“Alegra-te, cheia de graça!” é a saudação do anjo a Maria, “traída” pela nossa tradução: “Ave, cheia de graça”. Vocês conseguem imaginar o anjo visitando Maria e cumprimentando-a com um “Oi, bom dia”?
“Alegra-te” é a expressão que evocava as profecias que prediziam à Filha de Sião (Israel) a vinda do Messias: “Rejubila, filha de Sião […], o Senhor está no teu seio”, canta Sofonias (3,14.17).
“Cheia de graça” é o nome novo que Deus dá a Maria: é “a cheia de graça”. Não simplesmente cheia, porque é fruto de uma ação totalmente gratuita de Deus, que a escolheu para ser “única” entre os amados por Ele, obra-prima do seu amor. Ele a fez assim, para que fosse mãe do Filho de Deus.
Esta é a Imaculada, preservada do pecado por ser repleta de graça. A isenção do pecado por si só significaria algo simplesmente negativo que, no máximo, lhe daria um candor, uma nitidez, como aparece em todas suas imagens, inclusive em Lourdes. Se a Imaculada me tivesse pedido uma opinião, eu teria sugerido que ela aparecesse para Bernadete não como a “branca Senhora”, mas com uma veste de várias cores, símbolo da plenitude da graça, das graças. Mas é só minha opinião…
O que quero dizer com isso é que a isenção do pecado em Maria é o vaso vazio que pôde acolher todos os dons de Deus, até o próprio Deus feito seu Filho. A Imaculada é a criatura em que todos os atributos positivos, que sonhamos para nós e para os que amamos (ser bonito, bom, generoso, amável, verdadeiro, paciente, forte…) se realizaram no mais alto grau. É o jardim onde brotaram todas as flores; melhor, é a flor.
E é uma figura quente, porque não reteve para si toda a riqueza que recebeu.
Foi feita cheia de graça para ser mãe, para dar à luz, amamentar, beijar um filho, e isso também não para si, e sim para doá-lo ao mundo. É riquíssima e deu tudo.
É lógico: se Deus a cumulou de graça, quer dizer que a encheu de si, e Ele é o amor. A Imaculada não é uma imagem bonita a ser contemplada, mas o sinal mais alto daquilo que Deus sabe fazer quando desprende sua fantasia de amor: faz outros iguais a si.
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