28 dezembro 2008

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
—Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos
—Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai
—Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
—De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinicíus de Morais

12 setembro 2008

A QUATRO VOZES

Doralice (Dora), Jurema, Jussara e Thatiana formaram o grupo em 1994 como quarteto de vozes. Mas seu forte instinto e excelência musical projetaram o grupo para os céus da arte – conseguiram um grau elevado de interação entre seus membros que os resultados se traduziram em uma sonoridade ímpar. Jussara, estuda canto há 15 anos, toca violão e sua especialidade é interpretação musical. Thatiana estudou percussão durante 2 anos e descobriu seu talento para o canto integrando-se ao grupo. Estuda canto e teoria musical. Jurema também estuda canto ha 10 anos, toca violão, estuda teoria musical, é uma das compositoras do grupo e agora sua praia também é contrabaixo acústico. Dora compõe, toca violão, fez piano, canto e teoria musical. Todas se consideram um grupo democrático por que não possuem uma Band Leader! Elas opinam e participam igualmente na busca da qualidade musical e ainda por cima, a voz principal migra entre as quatro de forma que todas mostrem suas qualidades individuais e tragam o melhor ao grupo vocal.

YOLANDA



PARA OUVIR, DESLIQUE O SOM NA COLUNA AO LADO EM "OUÇA"

Boi do Pindaré - A 4 Vozes



PARA OUVIR, DESLIQUE O SOM NA COLUNA AO LADO EM "OUÇA"

CONTO DE AREIA



Para ouvir, deslique o som ao lado no "OUÇA".

12 agosto 2008

06 agosto 2008

Querer

Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.

Pablo Neruda

22 julho 2008

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira

27 junho 2008

A RESSURREIÇÃO DE ROMA

Escrito em 29 de outubro de 1949
"Se olho para esta Roma assim como é, sinto o meu Ideal distante, como distantes são os tempos em que os grandes santos e os grandes mártires iluminavam à sua volta, com a Luz eterna, até as paredes destes monumentos que ainda se levantam para testemunhar o amor que unia os primeiros cristãos. Em gritante contraste, o mundo com sua sordidez e vaidades domina agora Roma nas ruas e, pior ainda, nos recessos dos lares, onde mora a ira com todo o pecado e a agitação. Diria que o meu Ideal é uma utopia se não fixasse o pensamento Nele que também viu um mundo igual a este, que o cercava e que, no ponto culminante de sua vida, pareceu ser arrastado por tudo aquilo, vencido pelo mal. Ele também olhava para toda esta multidão a quem amava como a si mesmo, Ele, que a criara para si e gostaria de ter lançado os elos que deveriam uni-la novamente a Ele, como filhos ao Pai, e unir irmão com irmão. Ele descera para recompor a família, para fazer de todos “um”. Mas, ao contrário, apesar de suas palavras de Fogo e de Verdade – que queimavam o matagal das vaidades que sufoca o que de Eterno existe no homem e passa entre os homens -, o povo, a grande parte do povo, embora compreendendo, não queria entender, e continuava com os olhos apagados, pois a alma estava obscurecida. Tudo isso porque Ele os criara livres. Tendo descido do Céu à terra, ele podia ressuscitar a todos apenas com um olhar. Mas devia deixar para eles – criados à imagem de Deus -, o gáudio da livre conquista do Céu. Estava em jogo a Eternidade e, por toda a eternidade, eles poderiam viver como filhos de Deus, como Deus, geradores (por participação da Onipotência) da própria felicidade. Ele olhava o mundo como o vejo eu, mas não duvidava. Insatisfeito e triste, por tudo aquilo que caminhava a passos largos para a ruína, ao rezar à noite, voltava o olhar para o Céu lá no alto e o Céu dentro de si, onde a Trindade vivia e era o verdadeiro Ser, o Tudo concreto; enquanto, lá fora, perambulava pelas ruas a nulidade que passa. Também eu, para não me separar do Eterno, do Incriado, que é raiz para toda a criação e, portanto, a Vida do tudo, para acreditar na vitória final da Luz sobre as trevas, faço como ele. Passo por Roma e não quero vê-la. Olho o mundo que está dentro de mim e me apego àquilo que tem essência e valor. Faço de mim uma coisa só com a Trindade que repousa em minha alma, iluminando-a com eterna Luz, cumulando-a de todo o Céu povoado de santos e de anjos que, não sujeitos a espaço e tempo, podem se recolher com os Três em unidade de amor no meu pequeno ser. Tomo contato com o Fogo que, invadindo toda a minha humanidade dada por Deus, faz de mim outro Cristo, outro homem-Deus por participação, de modo que o meu humano se funde com o divino e os meus olhos não mais ficam apagados, mas, através da pupila, vazio sobre a alma, por onde passa toda a Luz que vem de dentro (quando deixo Deus viver em mim), olho o mundo e as coisas; contudo, já não sou mais eu que olho, é Cristo em mim que olha, e vê de modo novo, cegos que devemos iluminar, mudos que devemos fazer que falem e aleijados que devemos fazer andar. Cegos para a visão de Deus dentro e fora deles. Mudos para a Palavra de Deus que também fala neles, e poderia ser transmitida por eles aos irmãos, e despertá-los para a Verdade. Aleijados, paralisados, desconhecedores da vontade divina que, do fundo do coração, os instiga para o moto eterno que é o eterno Amor em que nos incendiamos, transmitindo o Fogo. De modo que, olhando novamente para fora, vejo a humanidade com os olhos de Deus que em tudo crê porque é Amor. Vejo e descubro a minha Luz nos outros: a Realidade verdadeira de mim, o meu verdadeiro eu nos outros (talvez soterrado ou secretamente camuflado por vergonha) e, tendo reencontrado a mim mesma, uno-me a mim, ressuscitando-me - Amor que é Vida - no irmão. Ressuscitando nele Jesus, outro Cristo, outro homem-Deus, manifestação da bondade do Pai aqui embaixo, Olho de Deus sobre a humanidade. Assim continuo no irmão o Cristo em mim e componho uma célula viva e completa do Corpo Místico de Cristo, célula viva, fogueira de Deus, que contém o Fogo a ser transmitido e, com ele, a Luz. É Deus que de dois faz um, pondo-se como terceiro, relação entre eles: Jesus entre nós. Assim, o amor circula e leva, naturalmente, (pela lei de comunhão nele congênita), qual rio de fogo, toda e qualquer coisa que os dois possuem, para tornar comuns os bens do espírito e os da matéria. Isso é testemunho concreto e exterior de um amor unitivo, o verdadeiro amor: o da Trindade. Então, realmente, Cristo inteiro revive em ambos, em cada um, e entre nós. Ele, homem-Deus, com as mais diferentes manifestações humanas impregnadas de divino, postas a serviço da finalidade eterna: Deus com o interesse do Reino e - senhor de tudo - dispensador de todo bem a todos os filhos, como Pai sem preferências".

AMOR E AMIZADE

Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.
William Shakespeare

04 abril 2008

A ARTE DE SER FELIZ (Cecília Meireles)

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

09 março 2008

IMAGEM POÉTICA

POEMA, CAZUZA

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
De um tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço, um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos ou anos atrás
Composição: Cazuza / Frejat

04 março 2008

DE REPENTE (Vinícius de Morais)

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

SONETO DA FIDELIDADE (Vinícius de Morais)

E tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meus pensamentos
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

02 março 2008

PREENCHENDO O CORAÇÃO

Desejo uma alegria
Como esta - estampada no rosto.
Palhaço sonhador... alegre criança.
Gravada para sempre em uma eterna festa.

Como tenho o rosto frio,
Derrame brilho e serpentina.
Deixe, palhaço, meus olhos sorrindo
Pois tenho ar de dor.

Não deixe saudade,
Deixe o coração.
No espaço que nele resta
Deixe inspiração.

VERDADE

Quando o pensamento do homem
Entra em um vale sem regresso,
Transgride a imaginação devassa
De seres imaginários.
Apoiados em sentimentos de culpa,
Procuramos sustentar a realidade
Em sensações e emoções que encabulam
A existência do eu.
Buscamos sempre a verdade
Mesmo sem observar que ela anda ao nosso lado,
Pairando... flutuando.

NOME E SOBRENOME

Da ponta do lápis,
Não consigo tirar
Seu nome.
Já rabisquei diversos planos,
Diversas retas,
Diversos muros.

Da ponta do lápis,
Não consigo tirar
Seu sobrenome.
Já rabisquei diversos muros,
Diversas retas,
Diversos planos.

O MENINO E A SOLIDÃO

Na estrada vai o menino...
Sozinho, solitário.
Doente do pensamento
Leva consigo
A chave do destino,
A chave do futuro.
Tem dó o menino do tempo passado.
Sabe das incertezas suas e dos outros.
Leva sozinho a solidão.
Da brincadeira de criança esqueceu...
Ficou maduro antes do tempo.
Leva consigo o sorriso da dor...
De levar consigo a solidão.

MEU FIM

Não tenho medo da morte,...
Tenho medo do futuro.
Sei que a morte nunca foi fim,
E sim,... começo.

Do futuro não sei o que espero,
Na morte,... tudo me espera.

Preparo-me para a morte;
O futuro?... que espere.

AFASTADO

No momento do silêncio,
Busco inspiração.
Vou distante no meu branco
Pra fugir da sensação.

Semoto do mundo,
Ando buscando...
(Sugestão).

Gostaria de aliviar
O peso da imaginação.

MEUS RASTROS

Não quero nada do mundo;
Só quero a oportunidade
De poder dizer
Que passei por aqui
E os meus rastros estão por aí.

Se alguém atrever-se em seguí-los,
Por momentos, perder-se-á,

Mas logo após,
Encontrará a verdade
Que acompanhou-me
Até aqui.

ÚLTIMO MOMENTO

Na mestria em seu ser
Só encontrei vestígio de dor.
Não sou versado,
Mas pude perceber,
O quanto padece,...
No seu sofrer.

És lídimo no seu sofrer,
Na sua dor.

Paciente, sofre no abandono.
No seu último alento,
Pede atento pela vida -
- Contrapondo ao seu mortiço.

A MORDAÇA

Ando com um açaimo,
Impedido de falar,
Impedido de gritar.
Das palavras que se libertam,
Poucas são enternecidas.
Mais parecem um adejo
De um pássaro ferido.
Se essa minha mordaça
Por você for tirada,
gritarei pelos cantos da terra
E por seu amor...
Poderei clamar.

18 janeiro 2008

Santa Maria

Humilde como é, e de poucas palavras, amante como é da oração e do trabalho, Maria passa grande parte de seu tempo no silêncio e na solidão. Não na solidão desesperada e vazia de nossos tempos, na qual o homem perdido na massa urbana, na explosão demográfica, não consegue se comunicar, permanecendo solitário, mas na solidão como uma concha plena do Espírito Santo, no qual, se falta a presença dos homens, há presença Deus. Deus que quer a alma toda para si: solus cum sola.
Maria tece uma história que é um poema; subentende a teologia e entende o mistério da encarnação, as graças e os sacramentos, enquanto reúne e celebra todas as virtudes: a pureza até a Imaculada Conceição, a caridade até a oferta do Filho; a sabedoria e a fé, a piedade e a alegria, até tornar-se plena do espírito Santo. Dizendo Maria designa-se a mãe e a advogada de todos os seres humanos.
Se, como afirma São Bernardo, temos necessidade da mediação de Maria para chegar à mediação de Jesus, eis que Maria nos é necessária como o ar que respiramos: ela é o “hálito” do Espírito Santo.
Ao saudar Maria, na oração com a qual mais freqüentemente a invocamos, antepomos ao mais belo nome de mulher o atributo que lhe é mais familiar na cidade de Deus, onde, pela intercessão de Maria, nos tornaremos concidadãos dos santos: Santa Maria, é Santa por excelência porque mais do que qualquer outra pessoa, ela fez a vontade de Deus. Para nós também, é vontade de Deus que nos tornemos santos, porque Ele é o Santo.
A santidade é a subida do homem até Deus, com as asas da redenção, e corresponde à descida de Deus até o homem, com o prodígio da Encarnação. E a Encarnação foi possível inicialmente pela santidade de Maria. Sua santidade é o modelo de nossa santificação, o mais simples e familiar dos modelos, adaptado a toda pessoa, em todas asa condições.
“Santa Maria”! Invocando-a com este título e este nome, fazemos uma síntese das maravilhas do amor de Deus: os dons do Espírito Santo, de quem ela é esposa; o ministério de Cristo, do qual ela é a mãe; a onipotência do Pai, de quem ele é filha; o mistério da Trindade da qual ela é a flor; as verdades do Evangelho, das quais se fez guardiã em seu espírito, meditando-as; a maternidade virginal da Igreja, para a qual oferece o modelo mais apropriado; e ainda os carismas do sacerdócio, para os quais deu a vida gerando o Sacerdote; da virgindade, da qual ela é a sua raiz e seu coroamento; do casamento, do qual é o exemplo e a glória. Sempre santa, sob todo e qualquer aspecto, santa. A mais próxima de Deus, a mais próxima de nós.
“Santa Maria” era o nome da caravela com a qual Colombo, atravessando o oceano, descobriu um novo mundo. Santa Maria é a nave com a qual nós, desafiando as tempestades, aportamos no eterno Amor.
Se é verdade, como é verdadeiro tudo o que a teologia demonstra, que a Virgem é a “mãe da santidade”, então, invocando-a com familiaridade amorosa e assídua, continuada e premente, externamos um compromisso de viver como cultores da santidade, para sermos verdadeiros filhos Dela.
Maria segue direto pelo seu caminho: diz honestamente o que pensa, faz o que deve. Não usa de sofismas1, como Zacarias, que por isso fica mudo. Maria, porque é simples, enxerga o certo: vê a Deus, que é a simplicidade absoluta; e acolhe o divino, que é a transparência.
Opõe a beleza à fealdade; o espírito inerme às armas materiais; o sorriso ao cepo dos condenados; a verdade às exibições de armas. Ergue a simplicidade contra a carga imensa de complicações com as quais as pessoas vêm dificultando, quase até ao desespero, algo tão natural como é a vida.

Igino Giordani (Foco)