31 julho 2019

A Palavra nos realiza como homens, como filhos de Deus

      Rocca di Papa, 23 de abril de 1992

      Podemos “ser” se vivemos a Palavra, se somos a Palavra viva. De fato, as Palavras de Jesus não são simplesmente exortações, sugestões, indicações, diretrizes, ordens, mandamentos. Na Palavra de Jesus está presente o próprio Jesus que fala, que nos fala. As suas Palavras são Ele próprio, Jesus mesmo.
      E assim, na Palavra, nós o encontramos. E acolhendo a Palavra no nosso coração, como Ele quer que seja acolhida, (ou seja, estando prontos a traduzi-la em vida), somos “um” com Ele, e Ele nasce ou cresce em nós, e assim “somos”. É isso o “ser”.
      De fato, ocorre viver a Palavra, torná-la nossa; anularmo-nos para sermos “ela”, colocá-la acima dos nossos pensamentos, dos nossos afetos. Ela é lâmpada para os nossos pés, a verdadeira companheira na nossa “Santa Viagem”, porque não podemos ter nenhum companheiro melhor do que Jesus, que nela vive; por ela nos vamos evangelizando e irradiando o Evangelho à nossa volta.

30 julho 2019

A caminho da plenitude da alegria

      Então, coragem! Não reduzamos o Evangelho.
      A crueza (crueza para a nossa natureza) do Evangelho não nos refreie, mas nos lance na confiança que Deus não nos deixará faltar a graça nem mesmo nos momentos mais trágicos.
      Certamente, essa quase “revelação” da dor que o Evangelho assim prevê trará ao nosso coração mais seriedade, menos entusiasmo inclusive para as coisas belas, “ideais” terrenos, mas não impedirá que se realize a promessa de Jesus: “Tenham em si minha plena alegria” (Jo 17,13). Talvez não tenhamos ainda experimentado essa plenitude.
      O Evangelho é um abismo.
      Que Deus nos dê ainda dias para sondá-lo já nesta vida, se Ele quiser.
      Nós prometemos novamente a Ele que queremos a vontade Dele, não a nossa.
      E gritemos, mesmo entre lágrimas, na apreensão, no medo, que ainda e sempre, e em cada circunstância, acreditamos no Amor, naquele Amor que, como um arco único, abraça a vida terrena e a eterna.
      E que Maria, a nossa mãe, ajude a nossa fraqueza.

29 julho 2019

Deixar uma obra incompleta?

      As circunstâncias dolorosas eram tamanhas que temi algumas vezes não poder mais prosseguir o serviço da Obra de Maria que até então tinha procurado desenvolver. Não vou explicar a vocês os motivos dessa minha preocupação. O fato é que aceitar semelhante dor era duríssimo para mim.
      O motivo dominante consistia nisto: distante de vocês, constatava mais do que nunca a enorme beleza, a grandiosidade, o potencial da Obra à qual até agora, com a graça de Deus, eu havia dado vida junto com vocês, mas via ao mesmo tempo a fragilidade de suas estruturas contempladas desde 1954, ainda não bem experimentadas, não bem testadas.
      Sabia muito bem que qualquer um de nós, e eu entre todos, deve sempre declarar-se servo inútil e infiel (cf. Lc 17,10), especialmente diante de uma obra de Deus. Entretanto, tendo trazido no coração durante anos o desejo, o anseio da realização, da atuação da Obra do modo que Deus me fizera ver, parecia-me também que Ele próprio quisesse que eu continuasse o meu serviço.
      Debati-me por muito tempo nessa provação. Para mim era viver a Desolada, ou seja, perder a Obra de Deus, da qual o Senhor me fizera mãe, de algum modo. Não era simples: queria aceitar a vontade de Deus de perder tudo, mas ela contrastava fortemente com a minha vontade.
      Naqueles momentos, pareceu-me que a vida “ideal”1 em mim tivesse de sofrer uma mudança.
      Eu a havia vivido durante anos como uma divina aventura (certamente não desprovida de dores), em que afirmava com vocês não ter praticamente vontade minha, porque a minha era a de Deus. Parecia-me que o meu coração estivesse em uníssono com o Dele todas as vezes em que manifestava uma vontade sua.
      Agora, não era mais assim.
      Quem me daria explicação desse estranho estado de espírito? Quem me poderia dizer que eu era cristã e focolarina mesmo nessa situação?

28 julho 2019

Viva o Evangelho!

Editorial da revista Gen 3, de janeiro-fevereiro de 1974

      Caríssimas e caríssimos Gen 3
     
      No início deste novo ano de 1974, gostaria de dar a vocês uma norma que se torne “histórica” na vida dos gen 3.
      Trata-se do Evangelho.
      Como já lhes disse outras vezes nos congressos, a característica dos gen 3 é e será a santidade.
      Ora, a santidade se alcança vivendo o Evangelho.
      No mês de janeiro celebramos são Francisco de Sales, que dá a seguinte definição do santo: aquele que vive o Evangelho.
      Sempre me impressionou o fato de que santa Teresinha do Menino Jesus, que morreu ainda com a idade dos gen, levava sempre, durante a sua vida, o Evangelho no bolso. Ela pode ser uma das protetoras dos gen 3.
      E não só levava o Evangelho no bolso, mas sabia-o de cor, e com isso, pode ser o exemplo luminoso dos gen 3.
      Digo-lhes a verdade: se eu pudesse desejar uma coisa a vocês, seria ver repetido em vocês o apreço e o estudo do Evangelho que havia em santa Teresinha.
      E acreditem: não é que santa Teresinha se tenha obstinado em aprender o Evangelho de cor, mas leu-o tantas e tantas vezes, porque o amou, que acabou sabendo-o de cor.
      Ora, para facilitar essa possibilidade a vocês, meu conselho não será apenas de palavras de encorajamento, mas do próprio livro do Evangelho. Era o presente que eu queria dar a vocês no Natal. Mandem-me o endereço de vocês, e ficarei bem feliz em enviá-lo o mais rápido.
      Quando se realizar o Congresso Gen 3, quem sabe vocês já não terão lido um pouco e contado as impressões e as experiências de vocês!
      Com a estima que vocês sabem que nutro no meu coração pela terceira geração, deixo-os com um “Viva o Evangelho!”

27 julho 2019

Sal da terra, luz do mundo

2 de maio de 1968

      “Ora, se o sal se tornar insosso, com que o salgaremos? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens” (Mt 5,13).
     
      Impressiona-me essa última frase. Nós, chamados por Deus para ser sal da terra, tornamo-nos culpados se não correspondemos a essa vocação, e Deus nos lança fora.
      Os talentos não devem ser soterrados. Temos o Ideal? Devemos vivê-lo até o fim. Se, depois de tê-lo conhecido, não o vivemos, não sabemos em que mostrengo nos tornamos diante dos olhos de Deus.
      Que responsabilidade para nós e que zelo deve arder em nossos corações na oração por aqueles que abandonaram esse chamado!
     
      “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte. Nem se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro, e assim ela brilha para todos os que estão na casa” (Mt 5,14-15).
     
      Luz “do mundo” para “todos” os que estão na casa. É isto o cristianismo: um fenômeno tão forte que o mundo inteiro é por ele iluminado, “todos”. Todos significa todos!
      São maravilhosas essas palavras de Jesus! Elas dizem realmente o que Ele trouxe e o que nos deixou.
      Não nos damos conta disso. Estamos dominados demais pelas coisas humanas para ver até onde a verdade de Cristo se irradia e para usufruir dela com Ele. E, pela nossa indolência, os outros, como um pavão, ostentam em parte essa luz e essas cores como próprias, e o povo corre daqui, corre dali, porque, na realidade, é atraído por Jesus. Entretanto, desperdiçamos com a nossa insuficiência o dom que Deus trouxe à terra.
      Jesus, quando chegará aquele dia em que tudo será reunido e tudo tornará a ti? Que triunfo de Deus, que alegria inefável de Maria, que justiça feita!
      Agora tenho a impressão de que nós, cristãos, estamos ainda a caminho, como o povo de Israel, cheio das solicitudes e predileções do Pai e reclamando, por sua indignidade, a ira da divina justiça.

26 julho 2019

Ele falará...

18 de fevereiro de 1968

      “Bem mais numerosos foram os que creram por causa da palavra dele e diziam à mulher: ‘Já não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo’” (Jo 4,41-42).
     
      Jesus revela-se por si. O seu testemunho, a sua palavra, é mais forte do que a maravilha que Ele havia operado, revelando a sua vida à mulher.
      A palavra de Jesus! Deve ter sido a sua maior… arte, se assim podemos dizer. O Verbo que fala com palavras humanas: que conteúdo, que timbre, que voz, que intensidade!
      Vamos ouvi-las de novo no Paraíso. Ele falará comigo. Ele falará conosco. Esse será o Céu amanhã, em breve.

25 julho 2019

Viverei o Ideal que me deste...

8 de fevereiro de 1968

      “‘Crê, mulher, vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade’. A mulher lhe disse: ‘Sei que vem um Messias (que se chama Cristo). Quando ele vier, nos anunciará tudo’. Disse-lhe Jesus: ‘Sou eu que falo contigo’” (Jo 4,21-26).
     
      “Deus é espírito.” Que afirmação! Sabíamos disso. Mas ouvi-lo da boca de Jesus é outra coisa.
      Deus, que é espírito, quer o nosso espírito e a nossa adoração em espírito.
      “Sou eu que falo contigo.”
      Aqui permanecemos mudos. Sim, Jesus não fazia acepção de pessoas. O homem, seja lá quem for, é profundamente digno do nosso respeito e da nossa estima. À Samaritana, que teve tantos maridos, e até o atual não era dela, Jesus revelou-se plenamente. Aliás, disse isso tão divinamente bem, com aquela simplicidade que um Deus sabe usar: Sou eu que te falo. Eu em carne e osso. Não um fantasma. Não um distante. Eu, aqui.
      Jesus, quisera eu penetrar em teu coração naquele instante, ver os teus olhos profundos, que observam dentro de ti aquilo que és, experimentar a tua delicadeza tão extraordinariamente bem expressa nesta página do Evangelho quando reconheceste: Nisso disseste a verdade.
      Esse quadro da samaritana é inteiramente dela: água viva que jorra para a vida eterna, penetração completa dos corações por parte de Deus, que tudo sabe. E depois aquele: “Sou eu que falo contigo”.
      Viverei o Ideal que me deste, Jesus, porque te quero bem.

24 julho 2019

Sabendo perder

1º de fevereiro de 1968

      Continuo a meditação sobre o Evangelho de são João:
      […]
      “Não sou eu o Cristo, mas sou enviado adiante dele. Quem tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que está presente e o ouve, é tomado de alegria à voz do esposo. Essa é minha alegria e ela é completa! É necessário que ele cresça e eu diminua” (Jo 3,28-30).
     
      É formidável esse final de são João Batista! Ele sozinho já é o programa da vida cristã. Ao ouvirmos essas palavras e quanto elas pesam, certamente compreendemos quão excepcional é esse santo. São palavras de tamanha grandeza que fazem compreender quanto a pessoa que as disse é fora do normal. De fato, João, o Batista, é um pré-santificado.
      Ele, aquele que simboliza o batismo, pois o dá, embora com a água, e o anuncia, com relação a esse sacramento foi tratado por Deus de modo único. Como Deus é belo em seus santos!
      E aqui, é impossível continuar lendo o Evangelho senão depois de ter posto em prática por um tempo “tanta” palavra de vida: “É necessário que eu diminua e que ele cresça”.
      Como? Sabendo perder. Sabendo perder, no momento presente, tudo o que não é vontade de Deus.

23 julho 2019

Jesus Abandonado é a Palavra

De um escrito de 10 de dezembro de 1949

      Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível (Mt 17,20).
      Para viver essa Palavra no momento presente, para ser essa Palavra no momento presente, vivo acreditando e agindo de modo que, em mim e à minha volta, seja removida cada montanha e, em seu lugar, viva o Espírito Santo.
      Quero ser este milagre vivo: o Espírito Santo encarnado.
      Por isso, desapego-me de tudo, momento por momento, inclusive de Deus por Deus, vivendo Jesus Abandonado como objetivo do momento presente.
      Jesus Abandonado é a palavra; cada Palavra é Ele.
      A fé é o amor. Quem crê ama. Como quem conhece ama.
      Ter fé em transportar as montanhas é amar transportá-las. E eu amo transportar, momento por momento, a montanha em mim, para que viva Deus, o Espírito Santo.
      Mas – durante o meu dia – quero transportar cada montanha que encontro na alma do irmão ou dos irmãos.
      Incinero-as com o amor.
      Ou seja, quero aquele peso, aquele abandono, aquela montanha, e acredito (e amo) transportá-la.
      É preciso supor que ela não exista, pois quem ama não vê obstáculo.
      E a transportarei.
      Devo ter no coração apenas uma coisa: amar.
      E colocar esse amor na base.
      Então, viverei o meu dia inteiro transportando todas as montanhas, incendiando todas as pessoas.

22 julho 2019

Compreender Maria

De um discurso de 7 de dezembro de 1972

      Compreendemos que Maria, inserida qual rara e única criatura na Santíssima Trindade, era toda Palavra de Deus, toda revestida da Palavra de Deus (cf. Lc 2,19-51). E se o Verbo, a Palavra, é o esplendor do Pai, Maria, substanciada de Palavra de Deus, era também ela de uma beleza incomparável.
      A originalidade de Maria – embora em sua perfeição ímpar – consistia na mesma em que deveria consistir a de todo cristão: repetir Cristo, a Verdade, a Palavra, com a personalidade que Deus deu a cada um. Como as folhas de uma árvore são todas iguais e, no entanto, cada uma é diferente da outra, assim também acontece com os cristãos – como, aliás, acontece com todos os homens: são todos iguais e, no entanto, todos diferentes. Cada um, de fato, resume em si a Criação inteira. Por isso, cada um, sendo “uma Criação”, é igual aos demais e, ao mesmo tempo, é diferente.

21 julho 2019

A síntese do Evangelho

Rocca di Papa, 25 de janeiro de 1975
Por outro lado, lembramos que uma das primeiras páginas que nós, focolarinas ainda muito jovens, lemos foi o Testamento de Jesus (cf. Jo 17). E foi um acontecimento de grande importância.
Ainda está vivo em nossa mente que, à medida que passávamos de Palavra em Palavra, cada uma parecia iluminar-se; era – entendemos agora –como se alguém nos dissesse: Olhe, na escola, na escola de Jesus, você vai ter de aprender muitas coisas, mas a síntese é isto, isso e aquilo; a síntese é: “Santifica-os na verdade…” – as palavras do Testamento – “Que todos sejam um”, “Tereis a plenitude da alegria”, “Sereis um como Eu sou um com o Pai” etc.
E compreendíamos isso com uma compreensão que só podia ter sido iluminada por uma graça especial, porque era impossível: o Testamento de Jesus é a coisa mais difícil. Tendo compreendido isso – como Deus quis e pelo tanto que Deus quis –, foi mais fácil para nós entender o restante do Evangelho.
Muitas vezes damos o seguinte exemplo: imaginem uma planície; essa planície é todo o Evangelho e, no fim dela, está o Testamento de Jesus, que é a síntese do Evangelho. Tendo-se colocado em nosso meio, Jesus ensinou-nos a unidade, portanto, justamente a matéria do Testamento de Jesus; fez-nos penetrar nela, na unidade, entramos na unidade. Tendo entrado na unidade, entendemos, por baixo, as raízes das outras Palavras; por isso, entendemos o resto do Evangelho, porque entramos pela síntese. O terreno foi como que perfurado para nos fazer penetrar e entender o restante do Evangelho por dentro, captando-o na raiz, em seu sentido mais profundo.
E isso foi uma graça enorme!

20 julho 2019

O fascínio das palavras do Evangelho

      No pequeno círculo entre as pedras dos abrigos e a umidade da rocha, à luz de uma vela, líamos com amor o livro divino, e aquelas palavras saltavam aos olhos da nossa alma com uma luminosidade insólita. Jamais, até então, ele nos parecera tão único e fascinante e jamais, como naquele tempo, nos havia falado de modo tão novo.
      Escrito de maneira divinamente escultórica, oferecia ao nosso espírito “Palavras de Vida” reais, que se poderiam traduzir em vida; diante delas, até as melhores palavras lidas nos livros de devoção pareciam aguadas, enquanto as que enchiam os nossos livros de cultura e de filosofia dissipavam-se no vazio. A Palavra de Deus possuía um respiro amplo, com possibilidade de aplicação universal.
      Eu, tu, os brancos, os negros, o homem do século I, o do século XXI, a mãe e o deputado, o agricultor e o prisioneiro, a criança e o avô: todo homem que veio ao mundo poderia viver a Palavra de Deus, toda Palavra de Deus. “Se a vossa justiça não for maior do que a dos escribas e dos fariseus não entrareis no reino dos céus” (Mt 5,20) “Perdoa setenta vezes sete…” (Mt 18,22) “Dá a quem te pede…” (Mt 5,42).

19 julho 2019

Escolhida

A caneta não sabe o que deverá escrever,
o pincel não sabe o que deverá pintar
e o cinzel não sabe o que deverá esculpir.
Quando Deus toma em suas mãos uma criatura,
para fazer surgir uma obra Sua na Igreja,
a pessoa escolhida não sabe o que deverá fazer.
É um instrumento.
Creio que este é o meu caso.



18 julho 2019

Fora os julgamentos

Na qualidade de cristãos, somos chamados a contribuir para o “ut omnes” . Então, antes de mais nada, reavivemos a nossa fé em que cada homem é chamado à unidade, porque Deus ama a todos. E não arranjemos desculpas como: “aquele lá nunca vai entender”; “aquele outro é pequeno demais para compreender”; “aquele ali é parente meu e o conheço bem, é apegado às coisas da terra”; “este aqui acredita no espiritismo”; “aquele acolá é de uma outra religião”; “este é velho demais para mudar”… Não! Fora todos esses julgamentos! Deus ama a todos e por todos espera.

17 julho 2019

A saúde


O nosso corpo é um dom de Deus. Às vezes no mundo a ele se dedica tempo até demais e não por ser uma dádiva de Deus, é claro.

Porém, quantas vezes nós nos descuidamos dele; e somos pessoas a serviço de Deus e consagradas!

No entanto, a vida que levamos no Movimento, por exemplo, foi muito bem organizada pelo Espírito Santo. Basta ler os nossos Estatutos e regulamentos. Porém, que dificuldade se nota para aplicá-los. O ativismo está sempre à espreita e quer comandar. E é a saúde que leva a pior.

Consola, mas não justifica, o fato de que inclusive os santos quase sempre arruinaram a própria saúde, como Santo Inácio de Loyola, embora isso lhes tenha servido de lição para organizar bem a vida de seus filhos.

Não prestar ao corpo os cuidados devidos, produz um desequilíbrio entre o que se dá ao espírito, e foi utilizado pela razão e pela alma, e o que se dá ao corpo, muitas vezes tratado como um burro de carga, que é contentado só de vez em quando.

Estes pensamentos, na nossa história, foram com freqüência objeto de preocupação em relação a nós mesmos e aos outros. Eis o que diz um trecho de diário de muitos anos atrás.



Hoje compreendi que estas férias devem ser mesmo férias. Tenho a impressão de que a vontade de Deus as deseja assim. (...)

Porém, gostaria que os focolarinos que descansam fizessem o mesmo. Que eles organizem o dia com tudo aquilo que faz bem à saúde: esquecer (de certo modo) o Movimento; manter vivas (...) e bem feitas as práticas de piedade; depois, passeios, ginástica, remar no lago, se houver, jogos ao ar livre ou ao redor da mesa à tarde; escolher um bom livro para ler, ver documentários ou filmes sadios e repousantes.

Tudo isso ordenado com um bom sono e sem horários muito rígidos; relax também diário e boa alimentação. Tudo isso porque (...) Deus nos pede (...) para conservarmos bem este corpo enquanto ele quiser, prontos a oferecê-lo a ele quando nos chamar.

 Todavia, o que mais ajuda a saúde é a vida sempre ordenada. Foi assim que os vários fundadores pensaram.

Na Regra dos Josefinos de São Murialdo está escrito assim:

 A serenidade da vida comunitária é favorecida

(...) por uma sábia organização que garanta a

cada irmão tempo para a oração, o trabalho, o
estudo e o descanso.

16 julho 2019

Fraternidade universal

Acima de todas as coisas, a alma deve sempre dirigir o olhar para o único Pai de tantos filhos. Depois, ver todas as criaturas como filhas do único Pai. Com o pensamento e com o afeto do coração, ultrapassar sempre todos os limites interpostos pela vida simplesmente humana e tender, constantemente e por hábito adquirido, à fraternidade universal num único Pai: Deus. Jesus, nosso modelo, ensinou-nos apenas duas coisas que são uma só: sermos filhos de um único Pai e sermos irmãos uns dos outros.

15 julho 2019

Amor divino e amor humano


      O amor sobrenatural, sendo participação do mesmo amor que está em Deus, que é Deus, difere do amor humano de maneiras infinitas, mas é principalmente diferente porque o amor humano faz distinções, é parcial, ama determinados irmãos como, por exemplo, os irmãos de sangue, ou os que são cultos, ricos, bonitos, respeitados, sadios, jovens…; ou os que são de determinada raça ou classe social, mas não ama — ao menos não desse modo — os outros.

      O amor divino, ao contrário, ama a todos, é universal.

14 julho 2019

A primeira qualidade do amor

A primeira qualidade do amor cristão é amar a todos. Essa arte de amar pretende que amemos a todos, sem distinção, como Deus ama. Não há que escolher entre simpático ou antipático, idoso ou jovem, compatriota ou estrangeiro, branco ou negro ou amarelo, europeu ou americano, africano ou asiático, cristão ou judeu, muçulmano ou hinduísta… Valendo-nos de uma linguagem bastante conhecida hoje, podemos dizer que o amor não conhece “nenhuma forma de discriminação”.

13 julho 2019

Dentro de nós

Os conselhos ajudam, não há dúvida...
Mas não se esqueça de que a solução de nossos problemas está dentro de nós mesmos, na voz silenciosa de nossa consciência, que é a voz de Deus dentro de nós.
Não se deixe enganar: só você será o responsável pelo caminho que escolher.
Ninguém poderá prestar contas por você.
Procure, portanto, viver acertadamente, de acordo com sua consciência.

12 julho 2019

Amar a todos

PROCURE amar a tudo e a todos indistintamente. O amor é uma doação perene de luz e de felicidade, sem buscar retribuições e compensações. Em todas às criaturas está Deus que habita dentro de cada um de nós. Ame a Deus, amando a seu próximo tanto quanto a si mesmo. Distribua compreensão e paz, para que a felicidade possa morar definitivamente em seu coração.

11 julho 2019

A caridade


      Amar. Deus convoca todos os cristãos a amar. É porque, no cristianismo, o amor é tudo.

      Santo Agostinho, mestre da caridade, diz em tom muito forte:

      “Só o amor diferencia os filhos de Deus…

      Se todos fizessem o sinal da cruz (que é um ato religioso), se todos dissessem amém e cantassem o aleluia (ou seja, se praticassem as liturgias, que são muito importantes, mas só fizessem isso…); se todos recebessem o batismo e entrassem nas igrejas, se mandassem erguer as paredes das basílicas, permaneceria o fato de que só a caridade distingue os filhos de Deus…

      Quem possui a caridade nasceu de Deus, quem não a possui não nasceu de Deus. Eis o grande critério de discernimento.

      Se tu tivesses tudo, mas te faltasse essa única coisa, de nada serviria o que tens. Se não tens outras coisas, mas possuis essa, cumpriste a lei…”1

09 julho 2019

O frio

O frio gela; mas, quando excessivo, queima e corta. O vinho fortifica; mas, quando demasiado, debilita as forças. O movimento é o que é; mas quando vertiginoso, parece estático. O Espírito de Deus vivifica; mas quando é muito… inebria. Jesus é o Amor porque é Deus; mas o grande amor por nós levou-o a clamar “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?…” (Mt 27,46), quando Ele se mostra apenas homem.

08 julho 2019

Dá-me todos os que estão sós

Senhor, dá-me todos os que estão sós… Senti em meu coração a paixão que invade o teu, por todo o abandono em que nada o mundo inteiro. Amo todo ser doente e só: até as plantas sem viço me causam dó…, até os animais solitários. Quem consola o seu pranto? Quem tem pena de sua morte lenta? E quem estreita ao próprio coração o coração desesperado? Meu Deus, faze que eu seja no mundo o sacramento tangível do teu Amor, do teu ser Amor: que eu seja os braços teus que estreitam a si e consomem no amor toda a solidão do mundo.

07 julho 2019

Dilatar o coração

Precisamos dilatar o coração segundo a medida do Coração de Jesus. Quanta labuta! Mas é a única necessária. Isso feito, tudo feito. Trata-se de amar a cada um que de nós se achega, como Deus o ama. E, dado que estamos no tempo, amemos ao próximo um por vez, sem guardar no coração resquícios de afeto pelo irmão encontrado um minuto antes. Afinal, é o mesmo Jesus que amamos em todos. Mas, se o resquício fica é porque amamos o irmão de antes por nós mesmos ou por ele… não por Jesus. E aí está o problema. Nossa obra mais importante é manter a castidade de Deus, ou seja, manter no coração o amor, amar como Jesus ama. Portanto, para ser puro não é preciso tolher o coração e nele reprimir o amor. É preciso dilatá-lo segundo a medida do Coração de Jesus e amar a todos. Como basta uma hóstia santa entre os bilhões de hóstias na Terra para nos alimentarmos de Deus, basta um irmão — aquele que a vontade de Deus nos põe ao lado — para comungarmos com a humanidade, que é Jesus místico. E comungar com o irmão é o segundo mandamento, aquele que vem imediatamente após o amor a Deus e como expressão dele.

05 julho 2019

Palavra

ASSIM como os universos foram criados pela palavra de Deus, assim também nossos pequenos mundos individuais são criados pelas nossas palavras. E as palavras são a manifestação dos pensamentos, a fim de criar um mundo de paz e beleza, de saúde e felicidade, através de palavras amáveis e delicadas, corteses e animadoras. Lembre-se de que, uma vez proferida uma palavra, nada mais a destrói.

04 julho 2019

A felicidade


Talvez nunca como nestes últimos tempos sentimos a alegria de viver. E uma alegria pura jamais experimentada e nasce do fato de que: conseguimos encontrar!

Podemos até repetir uma frase que é a aspiração mais sincera de toda a humanidade: encontramos a felicidade.

É preciso, porém, experimentar esta felicidade, para compreender o que ela é.

Esta alegria puríssima só pode ser Deus. Aquele Deus que encontramos a cada instante, perdendo tudo no momento presente para sermos só a Sua vontade viva.

Creio que é um estado da alma, talvez um pequeno degrau alcançado, do qual, invocando o Senhor, com a esperança exclusivamente n’Ele, pedimos para não descer mais.

Não, porque esta felicidade em nós, coincide com a glória de Deus, com a extrínseca glória que a nossa alma pobre, porém tão amada por Deus, pode oferecer-lhe.

Encontramos verdadeiramente a pérola preciosa pela qual vale a pena vender tudo, perder tudo.

É Deus, o único que nos restará, daqui a pouco, ao passarmos para a eternidade, onde a nossa Mãe nos espera, sem dúvida contente de nos ter servido de “caminho” com a sua “desolação”.

03 julho 2019

Em nós



      Cada dor nossa nos parecia um semblante de Jesus Abandonado a ser amado e querido para estar com Ele, ser como Ele, a fim de, em união com Ele, darmos também nós a vida a nós e a muita gente, com o nosso sofrimento amado.

      Entrando neste caminho da unidade, escolhêramos só a Ele: em um ímpeto de amor, decidíramos sofrer com Ele, como Ele.

      Pois bem, a experiência que todos fizemos é que Deus, somente amor, não se deixa vencer em generosidade e muda, por uma alquimia divina, a dor em amor. Isso equivale a dizer que nos transformava em Jesus, experimentado em nós pelos dons do seu Espírito, dons que o amor sintetiza.

      Constatávamos que, tão logo desfrutávamos de uma dor qualquer, para ser como Ele abandonado que se abandona novamente ao Pai, e continuávamos depois a amá-lo, fazendo a vontade de Deus do momento seguinte, a dor, se era espiritual, geralmente, desaparecia; se era física, mudava-se em jugo suave.

      Em contato com a dor, o nosso amor puro, isto é, o nosso desfrutar da dor, convertia essa dor em amor. De certo modo, divinizava-a; era como se a divinização que Jesus fizera da dor prosseguisse em nós, se assim podemos dizer 3.

      E, depois de cada encontro com Jesus Abandonado, amado, encontrávamos Deus de um modo novo, mais face a face, em uma unidade mais plena.

      A luz e a alegria e, com elas, a paz, que são frutos do Espírito, voltavam. Aquela paz especial que Jesus prometeu, para cuja obtenção — assim sentíamos — era necessário fazer do tormento, da angústia, das agonias da alma, das perturbações, das tentações uma ocasião para amar a Deus.

01 julho 2019

Qual celeste plano inclinado


      Maria não é facilmente entendida pelos homens, apesar de ser muito amada. De fato, é mais fácil encontrar em um coração afastado de Deus a devoção a ela, do que a devoção a Jesus.

      É amada universalmente.

      E o motivo é este: Maria é Mãe.

      As mães, em geral, não são “compreendidas”, especialmente pelos filhos pequenos; elas são amadas, e não é raro — aliás é bastante frequente — que até um homem de oitenta anos morra pronunciando como última palavra: “Mamãe”.

      A mãe é mais objeto de intuição do coração do que de especulação intelectual, é mais poesia do que filosofia, pois é real e profunda demais, achegada ao coração humano.

      Assim é com Maria, a Mãe das mães, que a soma de todos os afetos, bondades, misericórdias das mães do mundo não consegue igualar.

      De certo modo, Jesus está mais diante de nós. Suas palavras divinas e fulgurantes são diferentes demais das nossas para se confundirem com elas; são, aliás, sinal de contradição.

      Maria é pacífica como a natureza, pura, serena, tersa, suave, bela; aquela natureza longe do mundo, na montanha, na campina, no mar, no céu azul ou estrelado. E é também forte, vigorosa, ordenada, contínua, inflexível, rica de esperança, porque na natureza é a vida que refloresce perenemente benéfica, ornada pela beleza vaporosa das flores, generosa na rica abundância dos frutos.

      Maria é simples demais, próxima demais de nós para ser “contemplada”.

      Ela é “enaltecida” por corações puros e enamorados que assim exprimem o que neles há de melhor. Traz o divino à terra, suavemente, qual celeste plano inclinado que, da vertiginosa altura dos Céus, desce até a infinita pequenez das criaturas. É a Mãe de todos e de cada um, a única que sabe balbuciar e sorrir para o seu filho de um modo único e tal que, embora pequeno, cada um já sabe apreciar aquela carícia e responder com o seu amor àquele amor.

      Não compreendemos Maria porque está demasiadamente próxima a nós. Ela, destinada pelo Eterno a levar aos homens as graças, jóias divinas do Filho, está ali do nosso lado e aguarda, sempre com esperança, que percebamos o seu olhar e aceitemos a sua dádiva.

      E se alguém, por sorte sua, a compreende, ela o arrebata para o seu Reino de paz, onde Jesus é rei e o Espírito Santo é o hálito daquele Céu.

      Lá, purificados de nossas misérias e iluminados em nossas trevas, haveremos de contemplá-la e dela fruir, paraíso adjunto, paraíso à parte.

      Aqui, mereçamos que ela nos conduza pelo “seu caminho”, para não permanecermos mesquinhos no espírito, com um amor que só é súplica, imploração, pedido, interesse, mas que conhecendo-a um pouco, possamos glorificá-la.