25 março 2020

O "charme" do Espirito Santo

Irmão Christian de Chergé, prior do mosteiro de Tibhirine (Argélia) e um dos sete monges assassinados em 1996, lembrava, um dia, um diálogo que teve com um muçulmano sufi, técnico de calefação: “Eu lhe dizia” − contava − “que estava estudando os textos do Alcorão que falam do Espírito de Deus. Parecia-me que poderiam oferecer a chave do mistério que nos une além das divergências nas quais infalivelmente tropeçamos. Respondeu-me, comentando do seu jeito, um versículo do Alcorão: ‘Não se deve procurar demais o que é o Espírito… Nós lhe tiramos seu charme!’”
      O muçulmano deu uma pincelada que, talvez, não se encontre nas asas da pomba nas pinturas de nossas igrejas.
      Acho que Maria experimentou isso mais que qualquer outra pessoa; seu sim foi a declaração de amor de uma mulher seduzida por este charme (“o Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com sua sombra”; Lc 1,35). Ele era seu esposo e o relacionamento com ela não podia ser somente a realização de um plano, por mais bonito e grande que fosse. Eram Ele e ela, duas pessoas atraídas uma para a outra. Sim, porque se Maria era fascinada por Ele, também o Espírito não podia escapar do “charme” dela, obra-prima da sua fantasia e obra-prima da fidelidade dela. Maria havia saído das suas mãos e tornava-se cada vez mais bela, num amor imprevisível também para Ele.
      O encontro destes dois seres fascinados um pelo outro e para o outro não se limitou ao plano dos sentimentos nem da vontade: tornou-se carne, Jesus, o homem mais “charmoso”: “Tu és o mais belo dentre os filhos dos homens” (Ps 45,3). Também por Ele Maria foi totalmente cativada, sempre com Ele, levada pelo Espírito até “estar” no Calvário, seduzida por um amor sem limites.
      Também aqui, o “charme”.

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