus às pessoas que o haviam seguido, que “o consumar-se em um” não podia deixar de ser a última oração de Jesus ao Pai, síntese suprema da Boa Nova.
Jesus sabia que a Santíssima Trindade era beatitude eterna, e Ele, Homem-Deus, que desceu para redimir a humanidade, queria arrastar todos aqueles que Ele amava para a “com-unidade” dos Três.
Aquela era a sua Pátria, a pátria dos irmãos que havia amado até o sangue.
“Consumar-nos em um”: foi o programa de nossa vida para poder amá-lo.
    [...]

18 setembro 2019

Todos chamados a evangelizar

Como se sabe, as Palavras de Jesus: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15) assinalam o nascimento da evangelização.
Elas eram dirigidas aos seus apóstolos, aos sucessores deles e a todos aqueles que viessem a colaborar com eles.
Assim foi durante vinte séculos.
Todos os cristãos, e não somente eles, conhecem missionários bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e alguns leigos que, deixando pátria, casa, família, trabalho, estudos…, cumpriram esse mandamento ao longo dos séculos. Também é do conhecimento de todos que tipo de vida eles escolheram para cumprir tal missão; e que existência, muitas vezes heroica, conduziram e conduzem, ainda hoje, para anunciar o Evangelho às gentes. Evangelização essa que, achamos, continuará.

17 setembro 2019

Qual celeste plano inclinado



      Maria não é facilmente entendida pelos homens, apesar de ser muito amada. De fato, é mais fácil encontrar em um coração afastado de Deus a devoção a ela, do que a devoção a Jesus.

      É amada universalmente.

      E o motivo é este: Maria é Mãe.

      As mães, em geral, não são “compreendidas”, especialmente pelos filhos pequenos; elas são amadas, e não é raro — aliás é bastante frequente — que até um homem de oitenta anos morra pronunciando como última palavra: “Mamãe”.

      A mãe é mais objeto de intuição do coração do que de especulação intelectual, é mais poesia do que filosofia, pois é real e profunda demais, achegada ao coração humano.

      Assim é com Maria, a Mãe das mães, que a soma de todos os afetos, bondades, misericórdias das mães do mundo não consegue igualar.

      De certo modo, Jesus está mais diante de nós. Suas palavras divinas e fulgurantes são diferentes demais das nossas para se confundirem com elas; são, aliás, sinal de contradição.

      Maria é pacífica como a natureza, pura, serena, tersa, suave, bela; aquela natureza longe do mundo, na montanha, na campina, no mar, no céu azul ou estrelado. E é também forte, vigorosa, ordenada, contínua, inflexível, rica de esperança, porque na natureza é a vida que refloresce perenemente benéfica, ornada pela beleza vaporosa das flores, generosa na rica abundância dos frutos.

      Maria é simples demais, próxima demais de nós para ser “contemplada”.

      Ela é “enaltecida” por corações puros e enamorados que assim exprimem o que neles há de melhor. Traz o divino à terra, suavemente, qual celeste plano inclinado que, da vertiginosa altura dos Céus, desce até a infinita pequenez das criaturas. É a Mãe de todos e de cada um, a única que sabe balbuciar e sorrir para o seu filho de um modo único e tal que, embora pequeno, cada um já sabe apreciar aquela carícia e responder com o seu amor àquele amor.

      Não compreendemos Maria porque está demasiadamente próxima a nós. Ela, destinada pelo Eterno a levar aos homens as graças, jóias divinas do Filho, está ali do nosso lado e aguarda, sempre com esperança, que percebamos o seu olhar e aceitemos a sua dádiva.

      E se alguém, por sorte sua, a compreende, ela o arrebata para o seu Reino de paz, onde Jesus é rei e o Espírito Santo é o hálito daquele Céu.

      Lá, purificados de nossas misérias e iluminados em nossas trevas, haveremos de contemplá-la e dela fruir, paraíso adjunto, paraíso à parte.

      Aqui, mereçamos que ela nos conduza pelo “seu caminho”, para não permanecermos mesquinhos no espírito, com um amor que só é súplica, imploração, pedido, interesse, mas que conhecendo-a um pouco, possamos glorificá-la.

16 setembro 2019

O VERDADEIRO SENTIDO DO TEMPO

Há ocasiões na vida em que se vive o tempo sorvendo-o gota a gota. Segue-se com sacra apreensão, por exemplo, cada movimento, cada palavra, cada olhar, cada anseio de uma pessoa amada, próxima da eternidade. Valoriza-se aquele último sopro de vida porque se está diante da morte. De fato, é a eternidade que dá sentido verdadeiro ao tempo.
Talvez conviesse sorver assim todos os instantes da nossa vida e, agarrando o tempo que foge, vivê-lo no amor a Deus e fixá-lo na eternidade.

15 setembro 2019

Acordar bem

LOGO que o sol despontar no horizonte, saúde-o com um pensamento de louvor ao Pai e Criador, levantando-se também e iniciando seu trabalho.
Mantenha firme em sua mente o desejos de ajudar a todos e de cumprir com perfeição todas as suas obrigações.
E, assim, poderá deitar-se, ao finalizar o dia, com a consciência feliz, por haver cumprido seu de ver.

14 setembro 2019

O frio

O frio gela; mas, quando excessivo, queima e corta. O vinho fortifica; mas, quando demasiado, debilita as forças. O movimento é o que é; mas quando vertiginoso, parece estático.
O Espírito de Deus vivifica; mas quando é muito… inebria. Jesus é o Amor porque é Deus; mas o grande amor por nós levou-o a clamar “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?…” (Mt 27,46), quando Ele se mostra apenas homem.

13 setembro 2019

Seria de enlouquecer

Seria de enlouquecer se não fixássemos os olhos em ti, que transmudas, como por encanto, toda amargura em doçura; em ti, suspenso na cruz, no teu grito, na mais alta suspensão, na inatividade absoluta, na morte viva, quando, tornando-te frio, lançaste todo o teu fogo sobre a terra e, tornando-te estase infinita, lançaste sobre nós tua vida infinita, aquela que agora vivemos, inebriados.
     
      Basta-nos que nos vejamos semelhantes a ti, ao menos um pouco, e que unamos nossa dor à tua e a ofereçamos ao Pai.
      Para que tivéssemos a Luz, veio-te a faltar a vista.
      Para que tivéssemos a união, sentiste a separação do Pai.
      Para que possuíssemos a Sabedoria, fizeste-te “ignorância”.
      Para que nos revestíssemos da inocência, fizeste-te “pecado”.
      Para que Deus estivesse em nós, sentiste-o longe de ti.

12 setembro 2019

Bela, a mãe!

É tão bela a Mãe, no recolhimento perene em que o Evangelho no-la mostra: “Conservava a lembrança de todos estes fatos em seu coração” (Lc 2,51).Aquele silêncio pleno exerce um fascínio sobre a alma que ama.Como poderia eu viver Maria no seu místico silêncio, quando a nossa vocação é, por vezes, falar para evangelizar, sempre aos quatro ventos, em todos os lugares, ricos e pobres, dos subterrâneos às estradas, às escolas, em todo canto?Maria também falou. E deu Jesus. Ninguém jamais no mundo foi apóstolo maior. Ninguém jamais teve palavra como Maria, que deu à luz o Verbo encarnado.Maria é real e merecidamente Rainha dos Apóstolos.E ela calou-se. Calou-se porque dois não podiam falar. A palavra há de apoiar-se sempre em um silêncio, como uma pintura sobre um fundo.Calou-se porque criatura. Porque o nada não fala. Mas sobre aquele nada, falou
Jesus e disse: Ele mesmo.
Deus, o Criador e o Tudo, falou por sobre o nada da criatura.Como então viver Maria, como perfumar a minha vida com o seu fascínio?Fazendo calar em mim a criatura e deixando falar nesse silêncio o Espírito do Senhor.Assim vivo Maria e vivo Jesus. Vivo Jesus em Maria.Vivo Jesus vivendo Maria.

11 setembro 2019

Quando, tendo conhecido Deus

Quando, tendo conhecido Deus, não tivemos o merecimento de sua luz, porque não fomos vigilantes no amor e nos deixamos abater pela cruz sem desfrutar da graça, a alma tateia no escuro e na angústia, e o procura. Procura o Amor, clama por Ele, por Ele implora, grita às vezes e geme. Mas não o encontra. Não o encontra porque não ama. Deus não cede. Ele tem uma lei imutável. Passarão o céu e a terra (cf. Mc 13,31). E são palavras suas sem exceções. A alma não tem direito ao amor antes de amar. Recebe amor quando tem amor para dar. Deus a criou à sua imagem e semelhança e nela respeita a dignidade com que a revestiu. É ela que há de tomar a iniciativa e amar, como que por primeiro, correspondendo à graça. Então Deus vem, manifesta-se a quem o ama, dá a quem tem e este continuará na abundância. A alma que ama participa de Deus e sente-se rainha. Nada teme. Tudo para ela adquire valor. Passa-se da morte para a vida quando se ama.

10 setembro 2019

Para que reines em meu íntimo

      Muitas vezes, por hábito, aflora espontaneamente em nossos lábios: “Meu Deus e meu Tudo”, ou alguma outra oração como esta: “Amo-te com todo o coração”. Mas depois, durante o dia, analisando a nossa alma para ver se o que lhe importa é sobretudo Deus e a sua vontade, notamos que nem sempre é assim.
      Frequentemente, gostamos de arrastar um trabalho, ao menos por um pouco, além do tempo devido, em vez de começar o novo; disso fica evidente que amamos aquele encargo, aqueles papéis, aquelas pessoas, aquelas notícias… infelizmente mais do que a Deus!
      E aqui constatamos os fracassos de nossa vida consagrada a Deus, medidos exatamente pelo termômetro da “vontade de Deus”. Se ela flutua qual rainha de todas as outras coisas, que também posso e devo amar, então Deus é o rei do meu coração.
      Se ela afunda para deixar reinar outra coisa qualquer, ou pessoa ou ideia, Deus permanece em meu coração como um rei destronado pelo meu eu.

09 setembro 2019

Perder a capacidade de sentir-se amado é perder tudo

Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco celebrou na manhã desta terça-feira (07/11/17) a missa na capela da Casa Santa Marta.
Em sua homilia, o Pontífice falou da capacidade de sentir-se amado, comentando o trecho de Lucas (Lc 14,15-24) da Liturgia de hoje. No texto, a parábola narra um homem que organizou uma grande ceia e convidou muita gente. 
Os primeiros convidados não quiseram ir porque não lhes interessava nem o jantar nem as pessoas nem o convite do senhor: estavam ocupados com os próprios interesses, mais importantes do que o convite. Havia quem tinha comprado cinco juntas de bois, um terreno ou quem tinha se casado. Substancialmente, se perguntavam o que tinham a ganhar. Estavam “ocupados”, como aquele homem que mandou construir armazéns para acumular os seus bens, mas morreu na mesma noite. Estavam presos aos interesses a tal ponto que isso os levava a uma “escravidão do Espírito”, isto é, a ser “incapazes de entender a gratuidade do convite”. Uma atitude da qual o Papa adverte: 
E se não se entende a gratuidade do convite de Deus, não se entende nada. A iniciativa de Deus é gratuita. Mas para ir a este banquete o que se deve pagar? O bilhete de entrada é estar doente, é ser pobre, é ser pecador… Eles (assim) os deixam entrar, este é o bilhete de entrada: estar necessitado seja no corpo, seja na alma. Mas para a necessidade de cuidado, da cura, ter necessidade de amor …
Portanto, existem duas atitudes: de um lado, a atitude de Deus que não deixa pagar nada e diz, depois, ao servo de conduzir os pobres, os aleijados, bons e maus: se trata de uma gratuidade que “não tem limites”, Deus “recebe todos”, destacou o Papa. De outro, a atitude dos primeiros convidados, que ao invés não entendem a gratuidade. Assim como o irmão mais velho do Filho Pródigo, que não quer ir ao banquete organizado pelo pai para seu irmão que havia ido embora: não entende. 
“Mas ele gastou todo o dinheiro, gastou a herança, com os vícios, com os pecados, e o senhor lhe faz festa? E eu que sou católico, praticante, vou a Missa todos os domingos, faço coisas, e para mim nada?’ Esse não entende a gratuidade da salvação, ele acha que a salvação é fruto do “Eu pago e o Senhor me salva”. Pago com isso, com isso, com aquilo... Não, a salvação é gratuita! E se você não entrar nessa dinâmica de gratuidade, você não entende nada. A salvação é um presente de Deus ao qual se responde com outro presente, o presente do meu coração”.
O Papa Francisco retorna ainda sobre aqueles que pensam nos seus próprios interesses, que quando ouvem falar de presentes, sabem que devem fazer, mas imediatamente pensam na “contrapartida”: “Eu lhe darei esse presente” e ele “depois em outra ocasião, irá me dar outro”.
O Senhor, ao invés, “não pede nada em troca”: “somente amor, fidelidade, como Ele é amor e é fiel”, diz o Papa, evidenciando que “a salvação não se compra, simplesmente se entra no banquete”. “Bem-aventurados os que receberão alimento no Reino de Deus": isto é salvação.
Aqueles que não estão dispostos a entrar no banquete, “se sentem seguros”, “salvos do modo deles, fora do banquete”: “eles perderam o sentido de gratuidade - explica Francisco – “o sentido do amor”. “Eles perderam – acrescenta -, algo maior e mais bonito ainda, e isso é muito ruim: eles perderam a capacidade de se sentirem amados”.
“E quando você perde - eu não digo a capacidade de amar, porque ela se recupera - a capacidade de se sentir amado, não há esperança, você perdeu tudo. Isso nos faz pensar na escrita na porta do inferno de Dante: “Deixe a esperança”, você perdeu tudo. Devemos pensar na frente deste Senhor: “Porque eu digo, quero que a minha casa fique cheia”, este Senhor, que é tão grande, que é tão amoroso, com a sua gratuidade quer encher a casa. Peçamos ao Senhor que nos salve de perder a capacidade de nos sentir amados”. 

08 setembro 2019

Com coração de mãe

Façamos este propósito: vou comportar-me com todas as pessoas de quem me aproximar, ou para quem trabalhar, como se fosse a mãe delas.A mãe sempre acolhe, sempre ajuda, sempre espera, tudo cobre. A mãe perdoa tudo ao filho, mesmo que ele seja um delinquente ou um terrorista.De fato, amor de mãe é muito semelhante à caridade de Cristo, de que fala Paulo.Se tivermos um coração de mãe ou, mais especificamente, se nos propusermos a ter o coração da Mãe por excelência, Maria, estaremos sempre prontos a amar os outros em todas a circunstâncias.Amaremos a todos e não apenas aos membros da nossa Igreja, mas também aos membros das outras. Não apenas os cristãos, mas também os muçulmanos, os budistas, os hinduístas etc. Inclusive os homens de boa vontade, inclusive cada homem que vive na terra. Porque a maternidade de Maria é universal, como universal foi a Redenção.

07 setembro 2019

Estar unido a Deus

Estar unido a Deus: tudo bem, mas de que jeito? Se você abrir a Bíblia, vai encontrar com freqüência pessoas que, sem razão aparente, têm medo da vida e se preocupam com o futuro… É o caso dos membros do povo de Israel no deserto. É preciso reconhecer que a descrição dos primeiros exploradores enviados à Terra Prometida é realmente assustadora. Esses intrépidos espiões contaram que essa terra era insalubre, cheia de grandes animais, e talvez até de antropófagos… A realidade era bem outra, como você pode imaginar, e isso foi uma feliz surpresa para todos eles. Certamente, o pessoal à sua volta fala da religião como os nossos ilustres exploradores da Terra Prometida. Por pouco nos fazem acreditar que o modelo cristão é uma espécie de neurose maníaco-depressiva, absolutamente insuportável! Felizmente, no texto bíblico, a ideia de Josué foi outra. Ele teve a coragem de fazer o povo de Deus avançar rumo a essa famosa “Terra Prometida”! Inspirado pelo Espírito Santo, você verá que o encontro com o seu Deus fará também você encontrar a felicidade!

06 setembro 2019

Recompõe a unidade


      Jesus Abandonado era também Aquele que recompunha a unidade entre nós, sempre que ela ficava comprometida.
      Só na unidade, onde Jesus está no meio, encontráramos a plenitude da vida. Fora dela, o vazio. E o antídoto, então, era Ele.
      Quem estava no focolare, ferido pelo abandono do irmão, compreendia que passava por um estado de alma semelhante ao Seu e se esforçava para tirar proveito dessa dor. Não apenas isso, mas via no irmão um outro Jesus Abandonado a ser amado.
      E o amor restabelecia a unidade.
      Se os que deram início ao Movimento não tivessem tido Jesus Abandonado nas provações da vida, este carisma da unidade não existiria, a menos que Deus quisesse tê-lo suscitado igualmente em outros lugares.
      Jesus Abandonado venceu em nós cada batalha, as mais terríveis batalhas. Mas era necessário sermos loucos de amor por Ele, síntese de todas as dores do corpo e da alma; remédio, portanto, de cada dor da alma e alívio de cada dor do corpo.
      Quando Ele chegava, nós o abraçávamos com ímpeto e n’Ele encontrávamos a vida.

05 setembro 2019

Deus está dentro de você

DEUS está dentro de nós em todas as circunstâncias da vida.
Quer você esteja praticando uma boa ação, quer esteja agindo errado, Deus está dentro de você.
Quer você sinta felicidade, quer esteja ferreteado pelo sofrimento, Deus está dentro de você.
Procure não esquecer esta verdade, em nenhum momento de sua vida: DEUS ESTÁ DENTRO DE VOCÊ!

04 setembro 2019

Entender a verdade

Rocca di Papa (Roma), 30 de dezembro de 1976

Quando fazia filosofia, ia estudar na catedral. Havia um cantinho no fundo iluminado por uma fresta, como as de um presídio, e à luz daquela pequena abertura, eu estudava filosofia olhando para Jesus Eucaristia, a fim de que Ele me iluminasse sobre como entender a verdade. A passagem de uma verdade humana – como, por exemplo, o sistema kantiano – para uma verdade sobrenatural aconteceu em contato com Jesus Eucaristia. E já ali, Jesus Eucaristia agia.

03 setembro 2019

A "Regra de Ouro"

Outra característica do amor — conhecida, reproduzida em todos os livros sagrados e que, se vivida, bastaria ela sozinha para transformar o mundo inteiro numa família — é: amar como a si mesmo, fazer aos outros aquilo que se gostaria fosse feito a si, não fazer aos outros aquilo que não se gostaria fosse feito a si. É a chamada “Regra de Ouro”, tão bem expressa por Gandhi quando afirmou: “Tu e eu somos uma coisa só. Não posso te maltratar, sem me ferir”  . O Evangelho a anuncia nestes termos: “Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles” (Lc 6,31). Na tradição muçulmana é conhecida assim: “Nenhum de vós é verdadeiro fiel, se não deseja para o irmão o que deseja para si mesmo” . Desse princípio emana uma norma que, se fosse aplicada, seria, sozinha, o maior propulsor da harmonia entre indivíduos e grupos, no coração das famílias e nos Estado s. Pensar como seria o mundo se a “Regra de Ouro” fosse posta em prática, não apenas entre as pessoas isoladamente, mas também entre os povos, as etnias, os Estados, exprimindo-a , por exemplo, assim: “Amar a pátria dos outros como a sua”…

02 setembro 2019

Gratuidade

No amor humano, geralmente, amamos porque somos amados. Também quando o amor é bonito, amamos no outro algo de nós mesmos. Existe sempre um quê de egoísta no amor humano, ou então, esperamos amar quando o interesse nos leva a amar. Por sua vez, o amor divino, sobrenatural é gratuito, ama primeiro. Portanto, se quisermos deixar viver o “homem novo” 5 em nós, se quisermos deixar acesa em nós a chama do amor sobrenatural, devemos também nós ser os primeiros a amar.

01 setembro 2019

OLHAR CADA IRMÃO

2 de novembro de 1949

Olha para fora de ti, não para ti, nem para as coisas, nem para as criaturas: olha para Deus fora de ti para unir-te a Ele.

Ele está no fundo de cada alma que vive e, se morta, é tabernáculo de Deus que espera, para alegria e expressão da própria existência.

Olha, portanto, para cada irmão, amando; e amar é doar. Mas dádiva chama dádiva, e serás por ele amado.

Assim, o amor é amar e ser amado: é a Trindade.

E Deus em ti arrebatará os corações, acendendo nesses corações a Trindade que neles repousa, quem sabe, pela graça, mas neles está apagada.

Não acendes a luz em um ambiente – mesmo havendo a corrente elétrica – enquanto não fizeres a ligação dos polos.

Do mesmo modo é a vida de Deus em nós: deve ser posta em circulação para ser irradiada fora, testemunhando Cristo: o uno que liga o Céu à terra, irmão a irmão.

Olha, portanto, cada irmão doando-te a ele para doar-te a Jesus e Jesus se doará a ti. É lei de amor: “Dai e vos será dado” (Lc 6,38).

Deixa-te invadir pelo irmão – por amor de Jesus – deixa-te “consumir” pelo irmão – como outra Eucaristia –; coloca-te todo a seu serviço, que é serviço de Deus, e o irmão virá a ti e te amará. E no amor fraterno reside o cumprimento de cada desejo de Deus que é mandamento: “Dou-vos um Mandamento Novo: amai-vos reciprocamente” (Jo 13,34).

O amor é um fogo que compenetra os corações numa perfeita fusão.

Então, encontrarás em ti não mais a ti mesmo, não mais o irmão; encontrarás o amor, que é Deus vivente em ti.

E o Amor sairá para amar outros irmãos porque, tendo o olhar simplificado, encontrará a si mesmo neles, e todos serão “um”.

E ao teu redor a comunidade crescerá como ao redor de Jesus; os doze, os setenta e dois, milhares…

É o evangelho que, fascinando – porque luz em amor – arrebata e arrasta.

No final, quem sabe, morrerás numa cruz, para não seres maior do que o Mestre, mas morrerás por quem te crucifica, e assim o amor terá a última vitória.

Mas a Sua seiva, difusa nos corações, não morrerá.

Frutificará, fecundando, alegria e paz, e Paraíso aberto.

E a glória de Deus crescerá.

Mas tu sê, aqui na terra, o amor perfeito.