14 outubro 2019

Um pequeno choque espiritual

      De uma conferência telefônica
      Castel Gandolfo, 20 de fevereiro de 2003

      Esses dias, peguei um livro que me presentearam, que talvez vocês também conheçam. Seu título é O segredo de Madre Teresa, de Calcutá (Gaeta, 2002). Abro-o no meio, onde fala de “mística da caridade”. Leio esse capítulo e outros. Mergulho com grande interesse naquelas páginas: tudo o que se refere a essa próxima santa interessa-me pessoalmente. Durante anos, ela foi uma amiga minha preciosíssima.
      Logo me vem à mente, muito claro, o radicalismo extremo de sua vida, de sua vocação sem meias medidas, que impressiona, e quase que amedronta, mas, sobretudo, estimula-me a imitá-la naquela dedicação peculiar, radical e sem meias medidas que Deus me pede. De fato, cada carisma é uma flor maravilhosa, única, que não se repete, diferente dos outros como, aliás, madre Teresa pensava. Quando tínhamos ocasião de nos encontrar, ela me repetia: “O que eu faço você não pode fazer. O que você faz eu não posso fazer”.
      Movida por essa convicção, tomo nas mãos o nosso Estatuto, convicta de que lá encontraria a medida e o tipo de radicalismo de vida que o Senhor me pede. Abro e, logo na primeira página, tomo um pequeno choque espiritual, como que causado por uma descoberta do momento (e são quase sessenta anos que o conheço!). Trata-se da “norma das normas, a premissa de qualquer outra regra” da minha e da nossa vida: gerar – assim se expressava o Papa Paulo [VI] – e manter, primeiro e acima de tudo, inclusive nos grandes empreendimentos, inclusive nos compromissos extraordinários, inclusive nos sucessos para o Reino, manter Jesus entre nós com o amor mútuo.
      Porque, entendo logo, este é o meu e o nosso dever mais importante, especialmente hoje.

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