22 junho 2023

Chiara Lubich: Só Deus é tudo!

Em outubro de 1946, Chiara Lubich escreveu a irmã Josefina e irmã Fidente que procuravam colocar em prática o espírito do Movimento que nascia. Neste trecho da carta percebe-se o entusiasmo e o ardor dos primeiros tempos e nos impulsiona, ainda hoje, a colocar Deus em primeiro lugar na nossa vida.

“Deus da minha alma, meu Amor, meu Tudo, fala Tu a estes dois pequenos corações.

Fala com a Tua Divina Voz.

Diz-lhes que só Tu és Tudo e que

TU HABITAS NELES!

Diz-lhes que não Te procurem fora delas, mas que Te encontrem sempre nos seus corações!

Tu sabes, Jesus, como eu as amo e como queria estar sempre com elas. (…)

SÓ DEUS É TUDO!

E esta Verdade deve ser vivida na maior Paixão pela Pobreza!

Quando é que Te amamos, Senhor?

Quando Te encontramos.

Quando é que Te encontramos com certeza?

Quando confiamos só em Ti e loucamente lançamos o olhar para o alto e Te procuramos só a Ti: Deus-Pai nosso!

E agora que, despojadas de tudo, as tuas Esposas estão convictas de que só Tu bastas, diz só agora aos seus corações que aceitem também (como eu também aceito com alegria e reconhecimento) o amor ardente que eu tenho por elas, e o desejo imenso de fazer dos seus corações aquilo que o meu coração quer ser para Ti!

(…)

Queridas irmãzinhas,

A vossa vida, tantas vezes parecida à de Jesus vivo, operante, amante na casinha de Nazaré, quanto bem poderia fazer!

Mas, vós não sabeis que uma alma que ama de modo que a sua vida seja uma contínua vida a dois (Jesus e a alma), faz tanto como se pregasse ao mundo inteiro?

Agora, já despojadas das vossas misérias, que diariamente irão dar a Deus, estão livres para amar,

AMEM!

Ele quer viver convosco. Nada mais deseja do que esta vida a dois. (…)”

Chiara Lubich

(Chiara Lubich, em Cartas dos primeiros tempos, nas origens de uma nova espiritualidade, Editora Cidade Nova – Portugal, 2011, págs. 116 a 118)


05 junho 2023

Giordani e a família


«Principal função da família é crescer e multiplicar: aumentar a vida, cooperar na obra criativa do Criador. A sua unidade não se interrompe, mas aumenta e se prolonga na prole. Na prole o amor dos esposos encarna-se, a unidade torna-se pessoa: pai, mãe, filho, formam uma vida à imagem e semelhança – de alguma maneira – da divindade da qual foram criados e são vivificados. Três pontos pelos quais passa o circuito do único amor, que parte e se alimenta do amor de Deus». (Giordani, 1942).

Ao traçar o perfil divino da família, nesse texto Giordani antecipa o que em seguida será declarado nos textos do Vaticano II, seja salientando o privilégio dos esposos de «cooperar na obra criativa do Criador», seja ao ver a família como espelho da vida trinitária, da qual deriva o seu desígnio. Uma doutrina muito amada por João Paulo II, que a inserirá como tema de suas históricas catequeses sobre o amor humano, na década de 1980.

No dia 23 de junho passado, a Comissão preparatória do Sínodo divulgou o Instrumentum Laboris, objeto de reflexão para os padres sinodais no próximo mês de outubro, para depois propor ao Santo Padre possíveis soluções a serem atuadas em favor da família. O documento, centralizado na vocação e missão da família, inicia com um olhar sobre as múltiplas problemáticas que investem a família hoje e os graves desafio culturais e sociais que a comprometem. Mas tal situação crítica não foi percebida apenas nesses tempos. Em 1975, uma carta do episcopado do Quebec continha uma análise preocupante nesse sentido. A carta tocou profundamente Giordani, ao ponto que citou alguns trechos dela num seu escrito, para depois oferecer a sua mensagem, alta e luminosa, a todas as famílias:

«As dificuldades da vida não esmagam uma família ancorada em Deus; enquanto que, em casos demais, a destroem porque ancorada apenas no dinheiro. A união dos cônjuges é a força deles: mas a união é fruto do amor. Amarem-se, portanto, faz parte do interesse terreno e celeste deles, aproveitando as provações, os sofrimentos, os desenganos, para santificar-se.

O matrimônio não une somente os esposos um ao outro, enquanto esposos, pai e mãe: une-os a Deus. Essa unidade em Deus, do homem e da mulher, dos pais e dos filhos, é o sentido mais profundo do matrimônio e da família». (Giordani, 1975).

Do Centro Igino Giordani

Trechos retirados de: Igino Giordani, Família comunidade de amor, Città Nuova, Roma, 2001 e Igino Giordani, A sociedade cristã, Città Nuova, Roma, 2010