31 dezembro 2019

É preciso "ser o amor"

 Há quem faça as coisas “por amor”. Há quem faça as coisas procurando “ser o Amor”. Quem faz as coisas “por amor” pode fazê-las bem; mas pensando, por exemplo, em prestar um grande serviço a um irmão, digamos doente, pode aborrecê-lo com seu falatório, com seus conselhos, com suas ajudas, com uma caridade pouco sensata e pesad a. Coitado: ele terá um mérito, mas o outro, um peso… Tudo isso porque é preciso “ser o Amor”. O nosso destino é como o dos astros: se giram, existem, se não giram, inexistem. Nós existimos — entendendo-se que vive em nós não a nossa vida, mas a vida de Deus — se não cessamos um instante de amar. O amor nos abriga em Deus, e Deus é o Amor. Mas o Amor, que é Deus, é luz, e com a luz vemos se o modo como nos aproximamos do irmão e o servimos está em conformidade com o coração de Deus, está como o irmão gostaria, como ele sonharia se tivesse a seu lado não nós, mas Jesus.

30 dezembro 2019

Não fiquei triste

Não fique triste!

Procure o conforto que o céu dá a todos aqueles que se conformam e aceitam as dores com resignação.

Se aquela criatura que você ama acima de tudo, mais do que  você mesmo, foi ingrata com você, não fique triste: peça que o Pai a ajude e que ela se torne cada vez mais feliz...

Entregue ao Pai Todo-Compreensivo aqueles a quem você ama, e ame-os você também.

29 dezembro 2019

Obras, obras

“Fazer-se um”, viver o outro, participar totalmente. “Fazer-se um” não apenas com palavras ou com sentimentos. “Fazer-se um” cristãmente significa arregaçar as mangas, significa agir: obras, obras; fazer, fazer. Jesus demonstrou o que é o amor ao curar os doentes , ressuscitar os mortos, lavar os pés dos discípulos. Fatos, fatos: isso é amar.

28 dezembro 2019

"Cortar" para melhor amar

É preciso atuar perfeitamente o “fazer-se um” com cada próximo, cortando tudo aquilo que pode servir de obstáculo. Muitos fatores podem comprometer essa nossa atitude de amor. Às vezes, são as distrações, outras vezes, o desejo de transmitir precipitadamente nossa id eia , de dar inoportunamente nosso conselho. Em outras ocasiões, estamos pouco dispostos a “nos fazermos um” com o próximo porque deduzimos que ele não vai entender nosso amor, ou somos contidos por outros julgamentos sobre ele. Em certos casos, somos impedidos pelo interesse oculto de conquistá-lo para a nossa causa. Ainda mais: somos incapazes de “nos fazermos um” porque nosso coração já está tomado por nossas preocupações, por nossas dores, por nossas coisas, por nossos programas. Como podemos, então, “fazermo-nos um” e como as preocupações, as dores, as angústias do irmão podem nos penetrar? É realmente necessário cortar ou pôr de lado tudo o que preenche nossa mente e nosso coração. Sim, “cortar” para sermos mais livres, mais completos no amor. “Cortar”, para melhor amar.

27 dezembro 2019

Perder Deus por Deus

A prática de “fazer-se um” com os outros não é simples. Ela exige o vazio total de nós: que tiremos de nossa cabeça as ideias, que tiremos do coração os afetos, que tiremos da vontade toda coisa, que façamos até as inspirações se calarem, que percamos Deus em nós pelo Deus presente no irmão para nos identificarmos com os outros. Nos primeiros tempos do Movimento, quando eu conversava com uma pessoa que vinha confidenciar comigo, eu me exercitava demoradamente — pois me vinha a vontade de dar logo determinada resposta — em pôr de lado minhas ideias, até que ela esvaziasse em mim aquilo que preenchia seu coração. Agindo assim, eu estava convencida de que, no final, o Espírito Santo haveria de me sugerir exatamente aquilo que eu deveria dizer. Por quê? Porque, “criando o vazio”, eu amava, então Ele se manifestava. Tive confirmação milhares de vezes de que, se tivesse interrompido a conversa na metade, teria dito alguma coisa que não era correta, não era iluminada, mas era simplesmente “humana”. Ao passo que, deixando por amor que o interlocutor fizesse entrar em mim os seus anseios, os seus sofrimentos, e permitindo que ele descarregasse em mim o seu fardo, eu encontrava a resposta que resolvia tudo, ou me surgiam as ideias para ajudá-lo.

26 dezembro 2019

Morrer para o próprio eu

Fazer-se um” abrange todos os aspectos da vida e é a expressão máxima do amor. Vivendo assim, morremos para nós mesmos, para o próprio eu e para todo apego espiritual. Podemos alcançar aquele “nada de si” a que aspiram as grandes espiritualidades e aquele vazio de amor que acontece no ato de acolher o outro. Damos espaço para o outro, que sempre encontrará um lugar em nosso coração. “Fazer-se um” significa apresentar-se diante de todos em atitude de aprender, porque, de fato, há muito que aprender.

25 dezembro 2019

E vieram à luz

23 de agosto de 1971

      Todas as obras de Deus são conduzidas de modo igual. Ou seja, por Deus e não pelos homens. Por isso, aqueles que as começam fazem questão de afirmar que não tinham nenhum programa. É um orgulho legítimo deles, como dizer: aqui Deus deve ter intervindo.
      Eis o que diz são Vicente a propósito da sua obra: “O bem que Deus quer cumpre-se quase por si só, sem que pensemos nisso. Assim nasceu a nossa congregação […]; assim nasceu a companhia das Filhas da Caridade e a das Damas […]. Assim vieram à luz todas as obras das quais nos ocupamos atualmente. E nenhuma dessas atividades foi empreendida por nós com um programa bem definido. Foi Deus, que queria ser servido naquelas ocasiões específicas, que as suscitou pessoalmente, sem dar na vista. E, se Ele se serviu de nós, não sabíamos para onde tudo se encaminharia. Por isso, deixamo-lo fazer…”
      Coisa semelhante poderíamos dizer de cada obra nossa, seção, ramificação etc. Por exemplo, quem pensava que o Ideal fascinaria os jovens e nasceria o Movimento Gen? Acredito que ninguém. E assim poderíamos enumerar as outras expressões da Obra1.
      Portanto, pensamos também que as pessoas usadas por Deus são nada: é a pura verdade. Mas, diante do Deus da Obra, sempre nos ajoelhamos e olhamos com um sagrado temor, e veneração, e admiração, a Obra de Deus. E devemos ser imensamente gratos a Ele por termos sido escolhidos, entre tantos, para colaborar com ela.

24 dezembro 2019

Um novo horizonte

Caíram nossos projetos e limitações.
      Sempre desconfiados de nós mesmos, estávamos perfeitamente abandonados a Deus. Conhecíamos apenas o momento presente e não hipotecávamos o futuro, porque não estava em nossas mãos.
      Sabíamos que a vontade de Deus era a vontade de um Pai e podíamos entregar-nos a Ele sem medo. Sem dúvida, Ele teria querido o que quer que fosse para o nosso bem.
      A vontade de Deus como Ele no-la manifestava era para nós a expressão do amor do Pai pelos filhos. Portanto – mesmo não enxergando no começo – entregávamo-nos de bom grado a Ele e aos seus desígnios para nós, com toda a confiança e abandono. Nós acreditávamos no amor. […]
      Todos nos sentíamos entregues a uma aventura divina sobre a qual nada sabíamos, a não ser que Aquele que no-la propunha e preparava era Deus, um Pai, e que todas as circunstâncias à nossa volta e dentro de nós – tanto por Ele desejadas, quanto por Ele permitidas –, eram vozes do seu amor.

23 dezembro 2019

O verdadeiro amor

Há um ponto da arte de amar que ensina como coloca r em prática o verdadeiro amor pelos outros. É uma fórmula simples, feita de apenas duas palavras: “fazer-se um”. “Fazer-se um” com os outros significa assumir os fardos deles, as preocupações deles, partilhar os sofrimentos e as alegrias deles.

22 dezembro 2019

Tu e ele, dois membros de Cristo

Cada Palavra de Deus é o mínimo e o máximo que Ele te pede. Por isso, quando lês: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19), tens a medida máxima da lei fraterna. O próximo é um outro tu mesmo e como tal deves amá-lo. Se ele chora, chorarás com ele; se ri, rirás com ele; se é ignorante, far-te-ás ignorante com ele, e se perdeu o pai, identificar-te-ás com a dor dele. Tu e ele sois dois membros de Cristo e, sofra um ou outro, para ti é o mesmo. Porque, para ti, o que vale é Deus, que é Pai de ambos. E não arranjes desculpas para o amor. O próximo é quem quer que passe ao teu lado, pobre ou rico, bonito ou feio, ignorante ou culto, santo ou pecador, de tua pátria ou estrangeiro, sacerdote ou leigo, quem quer que seja. Procura amar a quem te passa ao lado no momento presente da vida e descobrirás em teu espírito novos germes de forças antes não conhecidas: elas darão sabor à tua vida e respostas a teus mil porquês.

21 dezembro 2019

Estamos cansados

Estamos cansados, Senhor, cansados sob o peso da cruz! E, a cada pequena cruz, parece-nos impossível carregar as maiores. Estamos cansados, Senhor, cansados sob o peso da cruz! O pranto nos prende a garganta e engolimos lágrimas amargas. Estamos cansados, Senhor, cansados sob o peso da cruz! Apressa a hora da chegada, que não mais existe estação de alegria para nós aqui. Existe só desolação. Pois o bem que amamos está todo no além. Ao passo que aquém, estamos cansados, cansados demais, sob o peso da cruz. A Virgem ao lado está, bela, mas mesta criatura. Ajude, em sua solidão, a solidão nossa, de agora.

20 dezembro 2019

Os frutos não faltam

Neste ínterim, o Senhor nos lapidava. Com o cinzel do seu amor fazia de modo que nos desapegássemos de tudo para ter apenas a Ele. Desapegar-nos do que tínha mos e do que éramos. Era a liberdade dos filhos de Deus: não ter e não ser. Não ter o que pensávamos ser nosso e que sabíamos ser de Deus. Não sermos nós para sermos Ele. Os frutos exteriores se multiplicavam com tal extensão que constatávamos ser necessária a cruz para a irradiação do Evangelho. Se ela não tivesse existido, não teríamos aquele equilíbrio necessário para levar adiante uma Obra de Deus. De fato, a dor é um meio de que Deus se serve para tirar a prepotência do orgulho e do amor próprio, para deixar que só Deus aja em nós. Exultávamos de alegria por causa dos frutos, mas, graças à cruz, não nos exaltávamos.

19 dezembro 2019

Mães de almas

Além disso, vivendo desse modo, as conversões se multiplicavam ao nosso redor. Estava presente em nossa alma a Palavra “sem efusão de sangue não há remissão” ( Hb 9,22). E também sem efusão de lágrimas não existem transformações radicais de almas. Víamos que aquela luz, aquela alegria, aquela paz peculiares, irrompidas da dor amada, tocavam e enterneciam até as pessoas mais difíceis. Experimentávamos que, pregados na cruz, éramos mães e pais de almas . A vida em unidade com Jesus Abandonado, portanto, tinha como efeito a fecundidade máxima.

18 dezembro 2019

Recompõe a unidade

Jesus Abandonado era também Aquele que recompunha a unidade entre nós, sempre que ela ficava comprometida. Só na unidade, onde Jesus está no meio, encontráramos a plenitude da vida. Fora dela, o vazio. E o antídoto, então, era Ele. Quem estava no focolare, ferido pelo abandono do irmão, compreendia que passava por um estado de alma semelhante ao Seu e se esforçava para tirar proveito dessa dor. Não apenas isso, mas via no irmão um outro Jesus Abandonado a ser amado. E o amor restabelecia a unidade. Se os que deram início ao Movimento não tivessem tido Jesus Abandonado nas provações da vida, este carisma da unidade não existiria, a menos que Deus quisesse tê-lo suscitado igualmente em outros lugares. Jesus Abandonado venceu em nós cada batalha, as mais terríveis batalhas. Mas era necessário sermos loucos de amor por Ele, síntese de todas as dores do corpo e da alma; remédio , portanto, de cada dor da alma e alívio de cada dor do corpo. Quando Ele chegava, nós o abraçávamos com ímpeto e n’Ele encontrávamos a vida.

17 dezembro 2019

Aspirar à santidade

Para a “nova evangelização”, requer-se ainda, e considera-se necessária, a santidade.
Também aqui, o que dizer da nossa experiência?
Os diversos membros do Movimento que vários bispos consideram aptos a serem propostos como modelos, começando assim um processo para beatificá-los, não serão talvez uma confirmação de que não só é possível tornarmo-nos santos seguindo o nosso carisma, como também que o anseio à santidade, graças a Deus, está presente em nossa Obra em todos os seus membros, chamados a evangelizar o mundo, como todos os cristãos?
Doravante, será dever de todos os cristãos inclinarem-se à santidade, se quiserem contribuir com eficácia para a “nova evangelização”.

16 dezembro 2019

Tendo conhecido a Deus

Quando, tendo conhecido Deus, não tivemos o merecimento de sua luz, porque não fomos vigilantes no amor e nos deixamos abater pela cruz sem desfrutar da graça, a alma tateia no escuro e na angústia, e o procura. Procura o Amor, clama por Ele, por Ele implora, grita às vezes e geme. Mas não o encontra. Não o encontra porque não ama. Deus não cede. Ele tem uma lei imutável. Passarão o céu e a terra (cf. Mc 13,31). E são palavras suas sem exceções. A alma não tem direito ao amor antes de amar. Recebe amor quando tem amor para dar. Deus a criou à sua imagem e semelhança e nela respeita a dignidade com que a revestiu. É ela que há de tomar a iniciativa e amar, como que por primeiro, correspondendo à graça. Então Deus vem, manifesta-se a quem o ama, dá a quem tem e este continuará na abundância. A alma que ama participa de Deus e sente-se rainha. Nada teme. Tudo para ela adquire valor. Passa-se da morte para a vida quando se ama.

15 dezembro 2019

A tua tática é uma só

Observei que a tua tática é uma só, mas não monótona, talvez porque o teu agir és Tu, Senhor. Tu és o Amor sempre novo. E a tua tática é esta: quando as almas se contentam com sombras — não falo de sombras efêmeras — isto é, quando a vida é para ti, mas não contigo identificada, mandas freq u entemente uma dor. Então, a alma a ti retorna e profere o seu “sim”. Mas, às vezes, este sim está perfumado por um sentimento de gratidão profunda e imerso numa prece singular: “Sim, Senhor, encontrando a cruz, nela te encontro. Obrigado por me teres reconduzido a ti, e não somente ao que a ti se refere, pois, mais do que tudo, atrai-me a solidão contigo, aquela mesma que enfrentarei, forçosamente, no dia do encontro, se não a tiver escolhido agora com o amor. E Tu, que tudo podes, faze que eu consiga em teu nome este colóquio contínuo entre ti em mim e ti mesmo, em que eventos, homens e coisas são apenas combustível para o nosso puro amor ”. Só esta é vida verdadeira, porque centelha de ti, vida sem engano, sem desilusão, sem trégua e sem ocaso.

14 dezembro 2019

O exame

Se fosses estudante e viesses a saber, por acaso, as perguntas do exame de fim de ano, tu te sentirias um felizardo e prepararias bem as respostas. A vida é uma prova e, no final, ela também deverá passar por um exame. Mas o infinito amor de Deus já disse ao homem quais serão as perguntas: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber” (Mt 25,35). As chamadas obras de misericórdia serão a matéria do exame, aquelas obras em que Deus vê se o amamos realmente, tendo-o servido no irmão. Talvez seja por isso que o Papa, com frequência, simplifica a vida cristã, ressaltando as obras de misericórdia. E nós fazemos a vontade de Jesus se transformamos a nossa vida numa contínua obra de misericórdia. Afinal, não é difícil nem muda tanto o que já estamos fazendo. Trata-se de elevar cada contato com o próximo a um plano sobrenatural. Qualquer que seja a nossa vocação: de pais ou de mães, de agricultores ou de funcionários, de deputados ou de chefes de Estado, de estudantes ou de operários, temos continuamente, durante o dia, ocasião direta ou indireta de dar de comer aos famintos, de instruir os ignorantes, de suportar as pessoas molestas, de aconselhar os indecisos, de rezar pelos vivos e pelos mortos. Uma nova intenção a cada gesto nosso em favor do próximo, seja ele quem for, e cada dia da vida servirá para preparar-nos ao dia eterno, entesourando bens que a traça não corrói.

13 dezembro 2019

Invasão de amor

O mundo está cheio de insatisfeitos, porque o homem não acertou a fonte de sua felicidade. O astro brilha no céu e a Terra subsiste porque eles se movem; o movimento é a vida do universo. O homem só é plenamente feliz quando aciona e não deixa morrer o motor de sua vida: o amor. Mesmo quem se julga feliz porque contraiu um bom matrimônio, porque recebeu uma herança, porque vive de luxo, de esporte, de divertimentos, cedo ou tarde sente vazios na alma, infalíveis. Por outro lado, o infeliz, a quem a vida tudo parece negar, se começa a amar, possui mais do que o rico e goza, na terra, a plenitude do Reino dos Céus. É uma verdade. É uma realidade. A humanidade enlanguesce em busca de paz , espera, constrói para poder usufruir, mas, quando seria o tempo, se entristece com a perspectiva da morte que desejaria jamais chegasse. Os filhos de Deus são os filhos do amor! Combatem com uma arma que é a vida mesma do homem. A sua luta está em recompor na ordem pessoas e sociedades, para que aquelas brilhem mais do que as estrelas, e estas componham constelações imorredouras, nos páramos eternos do Deus dos vivos. Se o homem visse os homens como Deus os vê, teria uma sensação de horror. Porque até os melhores, os que se elevaram com a arte ou a ciência acima do comum, cultivaram apenas uma parte do espírito, deixando o resto atrofiado. Só o amor em uma alma, só Deus em uma alma pode nela dilatar o fulgor, com equilíbrio de partes. Uma alma que ama é, no mundo, um pequeno sol que transmite Deus. Uma alma que não ama, vegeta, é pouco da Igreja, nada de Maria, antítese de Cristo.
O mundo precisa de uma invasão de amor, e isto depende de cada um. É o homem, o homem na graça de Deus, o depositário desse precioso elemento. Morre todo dia um número incontável de homens: inclusive os grandes, e deles pouco resta. Passa um santo para a Vida eterna — despertando, quando o Senhor o chama, para a idêntica vida de antes, transformada — e dele todos falam. Sua memória passa de geração em geração e seu exemplo é seguido por muitíssima gente. Diante daquele leito onde jaz um corpo e não mais uma pessoa, ninguém consegue entender a morte; mas, ao contrário, todos sentem o que é a Vida. O amor não morre e, porque serve, faz ser rei.

12 dezembro 2019

Pôr nos ombros todos os pesos dos outros


      É preciso compreender o amor no seu sentido mais verdadeiro, no modo mais acertado.
      O ser humano se sente realmente amado pelo outro, quando esse outro consegue fazê-lo feliz. Então entendemos que, às vezes, nosso amor não é verdadeiro amor quando, por exemplo, tratamos de assuntos, mantemos atitudes, damos atenção àquilo que ao outro não interessa.
      O verdadeiro comportamento que traduz as palavras “amor” e “amar” é “fazer-se um”, ir ao encontro do irmão, de suas carências, assumir as necessidades e as dores dele. Então, dar de comer, de beber, oferecer um conselho, uma ajuda, adquirem sentido.
      O que acontece se nos comportamos assim?
      Acontece o mesmo que se dá quando, ao constatarmos os grandes problemas de tantas regiões do Terceiro e do Quarto Mundos, atormentadas com o flagelo da miséria, da falta de moradia, de roupa, de trabalho etc., compreendemos que não se pode pretender que essas pessoas pensem em formar uma cultura, por exemplo, ou em elevar seu espírito com a oração. É preciso antes fazer que elas sejam aliviadas do peso da miséria que as esmaga. Depois, é possível pensar também em tudo aquilo que se refere à vida da pessoa humana: sua instrução, seu desenvolvimento integral etc.
      A mesma coisa acontece com cada uma das pessoas quando as amamos com o “fazer-se um”. Agindo assim, arrancamos delas completamente aquilo que preenche seus corações e que pode ser motivo de angústia. Elas percebem que pomos em nossos ombros o que as oprime, e se sentem livres.
      Mas, sentindo-se aliviadas, livres, eximidas de preocupações, estão prontas para dar acolhida também à mensagem de amor, de paz, que queríamos levar até elas.
      E serão atraídas pela vida nova, evangélica, que descobrem em nós — vida a que todos aspiram no fundo do coração —, porque é uma vida imaginada por Deus para todos os filhos seus.

11 dezembro 2019

“Cortar” para melhor amar

      É preciso atuar perfeitamente o “fazer-se um” com cada próximo, cortando tudo aquilo que pode servir de obstáculo.
      Muitos fatores podem comprometer essa nossa atitude de amor.
      Às vezes, são as distrações, outras vezes, o desejo de transmitir precipitadamente nossa ideia, de dar inoportunamente nosso conselho. Em outras ocasiões, estamos pouco dispostos a “nos fazermos um” com o próximo porque deduzimos que ele não vai entender nosso amor, ou somos contidos por outros julgamentos sobre ele. Em certos casos, somos impedidos pelo interesse oculto de conquistá-lo para a nossa causa.
      Ainda mais: somos incapazes de “nos fazermos um” porque nosso coração já está tomado por nossas preocupações, por nossas dores, por nossas coisas, por nossos programas.
      Como podemos, então, “fazermo-nos um” e como as preocupações, as dores, as angústias do irmão podem nos penetrar?
      É realmente necessário cortar ou pôr de lado tudo o que preenche nossa mente e nosso coração. Sim, “cortar” para sermos mais livres, mais completos no amor. “Cortar”, para melhor amar.

10 dezembro 2019

Perder Deus por Deus

      A prática de “fazer-se um” com os outros não é simples. Ela exige o vazio total de nós: que tiremos de nossa cabeça as ideias, que tiremos do coração os afetos, que tiremos da vontade toda coisa, que façamos até as inspirações se calarem, que percamos Deus em nós pelo Deus presente no irmão para nos identificarmos com os outros.
      Nos primeiros tempos do Movimento, quando eu conversava com uma pessoa que vinha confidenciar comigo, eu me exercitava demoradamente — pois me vinha a vontade de dar logo determinada resposta — em pôr de lado minhas ideias, até que ela esvaziasse em mim aquilo que preenchia seu coração. Agindo assim, eu estava convencida de que, no final, o Espírito Santo haveria de me sugerir exatamente aquilo que eu deveria dizer.
      Por quê? Porque, “criando o vazio”, eu amava, então Ele se manifestava. Tive confirmação milhares de vezes de que, se tivesse interrompido a conversa na metade, teria dito alguma coisa que não era correta, não era iluminada, mas era simplesmente “humana”. Ao passo que, deixando por amor que o interlocutor fizesse entrar em mim os seus anseios, os seus sofrimentos, e permitindo que ele descarregasse em mim o seu fardo, eu encontrava a resposta que resolvia tudo, ou me surgiam as ideias para ajudá-lo.

09 dezembro 2019

O caminho que lhe convém

Procure pensar. Não seja autômato!

Você faz parte da Humanidade, é uma peça importante da Humanidade, e por menor que seja sua cultura, você tem o dom de raciocinar.

Pense com sua própria cabeça, procure saber donde vem e para onde vai. Não viva às cegas!

Seja você mesmo!

Só você pode descobrir o caminho que lhe convém.

08 dezembro 2019

“Aspirar à santidade”

      Para a “nova evangelização”, requer-se ainda, e considera-se necessária, a santidade.
      Também aqui, o que dizer da nossa experiência?
      Os diversos membros do Movimento que vários bispos consideram aptos a serem propostos como modelos, começando assim um processo para beatificá-los, não serão talvez uma confirmação de que não só é possível tornarmo-nos santos seguindo o nosso carisma, como também que o anseio à santidade, graças a Deus, está presente em nossa Obra em todos os seus membros, chamados a evangelizar o mundo, como todos os cristãos?
      Doravante, será dever de todos os cristãos inclinarem-se à santidade, se quiserem contribuir com eficácia para a “nova evangelização”.

07 dezembro 2019

Lançados no infinito

 Os santos são portentos que, vista no Senhor a grandeza deles, por Deus jogam, quais filhos seus, tudo de seu. Dão sem pedir em troca. Dão a vida, a alma, a alegria, todo liame terreno, toda riqueza. Livres e sós, lançados no infinito, anseiam que o Amor os introduza nos Reinos eternos. Mas já nesta vida sentem encher-se-lhes o coração de amor, do verdadeiro amor, do único amor, que sacia, que consola, daquele amor que fere as pálpebras da alma e doa lágrimas novas. Ah! Homem algum sabe o que é um santo. Deu e ora recebe; e um fluxo incessante passa entre Céu e terra, liga a terra ao Céu, e verte dos abismos enlevo raro, linfa celeste, que não para no santo, mas passa sobre os cansados, sobre os mortais, sobre os cegos e paralíticos na alma, e irrompe, e orvalha, e soleva, e seduz, e salva. Se queres saber do amor, indaga ao santo.

06 dezembro 2019

A pequena semente

Nunca viste numa estrada abandonada, mas acariciada pela primavera, despontar a tenra erva e reflorescer, sem cessar, a vida? Assim acontece com a humanidade que te circunda, se deixas de enxergá-la com o olhar da terra e a revigoras com o raio divino da caridade. O amor sobrenatural em tua alma é um sol, que não admite trégua ao reflorescer da vida. É uma vida, que é a pedra angular no teu ângulo de vida. Nada mais é preciso para soerguer o mundo, para restituí-lo a Deus. O dom da palavra, a fineza do trato, o lampejo da arte, o cabedal da cultura, a experiência dos anos, são dotes, certamente, que não se devem descurar. Mas, para o Reino eterno vale o que tem mais vida. É linda, e boa, e saborosa, e colorida, a fatia perfumada da maçã, mas, enterrada, morre e não deixa traço. A pequena semente, que não agrada ao paladar, insípida e insulsa, enterrada, produz novas maçãs. Assim a vida em Deus, a vida do cristão, o caminho incandescente da Igreja. Ela, alta e solene, apoia-se em seguidores de Cristo que os séculos disseram insensatos, tolos, loucos…; sobre as quais investiu a fúria do príncipe do mundo, para destruir deles qualquer vestígio.
Resistiram. O Pai os podou para que, presos à videira, dessem frutos abundantes; e os exaltou, gloriosos, no Reino da vida. Tu, eu, o leiteiro, o agricultor, o porteiro, o pescador, o operário, o camelô… E os outros todos, idealistas desiludidos, mães carregadas de pesos, noivos em vésperas de núpcias, velhinhas sem brilho à espera da morte, jovens vibrantes, todos… Todos são matéria-prima para a sociedade de Deus. Basta que haja neles um coração que mantenha alta, ereta, direcionada a Deus, a chama do amor.

05 dezembro 2019

Um “novo” apostolado

A fé e o amor, que Ele vivia em nós, aproximaram-nos daquelas pessoas que a cada dia Ele nos fazia encontrar; e esse amor, espontaneamente, livremente, trouxe-as para o mesmo ideal.

Jamais pensamos em fazer apostolado. Esta não nos parecia uma bela palavra. Alguém havia abusado dela, deturpando-a. Queríamos apenas amar para amá-lo.

E logo percebemos que esse era o verdadeiro apostolado.

Sete, quinze, cem, quinhentos, mil, três mil e tantas outras pessoas de todas as vocações, de todas as condições. Todo dia, cresciam em volta de Jesus entre nós.

04 dezembro 2019

É inconcebível

É inconcebível, é extraordinário, é algo que se grava sempre mais profundamente em minha alma o teu ficar ali em silêncio no sacrário. Vou à igreja de manhã, e lá te encontro. Corro para a igreja ao sentir que te amo, e lá te encontro. Passo ali por acaso, ou por hábito, ou por respeito, e lá te encontro. E toda vez, Tu me dizes uma palavra, me retificas um sentimento, vais, na realidade, compondo com notas diversas um único canto, que o meu coração sabe de cor, e me repete uma palavra só: eterno amor. Ó Deus! Melhor não podias inventar. Aquele teu silêncio em que o bulício de nossa vida amortece, aquele palpitar silencioso que toda lágrima enxuga; aquele silêncio… aquele silêncio, mais sonoro que uma angélica harmonia; aquele silêncio que à mente traz o Verbo, ao coração doa o bálsamo divino; aquele silêncio em que toda voz se reconhece canalizada, toda prece ressoa transformada; aquela tua presença arcana… Ali está a vida; ali, a espera; ali, o nosso pequeno coração repousa, para retomar sem trégua o seu caminho.

03 dezembro 2019

Antes de subir ao Calvário

Antes de subir ao Calvário, talvez nas horas mais íntimas passadas com seus apóstolos, disse Jesus, conversando com eles na última ceia: “Filhinhos…” (Jo 13,33); aliás, há quem traduza: “Meus meninos…”. Por eles fizera-se homem e, agora, estava para derramar o sangue daquela maneira, para salvá-los. Tinha toda razão de chamá-los “filhinhos”. Então, morre na cruz e, três dias depois, aparece a Madalena em pranto e diz: “Vai, porém, a meus irmãos e dize-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17). É amor verdadeiro e divino, amor encarnado em Jesus, aquele que lhe faz dizer “filhinhos” não só aos discípulos presentes mas, por meio deles, a quantos o seguiriam. Contudo, mostra-se ainda mais amor quando diz a Madalena: “Vai a meus irmãos”. Talvez seja possível conceber Deus como Pai, pois no pai sempre há uma superioridade que o distingue do filho. Mas, Deus como irmão, que conosco adora no Céu o seu e o nosso Pai, é um mistério tamanho, só possível de vislumbrar se considerarmos que Deus é realmente o Amor. O Amor que, depois de ter merecido, como Homem, todos os títulos de paternidade para com os homens, pelos quais se encarnou, viveu e morreu, no findar de sua vida terrena, coloca-se ao lado dos outros, que Ele reconciliou com o Pai, fazendo-os partícipes de sua Divindade, fazendo-os semelhantes a si pelo seu Amor. Diz-se, de fato, que o Amor faz semelhar a si, e iss o se constata em Jesus com uma clareza ímpar. Além disso, o que caracteriza Jesus Salvador é que Ele dirigiu aquelas palavras de fraternidade a uma mulher, antes pecadora. E é justamente dela que se serve para avisar os Apóstolos, os que compunham sua Igreja nascente. A encarnação e a paixão de Jesus tinham como escopo a salvação do que estava perdido. Ele converge sempre para isto e não se contradiz jamais. A Igreja também fora fundada para continuar essa missão; por isso, Jesus faz que seja Maria Madalena a comunicar aos seus eleitos a notícia mais extraordinária, o milagre mais excelso. Aquela morte fora sobretudo por ela, pelos pecadores, que o amor e o sangue de Jesus haviam purificado e feito dignos até mesmo de anunciar aos que deveriam — por vocação — transmitir ao mundo a grande mensagem da ressurreição de Jesus e, por Ele e com Ele, a de todos os que o amam.

02 dezembro 2019

Encontrar Jesus vivo

Do diário de Chiara Lubich 19 de abril 1998.


Deparar com o Movimento dos Focolares não significa encontrar uma comunidade, ou uma espiritualidade, ou uma obra na igreja, ou um movimento. Muito menos significa encontrar um curso de exercícios espirituais ou curso de catequese, ou um rito, ou uma atmosfera particular.
Não!
Deparar com o Movimento dos Focolares, significa encontrar Jesus vivo!
É assim que devemos explicar a nossa história.
Portanto, ao encontrar o movimento...
Jesus não se apresenta a nós como uma realidade do passado, mas do presente. Ele responde, ele mantém aquilo que promete: ele está vivo. E, como evidência disso, o entusiasmo, a alegria, o testemunho para muitos.
Se o movimento teve e tem sucesso, e o número dos seus aumenta, é porque quem encontra, encontra o Senhor. Senhor que, depois, não podemos mais esquecer, ao qual, mesmo se dele nos afastamos, não podemos deixar de retornar. E é um dos fatos mais tocantes destes dias.

01 dezembro 2019

A todos os homens de boa vontade

Sabemos que na base de quase todas as religiões mais importantes do mundo existe, embora formulada em termos diferentes, a “Regra de Ouro”, a norma realmente áurea que prescreve fazer aos outros o que se deseja feito a si mesmo. Isso é cristianismo. E são cristãos por natureza os que afirmam isso. Acho que um princípio desses é válido não só para os cristãos, não só para as outras religiões, mas também para todos os homens de boa vontade, porque se trata de um princípio razoável, sadio e justo, universal.