16 março 2020

Um só pai, todos irmãos

São os últimos dias da vida de Jesus que marcam a ruptura definitiva com seus inimigos. Ele os ataca de maneira decidida e violenta: são incoerentes e contraditórios; o comportamento deles não corresponde aos ensinamentos que pregam; procuram a si mesmos, ostentam uma religião formal e aproveitam-se da posição em que estão para escalar os primeiros lugares na sociedade.
      As palavras de Jesus têm valor para todos os tempos, inclusive para a Igreja hoje. Bento XVI fustigou várias vezes atitudes semelhantes: “Não é porventura uma tentação, a da carreira, do poder, uma tentação da qual não estão imunes nem sequer aqueles que desempenham um papel de animação e de governo na Igreja?”
      Jesus derruba o castelo dos fariseus e dos falsos sacerdotes de seu tempo e de hoje com a imagem verdadeira de Deus, que Ele veio revelar: Pai. Que é o único Senhor (e, com Ele, o Cristo). Na comunidade, todos são filhos do Pai e irmãos entre si. A função da autoridade é a transparência: colocar sob os holofotes e tornar tangível a paternidade de Deus nos relacionamentos fraternos. Por isso, a autoridade é serviço, e isso é a verdadeira e única grandeza.
Jesus vai à raiz do problema – como sempre – e oferece o critério fundamental para construir relacionamentos verdadeiros. Seu olhar inverte as maneiras de pensar e de agir da sociedade, que é organizada normalmente por degraus, onde quem está no topo nem sempre merece ocupar aquele lugar.
      Aquilo que Jesus propõe é revolucionário, ao mesmo tempo doce e polêmico. O que há de mais humano e terno do que a imagem de Deus como Pai? Mas o que é mais intolerante com as desigualdades e os carreirismos arrogantes do que a imagem de Deus como Pai? Ele é ciumento da dignidade de seus filhos e não tolera privilégios na sua família.
      As palavras de Jesus valem para as autoridades, dentro e fora da Igreja, mas também para todos. Não podemos nos limitar a acusar os outros, achando que somos puros e perfeitos. A raiz é sempre a paternidade de Deus, que todos devemos espelhar em nossa vida. Todos – pai, mãe, irmão e irmã, sacerdote e freira, dirigente e funcionário, político e comerciante… – somos desafiados por Jesus a construir a família do Pai. Todo o resto não tem valor ou, pior, falsifica e destrói os relacionamentos. E o caminho é único: servir, como Ele: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45).

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