“Lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó hás de voltar”. Essa afirmação escultural marca o início da Quaresma, embora atualmente possa ser substituída por outra: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. As palavras são acompanhadas pelo gesto, muito sério, do sacerdote, que coloca a cinza na cabeça dos fiéis.
Parece que voltamos mil anos, que estamos enfileirados nas colunas dos penitentes medievais, oprimidos sob o peso das culpas e do pavor do castigo de Deus. A morte, com seu esqueleto branco envolvido no manto preto e a foice erguida para ceifar, marca o ponto final e decisivo que dividirá a humanidade em dois grupos impelidos por caminhos inconciliáveis.
Mas é realmente assim? As cinzas são somente símbolo de fim irreversível, de destruição, de extinção dos sonhos e das esperanças?
Depende de como olhamos o símbolo. Pode ser sinal de destruição, até violenta: “Os inimigos reduziram a cidade a cinzas”. Ou do triste e desconsolado fim da existência.
Mas pode ser expressão da verdade das coisas, da sua relatividade. Não seria mau colocar uma porção de cinzas nos bancos, nos parlamentos, nos estúdios de cinema e de televisão, nos estádios…, nas sedes episcopais, nos conventos, nos seminários… As cinzas dizem que os ídolos têm duração breve e enganam. Também os pequenos ídolos de cada um de nós, os projetos, as carreiras, as promoções. Até as coisas mais bonitas e santas que, porém, não são Deus: os filhos, o casamento, o sacerdócio, os hábitos religiosos, a liturgia, a arte, a ciência…
Mas pode ser expressão da verdade das coisas, da sua relatividade. Não seria mau colocar uma porção de cinzas nos bancos, nos parlamentos, nos estúdios de cinema e de televisão, nos estádios…, nas sedes episcopais, nos conventos, nos seminários… As cinzas dizem que os ídolos têm duração breve e enganam. Também os pequenos ídolos de cada um de nós, os projetos, as carreiras, as promoções. Até as coisas mais bonitas e santas que, porém, não são Deus: os filhos, o casamento, o sacerdócio, os hábitos religiosos, a liturgia, a arte, a ciência…
Só Deus não acaba em cinzas!
Como se faz para produzir cinzas? Queimando algo. A cinza pode ser fruto de destruição, mas também de amor. O fogo diz amor, amor que se consome e que, assim, se torna cinza.
Se em nós a chama do amor está acesa, ela queima e consome. Queima não só o negativo, o egoísmo, mas também o ser, aquilo pelo qual nós somos. O amor nos reduz a nada (portanto, menos do que cinzas). Se tentarmos salvar algo de nós mesmos, o nosso amor será um amor sob condições, calculado, será não amor.
Mas a chama de amor produz um milagre: debaixo das cinzas permanece a brasa, fonte de vida, de ressurreição.
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