11 setembro 2018

Carta a Jesus Abandonado

Caro Jesus



         Escolhi como minha herança o teu abandono, quando me sinto abandonada.
         Reconheço muitas vezes ao dia que Tu morreste pelos meus pecados e pelas minhas infidelidades; mas quando cometo algum pecado, perco a paz, como se não pudesse ser mais perdoada.
         Iludo-me dizendo que é delicadeza de consciência a obsessão que minhas infidelidades provocam em mim, mas na verdade, trata-se de orgulho refinado.
         Ainda que tivesse cometido de olhos abertos, que importa Jesus?
         Seria a prova de que não te amo, mas não deve ser motivo para não te amar no futuro, pelo contrário!
         Acreditar no teu amor, mesmo se sou mesquinha, quer dizer ser fiel à tua herança. O teu Amor seria menos divino se me amasses por eu ser virtuosa. Reconhecer-te, abraçar-te nas humilhações que seguem minhas infidelidades agrada-te pois, então, só o amor te pode reconhecer. A inteligência não chega a tanto.
         “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor” (Jo 4,8).
         O Ideal da santidade não consiste na alegria que experimento depois de uma vitória sobre mim mesma e tampouco no me sacrificar pelos irmãos até a morte com a certeza de Te agradar; seria demasiado.
         O Ideal da santidade consiste em Te procurar quando não te sinto, quanto por ter seguido minha natureza, Te sinto distante.
         A santidade não consiste em ser sem defeitos, mas em acreditar no teu Amor, não obstante, e precisamente, pelos meus defeitos.
         Faz, Jesus Abandonado, que eu seja fiel à tua herança que, num arrebatamento de amor, escolhi para mim.


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