29 julho 2019

Deixar uma obra incompleta?

      As circunstâncias dolorosas eram tamanhas que temi algumas vezes não poder mais prosseguir o serviço da Obra de Maria que até então tinha procurado desenvolver. Não vou explicar a vocês os motivos dessa minha preocupação. O fato é que aceitar semelhante dor era duríssimo para mim.
      O motivo dominante consistia nisto: distante de vocês, constatava mais do que nunca a enorme beleza, a grandiosidade, o potencial da Obra à qual até agora, com a graça de Deus, eu havia dado vida junto com vocês, mas via ao mesmo tempo a fragilidade de suas estruturas contempladas desde 1954, ainda não bem experimentadas, não bem testadas.
      Sabia muito bem que qualquer um de nós, e eu entre todos, deve sempre declarar-se servo inútil e infiel (cf. Lc 17,10), especialmente diante de uma obra de Deus. Entretanto, tendo trazido no coração durante anos o desejo, o anseio da realização, da atuação da Obra do modo que Deus me fizera ver, parecia-me também que Ele próprio quisesse que eu continuasse o meu serviço.
      Debati-me por muito tempo nessa provação. Para mim era viver a Desolada, ou seja, perder a Obra de Deus, da qual o Senhor me fizera mãe, de algum modo. Não era simples: queria aceitar a vontade de Deus de perder tudo, mas ela contrastava fortemente com a minha vontade.
      Naqueles momentos, pareceu-me que a vida “ideal”1 em mim tivesse de sofrer uma mudança.
      Eu a havia vivido durante anos como uma divina aventura (certamente não desprovida de dores), em que afirmava com vocês não ter praticamente vontade minha, porque a minha era a de Deus. Parecia-me que o meu coração estivesse em uníssono com o Dele todas as vezes em que manifestava uma vontade sua.
      Agora, não era mais assim.
      Quem me daria explicação desse estranho estado de espírito? Quem me poderia dizer que eu era cristã e focolarina mesmo nessa situação?

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