30 abril 2019

Melhorar a oração


 Rocca di Papa, 28/01/88. 

Caros amigos, 

            O mês de fevereiro será iluminado pela Palavra de Vida: ‑Quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora ao teu Pai ocultamente  (Mt 6,6). É uma oportunidade de darmos uma olhada em nossa oração, no nosso modo de rezar e, possivelmente, de nos propormos a melhorá‑lo.

            Mas vejamos qual é, de modo geral, o significado da oração para muitos cristãos. Muitas vezes rezamos quase que exclusivamente para pedir graças. Em momentos de preocupação, de angústia, de necessidade, dirigimo-nos a Deus com orações e súplicas ou, para chegar a Ele, invocamos Nossa Senhora e os santos. Esta oração é válida? Ela, sem dúvida, não esgota o dever que os cristãos têm de rezar. Por isso, se for esta a única forma de oração praticada, ela deve ser considerada demasiado interesseira.

            A vida cristã não consiste somente em pedir, mas principalmente em dar. Com a ajuda de Deus, devemos dar também a Ele. Devemos amar a Deus. E, por isso, quem conhece apenas a oração de súplica, não é autêntico discípulo de Cristo e nem filho genuíno da Igreja. Se, no entanto, esta oração de súplica é feita dentro do contexto de uma vida cristã coerente, ela corresponde ao desejo preciso de Jesus que diz: ((Pedi e vos será dado, buscai e achareis, batei e vos será aberto (cf. Mt 7,7).

Trata‑se, portanto, de uma oração que estamos autorizados a fazer e que, efetivamente, fazemos muitas vezes. Além do mais, por meio dela declaramos a nossa impotência e afirmamos a confiança na onipotência de Deus.

            Depois, existem as orações que recitamos cada dia pela manhã, à noite ou antes das refeições; durante a missa; temos ainda a visita ao Santíssimo Sacramento em uma igreja, e terço. São orações de louvor, de adoração, de ação de graças, que manifestam o nosso amor e que são feitas para dar glória a Deus. São orações indicadas nos nossos Estatutos e Regulamentos.

            São as chamadas orações vocais, que a Igreja aconselha. Às vezes não são tão valorizadas quanto mereceriam, pois podem tornar‑se mecânicas e perder em parte o seu sentido. Cabe a nós preenchê‑las com a mente e com o coração, pensando no que estamos dizendo e amando Aquele com quem estamos falando.

            Estas orações, repetidas todos os dias, mantêm vivos e presentes os mistérios divinos em que, na condição cristãos, estamos mergulhados: a Encarnação, a Redenção, a Santíssima Trindade, as maravilhas realizadas por Deus em Maria etc. Muitas vezes, o fato de recitá‑las abre para nós espaços para a união com Deus.

            Finalmente, existe a oração mental. É chamada ‑assim a oração na qual Deus atrai a alma à comunhão consigo. Nós a experimentamos sobretudo no momento da meditação, mas também no decorrer do dia. Os mestres e mestras espirituais aconselham a interromper a oração vocal, se esta não for obrigatória, e nos deixar penetrar na oração mental, quando esta comunhão com Deus se fizer presente.

            Penso que todos nós tenhamos alguma experiência deste tipo de oração, muito agradável a Deus. Também conhecemos as maneiras de nos enriquecer dela. É amando radicalmente o irmão que experimentamos, em seguida, no nosso coração, a união com Deus. É abraçando as cruzes com generosidade que aprofundamos esta comunhão.

            No mês de fevereiro, esforcemo‑nos por melhorar todas estas formas de oração. Assim nutriremos nosso espírito. Catarina de Sena diz que a oração é como a mãe que nutre a alma, pois é na oração que experimentamos mais fortemente o sofrimento pelos nossos pecados; daí nasce a contrição. É na oração que fazemos os bons propósitos que orientam a nossa vida de modo cristão e ideal. É nela que decidimos abraçar a cruz.

            Devemos melhorar a oração como cristãos e, de modo especial, como membros do nosso Movimento. Ela tem grande importância na nossa espiritualidade.

            É definida como "elevação da alma a Deus", destinada a estabelecer um relacionamento; uma comunhão com Ele. Está, assim, em função da unidade; e a nossa espiritualidade é a espiritualidade da unidade.

            Amemos então a oração, praticando‑a. Junto com o amor ao irmão e com o amor à cruz, ela se manifestará como outra possibilidade de união mais profunda com Deus. E o que de melhor podemos desejar? Nada mais doce e consolador que sentir no nosso coração a presença amorosa de Deus. Nada nos toma mais fortes que o fato de nos sentirmos amados por Ele. E é disso que precisamos para fazer deste ano um "ano de fogo"!


Nenhum comentário: