30 outubro 2019

A hora da verdade

      De uma conferência telefônica
      Rocca di Papa, 24 de novembro de 1994

      Desta vez, apresento-lhes outro instrumento típico e útil à espiritualidade coletiva e, sem dúvida, o mais árduo e o mais difícil para o nosso “homem velho”. Mas, considerando a medida com a qual queremos amar o próximo, ou seja, até dar a vida, acho que seja também praticável.
      Trata-se da “hora da verdade”.
      Embora de modo bastante diferente, ela lembra um hábito que ocorria entre os primeiros cristãos, os quais, desejando a perfeição para se manterem seguidores de Jesus e amando os irmãos em quem tinham plena confiança, chegavam, às vezes, até a confessar os próprios pecados uns aos outros.
      Trata-se aqui de outra coisa bem diferente. Os pecados nós os contamos aos confessores, mas, pela caridade, que também nutrimos por nossos semelhantes e pelo desejo de cooperar para que também eles se santifiquem conosco, empenhamo-nos a lhes oferecer, com amor, o que neles podemos observar de negativo e positivo.
      É uma prática exigente, mas serve muito para a Santa Viagem.
      No Movimento, costumava-se colocá-la em prática desde os primeiros tempos e ainda hoje temos dela uma muito boa impressão.
      O fato é que um irmão pode ser realmente útil para o outro, como uma mão sabe lavar a outra. A esse propósito, lembro de um provérbio africano que diz que o irmão é como um olho que temos atrás da cabeça. E isso quer significar que o irmão vê onde nós não vemos.
      É preciso reunir-se num grupo não numeroso demais. […] Para que [a hora da verdade] produza seus frutos, será necessário dispor de um pouco de tempo e agir com calma.
      Um responsável deverá estar presente, como moderador, para confirmar ou corrigir o que for dito.
      Antes de qualquer outra coisa, será bom renovar o pacto entre todos, para que tudo se desenrole somente no amor pleno.
      E qual disposição de ânimo deverá ter quem for submetido ao julgamento fraterno dos demais? Com o ânimo de quem sabe que é sempre um simples servo (cf. Lc 17,10), de que é nada, porque assim é cada um perante Deus. Desse modo, não se perturbará nem se exaltará com tudo o que for dito.
      Depois, sorteia-se um do grupo. E, sob a orientação do moderador, cada irmão dirá algum defeito daquele que foi escolhido, alguma imperfeição, algum senão que achar que notou nele. Depois, refazendo a rodada, cada um dirá também alguma virtude, alguma qualidade que pôde notar.
      No final – essa é a nossa constatação contínua – todos são tomados por uma grande alegria e não se sabe a razão. Talvez seja a experiência da liberdade cristã; a atuação da Palavra: “A verdade vos tornará livres” (Jo 8,32). […]
      “A hora da verdade” é uma espécie de maquiagem espiritual. É como quando se aplica o cosmético no rosto: ele tira as impurezas e deixa a pele macia e elástica, e dá uma sensação de bem-estar; algo semelhante acontece para as nossas almas.
      A “hora da verdade” é uma verdadeira bênção em nossa corrida para a santidade. Procuremos praticá-la com alegria, no momento oportuno. Deus ama a quem dá com alegria (cf. 2Cor 9,7).

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