29 outubro 2018

Seja otimista

SEJA otimista!

Procure subir, e espere sempre que o melhor lhe aconteça.

Embora as aparências sejam contrárias, confie em Deus, que está dentro de você, porque nele existe a solução de todos os seus problemas.

Olhe para o lado certo da vida, para a felicidade e o progresso, e não detenha jamais sua subida.

Seja otimista, e há de vencer!

27 outubro 2018

Uma atitude vitoriosa

MANTENHA Uma atitude vitoriosa!

Quando você olha para uma pessoa curvada e triste, perde a confiança, porque verifica que está abatida e preparada para uma derrota.

Não deixe que ninguém pense isso a seu respeito!

Mantenha-se de cabeça erguida, confiante e risonho, e todos confiarão em você.

Irradie força e entusiasmo até por meio da atitude de seu corpo.

26 outubro 2018

O amor revigora


Este ano queremos refletir sobre os efeitos do amor vivido por nós, não tanto ligado à nossa vida espiritual quanto à vida do nosso corpo.
Falaremos da saúde, a todo o percurso da vida humana, que prevê também as doenças e a morte, assim como a ressurreição.
Todos esses momento são vividos por nós no amor e como amor.
Como sempre, para esta exploração vou aproveitar das anotações, ideias, dos pensamentos, das compreensões que tivemos ao longo dos anos desde o inicio.

SAÚDE

O nosso corpo é um dom de Deus. Às vezes no mundo a ele se dedica tempo até demais e não por ser uma dádiva de Deus, é claro.
Porém, quantas vezes nós nos descuidamos dele; e somos pessoas a serviço de Deus e consagradas!
No entanto, a vida que levamos no Movimento, por exemplo, foi muito bem organizada pelo Espírito Santo. Basta ler os nossos Estatutos e regulamentos. Porém, que dificuldade se nota para aplicá-los. O ativismo está sempre à espreita e quer comandar. E é a saúde que leva a pior.
Consola, mas não justifica, o fato de que inclusive os santos quase sempre arruinaram a própria saúde, como Santo Inácio de Loyola, embora isso lhes tenha servido de lição para organizar bem a vida de seus filhos.
Não prestar ao corpo os cuidados devidos, produz um desequilíbrio entre o que se dá ao espírito, e foi utilizado pela razão e pela alma, e o que se dá ao corpo, muitas vezes tratado como um burro de carga, que é contentado só de vez em quando.
Estes pensamentos, na nossa história, foram com freqüência objeto de preocupação em relação a nós mesmos e aos outros. Eis o que diz um trecho de diário de muitos anos atrás.
Hoje compreendi que estas férias devem ser mesmo férias. Tenho a impressão de que a vontade de Deus as deseja assim. (...)
Porém, gostaria que os focolarinos que descansam fizessem o mesmo. Que eles organizem o dia com tudo aquilo que faz bem à saúde: esquecer (de certo modo) o Movimento; manter vivas (...) e bem feitas as práticas de piedade; depois, passeios, ginástica, remar no lago, se houver, jogos ao ar livre ou ao redor da mesa à tarde; escolher um bom livro para ler, ver documentários ou filmes sadios e repousantes.
Tudo isso ordenado com um bom sono e sem horários muito rígidos; relax também diário e boa alimentação. Tudo isso porque (...) Deus nos pede (...) para conservarmos bem este corpo enquanto ele quiser, prontos a oferecê-lo a ele quando nos chamar.
Todavia, o que mais ajuda a saúde é a vida sempre ordenada. Foi assim que os vários fundadores pensaram.
Na Regra dos Josefinos de São Murialdo está escrito assim:
A serenidade da vida comunitária é favorecida
(...) por uma sábia organização que garanta a cada irmão tempo para a oração, o trabalho, o estudo e o descanso.
E nós temos os sete aspectos que ordenam a nossa vida.

22 outubro 2018

Vaidade não

NÃO se deixe arrastar pela vaidade. Aprenda a conhecer-se. Não se julgue indispensável. Quando lhe vier a tentação de julgar-se insubstituível, lembre- se de uma verdade irrefutável; só Deus é indispensável. Não se envaideça! Deus, que é grande, não assinou nenhuma de suas obras...
Não se esqueça: quem se exalta será humilhado, mas quem se humilha será exaltado.

20 outubro 2018

Poder da bondade

NÃO duvide do poder da bondade, embora pareça que tudo está contra você.
Um coração com Deus representa maioria, contra toda uma multidão desvairada.
A bondade praticada em todos os momentos é uma semente que nos garantirá colheitas de felicidade e paz.
Só quem planta bondade encontra dentro de si força de viver com Deus.
Use, então, sem restrições, a bondade de seu coração.

19 outubro 2018

Trabalhar para o bem

NÃO pare jamais de trabalhar para o bem! Cada vez que paramos, nossa alma começa a ficar na rigidez cadavérica.
A alma inativa morre de tédio
Não deixe que seu espírito se enfraqueça na inação.
Viva alegre e entusiasta e em pregue todas as suas forças na plantação do bem, do amor, do carinho no coração daqueles que cercam na vida.

16 outubro 2018

A MOEDA EM CIRCULAÇÃO HOJE


Das respostas aos religiosos e sacerdotes de Loppiano
      Loppiano, 26 de junho de 1989

      Você ressalta muito o amor mútuo e nos convida insistentemente a vivê-lo. Por quê?

14 outubro 2018

Trabalhe bem

TRABALHO é sinônimo de nobreza. Não desdenhe o trabalho que lhe coube realizar na vida.
O trabalho enobrece aquele que o faz com entusiasmo e amor.
Não existem trabalhos humildes.
Só se distinguem por serem bem ou mal realizados.
valor ao seu trabalho, fazendo com todo o amor e carinho, e estará desta maneira dando valor a si mesmo.

Maria


Humilde como é, e de poucas palavras, amante como é da oração e do trabalho, Maria passa grande parte de seu tempo no silêncio e na solidão. Não na solidão desesperada e vazia de nossos tempos, na qual o homem perdido na massa urbana, na explosão demográfica, não consegue se comunicar, permanecendo solitário, mas na solidão como uma concha plena do Espírito Santo, no qual, se falta a presença dos homens, há presença Deus. Deus que quer a alma toda para si: solus cum sola.

Maria tece uma história que é um poema; subentende a teologia e entende os mistério da encarnação, as graças e os sacramentos, enquanto reúne e celebra todas as virtudes: a pureza até a Imaculada Conceição, a caridade até a oferta do Filho; a sabedoria e a fé, a piedade e a alegria, até tornar-se plena do espírito Santo. Dizendo Maria designa-se a mãe e a advogada de todos os seres humanos.

Se, como afirma São Bernardo, temos necessidade da mediação de Maria para chegar à mediação de Jesus, eis que Maria nos é necessária como o ar que respiramos: ela é o “hálito” do Espírito Santo.

Ao saudar Maria, na oração com a qual mais frequentemente a invocamos, antepomos ao mais belo nome de mulher o atributo que lhe é mais familiar na cidade de Deus, onde, pela intercessão de Maria, nos tornaremos concidadãos dos santos: Santa Maria, é Santa por excelência porque mais do que qualquer outra pessoa, ela fez a vontade de Deus. Para nós também, é vontade de Deus que nos tornemos santos, porque Ele é o Santo.

A santidade é a subida do homem até Deus, com as asas da redenção, e corresponde à descida de Deus até o homem, com o prodígio da Encarnação. E a Encarnação foi possível inicialmente pela santidade de Maria. Sua santidade é o modelo de nossa santificação, o mais simples e familiar dos modelos, adaptado a toda pessoa, em todas asa condições.

“Santa Maria”! Invocando-a  com este título e este nome, fazemos uma síntese das maravilhas do amor de Deus: os dons do Espírito Santo, de quem ela é esposa; o ministério de Cristo, do qual ela é a mãe; a onipotência do Pai, de quem ele é filha; o mistério da Trindade da qual ela é a flor; as verdades do Evangelho, das quais se fez guardiã em seu espírito, meditando-as; a maternidade virginal da Igreja, para a qual oferece o modelo mais apropriado; e ainda os carismas do sacerdócio, para os quais deu a vida gerando o Sacerdote; da virgindade, da qual ela é  a sua raiz e seu coroamento; do casamento, do qual é o exemplo e a glória. Sempre santa, sob todo e qualquer aspecto, santa. A mais próxima de Deus, a mais próxima de nós.

“Santa Maria” era o nome da caravela com a qual Colombo, atravessando o oceano, descobriu um novo mundo. Santa Maria é a nave com a qual nós, desafiando as tempestades, aportamos no eterno Amor.

Se é verdade, como é verdadeiro tudo o que a teologia demonstra, que a Virgem é a “mãe da santidade”, então, invocando-a com familiaridade amorosa e assídua, continuada e premente, externamos um compromisso de viver como cultores da santidade, para sermos verdadeiros filhos Dela.

Maria segue direto pelo seu caminho: diz honestamente o que pensa, faz o que deve. Não usa de sofismas1, como Zacarias, que por isso fica mudo. Maria, porque é simples, enxerga o certo: vê a Deus, que é a simplicidade absoluta; e acolhe o divino, que é a transparência.

Opõe a beleza à fealdade; o espírito inerme às armas materiais; o sorriso ao cepo dos condenados; a verdade às exibições de armas. Ergue a simplicidade contra a carga imensa de complicações com as quais as pessoas vêm dificultando, quase até ao desespero, algo tão natural como é a vida.


12 outubro 2018

Sua mente

INTERPRETE corretamente a frase de Juvenal: mente sã corpo são.

Não é a mente que depende da saúde do corpo. Ao contrário, é o corpo sadio que depende da mente sadia.

Quando o espírito está perfeitamente equilibrado, não há enfermidades que nos ataquem.

Cuide de sua mente, para que a saúde se reflita em todo o seu corpo.

10 outubro 2018

Jesus abandonado expressão culminante da misericórdia do Pai

É Jesus Cristo quem revela o verdadeiro rosto de Deus (cf. MV 1), quem é para todos nós imagem do Pai, sua expressão, seu esplendor, sua beleza, beleza do seu amor (cf. Jo 14,8-9). Mas até que ponto chegou Jesus a nos amar? Até morrer por nós. De fato, a cruz é o modo mais profundo de a Divindade se debruçar sobre a humanidade (cf. DM 8). No cumprimento do mistério pascal, Jesus vence a dor, o pecado, a morte, e transforma tudo em misericórdia (cf. Rm 5,20) Deus se fez homem para amar – afirma Chiara Lubich – não só com o Amor, mas também com a Dor: assumiu sobre Si “todas as dores do mundo, todas as faltas de unidade do universo e as fez: Amor, Deus!” Ele, cobrindo-Se dos nossos pecados, traduz a dor em amor, traduz a miséria em Misericórdia”. Numa cartinha datada de 1945, Chiara confidencia: “Também eu caio com frequência e sempre. Mas quando levanto o olhar para Ele, e o vejo incapaz de vingar-se, porque está pregado na Cruz por um excesso de Amor, eu me deixo acariciar pela sua Infinita Misericórdia e sei que só ela deve triunfar em mim. Para que serviria ser Ele infinitamente misericordioso? Para quê? Se não fosse pelos nossos pecados?” E num impulso vital, que revela a sua escolha original e a sua consagração a Deus no seu abandono, Chiara exclama: “Quisera testemunhar ao mundo que Jesus Abandonado preencheu todo vazio, iluminou toda treva, acompanhou toda solidão, anulou toda dor, cancelou todo pecado”.
Estes são, em síntese, alguns pontos da espiritualidade traçada por Chiara Lubich, vistos na chave da misericórdia na direção da qual o Ano Santo nos impele a voltar o olhar. Não podemos terminar sem um breve aceno a Maria, mãe de misericórdia e mãe da Obra fundada por Chiara e intitulada a ela “Obra de Maria”. “Uma mãe – afirma Chiara – não deixa de amar o filho se ele é mau, não deixa de esperá-lo se está longe, nada mais quer do que reencontrá-lo, perdoá-lo, reabraçá-lo: porque o amor de uma mãe perfuma tudo de misericórdia. (…) O seu amor, por estar acima de tudo, é um amor que tudo quer encobrir, ocultar. (…) O amor de uma mãe é por natureza mais forte do que a morte. (…) Pois bem, se é assim com mães normais, pode-se muito bem imaginar como é com Maria, Mãe humano-divina do menino que era Deus, e mãe espiritual de todos nós! (…) Mas Deus em Maria deposita o seu desígnio para a humanidade (cf. Lc 1,49); em Maria revela toda a sua misericórdia pelos homens”.

09 outubro 2018

Siga em frente

SE alguém não o compreende, perdoe, e siga em frente!
Não guarde em seu coração mágoas e ressentimentos, medo e tristeza. Caminhe para a frente!
Quanta gente espera de você apoio, compreensão e carinho!
Se não o compreendem, não se importe.
Perdoe e siga em frente, por que em todos os caminhos encontraremos sempre lições preciosas, que nos farão progredir.

08 outubro 2018

Canalizar suas forças

NÃO esbanje suas forças mentais com atividades de pouca importância e prejudiciais a você. Dê finalidade elevada a seus trabalhos. A alimentação e o sexo consomem demasiada energia mental, se não forem bem equilibrados. Canalize sua força espiritual e mental para os sublimes interesses da humanidade, para a felicidade das pessoas que o cercam.

07 outubro 2018

Por sua luz

ESPALHE por todos a alegria que vive dentro de você. Seja sua alegria contagiante e viva, a fim de expulsar a tristeza de todos os que o cercam. A alegria é uma tocha de luz que deve permanecer sempre acesa, iluminando todos os nossos atos e servindo de guia aos que se chegam a nós. Se em você houver luz e você deixar abertas as janelas de sua alma, por meio da alegria, todos os que passarem pela estrada em trevas serão iluminados por sua luz.

06 outubro 2018

Você não está abandonado

VOCÊ jamais está abandonado! Absolutamente! O PAI não abandona ninguém Ele veste de plumas multicoloridas as pequeninas aves, enfeita de beleza e perfume as flores e não deixa morrer de fome nem os insetos nem os pequeninos vermes Esteja certo: não cai um fio cabelo de sua cabeça, sem que Ele o permita Confie no PAI!
Você jamais está abandonado!

04 outubro 2018

Sem exageros

NÃO se deixe levar pelo extremismo. Nem exagero para mais, nem para menos. Saiba permanecer no meio termo. Se correr demais, cansará. Se ficar muito parado, acabará consumindo o terreno de baixo dos próprios pés, e dentro de pouco estará pisando uma cova. Não pare, mas também não queira correr demais. Caminhe firme e com segurança, sem pressa, mas não se de tenha jamais na senda do progresso.

01 outubro 2018

Um relacionamento divino


Por meio da vinda do Filho de Deus que se encarnou na nossa terra, pudemos tornar-nos filhos de Deus; filho, como ele, que é Filho do Pai, filho no Filho.
De fato, dentro de nós está presente um tesouro infinito. Nós o descrevemos como uma voragem, como um abismo, como a imensidão, como um sol divino dentro de nós: é a Santíssima Trindade. Temos, assim, a possibilidade de conviver com ela, podemos ouvir o apelo a nos perdemos nela, para nos encontrarmos mais “cristificados”.
E fechando a janela da alma do lado de fora e abrindo-a para dentro, podemos conversar com ela. Trata-se de um convite a permanecermos no Céu dentro de nós, onde vive o Eterno e é o Ser verdadeiro.
Mas não é somente a oração o que a Santíssima Trindade em nós pede. As três Pessoas Divinas, que são o único amor, desejam ter um relacionamento celestial com cada um de nós; e cada Um a seu modo.


 O Pai.
Temos o Pai. No nosso íntimo está presente um Pai.
Aquele Pai Celeste – que deu origem e sustenta a imensa Criação, o cosmo, no qual estamos imersos como uma gota no oceano – está também no nosso pequeno coração.
E esse Pai é pai realmente. São vários os nossos contatos com Ele; Ele é, por exemplo, o destinatário da oração mais divina que podemos recitar: o Pai-Nosso. Nós o invocamos em nome de Jesus para obtermos as graças desejadas. Uma característica nossa é a que enfatiza o nosso carisma, a frase de são Pedro que sugere: lancemos nele todas as preocupações (cf. 1Pd 5,7). E quantas vezes, uma infinidade de vezes, lançamos com fé as preocupações no seu coração, fomos rapidamente libertados delas, que desapareceram, resolvidas pelo seu amor.
Porque é assim que se age com um Pai: confia-se nele com segurança, em relação a tudo. E este é um Pai, o amparo, a certeza do filho que, como uma criança, abandona-se, despreocupada, em seus braços.

O Verbo.
Dentro de nós há também o Filho: o Verbo, que, tendo-se encarnado, é Jesus.
É Jesus que está dentro de nós.
Aprendemos a amá-lo profundamente, por exemplo, nas suas diferentes presenças: na Eucaristia, na Palavra, na unidade entre os irmãos, no pobre, na autoridade que o representa, no fundo do nosso coração.
Mas Jesus está num aspecto particular, que nós reconhecemos e amamos como Esposo da nossa alma: Jesus no seu abandono. E sabemos que Esposo Ele foi e será para nós até o fim da nossa vida.
Foi Ele quem nos amparou em todas as provações da vida, em todas elas, sugerindo-nos como supera-las, como restituir à nossa vida a paz e a força.
Jesus Abandonado: o Esposo da nossa alma!

O Espírito Santo.
Aquele Espírito do qual conhecemos os efeitos divinos: nas pessoas, nas comunidades renovadas pela sua presença, pela sua atmosfera. Aquele com quem – como se fosse um outro “eu” – nós nos confidenciamos com a certeza de que sempre nos responde quando o invocamos, e que nos sugere palavras de sabedoria, que nos conforta, nos sustenta e nos ama com um amor especial como um amigo verdadeiro. É o nosso amigo, o Espírito Santo.
Pai, Esposo, amigo.
O que mais podemos querer? E os três são um, um só Amor, que fez morada no nosso coração.
Reflitamos juntamente com Maria, sobre a qual o Espírito Santo desceu, a potência do Altíssimo, o Pai, estendeu a sua sombra, em quem o Verbo se encarnou.
Mantenhamos e reforcemos com ela esses relacionamentos, enquanto, continuando a viver o momento presente, nos inserimos no presente eterno no qual está Deus, no qual os três vivem, assim como estão presentes no nosso pequeno coração.

30 setembro 2018

Um só é bom


“Seja feita a vontade de Deus” é uma expressão que, na maior parte dos casos, os cristãos proferem nos momentos de dor, quando não há mais o que fazer e, diante do inevitável fracasso de tudo o que se pensava, se almejava e se queria, vindo à tona a fé, se aceita o que Deus estabeleceu. Mas, não é só assim que deve ser feita a vontade de Deus. No cristianismo, não existe apenas a

“resignação cristã”.

A vida do cristão é um fato que tem raízes no Céu, além de tê-las na terra.

Por sua fé, o cristão pode e deve estar sempre em contato com Alguém que conhece a sua vida e o seu destino. E este Alguém não é desta terra, mas de outro mundo; e não é um juiz desapiedado ou um soberano absoluto, que só exige o serviço. É um Pai. Alguém portanto, que é Pai porque está em relação com outros, neste caso com filhos, filhos adotados pelo Único Filho que com ele habita por toda a eternidade.

Portanto, a vida do cristão não é nem pode ser determinada somente pela sua vontade e pelas suas previsões. Infelizmente, muitos cristãos acordam pela manhã na melancolia do tédio, que o dia que desperta trará.

Lamentam-se de muitas coisas passadas, futuras e presentes, porque são eles que traçam o programa de sua vida. E este desígnio, fruto da inteligência humana e de previsões mesquinhas, não pode satisfazer plenamente o homem, ávido de infinito. Eles se substituem a Deus, ao menos no que lhes diz respeito e, como o filho pródigo, uma vez tomada à parte que lhes cabe, desperdiçam-na como querem, sem o conselho do pai, sem a integração na família.

Muito freqüentemente nós, cristãos, somos cegos que abdicamos da nossa dignidade sobrenatural, porque repetimos de fato no Pai-Nosso, quem sabe todos os dias: “Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”; mas não entendemos o que dizemos, nem fazemos, nós ao menos, o que imploramos.

Deus sabe e conhece o caminho que deveríamos trilhar em cada instante de nossa vida. Para cada um ele fixou uma órbita celeste em que o astro de nossa liberdade deveria girar, se ele se abandonasse a quem criou o astro.

Órbita nossa, vida nossa que não contrasta com a órbita de outrem, com o caminho de bilhões de outros seres, conosco filhos do Pai, mas se harmoniza com eles num firmamento mais esplêndido que o estelar, porque espiritual. Deus deve manobrar a nossa vida e arrastá-la numa aventura divina que nos é desconhecida, em que, espectadores e, há um tempo, atores de admiráveis desígnios de amor, damos, momento por momento, o tributo de nossa livre vontade.

            Podemos dar! Não: devemos dar! Ou, pior ainda: conformamo-nos em dar!

Ele é Pai e, portanto, é amor. É o Criador, o nosso Redentor, o Santificador. Quem melhor do que Ele conhece o nosso bem?

“Senhor, seja feita, sim, seja feita, agora e sempre, a tua vontade divina! Seja feita em mim, nos meus filhos, nos outros, nos filhos dos outros, na humanidade inteira.

Tem paciência e perdão para conosco, cegos que não compreendemos e obrigamos o Céu a permanecer fechado e a não derramar sobre a terra os seus dons, porque, olhos cerrados, dizemos com a vida que é noite e o Céu não existe.

Arrasta-nos pelo raio de tua luz, de nossa luz, aquela que o teu amor estabeleceu quando nos criaste por amor.

Força-nos a dobrar os joelhos, a cada minuto, em adoração à tua vontade, a única boa, agradável, santa, nova, rica, fascinante, fecunda; a fim de que, quando chegar a hora da dor, possamos ver também, para além dela, o teu amor infinito. Possamos, plenos de ti, possuir os teus olhos, já aqui na terra, e observar, do alto, o divino bordado que fizeste para nós e para nossos irmãos, em que tudo resulta numa trama esplêndida de amor. E que se atenue do nosso olhar, ao menos um pouco, a visão dos nós que a tua misericórdia, temperada em justiça, carinhosamente atou, lá onde a nossa cegueira rompeu a tua vontade.

Seja feita a tua vontade no mundo e a paz na terra descerá segura, pois os anjos já no-lo disseram: ‘Paz na terra aos homens que ele ama!’ (Lucas 2,14).

E, se Tu disseste que um só é bom, o Pai, uma única é a vontade boa: a do teu Pai.




29 setembro 2018

Vida Trinitária


No Movimento, desde os primórdios tínhamos entendido que a fidelidade ao amor mútuo, vivido segundo o modelo de Jesus crucificado e abandonado (eis aí o “como”!), desembocaria na unidade segundo a vida da Santíssima Trindade.



      “Sabe até que ponto nos devemos amar?” — perguntamo-nos um dia, sem que, até então, tivéssemos conhecido o Testamento de Jesus — “Até nos consumarmos em um.” Como Deus, que, sendo Amor, é Trino e Uno.



      É exatamente “a lei do Céu” — escrevi eu então — “que Jesus trouxe à terra. É a vida da Santíssima Trindade que nós devemos procurar imitar, amando-nos entre nós, com a graça de Deus, como as pessoas da Santíssima Trindade se amam entre si”.



      E o dinamismo da vida intratrinitária é o mútuo e incondicional dom de si, é a total e eterna comunhão (“Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu” [Jo 17,10]) entre Pai e Filho no Espírito.



      Portanto, percebemos que Deus imprimira no relacionamento entre os homens uma realidade análoga. “Senti” — escrevíamos ainda — “que fui criada como um dom para quem me estava próximo e quem me estava próximo foi criado por Deus como um dom para mim. Como o Pai na Trindade está todo para o Filho e o Filho está todo para o Pai.” E “a relação entre nós é o Espírito Santo, a mesma relação que existe entre as Pessoas da Trindade”.


28 setembro 2018

Viver dentro


Queremos converter‑nos Senhor. Até hoje, vivemos "fora", doravante, devemos viver "dentro", como Maria.

 Porque, mesmo o viver "fora", voltado para o próximo ou para as obras ‑ ainda que seja por amor a Deus se não for corrigido por uma força espiritual que atrai a alma continuamente para o seu íntimo, pode tornar-se motivo de divagação, com muito tagarelar inútil, com "coisas santas" dadas aos "cães".

 Viver "dentro", crescer interiormente, desapegar‑se de tudo, não para permanecer suspenso entre o céu e a terra, mas "enraizado" no Céu, fixo no coração de Cristo, através do Coração de Maria, numa vivência trinitária, prenúncio da vida que virá.

 Viver "dentro" e oferecer ao próximo unicamente a seiva que jorra do Céu dentro de nós, a fim de o servirmos realmente e não o escandalizarmos com a nossa tão pouca santidade.

 Viver "dentro", como Maria, a inigualável, a Mãe amada, a Rainha, a Guia que vence Satanás ancorada em Deus e não através de atitudes exteriores tão distantes dela como a terra do céu.

 Viver "'dentro", pregados na cruz por nossas próprias mãos, para que Cristo continue, também através de nós, a obra de reunificação de um mundo volúvel que sofre, que espera, que quer esquecer, que tem medo, e do qual se compadece hoje o nosso coração como ontem se compadeceu das multidões o de Jesus.

 Viver "dentro", para arrastar o mundo que vive apenas "fora", aos abismos dos mistérios do espírito, onde nos elevamos, repousamos, recebemos conforto, ganhamos novas forças e reencontramos alento para voltar à terra e continuar a batalha cristã até a morte.

 Às vezes, levamos muito tempo para nos desprendermos dos negócios, do mundo e das coisas, para

nos recolhermos e nos concentrarmos em Deus; contudo, logo que o fazemos, não mais desejamos voltar atrás, tão suave é para a alma a união com Deus.

 Deus está dentro de nós em solidão e não é possível encontrá‑lo sem que enfrentemos corajosamente, tam­bém nós, a solidão.

 Se Deus mostrasse a uma alma todas as dores que lhe reservou durante a vida, ela morreria no impacto. 0 mesmo aconteceria, se Deus mostrasse todas as ale­grias que a alma experimentará na vida.

 Deus sabe e dosa. A alma não sabe, mas abandona‑se nas mãos de Deus, que a ama.

 Se o silêncio do cimo das montanhas, se a imensa e solitária amplidão do mar, se uma excursão entre o céu azul e a branca rocha, se uma viagem de avião a dez mil metros, exercem uma real atração nas pessoas espirituais porque as levam ao recolhimento espontâ­neo e à oração, como se sentirão envolvidos pela oni­presença de Deus aqueles que, com a fé no coração, puderem afastar‑se desta terra e correr entre os espa­ços!                    

Deus!  Primeiramente 0 escolhes como o Tudo da tua vida, excluindo todo o resto que descobres fátuo e vão. Depois, contemplas com os Seus olhos os homens e as coisas, o mundo e a história, os acontecimentos grandes e pequenos... e 0 amas, presente na natureza e nos séculos.

Finalmente 0 "sentes" no fundo do teu coração. E Aquele, cuja existência aceitavas pela fé, manifestar-se‑á de um modo real, por mística e tangível demonstração. E acreditas que Ele existe, porque Ele está realmente no fundo da tua alma.

Caminhemos pelo mundo, encouraçados em nossa interioridade onde vive Deus. Saiamos somente para servi‑Lo no irmão ou no trabalho, tendo nas atitudes e no olhar a paz -  haurida no silêncio amoroso e infini­to da Santíssima Trindade que habita em nós ‑ e a luz ‑ que jorra como água inesgotável da Sabedoria eterna ‑ densa de alegria puríssima. Testemunhemos assim a

futilidade do mundo que nos circunda, para afirmar­mos, com os fatos, a existência de um outro mundo de maior valor, de maior importância e que há de rei­nar.

 É necessário que a nossa alma se recolha e se encontre com Deus. Se não estiver fixada neste único centro é como um pião que corre desgovernado, batendo de um lado e de outro. Centrada em Deus, cada uma das suas ações adquire significado, cada uma de suas atitudes para com os homens e as coisas se situa num plano sobrenatural. Caso contrário, tudo se esvai e não se percebe mais o motivo da existência.

 Não é verdade Senhor, que toda a nossa vida seja dor.

 Não é verdade, Senhor, que a sombra da cruz amargure todos os dias de nossa existência. É muito mais verdadeiro dizer que, para os que te amam, a dor representa uma grande parte, insubstituível; mas não é a única coisa que encontramos ao seguir‑te, pois vemos sobretudo a Ti, que és Amor, e transformas cada dor em encantamento. Assim a vida é vivida com centuplicado ardor.

Quando o homem se inclina, adorando a Deus presente no seu coração, não tem a sensação de estar se retraindo sobre si mesmo ou diminuindo‑se, mas abre‑se para horizontes mais vastos do que os contemplados pelos que voam pelo céu, mais amplos do que aqueles entre as miríades de estrelas.

 É a dimensão do espírito que supera qualquer limite e mergulha a alma em abismos de amor, onde frequentemente se desfaz em lágrimas porque o contato com Deus, a quem inadequadamente serve, lhe é mais íntimo do que ela própria.

 Se amares a Deus por longo tempo, e Ele te escavar a alma com abismos como só Ele é capaz, sentirás que não é mais possível perdê‑Lo. Se por acaso, a fim de servi‑Lo, tu deixas este colóquio direto, no primeiro instante em que te encontrares só, Ele voltará e Tu lhe falarás e saberás que Ele está presente, pois todo o teu ser clama por Ele só e, sem Ele, és como um nada sem sentido.

 Sem dúvida, Senhor, deves dominar o mais íntimo da alma dos teus servos, pois que muitas vezes, quando eles se recolhem para trabalhar, Tu os atrai para o mais íntimo do seu ser a fim de que retifiquem a intenção, segundo a tua vontade e te ofereçam, qual incenso, tudo o que fizerem.

 Quando reencontramos na solidão o contato contigo, reencontramos o contato com os homens e com as coisas, não como escravos mas como filhos de Deus.

 Alegrias e dores, consolações e angústias, arrependimentos e ressurreições, permissões de Deus e luminosas vontades suas, conquistas e perdas dolorosas, aprovação dos homens e difamações, lenta edificação de obras para a glória de Deus e florescer de conversões, tudo, ainda que no meio do joio de Satanás, semeado por toda parte, tem sempre, se amamos a Deus, um só destino, um único motivo: levar‑nos à união com Deus.

 Que sempre resplandeça no íntimo de nosso coração e tudo viva em função de Ti, em torno de Ti. Depois, não importa onde, como, se ou mas...

 Senhor, faze com que vivamos e voltemos com frequência, durante o dia escuro desta vida, ao outro Reino que está acima de nós, dentro de nós e que existirá depois de nós: o Reino onde o teu Nome é santificado, o Reino cujo advento, não será mais necessário pedir, após a chegada de todos.

 Ali vivem os Santos, os Bem‑aventurados, com a Virgem e o teu divino Filho na Trindade. E lá podemos de vez em quando nos retirar, a fim de trazermos para este mundo fátuo e vazio, órfão e solitário, triste e cheio de melancolia, aquele amor indefinível e suavíssimo que tudo anima, tudo penetra.

 Senhor, toma a nossa vida de tal forma imbuída de sobrenatural que, quando estivermos sós, caminhando, trabalhando ou estudando, quem passar ao nosso lado sinta o teu perfume. E quando juntos, quem nos encontrar sinta‑se fortemente atraído, a mergulhar no Reino de Deus, presente no meio de nós.

Quando a hélice de um avião gira vertiginosamente, não se consegue mais vê‑Ia. Quando uma alma

ama com intensidade, perde o seu peso humano e toma‑se transparente.

 Se, todavia, a hélice em movimento é tocada pelo sol, reluz em todo o seu esplendor. Do mesmo modo a alma que "vive". Em cada encontro com Deus transborda de Luz e canta com Maria: “A minha alma glorifica o Senhor"'.

 Às vezes, Senhor, existe algo no íntimo dos corações dos teus filhos, que atrai mais fortemente que inúmeras preferências naturais ou espirituais; algo mais puro que o ar do alto das montanhas algo mais vivo que qualquer outra vida, mesmo plena, pois ela parece loucura ou distração, diante da voz imperiosa que se ouve interiormente com grande ressonância.

"Jamais colherei uma flor," diz S. João da Cruz, para nos ensinar a não pararmos nas consolações terrenas... Sim, "jamais colherei uma flor" Te repetem estas almas, porque a flor das flores nasceu no fundo do pântano dos seus corações, como um milagre divino.

Aqueles que Te amam com sinceridade, não raro Te sentem, Senhor, no silêncio do seu quarto, no profundo do seu coração, e esta sensação comove a alma como se cada vez atingisse o seu íntimo.
E Te agradecem por estares tão próximos deles, por seres tão plenamente o seu Tudo: aquele que dá sentido ao viver e ao morrer.

Agradecem‑Te, mas muitas vezes não sabem fazê‑lo nem dizê‑lo. Sabem apenas que Tu os amas e que eles Te amam e que não existe algo mais suave aqui na terra que de longe ao menos lhe possa ser comparável. 0 que sentem na alma, quando Tu apareces, é Paraíso e "se o Paraíso é assim ‑dizem ‑ oh! como é esplêndido!”

 Agradecem‑Te, Senhor, pela vida inteira, por conduzi­-los até aqui. E se exteriormente ainda existem nuvens que poderiam ofuscar o seu paraíso antecipado, quan­do Tu Te manifestas, tudo se toma remoto e distante: nada existe. Tu existes. Assim é.

Se não fecharmos as janelas da nossa alma com o recolhimento, Tu não poderás, Senhor, entreter‑Te conosco, como o teu amor, às vezes, desejaria.

 Nós somos tão mesquinhos que, muitas vezes, para não fazermos o menor esforço, reduzimos a nossa alma a uma praça, onde todas as coisas do mundo surgem, entram e conversam. Deste modo, Tu, que nos ensinaste que não é bom dar as coisas santas aos cães, Tu que és o Santo, não Te podes dar a nós, embora muitas vezes o queiras, embora o nosso esforço, por pouco que seja, fosse imensamente recompensado pelo teu amor. Pois ele nos confortaria e sustentaria, dando‑nos a força para viver uma vida mais real no meio do permanente outono do mundo.

 Pode‑se chegar a um ponto em que uma palavra diz à alma todo um conteúdo divino, tão pleno, tão novo, que basta a própria palavra para exprimi‑lo, embora se perceba que ela não é suficiente para comunicá‑lo aos outros. Por exemplo: "Jesus", "Maria".

O grão de trigo desenvolve a sua vida debaixo da terra, coberto por uma camada de neve. De maneira análoga, a alma amadurece a sua união com Deus, isolada por uma camada de abandono.


27 setembro 2018

Viver a vida


O cristão é chamado a viver a vida, a nadar na luz, a abismar-se nas cruzes, mas não a enlanguescer. Nossa vida, ao contrário, às vezes é apagada; a inteligência, obscurecida; à vontade, indecisa. É que, educados neste mundo, fomos acostumados a viver uma vida individualista, que está em contradição com a vida cristã.

Cristo é amor e o cristão não pode deixar de sê-lo. E o amor gera a comunhão, a comunhão como base da vida cristã e como vértice.

Nesta comunhão, o homem não vai mais sozinho até Deus, mas caminha para Ele em companhia. Isto é um fato de incomparável beleza, que faz ressoar dentro da alma o versículo da Escritura: <Como é bom, como é agradável habitar todos juntos, como irmãos! (Sl 133[132],1).

A comunhão fraterna é uma conquista perene, com o resultado contínuo não só de manter esta comunhão, como de propagá-la entre muitos, porque a comunhão é amor, é caridade, e a caridade é difusível por natureza.

Quantas vezes, entre irmãos que decidiram caminhar unidos para Deus, a unidade enlanguesce, uma poeira se interpõe entre alma e alma, e cai o encanto, porque a luz que surgira entre todos lentamente se apaga!

Esta poeira é um pensamento ou um apego do coração a si mesmo ou aos outros; é amar a si mesmo por si mesmo e não por Deus; ou ao irmão ou aos irmãos por si mesmo e não por Deus; outras vezes, é o retrair a alma que se lançara pelos outros; é concentrar-se no próprio eu, na própria vontade, e não em Deus, no irmão por Deus, na vontade de Deus.

É amiúde um juízo incorreto sobre quem vive conosco.

Havíamos dito que queríamos ver somente Jesus no irmão, que trataríamos com Jesus no irmão, que amaríamos a Jesus no irmão, mas agora vem à mente a lembrança de que aquele irmão tem este ou aquele defeito, tem esta ou aquela imperfeição.

O nosso olhar se complica e o nosso ser não está mais iluminado. Consequentemente, rompemos a unidade, errando.

Talvez aquele irmão, como todos nós, tenha cometido erros; mas como Deus o vê? Qual é, na realidade, a sua condição, a verdade do seu estado? Se está em ordem diante de Deus, Deus não se lembra de mais nada, já cancelou tudo com o seu sangue. E nós, por que lembramos?

Quem está errado naquele momento? Eu, que julgo, ou o irmão? Eu.

Devo, pois, dispor-me a ver as coisas na perspectiva de Deus, na verdade, e tratar de igual modo com o irmão, pois, se por infelicidade, ele ainda não se tivesse reconciliado com o Senhor, o calor de meu amor, que é Cristo em mim, poderia induzi-lo ao arrependimento, assim como o sol absorve e cicatriza tantas chagas.

A caridade mantém-se com a verdade e a verdade é misericórdia pura com a qual devemos estar revestidos dos pés à cabeça, para podermos nos dizer cristãos.

O meu irmão retorna?

Devo vê-lo novo, como se nada houvesse acontecido e reiniciar a vida junto com ele, na unidade de Cristo, como da primeira vez, porque nada mais existe. Esta confiança o salvaguardará de outras quedas. E eu também, se com ele tiver usado tal medida, poderei ter esperança de ser, um dia, por Deus assim julgado.

26 setembro 2018

O QUE IMPORTA? AMAR-TE IMPORTA!



      O tempo é um lampejo e, em nossas mãos, só existe o instante efêmero. Ancorai-o em Deus e, ao passar, realizai apenas obras para o céu!

      Amai-o!

      Escutai o que Ele quer de vós em cada momento de vossa vida.

      Fazei isso com todo o ímpeto de vosso coração…

      Enamorai-vos de Deus, porque enamorar-se de Deus significa enamorar-se de sua vontade.

      Se, no momento presente, toda a nossa vida for um sim à vontade de Deus repetido com igual intensidade, veremos realizado de fato aquilo que tanto pedimos e por que tanto ansiamos: ser Jesus.

      Voltei de Trento, onde aquelas ruas, aquelas casas, aquele céu lembravam o grito do nosso coração de primeiras Gen2: “O que importa? Amar-te importa!”

      Pois é, nada tem valor: nem sofrer, nem se alegrar, nem trabalhar, nem conquistar o mundo. Só vale o Amor que, por Jesus, colocamos no momento presente da vida, vivida com seriedade.


25 setembro 2018

A cruz de cada dia


Vivendo o presente, podemos notar que — se for bem vivido — é sempre possível pôr em prática as palavras de Cristo: “Tome a sua cruz” (cf. Mt 16,24). Cada momento, quase, tem a sua cruz: pequenas, insignificantes ou grandes dores espirituais ou físicas, que acompanham a nossa vida no presente. É preciso “tomar” estas cruzes, não procurar esquecê-las, refugiando-se em uma vida sem compromisso.


E, mesmo que tudo seja saúde e alegria, é aconselhável vivermos isso desapegados, embora sendo gratos a Deus, e não nos inclinarmos avidamente para o dom, em vez de para o Doador, ficando depois tristes, com um vazio na alma.


24 setembro 2018

A pérola preciosa


Chiara, você nos disse, no “Pensamento espiritual” [1], que devíamos contar todos os dias os atos de amor a Jesus abandonado e oferecê-los cada noite a ele. Você nos comunicou também sua experiência a este respeito. Poderia nos contar alguma coisa mais?

Esses atos de amor, que são expressões de uma preferência por Jesus Abandonado diante de tudo o mais, levam-me a viver experiências especiais.
Antes de mais nada, sinto uma grande liberdade de espírito, porque com esses atos me liberto de tudo o que possa ser uma forma de apego.
Vivo, por este motivo (assim o espero), sempre com o Ressuscitado em meu coração e, portanto, com a alegria dada por ele.
Posso, através desses atos, dizer que amo a Deus de todo o coração, mente, forças, porque não dou valor a nada, a não ser à sua vontade.

Compreendo um pouco melhor a bem-aventurança: «Felizes os mortos que desde agora morrem no Senhor» (Ap 14,13). Então, estando desde já mortos a nós mesmos, nos preparamos para “aquela hora”.

Experimentamos o “nada” [2] de tudo, o olvido que tanto atrai, porque todas as coisas lhe são sacrificadas. Só ele permanece, dominando a vida.
Creio que Jesus aprecia uma vida concebida assim, e eu me “agarrei” a ela como àquela pérola preciosa da qual fala o Evangelho. Parece-me que não se pode encontrar nada melhor. Penso que foi Maria quem no-la indicou.
 

[1]              Mensagem enriquecida de notícias, transmitida por Chiara Lubich, através de conferência telefônica, uma vez por mês, aos Centros do Movimento dos Focolares e, depois, repassada a todos os seus membros.
[2]              O “nada”, de que fala são João da Cruz, é a etapa da santidade na qual a alma reconhece que Deus é tudo e vive, como um nada, abandonada nas mãos dele.

23 setembro 2018

A paz não foi derrotada


Devemos voltar a dar espaço à vida espiritual autêntica, fundamento da paz e do desarmamento global dos corações e dos exércitos, atuando uma verdadeira revolução: colocar Deus no centro da nossa existência, como já escrevíamos no dia seguinte ao atentado às Torres Gêmeas.

Quando agimos assim – como podemos comprovar em muitas partes do mundo –, o diálogo entre fiéis de religiões diferentes torna-se muito mais fácil, e não se utiliza mais a religião "para fomentar a violência (...), recorrendo até mesmo ao nome sacrossanto de Deus para ofender o homem", como disse o papa em janeiro 2002, por ocasião do encontro de líderes religiosos em Assis.

O aspecto mais visível da unidade é a fraternidade.

Ao que me parece, ela é certamente o caminho mais adequado para remar de volta rio acima, para sanar chagas já supuradas e para alcançar mais plenamente também a liberdade e a igualdade.

Aquela fraternidade que Jesus trouxe à terra fazendo-se nosso irmão e tornando-nos irmãos. É um caminho válido para quem tem nas mãos os destinos da humanidade, mas também para as mães de família, para os voluntários que levam ações de solidariedade pelo mundo, para quem coloca à disposição parte dos lucros da própria empresa a fim de eliminar espaços de pobreza, para quem não se rende à tentação de fazer guerra.

Assim, a fraternidade vinda "do alto" e aquela construída a partir "de baixo" encontrar-se-ão na paz.

O plano de Deus para a humanidade é justamente a fraternidade, que é possível de ser construída também com as pessoas de outros credos e de outras convicções, porque o amor fraterno está no DNA de todo homem, criado à imagem e semelhança de Deus.

Até mesmo o desenvolvimento tecnológico é favorável à fraternidade: a globalização nos oferece instrumentos extraordinários para a sua difusão.

Hoje, os meios de comunicação globalizam o medo, mas poderiam também globalizar a esperança.

Por que não usamos esses meios para unir os corações e dividir os bens?

Não nos rendamos, portanto! Das guerras, até mesmo das mais terríveis, muitas vezes surgiram surpresas morais inesperadas e energias inimagináveis.

E, quem sabe, a Providência Divina se servirá algumas vezes de situações de destruição provocadas pela liberdade do homem para construir, como novidade absoluta, aquilo que é necessário para dar novo alento à humanidade.

E muitos são os sinais de que, da grave conjuntura internacional, possa finalmente emergir uma nova consciência da necessidade de trabalhar juntos para o bem comum.

Todos juntos: povos mais ricos e menos ricos, sofisticados ou não nos seus armamentos, confessionais ou não, que têm a coragem de "inventar a paz".

Acabou o tempo das "guerras santas". A guerra nunca é santa, e nunca o foi.

Deus não a quer.

Só a paz é realmente santa, porque o próprio Deus é a paz.
Peçamos a ele, sem descanso, que nos presenteie com a sua paz.

22 setembro 2018

A felicidade

Talvez nunca como nestes últimos tempos sentimos a alegria de viver. E uma alegria pura jamais experimentada e nasce do fato de que: conseguimos encontrar!
Podemos até repetir uma frase que é a aspiração mais sincera de toda a humanidade: encontramos a felicidade.
É preciso, porém, experimentar esta felicidade, para compreender o que ela é.
Esta alegria puríssima só pode ser Deus. Aquele Deus que encontramos a cada instante, perdendo tudo no momento presente para sermos só a Sua vontade viva.
Creio que é um estado da alma, talvez um pequeno degrau alcançado, do qual, invocando o Senhor, com a esperança exclusivamente n’Ele, pedimos para não descer mais.
Não, porque esta felicidade em nós, coincide com a glória de Deus, com a extrínseca glória que a nossa alma pobre, porém tão amada por Deus, pode oferecer-lhe.
Encontramos verdadeiramente a pérola preciosa pela qual vale a pena vender tudo, perder tudo.
É Deus, o único que nos restará, daqui a pouco, ao passarmos para a eternidade, onde a nossa Mãe nos espera, sem dúvida contente de nos ter servido de “caminho” com a sua “desolação”.

21 setembro 2018

A IMENSIDÃO DE DEUS


Rocca di Papa, 22/01/87.



Caros amigos,



Desta vez gostaria de comunicarlhes uma pequena experiência que vivi nestes dias. Num momento de repouso, assisti a um documentário sobre a natureza. Ao contrário de outras transmissões feitas pela TV, que muitas vezes trazem à alma a poeira do mundo e deixam no coração um vazio (por isso precisamos ter muita prudência no uso deste veículo de comunicação), este programa produziu um grande efeito em minha alma.

            Contemplando a imensidão do universo, a extraordinária beleza da natureza, a sua potência, elevei-me espontaneamente ao Criador de tudo e compreendi de uma maneira toda original a imensidão de Deus. Esta impressão foi tão forte, tão nova, que me veio até mesmo o desejo de me ajoelhar para adorar, para louvar, para glorificar a Deus. Senti necessidade de fazêlo, como se fosse essa a minha vocação atual.

            E, como que se meus olhos se abrissem agora, compreendi mais do que nunca quem é Aquele a quem escolhemos por ideal, ou melhor, Aquele que escolheu a nós. Descobrio tão grande, tão imenso, a ponto de me parecer impossível que Ele tivesse pensado em nós. Esta impressão da sua grandeza permaneceu em meu coração por dias e dias.

            Dizer agora << santificado seja o vosso nome ... >> ou  <<Glória ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo>> é muito diferente para mim. É uma necessidade do coração.

Caros amigos, Ottorino deixounos menos de três meses após a morte de Lionello. Ambos concluíram a sua Santa Viagem, como também Marilen, Aldo, Margareth e muitas outras pessoas queridas do nosso Movimento 1. Qual a tarefa deles agora no Céu, onde espero se encontrem (inclusive pela ajuda que todos nós juntos pudemos darlhes)?

            Para os habitantes do Céu, a principal tarefa é louvar a Deus, glorificálo, adorálo. Agora eles o vêem e não podem deixar de expressar todo o louvor possível.

            Nós estamos a caminho. Normalmente enquanto viajamos já pensamos no ambiente que nos acolherá na chegada; já pensamos na paisagem, na cidade, já nos preparamos. É assim também que nós devemos fazer agora. No Céu, louvaremos a Deus? Louvemolo então desde já. Deixemos que o nosso coração manifeste a Ele todo nosso amor; que, juntamente com os anjos, com os santos, com os mariapolitas celestes, proclame: “Santo, Santo, Santo!”

            Expressemos nosso louvor com as palavras e com o coração. Aproveitemos para reavivar aquelas orações que fazemos diariamente com esta finalidade. E demos glória a Ele também com todo o nosso ser.

            Sabemos que quanto mais nos anulamos (tendo por modelo Jesus Abandonado *0 que se reduziu a nada), tanto mais gritamos com a nossa vida que Deus é tudo e, portanto, o louvamos, o glorificamos, o adoramos. Mas, agindo dessa forma, também o nosso "homem velho" (cf. Ef 4,22) morre, e com a sua morte vive o "homem novo" (cf. Ef 4,24), a "nova criatura" (cf. Cor 5,17).

            Eis um outro modo de colocar em prática a Palavra de Vida do mês, que fala justamente da nova criatura, de Cristo em nós 2.

            Teremos diante de nós, como de costume, outros quinze dias para viver esta Palavra, se Deus o permitir. Procuremos vários outros momentos durante o dia para adorar a Deus, para louválo. Façamolo durante a meditação, em uma visita ao Santíssimo numa igreja, ou durante a missa. Louvemos a Deus para além da natureza ou no Intimo do nosso coração. E principalmente, vivamos "mortos" para nós mesmos e vivos para a vontade de Deus, para o amor aos irmãos.

            Sejamos, também nós, como dizia Elizabete da Trindade, “um louvor da sua glória” 3.

            Assim anteciparemos um pouco o Paraíso. E repararemos a indiferença que muitos corações hoje no mundo têm para com Deus.

20 setembro 2018

O AMOR – SÍNTESE DE TODAS AS PALAVRAS (A ARTE DE AMAR)


         Na meditação anterior, falamos do Evangelho, de como viver a Palavra de Deus. Desta vez, falaremos do amor, que é síntese de todas as palavras do Evangelho.

         Mas o amor que Jesus trouxe à terra é muito rico e, para vivê-lo bem, é necessário conhecer uma arte, ou seja, a arte de amar.

Ela significa um modo de viver, um “coquetel” espiritual, todo especial, no qual são contempladas todas as exigências evangélicas.

Chiara, no seu discurso no Capitólio, na ocasião em que recebeu a cidadania honorária de Roma, fez da Palavra o ponto central da sua mensagem. “A verdadeira arte de amar – afirmou – emerge toda do Evangelho de Cristo (...) É o segredo da revolução que permitiu aos primeiros cristãos invadirem o mundo então conhecido. É uma arte que exige esforço...”

         Ela requer, antes de tudo, que se supere o limitado horizonte do amor natural, dirigido simplesmente de uma forma quase exclusiva à família, aos amigos. Esse amor deve ser destinado a todos: ao simpático e ao antipático, ao bonito e ao feio, a quem é da minha pátria e ao estrangeiro, da minha religião ou de outra, da minha cultura ou de outra, amigo ou adversário ou até mesmo inimigo. É necessário, portanto, amar a todos como faz o Pai do Céu, que manda o sol e a chuva sobre os bons e sobre os maus” (Mt. 5,45).

         Este, portanto, é o primeiro ponto da arte de amar, como Chiara a propõe: amar a todos, sem distinção.

         Passemos, então, ao segundo ponto da arte de amar, aquele que, à primeira vista, pode parecer o mais árduo, o mais difícil de ser atuado.

         É aquele amor que, na escola do amor, nunca acabamos de aprender. Ele tem uma característica que o torna semelhante ao amor que Deus tem por nós.

         Um amor à imagem e semelhança de Deus: Amor “incriado” nele, amor “criado” em nós, mas um amor que ama primeiro.   

         “Não se pode amar a Deus primeiro, porque Ele nos precedeu e sempre nos precede no amor”, diz Chiara.

         Mas nós podemos, ou melhor, devemos sempre ser os primeiros a amar o nosso próximo. É isso que torna autêntico e desinteressado o nosso amor ao irmão. É um amor que, como o amor de Deus, não espera nada, não espera um gesto, uma palavra, um sorriso, para começar a amar, mas toma sempre a iniciativa.

          Agora, vejamos a terceira exigência: o amor verdadeiro não consiste somente em palavras ou sentimentos, mas é concreto. Atua-se bem o amor “fazendo-se um” com o próximo.

         É este um ponto crucial da arte de amar, que se tornou característica essencial da vida do Movimento.

         “Fazer-se um” são duas palavras mágicas – assim Chiara as definiu - que exprimem o nosso modo de amar.

         A verdadeira interpretação da palavra “amor”, “amar”, é o “fazer-se um”: penetrar na alma do outro o mais profundamente possível; entender verdadeiramente os seus problemas, as suas necessidades: carregar os seus pesos, assumir as suas preocupações e os seus sofrimentos.

         Então, terá significado o dar de comer, dar de beber, dar um conselho, oferecer uma ajuda.

         Chiara nunca escondeu as dificuldades desta práxis evangélica.

“Fazer-se um” – ela adverte – não é uma coisa simples.

         “Fazer-se um” exige um vazio completo de nossa parte: tirar todas as idéias da nossa mente; todos os afetos do coração, afastar tudo da nossa vontade, para nos identificarmos com os outros.”

         Mas, “Ele quer que, a cada dia, a cada hora, nos aperfeiçoemos nesta arte, às vezes cansativa e extenuante, mas sempre maravilhosa, vital e fecunda, de “fazer-se um” com os outros: a arte de amar.”

          E, finalmente, o quarto ponto da arte de amar.

         É necessário amar Jesus no irmão. Esta postura é imediata e clara, se pensarmos no Juízo Final, quando Jesus dirá aos bons: “Vinde benditos do meu Pai, recebei por herança o reino preparado para vós desde o princípio do mundo. Pois tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber. (...)”

         Então, os justos lhe responderão, dizendo: “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? (...)” Respondendo, o rei lhes dirá: “Em verdade vos digo: toda vez que fizestes estas coisas a um só dos meus irmãos menores, fizestes a mim” (Mt. 25, 34-40).

         Quando amamos um irmão ou uma irmã é, portanto, também Jesus que se sente amado neles.



Preparado por Enzo M. Fondi