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03 outubro 2021

Palavra de Vida - Outubro de 2021

Nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus». (Rm 8, 28)

A Palavra que queremos viver este mês é tirada da carta do apóstolo Paulo aos Romanos. É um texto longo e cheio de reflexões e ensinamentos. Foi escrito antes da sua viagem para Roma, em preparação da visita àquela comunidade que Paulo ainda não conhecia pessoalmente.

O capítulo oitavo, de modo particular, põe em evidência a vida nova segundo o Espírito e a promessa da vida eterna para os indivíduos, os povos e todo o universo.

Nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus.

Cada palavra desta frase é densa de significado.

Paulo proclama, acima de tudo, que, como cristãos, conhecemos o amor de Deus e estamos conscientes que cada experiência humana faz parte do grande projeto de salvação que Deus tem para nós.

Tudo – diz Paulo – concorre para a realização desse projeto: os sofrimentos, as perseguições, os fracassos e fragilidades pessoais, mas sobretudo a ação do Espírito de Deus no coração das pessoas que o acolhem.

O Espírito recolhe e faz seus os gemidos da humanidade e da Criação (1), e esta é a garantia da realização do projeto de Deus. 

Da nossa parte, é preciso responder ativamente a este amor com o nosso amor, confiando-nos ao Pai em todas as necessidades e dando testemunho da esperança nos novos Céus e na nova Terra (2) que Ele prepara para aqueles que colocam n’Ele a sua confiança.

Nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus.

Como acolher, então, na nossa vida pessoal, quotidiana, esta proposta tão forte?

Chiara Lubich sugere-nos: “Antes de tudo, nunca nos devemos deter na aparência puramente exterior, material, profana das coisas, mas acreditar que cada acontecimento é uma mensagem de Deus para nos exprimir o seu amor. Veremos, então, como a vida – que nos pode parecer semelhante a um tecido visto à lupa, do qual vemos apenas uns nós e fios confusamente entrelaçados – é uma realidade bem diferente: é o desígnio maravilhoso que o amor de Deus vai tecendo, com base na nossa fé. Em segundo lugar, devemos, em cada momento, entregar-nos de forma total e confiante a este amor, tanto nas pequenas como nas grandes coisas. Melhor ainda: se soubermos entregar-nos ao amor de Deus nas circunstâncias comuns da vida, Ele dar-nos-á as forças necessárias para confiarmos n’Ele também nos momentos mais difíceis, como podem ser uma grande provação, uma doença ou o próprio momento da nossa morte. Experimentemos, então, viver desta forma. Não por interesse – isto é, para que Deus nos manifeste os seus planos e nos console – mas unicamente por amor. Vivendo assim, veremos como esta entrega confiante é fonte de luz e de paz infinita, para nós e para muitos outros” (3).

Confiar-se a Deus nas escolhas difíceis, como no caso que nos contou a O. L. da Guatemala: «Trabalhava como cozinheira num lar. Passando pelo corredor, ouvi uma velhinha a pedir água. Arriscando infringir as normas que me proibiam de sair da cozinha, levei-lhe com afeto um copo de água. Os olhos daquela idosa iluminaram-se. Depois de ter bebido metade do copo, apertou-me a mão: “Fica comigo dez minutos”. Expliquei-lhe que não devia, que arriscava ser despedida. Mas aquele olhar… Fiquei. Ela pediu-me para rezar com ela: “Pai nosso…”. E, por fim: “Canta alguma coisa, por favor”. Veio-me ao pensamento: “Não levaremos nada connosco, somente o amor…”. Os outros utentes olhavam para nós. A senhora estava feliz e disse-me: “Deus te abençoe, minha filha”. Pouco depois apagou-se. De qualquer forma, fui despedida por ter saído da cozinha. A minha família está longe e até precisa do meu apoio, mas eu estou em paz e feliz: respondi a Deus e aquela senhora não fez sozinha a passagem mais importante da sua vida».

Letizia Magri

1) Cf. Rm 8, 22-27.
2) Cf. Ap 21,1.
3) C. Lubich, Palavra de Vida de agosto de 1984, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, p. 299.

01 dezembro 2018

Palavra de Vida – Dezembro de 2018

“Alegrai-vos sempre no Senhor!” (Fl 4,4)

O apóstolo Paulo escreve à comunidade da cidade de Filipos1, numa ocasião em que ele mesmo era alvo de uma perseguição que o colocava em sérias dificuldades. Mesmo assim ele aconselha – parece quase um comando – a esses seus caros amigos: “Alegrai-vos sempre!”. Será possível dar uma ordem dessas? Olhando ao nosso redor, não encontramos muitos motivos de tranquilidade, quanto mais de alegria! Diante das preocupações da vida, das injustiças da sociedade, das tensões entre os povos, custa já um grande esforço não nos desencorajarmos, nos sentirmos oprimidos, fecharmo-nos em nós mesmos. No entanto, Paulo convida também a nós:

“Alegrai-vos sempre no Senhor!”

Qual será o seu segredo? (...) Existe um motivo para que, apesar de todas as dificuldades, estejamos sempre na alegria. É a vida cristã tomada a sério que leva a isso. Por meio dela Jesus vive com plenitude dentro de nós e com Ele não podemos deixar de estar na alegria. É Ele a fonte da verdadeira alegria, porque dá sentido à nossa vida; nos guia com a sua luz; nos liberta de todo temor tanto com relação ao que se refere ao passado como com relação a tudo o que ainda nos espera; nos dá a força para superar todas as dificuldades, tentações e provações que possamos encontrar2. A alegria do cristão não é um simples otimismo, ou a segurança do bem-estar material, ou a satisfação de quem é jovem e tem boa saúde. Mais que isso, é fruto do encontro pessoal com Deus no profundo do coração.

“Alegrai-vos sempre no Senhor!”

Dessa alegria, diz ainda Paulo, nasce a capacidade de acolher os outros com cordialidade, a disposição de encontrar tempo para dedicar a quem está ao nosso redor3. Mais ainda: em outra ocasião, Paulo relembra com força a palavra de Jesus: “Há mais felicidade em dar do que em receber”4. Quando nos encontramos em companhia de Jesus, também se manifesta a paz do coração, a única que pode contagiar com a sua força desarmada as pessoas ao nosso redor. Na Síria, apesar dos graves perigos e das privações da guerra, recentemente um grande grupo de jovens se reuniu para compartilhar as experiências de Evangelho vivido e experimentar a alegria do amor mútuo. Depois desse encontro eles saíram decididos a testemunhar que a fraternidade é possível. Assim escreve um dos participantes: São muitos os testemunhos de histórias de dor lacerante e de esperança, de fé heroica no amor de Deus. Alguns perderam tudo e agora vivem com a família em um campo de refugiados; outros viram morrer seus entes mais queridos (...). É intensa a dedicação desses jovens para gerar vida ao seu redor: organizam festivais nas cidades, envolvendo milhares de pessoas; reconstruíram uma escola e uma praça no centro de um povoado, trabalhos que não tinham sido concluídos por causa da guerra; eles oferecem apoio a dezenas de famílias de refugiados (...). Brotam no coração as palavras de Chiara Lubich: “A alegria do cristão é como um raio de sol que brilha numa lágrima; uma rosa que desabrochou de uma poça de sangue; essência de amor destilada pela dor (...); por isso tem a potência apostólica de uma nesga de Paraíso”5. Nos nossos irmãos e irmãs da Síria encontramos a fortaleza dos primeiros cristãos, que nessa tremenda guerra testemunham a confiança e a esperança em Deus Amor, transmitindo-a aos seus companheiros de viagem. Agradecemos à Síria por essa lição de cristianismo vivido!

Letizia Magri

1 Importante cidade romana pertencente à Macedônia; hoje, sítio arqueológico na Grécia.
2 Chiara Lubich, Convite à alegria, em “Città Nuova”, 31 (1987/22), p. 11.
3 Cf. Fl 4,5.
4 At 20,35.
5 Chiara Lubich, A alegria, Jubileu dos jovens, Roma, 12/4/1984.

01 março 2018

Palavra de Vida - março 2018


Mostra-me, Senhor os teus caminhos, ensina-me tuas veredas.” (Sl 24[25],4)
O rei e profeta Davi, autor deste salmo, sofre o peso da angústia e da pobreza e se sente em perigo diante de seus inimigos. Ele gostaria de encontrar um caminho para sair dessa situação dolorosa, mas experimenta a sua incapacidade. Então levanta os olhos para o Deus de Israel, que desde sempre protege o seu povo, e o invoca com esperança para que venha em seu socorro. A Palavra de Vida deste mês salienta, em especial, o seu pedido de conhecer os caminhos e as veredas do Senhor, como luz para as próprias escolhas, sobretudo nos momentos difíceis.
“Mostra-me, Senhor os teus caminhos, ensina-me tuas veredas.”
Também a nós acontece que tenhamos de fazer escolhas decisivas para a nossa vida, que comprometem a consciência e toda a nossa pessoa. Às vezes temos uma série de caminhos possíveis diante de nós e ficamos incertos sobre qual é o melhor; outras vezes temos a impressão de que não temos nenhuma saída… Procurar um caminho para prosseguir é algo profundamente humano, e às vezes precisamos pedir a ajuda de alguém que consideramos amigo. A fé cristã nos faz entrar na amizade com Deus: Ele é o Pai que nos conhece intimamente e ama acompanhar-nos no nosso caminho. Todos os dias Ele convida cada um de nós a entrar livremente em uma aventura, tendo como bússola o amor desinteressado a Ele e a todos os seus filhos. Os caminhos, as veredas são também ocasiões de encontro com outros viajantes, de descobertas de novas metas a serem compartilhadas. O cristão não é jamais uma pessoa isolada: ele faz parte de um povo em caminho rumo à realização do projeto que Deus Pai preparou para a humanidade e que Jesus nos revelou com suas palavras e com toda a sua vida: a fraternidade universal, a civilização do amor.
“Mostra-me, Senhor os teus caminhos, ensina-me tuas veredas.”
E os caminhos do Senhor são ousados, às vezes beirando o limite das nossas possibilidades, como pontes de corda esticadas entre paredões rochosos. Eles desafiam nossos hábitos egoístas, os preconceitos, a falsa humildade e nos abrem horizontes de diálogo, encontro, empenho pelo bem comum. E sobretudo pedem de nós um amor sempre novo, construído sobre a rocha do amor e da fidelidade de Deus por nós, capaz de chegar até o perdão. Perdão que é a condição irrenunciável para construir relações de justiça e de paz entre as pessoas e entre os povos. Até mesmo o testemunho de um gesto de amor simples, mas autêntico, pode iluminar o caminho nos corações dos outros. Na Nigéria, durante um encontro no qual jovens e adultos podiam partilhar as experiências pessoais de amor vivido conforme o Evangelho, Maya, uma menina, contou: “Ontem, enquanto estávamos jogando, um menino me empurrou e caí. Ele me disse “desculpe!” e eu o perdoei”. Essas palavras abriram o coração de um homem cujo pai tinha sido assassinado pelo Boko Haram: “Olhei para Maya. Se ela, que é uma menina, é capaz de perdoar, significa que também eu posso fazer a mesma coisa”.
“Mostra-me, Senhor os teus caminhos, ensina-me tuas veredas.”
Se quisermos confiar-nos a um guia seguro no nosso caminho, lembremo-nos de que Jesus disse de si mesmo: “Eu sou o Caminho…” (Jo 14,6). Chiara Lubich, dirigindo-se aos jovens reunidos em Santiago de Compostela para a Jornada Mundial da Juventude de 1989, encorajou-os com estas palavras: (…) Definindo a si mesmo como “o Caminho”, Jesus quis dizer que devemos caminhar como Ele caminhou (…). Pode-se dizer que o caminho percorrido por Jesus tem um nome: amor. (…) O amor que Jesus viveu e nos deixou é um amor especial e único. (…) É o próprio amor que arde em Deus. (…) Mas, amar a quem? Amar a Deus é certamente o nosso primeiro dever. Depois: amar a cada próximo. (…) Da manhã até à noite, todo relacionamento com os outros deve ser vivido com esse amor. Em casa, na universidade, no trabalho, nas quadras de esporte, nas férias, na igreja, pelas ruas, devemos colher as diversas ocasiões para amar os outros como a nós mesmos, reconhecendo Jesus neles, não esquecendo ninguém; mais ainda, sendo os primeiros a amar a todos. (…) Entrar o mais profundamente possível no coração do outro; entender realmente seus problemas, suas exigências, seus fracassos e também suas alegrias, para poder compartilhar tudo com ele. (…) De certo modo, tornar-se o outro. Como Jesus que, sendo Deus, por amor se fez homem como nós. Assim o próximo se sente compreendido e aliviado, porque encontra alguém que carrega com ele os seus pesos, as suas aflições, e partilha com ele as suas pequenas felicidades. “Viver o outro”, “viver os outros”: isso é um grande ideal, isso é superlativo (…).
Letizia Magri

01 abril 2017

Palavra de Vida – Abril de 2017

 “Fica conosco, pois já é tarde.” (Lc 24,29) 


Foi esse o convite dirigido ao desconhecido que os dois companheiros de viagem encontraram no caminho que ia de Jerusalém à localidade de Emaús. Eles “falavam e discutiam” entre eles sobre o que tinha acontecido dias antes na cidade. 

O homem dava a impressão de ser a única pessoa que não sabia de nada. Por isso os dois, aceitando a sua companhia, lhe falaram desse “profeta poderoso em palavras e em obras diante de Deus e dos homens”, em quem eles tinham confiado totalmente. Ele tinha sido entregue aos romanos pelos chefes dos seus sacerdotes e pelas autoridades judaicas, sendo depois condenado à morte e crucificado1. Uma tragédia terrível, cujo sentido eles não eram capazes de entender. 

Ao longo do caminho o desconhecido ajudou os dois a compreender o significado daqueles acontecimentos, baseando-se na Escritura. E assim reacendeu no coração deles a esperança. Chegando a Emaús, pediram que ele ficasse para jantar: “Fica conosco, pois já é tarde”. Enquanto ceavam juntos, o desconhecido abençoou o pão e o repartiu com eles. Esse gesto fez com que eles o reconhecessem: o Crucificado, que estava morto, agora estava ali, ressuscitado! Imediatamente os dois mudaram de programa: voltaram a Jerusalém e procuraram os outros discípulos para dar-lhes a grande notícia. 

Também nós podemos estar desiludidos, indignados, desencorajados diante de uma trágica sensação de impotência diante das injustiças que atingem pessoas inocentes e indefesas. Também na nossa vida não faltam a dor, a incerteza, a escuridão... E como gostaríamos de transformá-las em paz, esperança, luz, para nós e para os outros. 

Queremos encontrar Alguém que nos compreenda profundamente e ilumine o caminho da vida? 

Jesus, o Homem-Deus, aceitou livremente experimentar, como nós, a escuridão da dor, para ter a certeza de atingir no mais profundo a situação de cada um de nós. Aceitou a dor física, mas também a dor interior: desde a traição por parte dos seus amigos até a sensação de ser abandonado2 por aquele Deus que Ele sempre tinha chamado de Pai. 

Por causa da sua confiança inabalável no amor de Deus, superou aquela imensa dor, confiando-se novamente a Ele3. E Dele recebeu nova vida. 

Ele conduziu também a nós, homens, por esse mesmo caminho e quer acompanhar-nos: 
“(...) Ele está presente em tudo aquilo que tem sabor de dor (...). 

Procuremos reconhecer Jesus em todas as angústias, as aflições da vida, em todas as escuridões, as tragédias pessoais e dos outros, os sofrimentos da humanidade que nos rodeia. São Ele, porque Ele os tornou seus (...). Bastará fazer algo de concreto para aliviar os ‘seus’ sofrimentos nos pobres (...), para encontrar uma nova plenitude de vida”.4 

Uma menina de sete anos conta: “Sofri muito quando meu pai foi preso. Amei Jesus nele. Assim consegui não chorar diante dele quando fomos visitá-lo”. 

E uma jovem esposa: “Acompanhei meu marido Roberto nos últimos meses de sua vida, depois de um diagnóstico sem esperança. Não me afastei dele nem por um instante. Eu via Roberto e via Jesus... Roberto estava na cruz, realmente na cruz.” O amor mútuo entre eles tornou-se luz para os seus amigos e eles se envolveram numa competição de solidariedade que nunca mais se interrompeu; pelo contrário, se estendeu a muitos outros, dando origem a uma associação de promoção social chamada “Abraço Planetário”. “A experiência vivida com Roberto”, diz um amigo dele, “nos arrastou com ele numa verdadeira caminhada rumo a Deus. Muitas vezes nos perguntamos qual o significado do sofrimento, da doença, da morte. Creio que todos os que tiveram a sorte de fazer esse percurso ao lado de Roberto tenham agora a compreensão bem clara de qual seja a resposta”. 

Neste mês todos os cristãos celebram o mistério da morte e ressurreição de Jesus. É uma ocasião para reacender a nossa fé no amor de Deus que nos permite transformar a dor em amor; cada desapego, separação, fracasso e a própria morte podem tornar-se para nós fonte de luz e de paz. Na certeza de que Deus está perto de cada um de nós em qualquer situação, queremos repetir confiantes o pedido dos discípulos de Emaús: “Fica conosco, pois já é tarde”.

Letizia Magri 

1 Cf. Lc 24,19ss. 2 Cf. Mt 27,46; Mc 15,34. 3 Cf. Lc 23,46. 4 Cf. Chiara Lubich, Palavra de Vida, revista Cidade Nova, abril de 1999.