12 março 2020

O santo publicano

Dois homens: o justo e o pecador. Assim são realmente. Um é perfeito na observância da lei de Deus (o fariseu), o outro é desonesto (o publicano). A sociedade os considera assim, e tem razão.
      Deus não. Eles se apresentam diante Dele. O justo aparentemente se dirige a Deus, mas na realidade olha para si mesmo, para sua retidão, sua fidelidade à lei. Deus não existe para ele, que é o centro do mundo. No máximo, aceita falar com Deus considerando-o seu benfeitor, isto é, que derrama sobre ele seus dons.
      O outro não tem nada para dar, menos que nada: seus pecados. E doa-os a Deus. Sem saber que está entrando no coração Dele. Os méritos do fariseu são um obstáculo entre ele e Deus. A ausência de méritos do publicano permite-lhe estabelecer contato com Deus. Ele não se atreve a levantar os olhos, mas Deus põe sobre ele seu olhar, por encontrar nele um pobre que confia, que não exige nada, que se entrega.
      Jesus afunda a faca no coração das pessoas e nas estruturas da sociedade, subverte as certezas das convenções, as verdades dos comportamentos.
Quem sabe se Ele concorda sempre com as lápides dos benfeitores da Igreja ou com as estátuas dos “grandes” da sociedade civil e eclesiástica! E com tantos nomes dados às ruas e às praças!
      Não podemos dizer que Jesus canonizou o publicano, porque não é um fato real; é uma parábola. Mas o “bom” ladrão existiu realmente. E Jesus o canonizou.

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