31 agosto 2019

Por aqueles menos dignos de serem amados


      O amor de Deus tomou a iniciativa e nos amou quando éramos tudo, menos dignos de sermos amados (“mortos pelo pecado”).

      Essa consideração me faz lembrar o início do nosso Movimento, quando Deus acendeu em nossos corações a “centelha” (conforme expressão de João Paulo II2) do nosso grande Ideal.

      Será que, naquela época, na devastação da guerra e no deserto que nos envolvia, teríamos encontrado alguém mais que tomasse a iniciativa de nos amar?

      Não. Portanto, éramos nós que, por uma dádiva particular de Deus, acendíamos a chama do amor em muitos corações, com o anseio de fazer que ela se alastrasse em todos. Tampouco olhávamos se os próximos eram dignos de nosso amor, para poder amá-los; mas atraíam-nos, antes, os mais pobres, em quem melhor vislumbrávamos o semblante de Cristo, e os que mais precisavam de sua misericórdia.

30 agosto 2019

Realizar

Do Diário

2 de março de 1969



Jesus disse que devia “realizar a obra que lhe fora confiada” (cf. Jo 17,4). Devia salvar-nos e fundar a sua Igreja, que continuaria a sua obra. Mas não viu na terra o triunfo da Igreja, nem a expansão inicial. No entanto, realizou.

Muitas vezes, pensamos “humanamente” naquilo que Deus quer realizar, por nosso intermédio. E nós fixamos pontos de chegada, enquanto todos os projetos da história e da humanidade estão em suas mãos. Devemo-nos “conformar”, mas com alegria, porque nada é mais belo do que aquilo que Deus estabeleceu para nós, do que realizar o que Deus quer de nós. Além do mais, se outros desejos nos restam, eles nos devem impelir a já nos sentirmos solidários com aqueles que levarão adiante a Obra que começamos. Sendo assim, existe quem semeia e quem colhe, mas a alegria é de todos.

29 agosto 2019

Qual celeste plano inclinado

Maria não é facilmente entendida pelos homens, apesar de ser muito amada. De fato, é mais fácil encontrar em um coração afastado de Deus a devoção a ela, do que a devoção a Jesus.

      É amada universalmente.

      E o motivo é este: Maria é Mãe.

      As mães, em geral, não são “compreendidas”, especialmente pelos filhos pequenos; elas são amadas, e não é raro — aliás é bastante frequente — que até um homem de oitenta anos morra pronunciando como última palavra: “Mamãe”.

      A mãe é mais objeto de intuição do coração do que de especulação intelectual, é mais poesia do que filosofia, pois é real e profunda demais, achegada ao coração humano.

      Assim é com Maria, a Mãe das mães, que a soma de todos os afetos, bondades, misericórdias das mães do mundo não consegue igualar.

      De certo modo, Jesus está mais diante de nós. Suas palavras divinas e fulgurantes são diferentes demais das nossas para se confundirem com elas; são, aliás, sinal de contradição.

      Maria é pacífica como a natureza, pura, serena, tersa, suave, bela; aquela natureza longe do mundo, na montanha, na campina, no mar, no céu azul ou estrelado. E é também forte, vigorosa, ordenada, contínua, inflexível, rica de esperança, porque na natureza é a vida que refloresce perenemente benéfica, ornada pela beleza vaporosa das flores, generosa na rica abundância dos frutos.

      Maria é simples demais, próxima demais de nós para ser “contemplada”.

      Ela é “enaltecida” por corações puros e enamorados que assim exprimem o que neles há de melhor. Traz o divino à terra, suavemente, qual celeste plano inclinado que, da vertiginosa altura dos Céus, desce até a infinita pequenez das criaturas. É a Mãe de todos e de cada um, a única que sabe balbuciar e sorrir para o seu filho de um modo único e tal que, embora pequeno, cada um já sabe apreciar aquela carícia e responder com o seu amor àquele amor.

      Não compreendemos Maria porque está demasiadamente próxima a nós. Ela, destinada pelo Eterno a levar aos homens as graças, jóias divinas do Filho, está ali do nosso lado e aguarda, sempre com esperança, que percebamos o seu olhar e aceitemos a sua dádiva.

      E se alguém, por sorte sua, a compreende, ela o arrebata para o seu Reino de paz, onde Jesus é rei e o Espírito Santo é o hálito daquele Céu.

      Lá, purificados de nossas misérias e iluminados em nossas trevas, haveremos de contemplá-la e dela fruir, paraíso adjunto, paraíso à parte.

      Aqui, mereçamos que ela nos conduza pelo “seu caminho”, para não permanecermos mesquinhos no espírito, com um amor que só é súplica, imploração, pedido, interesse, mas que conhecendo-a um pouco, possamos glorificá-la.

28 agosto 2019

Para o seu futuro

NÃO se desespere diante das dificuldades.
Colhemos aquilo que plantamos.
Somos escravos do ontem, mas somos donos de nosso amanhã.
Se construiu um presente doloroso, fique alerta, para construir um futuro alegre, saudável, no qual possamos colher os frutos do amor e da felicidade sem limites.
Faça o bem de todas as formas, para preparar um futuro melhor.

27 agosto 2019

Obras que perduram

Se vives o presente, mas o vives bem, realizas obras que perduram, mesmo que fales só para uma pessoa, mesmo que prepares um discurso destinado a um público de uma só categoria. Pois bem, a humanidade inteira está em uma pessoa, e também em um grupo restrito, como toda a vontade de Deus está em apenas uma vontade sua. Experimentando isto, estás saciado porque abraças o infinito.

Fazer bem o que Deus quer no presente e fazer como Deus quer, segundo o seu método, a sua dialética, é, por exemplo, preparar o que deves dizer com toda a ajuda do Espírito Santo que está em ti, e depois colocá-lo à prova no fogo do amor mútuo com os irmãos, para que morra, e se decomponha, e renasça da unidade (e isto requer tanto saber “perder”, quanto humildade); é, enfim, submetê-lo à apreciação da autoridade para que seja podado. Então, aquele discurso permanece e se multiplica, e aquilo que poderia causar algum bem só a uma pessoa e depois se perder, causa e continuará causando o bem a muitos.

Essa atividade no presente traz um senso de plenitude, porque é vida de Jesus que vive em nós.

E se Jesus vive em nós, realiza obras que perduram. Se, por outro lado, não fizeste infelizmente as coisas bem, ou as fizeste pela metade, “perde-as” no Coração de Jesus com a máxima confiança, com a consciência de quem sabe que todo momento da vida é bom para morrermos (e talvez morramos com as coisas feitas de modo imperfeito), mas também com a confiança de quem sabe que o Coração de Cristo só te quer amar com fatos e, por isso, quer preencher as lacunas, esconder dos outros os teus disparates e perdoá-los, pois se assim faria uma mãe, muito mais, portanto, faria aquele Coração!

Então, também aqui a saciedade: tudo está feito, tudo está consumado.

26 agosto 2019

Como se fosse a última vez

Sim, Jesus,
faz que eu sempre fale
como se fosse a última
palavra que profiro.
Faz que eu sempre aja
como se fosse a última
ação que faço.
Faz que eu sempre sofra
como se fosse o último
sofrimento que tenho
pra te oferecer.
Faz que eu sempre reze
como se fosse a última
possibilidade,
que aqui na terra tenho,
de conversar contigo.

25 agosto 2019

No trem do tempo

Nos primeiros tempos do Movimento, podíamos morrer a qualquer momento, porque não estávamos bem protegidas contra os bombardeios. Então, ao nos perguntarmos: quando é que devemos amar a Deus fazendo a sua vontade?, logo entendemos: agora, já, porque não sabemos se haverá um depois.

O único tempo que nos pertencia era o momento presente. O passado já era passado; o futuro, não sabíamos se chegaria a existir. Dizíamos então: o passado não existe mais; coloquemo-lo na misericórdia de Deus. O futuro não existe ainda. Vivendo o presente, viveremos bem também o futuro, quando este se tornar presente.

Como é insensato — dizíamos — viver pensando no passado, que não retorna, ou no futuro, que talvez nunca venha a existir e que é imprevisível!

Citávamos o exemplo do trem. Assim como um viajante, para chegar ao seu destino, não fica caminhando para frente e para trás no trem, mas permanece sentado no seu lugar, da mesma forma nós devemos permanecer fixos no presente. O trem do tempo vai por si.

E, presente após presente, chegaríamos ao momento do qual depende a eternidade.

Amando a vontade de Deus no presente com todo o coração, toda a alma, todas as forças, poderíamos cumprir, por toda a nossa vida, o mandamento de amar a Deus com todo o coração, toda a alma, todas as forças.

24 agosto 2019

Com os pés no chão

“Vigiai, portanto, porque não sabeis
nem o dia nem a hora.”
(
Mt 25,13)

Às vezes, “Alguém” nos impele a viver constantemente no sobrenatural, isto é, na incerteza absoluta de uma situação humana qualquer (planos, viagens, saúde, o amanhã), para viver na certeza da realidade, que é viver o momento presente divinamente, sabendo e querendo o que Deus quer que se saiba e se queira naquele instante. Daí, o imperativo para a alma de “vigiar”, como Jesus mandou, pois não se sabe nem o dia nem a hora de sua chegada e, acrescente-se, de cada chegada sua.

E Ele sempre chega, a todo instante, por meio de sua vontade, que ao homem pode parecer triste ou boa, mas na realidade é Ele, é o seu Amor.

Tal estado de espírito deixa-nos a alma — por assim dizer — com os pés no chão (no chão da terra prometida do Reino dos Céus, que se pode e se deve viver já daqui) e não há perigo de cair. De cair no pecado, nem na ilusão, nem na desilusão na perturbação.

23 agosto 2019

Modelo de comunidade cristã

Penso que não há modelo melhor do que a comunidade cristã primitiva. São quatro os elementos que a caracterizam: o amor recíproco, a comunhão de bens, a oração, principalmente a fração do pão ao redor da mesa eucarística, e a escuta da Palavra dos Apóstolos.

Nós cristãos somos chamados, hoje, de vários modos, a atuar essas quatro características nas diferentes formas de vida comunitária das nossas comunidades eclesiais, paroquiais e diocesanas.

Qual é a raiz, a única raiz da qual brotam essas características das primeiras comunidades cristãs? Como já citamos anteriormente, a vida da família natural possui várias características que são efeito do amor recíproco, cimento e alma da família; portanto, elemento que une os membros. O mesmo acontece com a família dos filhos de Deus: o segredo é o amor mútuo. O amor é sempre o segredo da vida cristã, tanto para conservar o efeito da Eucaristia no indivíduo, quanto para conservar este efeito em nós que formamos um Corpo. Naturalmente, como corpo, o amor deve ser recíproco.

22 agosto 2019

SER FAMÍLIA, VIVENDO O AMOR RECÍPROCO

Como toda família tem as suas exigências, também a família natural tem as suas leis. Por exemplo, a característica de toda família natural, de uma boa família desta terra, é a convivência de todos os membros: pai, mãe, filhos e avós que moram sob o mesmo teto. Depois, essa vida comunitária da família é mais evidente em certos momentos quando, por exemplo, todos sentam à mesa. Na família, mesmo que cada um possua algum objeto pessoal, em geral os bens são colocados em comum. Na família, o sofrimento de um membro é sentido por todos. Cada um se preocupa, ajuda, economiza para o outro; alguns trabalham a mais para completar um orçamento insuficiente. A alegria de um é também a alegria de todos. Todos se alegram com uma promoção, com um casamento, com um aniversário.

Numa boa família, os sábios ensinamentos dos pais tornam-se critério de vida. Sim, em toda família, como Deus a fez, existe a solidariedade, o amor recíproco, a compreensão, a participação.

Também a família dos filhos de Deus tem suas características. Será que podemos encontrar um modelo, um exemplo no qual nos espelhar para entender como deve ser essa família segundo o pensamento de Deus?

21 agosto 2019

Eli, Eli, lemá sabactáni

“Eli, Eli, lemá sabactáni” (Mt 27,46). 

Foi a frase que Jesus gritou em seu abandono, na língua falada por Nossa Senhora. 
Quanto nos diz aquele teu grito, soltado na língua de tua Mãe!… 
Quando a dor atinge aquele limite em que toda a vida permanece suspensa… então, se resta um fio de voz, chama-se a mãe, porque a mãe é o amor. 
Tu, porém, como Filho de Deus, o amor o possuías em Deus, e Deus chamaste. E, como homem, o amor o possuías também em tua Mãe celeste. 
Na impossibilidade de invocar os dois, chamaste o Pai com a fala da Mãe. 
Quão belo és naquela dor infinita, Jesus Abandonado!

20 agosto 2019

Realizar

Do Diário

2 de março de 1969

Jesus disse que devia “realizar a obra que lhe fora confiada” (cf. Jo 17,4). Devia salvar-nos e fundar a sua Igreja, que continuaria a sua obra. Mas não viu na terra o triunfo da Igreja, nem a expansão inicial. No entanto, realizou.

Muitas vezes, pensamos “humanamente” naquilo que Deus quer realizar, por nosso intermédio. E nós fixamos pontos de chegada, enquanto todos os projetos da história e da humanidade estão em suas mãos. Devemo-nos “conformar”, mas com alegria, porque nada é mais belo do que aquilo que Deus estabeleceu para nós, do que realizar o que Deus quer de nós. Além do mais, se outros desejos nos restam, eles nos devem impelir a já nos sentirmos solidários com aqueles que levarão adiante a Obra que começamos. Sendo assim, existe quem semeia e quem colhe, mas a alegria é de todos.

19 agosto 2019

Imitar Jesus

Mas, “a quem me ama eu me manifestarei” [cf. Jo 14,21], e Deus, vendo que queríamos amá-lo e o amávamos de fato no momento presente, nos iluminou.

Começamos a entender muitas coisas.

“O meu alimento é fazer a vontade do meu Pai” [cf. Jo 4,34], dissera Jesus […].

Também nós, como Ele, fazíamos unicamente a vontade de Deus. Portanto, havíamos imitado e imitávamos Jesus no modo íntimo, não no modo exterior […] mas no fato de que, como Ele, fazíamos a vontade de Deus.

18 agosto 2019

Uma multidão de Santos

Sierre (Suíça), 2 de julho de 1977

Prezados gen 3


Grande é a minha alegria, imensa, diria, porque sei, pelo que acontece no Congresso, que vocês estão bem decididos a fazer sempre a vontade de Deus!

O que mais me consola é o fato de que, com isso, torna-se realidade o que sempre imaginamos para os gen 3: uma multidão de santos!

Houve um grande santo que disse: Chegará o dia em que os homens terão apenas um nome: “Eu sou a vontade de Deus para mim”.

Terá chegado esse tempo?

Eu o desejo de todo o coração!

Daríamos muita alegria a Jesus e a Maria!

Portanto, em frente! Santos a todo custo. Estou sempre com vocês!

Aperto a mão de vocês.

17 agosto 2019

Uma carta de Chiara

Trento, 12 de abril de 1948

Grido caríssima de Jesus Abandonado


Sua vida está traçada.

As dúvidas, as incertezas de ontem serviram para purificar o seu pequeno coração e prepará-la melhor para receber o grande Sacramento.

Corra feliz, minha primazinha e irmãzinha, por este caminho que Jesus quer.

E torne-se santa.

Lembre que só um é o Amor: Jesus!

Faça com que Ele viva em seu novo lar, amando o seu esposo terreno e deixando-se amar por amor a Jesus.

“Onde dois ou mais estiverem unidos em meu nome, ali estou Eu.”

Estive presente no seu casamento espiritualmente, pois tinha acabado de chegar de Roma e cansadíssima.

Você me sentiu, não?

E sinta-me sempre perto de você. Lembre-se de que o Ideal que o Senhor lhe deu por meu intermédio, Ele agora quer vê-lo realizado em você.

Jesus e Maria a acompanhem sempre e em toda parte; façam seu coração virgem como o deles; lhe deem joias de pequenos inocentes que supliquem do Céu a dádiva que todos nós esperamos: “Que todos sejam Um!”

Fique conosco, agora, Irma querida, como antes, mais do que antes: espiritualmente muito unida conosco, decidida como nós a cumprir a vontade divina.

São Francisco e santa Clara abençoem você