O
cristão é chamado a viver a vida, a nadar na luz, a abismar-se nas cruzes, mas
não a enlanguescer. Nossa vida, ao contrário, às vezes é apagada; a
inteligência, obscurecida; à vontade, indecisa. É que, educados neste mundo,
fomos acostumados a viver uma vida individualista, que está em contradição com
a vida cristã.
Cristo é
amor e o cristão não pode deixar de sê-lo. E o amor gera a comunhão, a comunhão
como base da vida cristã e como vértice.
Nesta
comunhão, o homem não vai mais sozinho até Deus, mas caminha para Ele em
companhia. Isto é um fato de incomparável beleza, que faz ressoar dentro da
alma o versículo da Escritura: <Como é bom, como é agradável habitar todos
juntos, como irmãos! (Sl 133[132],1).
A
comunhão fraterna é uma conquista perene, com o resultado contínuo não só de
manter esta comunhão, como de propagá-la entre muitos, porque a comunhão é
amor, é caridade, e a caridade é difusível por natureza.
Quantas vezes, entre irmãos que decidiram caminhar unidos
para Deus, a unidade enlanguesce, uma poeira se interpõe entre alma e alma, e
cai o encanto, porque a luz que surgira entre todos lentamente se apaga!
Esta
poeira é um pensamento ou um apego do coração a si mesmo ou aos outros; é amar
a si mesmo por si mesmo e não por Deus; ou ao irmão ou aos irmãos por si mesmo
e não por Deus; outras vezes, é o retrair a alma que se lançara pelos outros; é
concentrar-se no próprio eu, na própria vontade, e não em Deus, no irmão por
Deus, na vontade de Deus.
É amiúde
um juízo incorreto sobre quem vive conosco.
Havíamos
dito que queríamos ver somente Jesus no irmão, que trataríamos com Jesus no
irmão, que amaríamos a Jesus no irmão, mas agora vem à mente a lembrança de que
aquele irmão tem este ou aquele defeito, tem esta ou aquela imperfeição.
O nosso
olhar se complica e o nosso ser não está mais iluminado. Consequentemente,
rompemos a unidade, errando.
Talvez
aquele irmão, como todos nós, tenha cometido erros; mas como Deus o vê? Qual é,
na realidade, a sua condição, a verdade do seu estado? Se está em ordem diante
de Deus, Deus não se lembra de mais nada, já cancelou tudo com o seu sangue. E
nós, por que lembramos?
Quem
está errado naquele momento? Eu, que julgo, ou o irmão? Eu.
Devo,
pois, dispor-me a ver as coisas na perspectiva de Deus, na verdade, e tratar de
igual modo com o irmão, pois, se por infelicidade, ele ainda não se tivesse
reconciliado com o Senhor, o calor de meu amor, que é Cristo em mim, poderia
induzi-lo ao arrependimento, assim como o sol absorve e cicatriza tantas
chagas.
A caridade
mantém-se com a verdade e a verdade é misericórdia pura com a qual devemos
estar revestidos dos pés à cabeça, para podermos nos dizer cristãos.
O meu
irmão retorna?
Devo vê-lo novo, como se nada houvesse acontecido e
reiniciar a vida junto com ele, na unidade de Cristo, como da primeira vez,
porque nada mais existe. Esta confiança o salvaguardará de outras quedas. E eu
também, se com ele tiver usado tal medida, poderei ter esperança de ser, um
dia, por Deus assim julgado.
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