Víamos ainda Jesus Abandonado em cada irmão que sofria. Então, aproximando-nos dos que se assemelhavam a Ele, nós lhes falávamos de Jesus Abandonado. E para todos os que se achavam semelhantes a Ele e aceitavam dividir com Ele a sua sorte, eis que Ele se tornava: para o mudo, a palavra; para quem não sabia, a resposta; para o cego, a luz; para o surdo, o som da voz; para o cansado, o descanso; para o desesperado, a esperança; para o faminto, a saciedade; para o sonhador, a realidade; para o traído, a fidelidade; para o fracassado, a vitória; para o medroso, a ousadia; para o triste, a alegria; para o indeciso, a certeza; para o excêntrico, a normalidade; para o solitário, o encontro; para o separado, a unidade; para o inútil, o que é somente útil. O marginalizado se sentia eleito. Jesus Abandonado era a paz para o inquieto, a casa para o sem-teto, o reencontro para o excluído . Assim, com Ele as pessoas se transformavam e o absurdo da dor adquiria sentido. Como dizem os Padres da Igreja: “Tudo o que foi assumido, foi redimido”. E o teólogo Karl Rahner comenta:
Tudo aquilo que Ele assumiu está redimido, pois assim isso se tornou vida e destino de Deus mesmo. Ele assumiu a morte; portanto, a morte deve ser algo mais do que um ocaso no vazio absurdo. Ele assumiu ser abandonado; portanto, a tétrica solidão deve encerrar também a promessa de uma feliz proximidade divina. Ele assumiu a falta de sucesso. Portanto, a derrota pode ser uma vitória. Ele assumiu ser abandonado por Deus. Portanto, Deus está próximo, mesmo quando pensamos que Ele nos abandonou. Ele assumiu tudo, portanto, tudo está redimido. (Rahner, 1968, pp. 173-174)
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