11 março 2020

Um Deus injusto?

É muito esquisita a seguinte parábola (cf. Mt 20,1-16): um patrão não paga justamente os trabalhadores; ele trata da mesma maneira quem trabalhou um dia inteiro e quem se limitou a apenas uma hora de lida. Isso é claramente contra o direito trabalhista. Os sindicatos convocariam uma greve geral.
      Seria um erro de Jesus, sempre atento a defender os direitos do homem?
      Olhemos como Jesus age. Ele acolhe os pecadores, os publicanos, as mulheres de rua. Não faz diferença entre justos e pecadores; pelo contrário: parece preferir estes últimos. Porque Ele é misericórdia e dá a todos a possibilidade de se salvarem, também a quem parece não merecer.
      A parábola é dirigida aos justos, aos fariseus, que colocavam a relação com Deus no plano do dar e receber, da retribuição correspondente ao trabalho efetuado. Deus, não. Ele se põe no nível da gratuidade, do dom, não do mérito.
      Paga em primeiro lugar os últimos. Os primeiros esperam mais, mas recebem o mesmo. Daí a reação: não se queixam por sofrerem prejuízo (receberam o combinado), mas pela equiparação da remuneração dos outros à própria.
Defendem a diferença e não aceitam que o patrão, que foi justo com eles, seja bom com os demais.
      A parábola não concerne o agir de Deus, mas o dos justos: como se comportam frente à misericórdia de Deus? Eles sentem inveja dos outros, em vez de se alegrarem vendo que o Pai perdoa e acolhe os filhos que estavam afastados.
      É evidente o paralelo com a parábola do filho pródigo, com a reação do filho mais velho, que condena a maneira de agir do pai em relação ao filho que volta.
      Jesus é o revelador da misericórdia de Deus com sua atitude – prefere os últimos (em sentido social e moral) – e com seu ensinamento. E é revolucionário.
      Qual é nosso Deus? Não percebemos que às vezes (frequentemente?) falamos e nos dirigimos a um Deus que não existe? Um Deus que não se ocupa das pessoas que julgamos socialmente e moralmente. Que abençoa nossos critérios de classificação das pessoas e, por conseguinte, de relacionamento (ou não relacionamento). Que garante a cultura com base na qual nossa sociedade é construída, do conformismo, do culto das aparências, do carreirismo, das ilusões, do vazio… E da exclusão de quem não aceita as regras do jogo.
      Nunca lemos o Evangelho?

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