Castel Gandolfo, 13 de abril de 2001
Quando se fala de vocação, na Igreja, os jovens pensam no sacerdócio ou na vida religiosa e não possuem um sentido amplo dessa realidade. Você poderia dizer como enxerga a vocação, o que é uma vocação para você?
Entendi bem o que é a vocação nos primeiros tempos, porque fui chamada por Deus daquela vez, ao ouvir, como se viesse do céu: “Doe-se toda a mim” e, em seguida, fiz minha consagração a Deus, esposando Deus […].
Era o dia 7 de dezembro de 1943.
Depois, no Natal, fui à Missa do Galo. Naturalmente, lembro que já estava toda dominada por essa união particular com Jesus, como quando alguém está noivo. E fui à missa toda recolhida. Lembro até da roupa que vestia; pusera o melhor vestido – eu era pobre – mas, o melhor, tudo por Ele.
Durante a missa, sinto no íntimo outro chamado: “Dê-se toda a Deus, dê-se toda a Deus”, ou seja, que me consagrasse totalmente a Deus.
Naquela época, para as moças, era costume somente consagrar-se a Deus nos conventos, com os três votos; não havia outras maneiras de se consagrar a Deus. Então eu disse: “Estou pronta”. Mas, havia dentro de mim um tormento: era contra tudo aquilo que o meu ser sentia. De qualquer modo, disse: “Devo estar pronta, portanto farei o voto de obediência e de pobreza e entrarei para o convento”.
Naturalmente, no dia seguinte, fui confessar-me, e o confessor – que sabia que já nascera algo do Movimento à minha volta, porque tinha nascido ainda Naturalmente, no dia seguinte, fui confessar-me, e o confessor – que sabia que já nascera algo do Movimento à minha volta, porque tinha nascido ainda antes do voto de castidade; já havia as minhas primeiras companheiras – disse-me: “Não, não, você não foi feita para isso!” Ele vira que Deus me chamava no mundo com essas companheiras, com esse algo que ele talvez intuísse estar nascendo.
Então, dentro de mim distinguiram-se dois conceitos: entendi que devia fazer a vontade de Deus. É a vontade de Deus, porque o meu diretor espiritual dizia isso, mas entendi que uma coisa é a santidade que se alcança por meio da vontade de Deus; outra é que existem os chamados “estados de perfeição”, ou seja, que existem modos de ser, modos de viver que ajudam a alcançar a perfeição. Por exemplo, os conventos, os mosteiros: os votos ajudam porque isolam a pessoa de tudo o mais. Mas esses são “estados de perfeição”, ao passo que a perfeição é a vontade de Deus.
Eu entendia que devia fazer a vontade de Deus.
Por isso, entendi logo que, para tornar-me santa, devia fazer a vontade de Deus e que a vontade de Deus é um caminho bom para muitos, pois todos devem fazer a vontade de Deus. Portanto, também uma mãe, que sabe que precisa ficar em casa com os filhos e faz a vontade de Deus, torna-se santa; um pai, que é político e sabe que aquela é a vontade de Deus, torna-se santo lá; não é preciso que entre para o convento, para o mosteiro etc.
É a vontade de Deus que nos torna santos.
Lembro que havia em nós um desejo de nos tornarmos santas. […] Mas como fazer para nos tornarmos santas? […] não entendíamos; havia – dizíamos isso sempre – uma espécie de muralha diante de nós, que nos impedia de nos tornarmos santas.
Não entendíamos, não entendíamos, estava mesmo bloqueado, tudo bloqueado.
Quando, porém, entendi que, para tornar-me santa, devia fazer a vontade de Deus, descortinou-se algo maravilhoso. Mas então todos podem tornar-se santos em seus estados de vida, onde estão, não nos “estados de perfeição”, mas em seus estados de vida, onde estão.
Lembro a alegria que jorrou dentro de nós ao pensarmos que tínhamos para as multidões o ingresso para a santidade. Essa é a premissa para uma santidade de povo.
Não sabia que tínhamos comprado o bilhete para a santidade de povo, ou seja, para fazer todos entrarem nesse caminho da santidade, porque então Deus nos fez intuir todas as coisas um pouquinho por vez. Agora, entendemos.
Por isso, é errado dizer que uma vocação é apenas ser padre ou ser religioso ou religiosa; é errado. Tornamo-nos santos e temos a vocação de nos doar a Deus fazendo a vontade de Deus.
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