Porque muitas vezes o amor não é amor no mundo, vale para ele o ditado: «O amor é cego». Mas, se uma alma começa a amar, como Deus ensina — Deus que é Amor — vê logo, logo, que o amor é luz. De resto, Jesus o disse: «E quem me ama, será amado por meu Pai. Eu o amarei e a ele me manifestarei» (Jo 14,21).
Um turbilhão de vozes de procedências as mais variadas inunda com freqüência a nossa alma, sobretudo quando ela não sabe bem o que seja amar a Deus. São vozes insonoras, mas fortes: vozes do coração, vozes do intelecto, vozes de remorso, vozes de saudade, vozes das paixões... E nós seguimos ora uma, ora outra, preenchendo o nosso dia com atos que concretizam aquelas vozes ou ao menos são, de algum modo, determinados por elas.
Por isso, às vezes, a vida, ainda que vivida na graça de Deus, tem somente breves réstias de Sol; e tudo o mais fica imerso em um tédio, que uma voz, mais forte do que todas as outras, levanta-se amiúde para condenar, como a dizer que aquela não é a verdadeira vida, a vida plena.
Se, ao contrário, a alma se volta para Deus e começa a amá-lo, e seu amor é verdadeiro, é concreto, é de cada instante, de vez em quando percebe uma voz, entre as muitas que acompanham a vida.
Mais do que voz, é uma luz que se infiltra suavemente no intrincado concerto da alma. E um pensamento quase imperceptível que a ela se oferece, mais delicado talvez do que os outros, mais sutil.
Esta é, às vezes, voz de Deus.
Então, a alma que se decidiu pelo Senhor, que com Ele não regateia, mas a Ele tudo quer dar, extrai do pântano aquele repuxo límpido e sereno; é uma safira em meio a tantos seixos; é como o ouro em meio ao pó.
Toma-o, limpa-o, expõe-no e o traduz em vida.
Se, porventura, aquela alma decidiu caminhar para Deus com outras, a fim de que o Pai se rejubile com o amor fraterno entre os seus filhos, ela — depois de se aconselhar com quem lhe representa Deus na terra — comunica, com discrição, o seu tesouro aos outros, para que o bem seja comum, o divino circule e, como numa competição, um aprenda do outro a amar melhor o Senhor.
Agindo assim, a alma amou em dobro: amou ao fazer o que Deus queria, amou ao comunicar aos irmãos. E Deus, fiel a suas palavras eternas, continuará progressivamente a se revelar a ela.
Tudo isto é sumamente desejável, até que o nosso coração seja imerso o dia inteiro só em pensamentos de Céu, a ponto de transbordar; e a nossa vida, alimentada pelos Sacramentos, seja por eles identificada.
Damos Deus, se o temos; e o temos, se o amamos.
Então, poderão acender-se pequenos sóis, no mundo sombrio e monótono, que apontarão a muitos o caminho. Sóis que aquecerão, na humildade total de suas vidas completamente imoladas ao Senhor, em que eles já não falam, mas fala Ele; em que já não vivem, mas vive Ele.
Chiara LUBICH
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