30 abril 2019

Melhorar a oração


 Rocca di Papa, 28/01/88. 

Caros amigos, 

            O mês de fevereiro será iluminado pela Palavra de Vida: ‑Quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora ao teu Pai ocultamente  (Mt 6,6). É uma oportunidade de darmos uma olhada em nossa oração, no nosso modo de rezar e, possivelmente, de nos propormos a melhorá‑lo.

            Mas vejamos qual é, de modo geral, o significado da oração para muitos cristãos. Muitas vezes rezamos quase que exclusivamente para pedir graças. Em momentos de preocupação, de angústia, de necessidade, dirigimo-nos a Deus com orações e súplicas ou, para chegar a Ele, invocamos Nossa Senhora e os santos. Esta oração é válida? Ela, sem dúvida, não esgota o dever que os cristãos têm de rezar. Por isso, se for esta a única forma de oração praticada, ela deve ser considerada demasiado interesseira.

            A vida cristã não consiste somente em pedir, mas principalmente em dar. Com a ajuda de Deus, devemos dar também a Ele. Devemos amar a Deus. E, por isso, quem conhece apenas a oração de súplica, não é autêntico discípulo de Cristo e nem filho genuíno da Igreja. Se, no entanto, esta oração de súplica é feita dentro do contexto de uma vida cristã coerente, ela corresponde ao desejo preciso de Jesus que diz: ((Pedi e vos será dado, buscai e achareis, batei e vos será aberto (cf. Mt 7,7).

Trata‑se, portanto, de uma oração que estamos autorizados a fazer e que, efetivamente, fazemos muitas vezes. Além do mais, por meio dela declaramos a nossa impotência e afirmamos a confiança na onipotência de Deus.

            Depois, existem as orações que recitamos cada dia pela manhã, à noite ou antes das refeições; durante a missa; temos ainda a visita ao Santíssimo Sacramento em uma igreja, e terço. São orações de louvor, de adoração, de ação de graças, que manifestam o nosso amor e que são feitas para dar glória a Deus. São orações indicadas nos nossos Estatutos e Regulamentos.

            São as chamadas orações vocais, que a Igreja aconselha. Às vezes não são tão valorizadas quanto mereceriam, pois podem tornar‑se mecânicas e perder em parte o seu sentido. Cabe a nós preenchê‑las com a mente e com o coração, pensando no que estamos dizendo e amando Aquele com quem estamos falando.

            Estas orações, repetidas todos os dias, mantêm vivos e presentes os mistérios divinos em que, na condição cristãos, estamos mergulhados: a Encarnação, a Redenção, a Santíssima Trindade, as maravilhas realizadas por Deus em Maria etc. Muitas vezes, o fato de recitá‑las abre para nós espaços para a união com Deus.

            Finalmente, existe a oração mental. É chamada ‑assim a oração na qual Deus atrai a alma à comunhão consigo. Nós a experimentamos sobretudo no momento da meditação, mas também no decorrer do dia. Os mestres e mestras espirituais aconselham a interromper a oração vocal, se esta não for obrigatória, e nos deixar penetrar na oração mental, quando esta comunhão com Deus se fizer presente.

            Penso que todos nós tenhamos alguma experiência deste tipo de oração, muito agradável a Deus. Também conhecemos as maneiras de nos enriquecer dela. É amando radicalmente o irmão que experimentamos, em seguida, no nosso coração, a união com Deus. É abraçando as cruzes com generosidade que aprofundamos esta comunhão.

            No mês de fevereiro, esforcemo‑nos por melhorar todas estas formas de oração. Assim nutriremos nosso espírito. Catarina de Sena diz que a oração é como a mãe que nutre a alma, pois é na oração que experimentamos mais fortemente o sofrimento pelos nossos pecados; daí nasce a contrição. É na oração que fazemos os bons propósitos que orientam a nossa vida de modo cristão e ideal. É nela que decidimos abraçar a cruz.

            Devemos melhorar a oração como cristãos e, de modo especial, como membros do nosso Movimento. Ela tem grande importância na nossa espiritualidade.

            É definida como "elevação da alma a Deus", destinada a estabelecer um relacionamento; uma comunhão com Ele. Está, assim, em função da unidade; e a nossa espiritualidade é a espiritualidade da unidade.

            Amemos então a oração, praticando‑a. Junto com o amor ao irmão e com o amor à cruz, ela se manifestará como outra possibilidade de união mais profunda com Deus. E o que de melhor podemos desejar? Nada mais doce e consolador que sentir no nosso coração a presença amorosa de Deus. Nada nos toma mais fortes que o fato de nos sentirmos amados por Ele. E é disso que precisamos para fazer deste ano um "ano de fogo"!


29 abril 2019

A todos os homens de boa vontade

Sabemos que na base de quase todas as religiões mais importantes do mundo existe, embora formulada em termos diferentes, a “Regra de Ouro”, a norma realmente áurea que prescreve fazer aos outros o que se deseja feito a si mesmo. Isso é cristianismo. E são cristãos por natureza os que afirmam isso. Acho que um princípio desses é válido não só para os cristãos, não só para as outras religiões, mas também para todos os homens de boa vontade, porque se trata de um princípio razoável, sadio e justo, universal.

27 abril 2019

Não desanime

Não se deixe derrotar em situação alguma.

A derrota depende de nós, tanto quanto a vitória.

Entretanto, a pior derrota é a de quem desanima.

Perder, nem sempre é ser derrotado. Mas o desânimo estraga totalmente a vida.

Não desanime jamais.

Siga à frente corajosamente, porque a vitória sorri somente àqueles que não param no meio da estrada.

26 abril 2019

O que vale é amar

No amor, o que vale é amar. Assim é nesta terra. O amor — falo do amor sobrenatural, que não exclui o natural — é uma coisa muito simples e muito complexa. Exige a tua parte e conta com a parte do outro. Se tentares viver de amor, verás que, nesta terra, convém que faças a tua parte. A outra, nunca sabes se virá, nem é necessário que venha. Às vezes, ficarás decepcionado, porém jamais perderás a coragem, se te convenceres de que, no amor, o que vale é amar. E amar a Jesus no irmão, a Jesus que sempre a ti retorna , talvez por outros caminhos. Ele deixa a tua alma como aço contra as intempéries do mundo, e a liq uefaz no amor por todos os que te rodeiam, contanto que tenhas presente que, no amor, o que vale é amar.

24 abril 2019

Gratuidade

No amor humano, geralmente, amamos porque somos amados.

Também quando o amor é bonito, amamos no outro algo de nós mesmos.

Existe sempre um quê de egoísta no amor humano, ou então, esperamos amar quando o interesse nos leva a amar.

Por sua vez, o amor divino, sobrenatural é gratuito, ama primeiro.

Portanto, se quisermos deixar viver o “homem novo” em nós, se quisermos deixar acesa em nós a chama do amor sobrenatural, devemos também nós ser os primeiros a amar.

Que majestade

 Não sei como é possível não se apaixonar por Jesus. Não sei como é que muitos o conhecem tão pouco.
Se o mundo louva o amor, quando, na verdade idolatra muitas vezes uma pessoa, é porque procura alguém que deveria amar e sem o qual o coração fica inquieto.
Jesus não se preocupa com a lei de Moisés. Ele é a lei.
O trecho da adúltera é uma obra-prima divina. Mas como dizê-lo, que palavra pode existir para explicá-lo?
Ele está ensinando. Aparecem de repente escribas e fariseus com a mulher. Ele lê os corações: nos olhos apavorados dela, apanhada em flagrante por fraqueza, e nos olhos deles, não tanto sedentos de justiça como desejosos de terem matéria para acusá-lo.
São todos pecadores os que estão diante d’Ele. Como condenar apenas a mulher? Se Jesus fosse um oportunista, se quisesse salvar o seu prestígio junto aos escribas, teria sido fácil e lícito — digamos — condená-la. Mas Ele, como dirá em outro lugar, não  “veio para julgar, mas para salvar”!
Aqui se vê isto bem claro.
Depois... aquele escrever na terra por duas vezes.
E aquele silêncio! E aquele insistir dos outros que rompe o seu divino silêncio; a nobreza ao levantar-se depois de ter escrito; e aquela frase inesperada por todos: “Quem de vós não tiver pecado, atire a primeira pedra....”
E o colóquio com a pecadora, sem o receio de contaminar-se.
Que delicadeza de amor, que inquebrantável majestade, que humanidade profunda, que se curva docemente para soerguer uma criatura do sexo frágil, que caíra por fraqueza...
E por fim a despedida: “Vai e de agora em diante não tornes a pecar”.
E antes: “Ninguém te condenou?”

23 abril 2019

O preço exigido

Às escolas dos focolarinos/as
Loppiano, 22 de junho de 1981 – resp. n.1

Chiara, nascemos num período em que o próprio Papa faz votos para que a Igreja viva o seu Carisma. Mas sabemos, através da História do Movimento, do longo período em que a Obra esteve em gestação no seio da Igreja. Sendo filhas suas, gostaríamos de saber como você viveu aquele período que depois gerou tantos frutos?

[…] Então, como é que nós vivemos aquele período, aquele primeiro período? É esta a pergunta.
Nós o vivemos com o amor a Jesus abandonado, isto vocês já sabiam, com o amor a Jesus abandonado. Jesus Abandonado nos explicava tudo: sobretudo nos explicava uma coisa que é fundamental e isto vocês devem pôr na cabeça, ‘popos’.
Vocês agora estão aqui num período que permanecerá como um dos períodos mais belos de suas vidas. Estão aqui rodeados – sem saber – pela ajuda de todos, ‘em cordão’ sim, em direção a Deus, mas ligados a todos, juntos e, portanto, vocês nem se apercebem do quanto é a ajuda dos outros e quão pouco é o esforço de vocês; mais tarde vocês perceberão isto. Mas, já desde agora, devem, pelo menos teoricamente, assimilar as ideias fundamentais. Ora, o que eu queria que entrasse em suas mentes e que nunca mais saísse de suas cabeças é isto: não se constrói nada, nada, nada, de divino (e é tudo o que nós queremos construir, isto é, o Reino de Deus sobre a terra) sem o sofrimento. Nada, nada, nada, nada! Não tenhamos ilusões, é inútil, não nos iludamos, não há outro caminho para seguir Jesus, há só o da cruz. E quando acrescenta uma palavra, Ele diz: “Renega a ti mesmo”, além da cruz é preciso outra cruz, se diria, renegarmos a nós mesmos.
Naquele período, nós compreendemos muito bem as palavras que, afinal, Jesus diz de si mesmo: que “se o grão de trigo lançado na terra não morre, fica só, mas se morre produz fruto”. Isto é: há uma condição sem a qual não há nada na nossa vida, na vida que empreendemos agora, que é a de morrer como o grão de trigo; porém tem uma consequência maravilhosa que só se verifica se houver sofrimento, se existir a cruz: o “muito fruto”, o “muito fruto”. Nós entendemos isto (e o Senhor fez com que isto nos entrasse num modo violento, ‘a marteladas’, porque nós éramos também… da idade de vocês e com a experiência de vocês e, portanto, era preciso que alguém nos
ensinasse e Jesus nos fez entender, nos fez compreender): se aqui não se morre, não se vive, ‘Com vocês, eu tenho a intenção de fazer nascer uma árvore grande do pequeno
grão de mostarda, que vocês são, nascidas em Trento, pequenino, pequenino, duas, três jovens, etc.’ Irá existir uma árvore que cobrirá a terra: “Pede-me e dar-te-ei todos os povos e como herança os confins da terra”.
É uma árvore que já estendeu os seus ramos, os seus… até os últimos confins da terra, nós o sabemos (as 146 nações de que nos orgulhamos, por amor, por… para dar glória a Deus) onde chegou o Ideal. Mas se não se morre, não há nada, não há nada.
Se, como fruto desta pequena aula que fazemos hoje, vocês saírem daqui com esta mentalidade, com esta convicção, eu ficaria satisfeita. Porque eu teria, teríamos muitas outras focolarinas e focolarinos, no Movimento, que levam as coisas a sério e que realmente darão frutos no futuro e que ao lado… cada um de vocês deve frutificar, ao menos, mil corações que O amam, mas mil para dizer um número indefinido.
Foi isto que nós entendemos, isto foi posto dentro de nós. Por isso, também agora, quando vêm as ‘glórias’, por exemplo, as conquistas, nós verificamos logo se foram pagas; e se não foram pagas antes, pagam-se depois. Não há nada a fazer, não há… nem para nós, nem para os outros cristãos; nem para os bispos, nem para os Papas, nem para os religiosos, não há nada… há uma só coisa a fazer: morrer, saber morrer, sacrificar-se, sofrer.
Ao mesmo tempo o Senhor nos fez entender, naquele período, outra coisa: não é que morríamos assim, porque éramos uns ‘imaculados’ que morriam vítimas pelo Reino de Deus, para dar fruto e ir para o paraíso gloriosos e triunfantes. Não! O sofrimento que Deus nos dava tinha outro significado: o de nos purificar. Nós não sabíamos que estávamos tão imundos, digamos, tão cobertos de misérias, de fraquezas, de pecados, de nulidade. Estávamos todos enlameados de humano, não sabíamos, não tínhamos olhos para ver. Por meio da dor, o Senhor nos dá olhos novos e se vê e se vê claramente quantos defeitos temos; mas não é uma soma de defeitos, é um estado, em que estamos, de imperfeição, um estado – para alguns também – de pecado que naturalmente é avaliado por Deus, depende das circunstâncias, de muitas coisas (das tentações e da influência do ambiente, etc.) No entanto, estamos com… tudo, todos misturados com o mal.
Eis então que a morte ajuda a nos purificar. E foi esta a segunda coisa que nós compreendemos, isto é, como éramos nada, e como realmente muitas das ‘mortes’ que surgiam também se justificavam realmente pela nossa fraqueza e por todos os erros que fazíamos como neófitos. Porque éramos jovens como vocês, não conhecíamos quais eram os caminhos de Deus, gabávamo-nos da luz (que recebíamos) e quem sabe quantos erros nós cometemos, só Deus é que sabe!
Portanto, primeira coisa: entender que sem morrer não há nada de divino, vocês nunca construirão nada, nem cidades novas, nada. Segundo: saber que aquilo que Deus nos manda, nos manda porque nos é necessário.
Depois, outra coisa, porém, que o Senhor nos pôs dentro da cabeça naquela época: descobríamos que em todas as grandes obras de Deus, sei lá, na de Santo Inácio (os jesuítas), de são Bento (os beneditinos), como cada Obra de Deus é marcada pelo sofrimento, tem necessidade de provações, se não passa esta provação, não se pode dizer que é Obra de Deus. E isto o Senhor nos iluminou continuamente, continuamente
e os outros também nos diziam, inclusive muitos dos nossos superiores que nos seguiam, nos diziam: “Aqui tem o dedo de Deus, tem o dedo de Deus porque existe o sofrimento”.
Portanto, três coisas: saber que se deve morrer, que nunca construirão nada sem o sofrimento; saber que lhes é necessário, porém que é também um sofrimento redentor, digamos, que ajuda Jesus a redimir o mundo, porque com isto se constrói uma Obra de Deus.
Se vocês assimilarem isto, eu já fico muito satisfeita.

22 abril 2019

Humildade

NÃO se envergonhe de ser humilde. A humildade consiste no conhecimento perfeito daquilo que somos e que podemos, sem fantasiar-nos com qualidades que não temos.

Humildade não é posição de corpo nem tom de voz: é posição de espírito, que sabe o que é o que pode, e não precisa manifestar-se aos outros: vale para si mesmo.

Seja, pois, humilde!

21 abril 2019

Jesus Abandonado


Jesus, por volta das três horas, grita em voz forte:
"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27,46).

É o ápice de suas dores, é a sua paixão interior.
É o drama de um Deus que grita:
"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?"

Infinito mistério, dor abissal que Jesus experimentou como homem.
Dá a medida do seu amor pelos homens.
Quis assumir sobre si a separação que os mantinha distantes do Pai e entre eles.
E a preencheu.

Qualquer dor do homem está sintetizada nesta particular dor de Jesus.
Não é semelhante a Ele o angustiado, o solitário, o árido, o desiludido, o fracassado, o fraco?
Não é imagem dele cada divisão dolorosa  entre os membros de uma mesma família?
Amando-o, o cristão encontra motivo e força para não fugir do sofrimento, do mal, da divisão, mas para aceitá-las e oferecer um remédio.
Jesus Abandonado é a chave da unidade.

20 abril 2019

Não à tristeza

Não se deixe abater pela tristeza. Todas as dores terminam. Aguarde que o Tempo, com suas mãos cheias de bálsamo, traga o alívio. A ação do Tempo é infalível, e nos guia suavemente pelo caminho certo, aliviando nossas dores, assim como a brisa leve abranda o calor do verão. Mais depressa do que supõe, você terá a resposta, na consolação de que necessita.

19 abril 2019

À imitação de Deus

Para amar, o cristão deve fazer como Deus: não esperar ser amado, mas “amar primeiro”. E, como o cristão não pode fazer isso com relação a Deus, porque Deus sempre ama primeiro, ele o atua com o próximo. São João, depois de dizer que Deus nos amou, não conclui — como seria mais lógico — que, se Deus nos amou, nós devemos amá-lo em troca, mas diz: “Caríssimos, se Deus assim nos amou, devemos, nós também, amar-nos uns aos outros” (1Jo 4,11). É somente porque a caridade é participação do ágape de Deus que podemos ir além dos limites naturais e amar os inimigos e dar a vida pelos irmãos. Por isso, o amor cristão é próprio da era nova, e o Mandamento é radicalmente novo e introduz na história humana e na ética humana uma “novidade” absoluta. “É esse amor” — escreve Agostinho — “que nos renova, fazendo de nós ‘homens novos’, herdeiros do Testamento Novo, cantores do cântico novo”

18 abril 2019

A morte

Não é para sermos pessimistas — nós dizemos —, mas otimistas, que pensamos na morte. (...)
Quanto mais se valoriza e mais se conhece a dor, mais compreendemos que a morte é a nossa última oferta como “sacerdotes régios”, aqui na terra, portanto o vértice da nossa vida.[1]
Pensamos na morte também com alegria. Por vezes no Movimento ela é vista como São Francisco a vê: irmã morte.
A morte significará — está escrito —, se a misericórdia de Deus isso nos conceder ver Maria, ver Jesus. Como então enlutar esta passagem, embora (...) aconteça na crua realidade de uma longa ou breve agonia ou. seja como for na decomposição da nossa estrutura humana? (...)
Que o Senhor mantenha viva em nós esta visão interior e aumente a nossa alegria. Nada mais nos poderá amedrontar Aliás, a morte será esperada como uma querida amiga.[2]

E ainda: pensamos que vê a morte sobretudo quem está ao lado de quem morre. Porém, quem morre tem a felicidade de ver a vida, porque a morte é o encontro com Cristo.
A fé nos diz que veremos imediatamente Jesus. Essa verdade nos dá uma consolação imensa. São Paulo fala do seu «desejo de ser liberto do corpo para estar com Cristo» (Fil 1,23).
Portanto, fala de uma existência com Cristo que se segue imediatamente à morte sem esperar a ressurreição final (cf. 2Cor 5,8). Portanto, é verdade que — de certo modo — a morte não existe: ela é o encontro com o Senhor.
É preciso preparar-se previamente para morrer.
Fazer como Jesus, que viveu para a sua “hora”.
Cada um de nós também tem a sua “hora”.
É preciso colocá-la acima dos nossos pensamentos, pois é o momento mais importante da nossa existência terrena.
Rezar por este momento, na Ave Maria, por exemplo, onde se diz sempre: «Rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte».
Portanto, enquanto ainda tivermos saúde, devemos viver na sua expectativa, escolhendo desde já o estado de espírito mais adequado: «Es tu, Senhor, o meu único bem!».
E oferecer esta “hora” pelos objetivos que Jesus nos confiou. Se fizermos assim, nada mais nos surpreendera.
Então, todos devemos morrer assim.


[1] Chiara Lubich. «Pensamentos de ouro». Em: Escritos Espirituais 2.
   São Paulo: ed. Cidade Nova. 1983, p. 171:
[2] Diário 14.6.1968:

17 abril 2019

Faz da terra um céu

Amar os irmãos individual e coletivamente… Portanto, amar o próximo, um por um, e respeitar cada povo no mais alto grau. Disso nasce uma mudança radical de mentalidade, disso nasce uma total novidade de vida. Se todos fizessem isso, a terra já seria um Céu.

16 abril 2019

Os frutos amadureçam

Tenha firmeza em suas atitudes e persistência em seu ideal.

Mas seja paciente, não pretendendo que tudo lhe chegue de imediato.

Há tempo para tudo. E tudo o que é seu virá às suas mãos, no momento oportuno.

Saiba esperar o momento exato em que receberá os benefícios que pleiteia.

Aguarde com paciência que os frutos amadureçam para que possa apreciar devidamente sua doçura.

15 abril 2019

Por um mundo novo



      É preciso criar um mundo novo, onde todos se amam.

      É isso o que Deus quer. E é preciso começar por algum lugar.

      É um ponto estratégico, o dos cristãos: poderem começar a amar porque — sendo amados por Deus — sabem amar também os inimigos.

      De fato, os cristãos são particularmente capazes de superar as dificuldades encontradas quando se ama, porque o amor que possuem é um amor forte. Na qualidade de filhos de Deus, participam do mesmo amor de Deus, de Deus que é Amor.

14 abril 2019

Ao alcance de todos

Nos dias de hoje, não basta banir a guerra. A paz requer que se supere a categoria de inimigo, qualquer que seja o inimigo. Aliás, ela exige que se ame o inimigo. Isso os discípulos de Cristo podem fazer. Mas, como o amor pulsa no íntimo de cada coração humano, isso também as pessoas que não possuem uma fé religiosa podem fazer, talvez a título de filantropia, de solidariedade, de não-violência. Igual àqueles que, sendo de outros credos, são chamados por sua religião a pôr em ação o respeito e o amor ao próximo.

13 abril 2019

Servir

Amar quer dizer servir. Jesus nos deu o exemplo. Primeiro, com a morte de cruz favoreceu a humanidade inteira que foi, que é e que será. Mas depois, deu-nos também o exemplo quando lavou os pés. Era Deus, e nos lavou os pés, a homens. Portanto, também nós podemos lavar os pés dos nossos irmãos. Podemos, não. Devemos. Isso é o cristianismo: servir, servir a todos, reconhecer patrões em todos. Se nós somos servos, os outros são patrões. Servir, servir. Procurar alcançar a primazia evangélica, sim, mas pondo-nos a serviço de todos. A serviço… Eis uma ideia que pode revolucionar o mundo. O cristianismo não é uma brincadeira, o cristianismo é uma coisa séria, não é uma mão de verniz, um pouco de compaixão, um pouco de amor, um pouco de esmola. O cristianismo é exigente, é plenitude de vida.

11 abril 2019

Fora os julgamentos

Na qualidade de cristãos, somos chamados a contribuir para o “ut omnes”1. Então, antes de mais nada, reavivemos a nossa fé em que cada homem é chamado à unidade, porque Deus ama a todos.

      E não arranjemos desculpas como: “aquele lá nunca vai entender”; “aquele outro é pequeno demais para compreender”; “aquele ali é parente meu e o conheço bem, é apegado às coisas da terra”; “este aqui acredita no espiritismo”; “aquele acolá é de uma outra religião”; “este é velho demais para mudar”…

      Não! Fora todos esses julgamentos! Deus ama a todos e por todos espera.

09 abril 2019

Por meio de Maria



É por meio de Maria que devemos ir a Jesus.
Devemos aprender a conversar com ela como se conversa com a mais terna mãe, como a mais exigente guia, como a mais eficaz advogada. E, portanto, expor a ela as nossas questões.
A unidade, a obediência a um líder exige amor para que a unidade seja verdadeira, obediência sólida e construtiva. O amor se alimenta com o conhecimento.
É preciso meditar sobre os enormes privilégios da nossa Mãe. A meditação destes fará mais ágil a nossa confiança na sua onipotência por graça, na sua intercessão; será mais fácil estimar os seus conselhos e suas diretrizes.
É na imitação de Maria, nos diversos momentos da sua história, que alcançaremos o cumprimento do desígnio de Deus para nós.

07 abril 2019

Fraternidade universal

Acima de todas as coisas, a alma deve sempre dirigir o olhar para o único Pai de tantos filhos. Depois, ver todas as criaturas como filhas do único Pai. Com o pensamento e com o afeto do coração, ultrapassar sempre todos os limites interpostos pela vida simplesmente humana e tender, constantemente e por hábito adquirido, à fraternidade universal num único Pai: Deus. Jesus, nosso modelo, ensinou-nos apenas duas coisas que são uma só: sermos filhos de um único Pai e sermos irmãos uns dos outros.

06 abril 2019

Amor divino e amor humano

O amor sobrenatural, sendo participação do mesmo amor que está em Deus, que é Deus, difere do amor humano de maneiras infinitas, mas é principalmente diferente porque o amor humano faz distinções, é parcial, ama determinados irmãos como, por exemplo, os irmãos de sangue, ou os que são cultos, ricos, bonitos, respeitados, sadios, jovens…; ou os que são de determinada raça ou classe social, mas não ama — ao menos não desse modo — os outros. O amor divino, ao contrário, ama a todos, é universal.

05 abril 2019

A cruz de cada dia

Vivendo o presente, podemos notar que — se for bem vivido — é sempre possível pôr em prática as palavras de Cristo: “Tome a sua cruz” (cf. Mt 16,24). Cada momento, quase, tem a sua cruz: pequenas, insignificantes ou grandes dores espirituais ou físicas, que acompanham a nossa vida no presente. É preciso “tomar” estas cruzes, não procurar esquecê-las, refugiando-se em uma vida sem compromisso.

E, mesmo que tudo seja saúde e alegria, é aconselhável vivermos isso desapegados, embora sendo gratos a Deus, e não nos inclinarmos avidamente para o dom, em vez de para o Doador, ficando depois tristes, com um vazio na alma.


04 abril 2019

Reflexo

NÃO se esqueça de que somos o reflexo daquilo que pensamos.
0 pensamento plasma nossa vida de amanhã.
Aproveite, portanto, o momento que passa, a fim de construir um amanhã risonho.
Plante em torno de você as se mentes de otimismo e bondade, para que possa colher amanhã os frutos do amor e da felicidade.
Se somos escravos do ontem, somos donos de nosso amanhã.

03 abril 2019

A primeira qualidade do amor

A primeira qualidade do amor cristão é amar a todos.

Essa arte de amar pretende que amemos a todos, sem distinção, como Deus ama.

Não há que escolher entre simpático ou antipático, idoso ou jovem, compatriota ou estrangeiro, branco ou negro ou amarelo, europeu ou americano, africano ou asiático, cristão ou judeu, muçulmano ou hinduísta…

Valendo-nos de uma linguagem bastante conhecida hoje, podemos dizer que o amor não conhece “nenhuma forma de discriminação”.

02 abril 2019

A pérola


      Nos dias de hoje, “a santidade deve sair dos conventos, marcar presença nas casas, nas escolas, nas ruas, nos escritórios, nos Parlamentos…”2, porque hoje, mais do que outrora, tomamos consciência de que também os leigos são chamados à santidade.

      Então, sem estarem isolados, sem estarem protegidos por muros, sem disporem de todas aquelas precauções que a vida espiritual exigia antigamente, como poderão esses leigos encontrar a união com Deus estando no meio do mundo?

      Eles, que, além de não terem coisa alguma que os proteja, estão sempre rodeados por outros homens e mulheres que, no passado, preferia-se manter afastados.

      Mas eis que uma espécie de pérola começa a luzir.

      O Espírito Santo, iluminando-nos com um seu carisma, nos sugeriu: justamente o irmão, a irmã, precisamente eles, que outrora podiam ser vistos como empecilhos, podem se tornar até mesmo nosso caminho para chegar a Deus, podem ser uma abertura, uma porta, uma estrada, uma passagem que leva a Ele.

      Com uma condição, naturalmente: que não sejam eles a exercer influência sobre nós, com seu comportamento muitas vezes apenas humano, mas sejamos nós a influenciá-los com o nosso comportamento sobrenatural. Como? Já sabemos: amando-os. Amando-os um por um, durante o dia, o dia inteiro. Amando-os com aquela arte de amar, que é divina, por ser possível somente com o amor que o Espírito Santo infundiu em nosso coração.

      E todos bem sabemos as exigências desse amor.

      O que acontecerá se agirmos assim?

      Acontecerá que à noite, por exemplo, durante a oração, e também durante o dia, quando, por um instante, pudermos recolher-nos sozinhos com Deus, sentiremos a sua presença.

      Ele veio até nós, porque nós fomos até Ele nos irmãos.

      Concretiza-se, então, aquela união experimentada que muitos de nós conhecem, mas ainda não sabem definir, nem classificar, talvez por ser nova, sensível aos sentidos da alma, que inunda o coração de amor.

      E assim, com Ele presente, podemos rever cada afazer nosso.

      Daí resulta, entre outras coisas, que, se logramos isso por intermédio do irmão que foi amado, ele não é apenas um beneficiado nosso, mas um nosso benfeitor, pois nos proporcionou aquilo que esperávamos de melhor.

      Acontecerá, então, que, no contato com ele, sentiremos reconhecimento, o que nos porá em posição de humildade, virtude que, além do mais, muito serve ao amor.