Do Diário
19 de dezembro de 1971
A vida humana, inclusive a de pessoas doadas a Deus, procura sempre ajeitar-se bem nesta vida, talvez com um horário preciso, ótimo em si, mas não ditado unicamente pelo amor de servir a Deus: cedo ou tarde tem a ver um pouco também com o amor ao eu, pela pouca vigilância da alma em se manter sempre na divina vontade.
De modo que, inclusive para essas pessoas, a cruz é posta o máximo possível de lado. Ela “perturba”, ela parece pôr de novo em discussão muito claramente o que nos parecia ter visto e programado para aquele futuro que, aliás, nunca se sabe se existe.
É o aburguesamento do nosso cristianismo. É a sabedoria humana que se quer substituir à loucura da cruz.
E as coisas primeiro começam assim: com uma decepção por tudo o que não havíamos previsto, para depois fazer a alma descer a um plano meramente humano, onde vale apenas o modo de pensar da maioria.
E então […] se entendem as vigorosas palavras de Paulo: “Pois não foi para batizar que Cristo me enviou, mas para anunciar o Evangelho, sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a cruz de Cristo” (cf. 1Cor 1-17).
Hoje, mesmo desejando manter-me no horário a que me propus, farei festa a tudo aquilo que me “perturba”.
Jesus Abandonado certamente foi apanhado desprevenido: tinha dito antes de morrer que o Pai jamais o abandonaria, o abandonaria; na certa não estava “programado”…
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