"Eu daria tudo que tivesse pra voltar aos dias de criança. Eu não sei pra que a gente cresce se não sai da gente essa lembrança..." (Ataulpho Alves)
27 abril 2021
O carisma da unidade e a pedagogia
26 abril 2021
Com coração de mãe
Façamos este propósito: vou comportar-me com todas as pessoas de quem me aproximar, ou para quem trabalhar, como se fosse a mãe delas.
A mãe sempre acolhe, sempre ajuda, sempre espera, tudo cobre. A mãe perdoa tudo ao filho, mesmo que ele seja um delinquente ou um terrorista.
De fato, amor de mãe é muito semelhante à caridade de Cristo, de que fala Paulo.
Se tivermos um coração de mãe ou, mais especificamente, se nos propusermos a ter o coração da Mãe por excelência, Maria, estaremos sempre prontos a amar os outros em todas a circunstâncias.
Amaremos a todos e não apenas aos membros da nossa Igreja, mas também aos membros das outras. Não apenas os cristãos, mas também os muçulmanos, os budistas, os hinduístas etc. Inclusive os homens de boa vontade, inclusive cada homem que vive na terra. Porque a maternidade de Maria é universal, como universal foi a Redenção.
25 abril 2021
Servir
Amar quer dizer servir. Jesus nos deu o exemplo. Primeiro, com a morte de cruz favoreceu a humanidade inteira que foi, que é e que será. Mas depois, deu-nos também o exemplo quando lavou os pés. Era Deus, e nos lavou os pés, a homens. Portanto, também nós podemos lavar os pés dos nossos irmãos.
Podemos, não. Devemos. Isso é o cristianismo: servir, servir a todos, reconhecer patrões em todos. Se nós somos servos, os outros são patrões.
Servir, servir. Procurar alcançar a primazia evangélica, sim, mas pondo-nos a serviço de todos.
A serviço… Eis uma ideia que pode revolucionar o mundo. O cristianismo não é uma brincadeira, o cristianismo é uma coisa séria, não é uma mão de verniz, um pouco de compaixão, um pouco de amor, um pouco de esmola.
O cristianismo é exigente, é plenitude de vida.
24 abril 2021
A caridade
Amar. Deus convoca todos os cristãos a amar. É porque, no cristianismo, o amor é tudo.
Santo Agostinho, mestre da caridade, diz em tom muito forte:
“Só o amor diferencia os filhos de Deus…
Se todos fizessem o sinal da cruz (que é um ato religioso), se todos dissessem amém e cantassem o aleluia (ou seja, se praticassem as liturgias, que são muito importantes, mas só fizessem isso…); se todos recebessem o batismo e entrassem nas igrejas, se mandassem erguer as paredes das basílicas, permaneceria o fato de que só a caridade distingue os filhos de Deus…
Quem possui a caridade nasceu de Deus, quem não a possui não nasceu de Deus. Eis o grande critério de discernimento.
Se tu tivesses tudo, mas te faltasse essa única coisa, de nada serviria o que tens. Se não tens outras coisas, mas possuis essa, cumpriste a lei…”
23 abril 2021
Trabalho a dois
22 abril 2021
A coragem do perdão
21 abril 2021
Chiara Lubich: saúde, repouso e esporte
20 abril 2021
O amor do próximo e as doze estrelas
Caros amigos,
[…]
Vocês se lembram das doze estrelas de São João da Cruz? Segundo ele, aquele que é perfeito, aquele que é santo, tem na alma o brilho das doze estrelas. São elas: o amor de Deus, o amor do próximo, a castidade, a pobreza, a obediência, a oração, o coro (isto é, a oração em comum), a humildade, a mortificação, a penitência o silêncio e a paz.
Nestes dias pude constatar como estas doze estrelas resplandecem mais na nossa alma quando amamos o próximo. E para melhor nos convencermos, vamos retomá-las, uma a uma.
O amor de Deus. Será que este amor se torna mais vivo no nosso coração, quando amamos o próximo? Certamente que sim. Vocês conhecem o exemplo da plantinha que, quanto mais afunda suas raízes no terreno, mais se lança em direção ao sol. Assim, quanto mais amamos o próximo, mias brilhará em nós a estrela do amor de Deus.
Segunda estrela: o amor do próximo. É justamente aquilo que nós queremos praticar bem.
Terceira: a castidade. O próprio Estatuto do Movimento dos Focolares afirma que a melhor salvaguarda da castidade é o amor do próximo. O que é compreensível: quando alguém ama, pensa nos outros, e não fica procurando satisfazer as próprias paixões.
Quarta estrela: a pobreza. Como todos nós sabemos, nós não amamos a pobreza em função dela mesma. A pobreza típica dos membros do Movimento é justamente aquela que nasce do fato de dar ao próximo algo nosso. Somos pobres porque doamos aos outros, porque colocamos em comum com os outros, de várias maneiras, tudo aquilo que possuímos.
Quinta estrela: a obediência. A primeira obediência é devida a Deus, ao carisma que o Espírito Santo nos doou. Esse carisma nos ensina que o nosso caminho é justamente amar o próximo. Portanto, praticando a caridade aperfeiçoa-se a obediência.
Sexta estrela: a oração. Sabemos que esta atitude de alma cresce em perfeição, sublima-se, à medida que se desenvolve a união com Deus. Mas esta, por sua vez, é incrementada através do amor ao próximo. Portanto, também a estrela da oração brilha mais quando praticamos o amor para com os irmãos.
Sétima estrela: o coro. O amor ao próximo é um estímulo para a oração em comum. Quando amamos o irmão, realmente, como a nós mesmos, quando somos um com ele, não sentimos, por acaso, o desejo ou quase a exigência de senti-lo unido conosco também na oração?
Oitava estrela: a humildade. A verdadeira humildade é a anulação de si mesmo, apagar-se completamente. E isso se realiza perfeitamente quando amamos, quando vivemos o outro.
Nona estrela: a mortificação. Amando o próximo como Jesus quer não somente estaremos “mortificados”, mas “mortos”.
Décima estrela: a penitência. A primeira penitência que Deus ama e quer de nós é aquela que está implícita no amor ao próximo.
Décima primeira estrela: o silêncio. Com o amor ao próximo pratica-se o silêncio e se evitam as palavras inúteis. Primeiramente porque, para “fazer-se um”, é preciso fazer calar tudo dentro de nós. E este é o silêncio mais sublime.
Em segundo lugar porque, existindo o amor no nosso coração, estará presente também o Espírito Santo, que é justamente quem difunde o amor nos corações; e quanto mais nós o amamos, mais fortemente Ele fala em nós. E entre outras coisas Ele nos diz: “Cala-te aqui, cala-te ali…”.
Décima segunda estrela: a paz. Amando o próximo, adquire-se realmente a paz. Ela é fruto do Espírito Santo que se encontra justamente lá onde existe o amor.
Caros amigos, amemos, portanto! Amemos sempre! Amemos ainda! Que possamos admirar essas doze estrelas mais luminosas no firmamento da nossa alma.
Se fizermos um exame do estado de nossa alma veremos que é exatamente assim. E é isso que eu desejo a todos de todo o coração.
Chiara Lubich
(C.LUBICH, A VIDA, UMA VIAGEM, São Paulo, 1984, p. 116-119)
19 abril 2021
Prontos a pôr a vida em jogo
Ao procurar amar a Deus e aos irmãos, entendi que nós, cristãos, só somos realmente o que devemos ser se amamos, ou seja, se não pensamos em nós mesmos, mas em Deus, na sua vontade, que é principalmente esta: que amemos o próximo.
Deus nos pede isto: para sermos, para sermos realmente o que devemos ser, para “nos realizarmos” como cristãos, devemos não ser, devemos viver fora de nós mesmos, viver, por assim dizer, “extáticos” [“em êxtase”]. Viver não a nossa vontade, mas a de Deus. Viver o irmão. Então, somos realmente o que devemos ser. Caríssimos, pois eu também procurei viver assim, amar. Mas percebi que existe amor e amor.
Vi que possuirmos uma determinada compreensão dos outros, interessarmo-nos um pouco por suas dores, procurarmos carregar de algum modo as suas opressões, […] não é suficiente para sermos como Jesus nos quer. Deus nos pede um amor, atos de amor que tenham (ao menos na intenção e na decisão) a medida do seu amor: “Amai-vos”, disse Ele, “como eu vos amei” (cf. Jo 13,34).
Por isso, é preciso estar sempre prontos a morrer pelo irmão, e o que fizermos para lhe demonstrar concretamente o nosso amor, momento por momento, deve ser animado, sustentado, por essa vontade, por essa decisão.
Só um amor assim agrada a Jesus; não um amor qualquer, não um verniz de amor, mas um amor tão grande a ponto de colocar a vida em jogo. […]
E então? […] Toda vez que encontrarmos um próximo, ou falarmos com ele por telefone, ou entrarmos em contato com ele por carta, ou prepararmos para ele uma palestra, ou executarmos a seu serviço o nosso trabalho diário, perguntemo-nos sempre: Estou pronto a morrer por ele?
Agindo assim – estou certa –, a nossa vida de amor dará um salto de qualidade, um grande salto de qualidade. Então é isso. Dez, vinte vezes ao dia (toda vez que fizermos alguma coisa pelo próximo), perguntemo-nos: Estou pronto a dar a vida por ele?
18 abril 2021
A medida do “fazer-se um”
Estamos ainda no clima de festa que marcou a canonização do padre Maximiliano Kolbe.
Os jornais a noticiaram, a televisão projetou filmes sobre ele, suas biografias, novas e velhas, estão em circulação. E nós também ficamos tocados.
Entretanto, ao folhearmos uma dessas biografias, o que mais nos impressionou foi o fato de que o novo santo (tão próximo a nós pelo seu amor apaixonado a Nossa Senhora e por ter amado com a medida de Jesus, até dar a própria vida), diante de um prisioneiro destinado a morrer de fome no bunker da morte – pessoa que ele não conhecia, mas que se tornou seu próximo naquele momento presente de sua vida –, esqueceu, de repente, toda a grande obra (que estava realizando, não por interesse próprio, mas em benefício do Reino de Deus), toda a vasta atividade editorial, as suas cidadezinhas da Imaculada, os seus filhos [espirituais], as suas cartas (vi-o, em uma foto, diante de uma escrivaninha abarrotada), para tomar o lugar de outro.
Será que padre Maximiliano Kolbe não podia pensar que, com aquela Obra, que ele suscitara na Igreja, ele poderia glorificar mais a Deus estando vivo do que morto? Mas, ao contrário, ele não titubeou e ofereceu a sua vida para salvar a vida de um pai de família.
Caríssimos, muitas vezes também cumprimos obrigações durante o dia, que são importantes, ao menos aos nossos olhos. E, às vezes, no momento em que estamos dedicados a isso, somos “perturbados” – é o que pensamos – por algum próximo, que entra, imprevisto, em nossa vida pedindo-nos algo, ou pessoalmente, ou por telefone, ou por carta, ou de outra forma.
Então, “inchados” pela importância (assim nos parece) do trabalho que estamos realizando, não lhe dirigimos sequer um olhar, não damos atenção a um pedido seu, dispensamo-lo, quando não deixamos de tratá-lo bem.
Vem então padre Kolbe dar-nos uma lição solene a esse propósito. Não é assim que amamos o próximo, não é assim que servimos: diante de cada um, devemos saber esquecer (embora por poucos segundos, se o dever nos chama para outra coisa) tudo o que fazemos de bom, e de grande, e de útil, e estar prontos a “nos fazermos um” com ele totalmente, a “nos fazermos um” com a medida do saber morrer pelo outro. Isso é vida cristã.
17 abril 2021
Melhorar o “fazer-se um” com a obediência
De uma conferência telefônica
Rocca di Papa, 24 de dezembro de 1987
A obediência tem um lugar importante na nossa espiritualidade, antes de tudo porque, sendo uma espiritualidade cristã, não pode deixar de abranger todas as virtudes.
Depois, porque a caridade que, indiscutivelmente, nos caracteriza, gera a obediência.
Vocês sabem que a caridade é mãe de todas as virtudes. Pois bem, de modo particular, ela é mãe da obediência.
Santa Catarina de Sena diz que a obediência e a paciência “nasceram da caridade […]. E, entre essas, a principal é a verdadeira e perfeita obediência”.
E é compreensível: quando alguém ama, mesmo sem perceber, obedece à pessoa amada. Fazemos assim com Deus porque, justamente por querer amá-lo, esforçamo-nos em obedecer-lhe na sua vontade. Fazemos assim com relação ao irmão, porque amar significa justamente identificar-se com os pensamentos, os gostos, os desejos dos outros.
16 abril 2021
Melhorar o “fazer-se um” com uma profunda união com Deus
De uma conferência telefônica
Rocca di Papa, 27 de junho de 1996
Hoje vamos ver de que forma o amor a Deus, a Jesus dentro de nós, é raiz para uma florescência exterior.
Veremos que, se vivermos intensamente a nossa vida interior, acumulando paz com o amor a Jesus Abandonado e a Maria Desolada8 e tornarmos a nossa união com Deus cada vez mais viva e constante, o mundo florescerá ao nosso redor.
É óbvio que, quanto mais temos a união com Ele, mais Ele nos comunica a sua vida, que é caridade, e podemos cumprir melhor aquela operação do “fazer-se um” com os outros, do mergulhar nos outros, que é sinônimo de amar os outros.
15 abril 2021
Conciliar o "fazer-se um"
De anotações para respostas aos moradores de Loppiano
Rocca di Papa, 27 de março de 1974
Em nosso relacionamento com os outros, no focolare e no apostolado, como conciliar o “fazer-se um” com o “caminhar contra a corrente”?
“Fazer-se um” e ir contra a corrente são duas posições bem precisas que devem ser assumidas em circunstâncias diferentes.
No focolare e no apostolado, devemos sempre “fazer-nos um” em tudo, exceto no pecado.
No focolare e também no apostolado, quando se trata de pecado, devemos sempre ir contra a corrente.
Portanto, não se trata de “conciliar”, mas de tomar duas atitudes diferentes. E tanto “fazer-se um” quanto ir contra a corrente são amor, porque “fazer-se um” é a atitude da caridade e ir contra a corrente é ódio ao pecado, ou seja, é amor a Deus e é aquela obra de amor, de misericórdia direta ou indireta que se costuma chamar de admoestar os pecadores.
14 abril 2021
O que é “fazer-se um” e até onde “fazer-se um”?
De uma conferência telefônica
Rocca di Papa, 18 de fevereiro de 1982
Alguém nos perguntou: até que ponto devo “fazer-me um” com cada próximo para amá-lo, para servi-lo, para, mais cedo ou mais tarde, chegar à unidade? É o próprio Jesus quem dá a resposta. Ele “se fez um” conosco fazendo-se homem; depois, experimentou o nosso cansaço, o nosso sofrimento, experimentou até mesmo a morte. Experimentou tudo do nosso modo de ser, menos o pecado. Assim, também nós: devemos “fazer-nos um” com quem quer que encontremos no momento presente da vida. Devemos viver as suas preocupações, as suas dores, as suas alegrias; tudo, exceto o pecado.
Então, e só assim, esse modo cristão de amar será abençoado e será fecundo.
13 abril 2021
Perfeitos como o Pai
Um grão-mestre budista da Tailândia, Ajahn Thong, tinha ficado tocado pelo espírito do Movimento dos Focolares – especialmente pelo amor ao irmão – durante um encontro de diálogo inter-religioso em 1995. Em seguida, convidou Chiara a falar para oitocentos jovens estudantes da Universidade Budista Manachulalongkork de Chiang Mai, no norte da Tailândia.
Após ter dado o seu testemunho, Chiara respondeu às perguntas dos estudantes, ressaltando “as sementes do Verbo” (cf. Concílio Vaticano II, Ad gentes 11,15; Gaudium et spes 3) que se encontram no budismo.
Chiang Mai (Tailândia), 6 de janeiro de 1997
Em sua opinião, qual é o objetivo mais alto da vida, o verdadeiro objetivo?
O objetivo último da vida humana é a perfeição. É preciso ser perfeito.
Nós, cristãos, cremos em Deus, em Deus perfeitíssimo. É preciso viver perfeitamente e ser perfeito, possivelmente semelhante a Ele, como Ele: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” está escrito em nossos livros [cf. Mt 5,48).
Mas a perfeição é alcançada somente com a compaixão, somente com o amor. Não com o egoísmo, com o permanecer fechado em si mesmo, mas com o dedicar-se aos outros. Essa é a perfeição.
Li […] que toda manhã, quando Buda acordava, pensava sempre: “A quem farei o bem hoje?”
É isso; nós também devemos fazer sempre assim: acordar todas as manhãs e dizer: “A quem farei o bem hoje?” E, depois, fazê-lo.
12 abril 2021
A entrega
PERCEBO na alma um pensamento que se repete: “Deixe a quem a segue somente o Evangelho. Se assim fizer, o Ideal(1) permanecerá.
O que permanece e permanecerá sempre é o Evangelho, que não sofre o desgaste do tempo: ‘Passarão o céu e a terra. Minhas palavras, porém, não passarão’ (Mt 24,35)”.
Se assim fizer, a Obra de Maria (2) permanecerá na terra realmente como outra Maria: toda Evangelho, nada mais do que Evangelho, e, posto
1 Termo empregado pela Autora para designar a Espiritualidade da Unidade. [N.d.E.]
2 Nome oficial do Movimento dos Focolares.
11 abril 2021
Ser somente Palavra de Deus
SER somente Palavra de Deus. Guardar em si somente a Palavra de Deus.
Ó, BENDITA SANTÍSSIMA TRINDADE que em mim habitas!
Encontrei o “patamar”, o apoio para permanecer radicada em ti, radicada no Verbo de Deus, por meio de Jesus em sua Palavra.
Dá-me a graça de não mais me afastar dele.
Que minha preocupação não seja tanto a de ver continuamente se vivo essa Palavra, já que tenho de estar projetada na divina vontade, quer seja fora ou dentro de mim.
De quando em vez, devo controlar, com um olhar da alma, se vivo naquela Palavra, se conduzo esses dias preciosíssimos. E, se estiver fazendo isso, continuar em paz a vida que me deste.
10 abril 2021
As minhas Palavras não passarão
SOMOS EM DEUS mais íntimos do que Deus de si mesmo, porque somos cada um Palavra de Deus, uma Palavra de Deus e, como uma Palavra está na Palavra, do mesmo modo estamos tão em Deus, a ponto de ser o íntimo de Deus. Ele nos viu, nos vê e nos verá no Verbo, no coração do Verbo, no íntimo, portanto, da Trindade.
O EU (a Ideia de mim) está ab aeterno na Mente de Deus, no Verbo […]. Lá no Alto, sou aquela Palavra de Deus que Deus ab aeterno pronunciou. […]
E vejo que ab aeterno meu ser estava no Ser e a ideia de mim (Palavra de Deus), no Verbo, a minha vida, na Vida. E Deus me pronunciou por si, como pronunciou ab aeterno o seu Filho, porque vendo-me em si, amou-me e deu-me vida plasmando-me de Espírito Santo.
AMA A DEUS quem observa a Palavra dele. Durante o dia, devemos pensar que não levaremos para o Paraíso nem as alegrias, nem as dores (até dar o corpo às chamas, sem a caridade, não vale), nem as obras de apostolado (até saber a língua dos anjos, sem a caridade, não vale). Para o Paraíso, levaremos como vivemos tudo isso, ou seja, se vivemos segundo a Palavra de Deus, que nos dá um meio de exprimir a nossa caridade para com Deus.
Por isso, levantemo-nos felizes todo dia, quer haja tempestade, quer sorria o Sol, e lembremo-nos de que, do nosso dia, valerá o tanto de Palavra de Deus que “ingerimos” ao longo dele. Se assim fizermos, Cristo terá vivido em nós naquele dia, e Ele terá dado valor também às obras que tivermos realizado, ou com a contribuição direta, ou obras de oração, ou de sofrimento; no fim, elas nos seguirão.
Afinal, estou admirando como a Palavra de Deus, a Verdade, nos torna livres… livres das circunstâncias, livres deste corpo de morte, livres das provações do espírito, livres do mundo que, ao redor, quereria arranhar a beleza e a plenitude do Reino de Deus dentro de nós.
É ISTO que a Palavra de Deus quer fazer em nós: esculpir o Cristo em nós desde agora, de modo que a preparação para a outra vida não seja uma mutação de vida, mas o ápice de uma vida vivida para aqueles dias, para aquela hora, para aquele momento e, depois, para a Outra vida.
CADA VEZ mais percebo que “passarão o céu e a terra…” (cf. Mt 24,35), mas o desígnio de Deus para nós não passa.
A única coisa que nos satisfaz plenamente é revermo-nos sempre lá onde Deus ab aeterno nos imaginou.
E ali permanecemos por toda a eternidade.
PERMANECE a Palavra que é o Verbo de Deus que é Deus e permanece todo o nada perdido na Palavra.
No Céu, seremos somente Palavra de Deus e, na unidade entre as nossas almas, haverá a harmonia do cântico novo, que é o Evangelho formado pelo Corpo Místico de Cristo. Cada um de nós será uma Palavra, mas, como cada Palavra é todo o Verbo, cada um de nós será a Palavra, será uma harmonia = uma unidade.
09 abril 2021
A família e Maria
21 de abril de 1984,
A família: tema altíssimo e frequente no pensamento e na vida de Chiara Lubich. Este escrito de 1984 insere a família no seu desígnio, ou seja, no fato de ela ser, no plano de Deus, igreja doméstica, «morada acolhedora para todos os filhos dispersos». Olhar para Maria, para viver, segundo o seu exemplo e com a sua ajuda, «o fascinante e luminoso projeto de Deus para a família em todas as suas expressões».
No dia da Anunciação, por ocasião do Jubileu do Ano Santo das famílias, João Paulo II consagrou e entregou a humanidade ao Coração Imaculado de Maria. A coincidência com este acontecimento não é casual. Existem, de fato, profundas relações entre Maria e a família, sem dúvida pelo fato de que tanto uma como outra são grandes conhecedoras do amor.
Maria conheceu o amor, também no plano simplesmente natural, nos seus mais variados aspectos como filha, noiva, esposa, mãe, embora sendo virgem, e viúva. A família é o reino do amor. Nela nasce, cresce e se desenvolve o amor filial, esponsal, materno, paterno, fraterno.
Maria, mãe do belo Amor, conheceu muito bem o amor sobrenatural: nascendo cheia de graça, foi envolvida pelo Amor feito pessoa, o Espírito Santo, no momento no qual o Verbo se encarnou em seu seio. Foi depois envolvida pelas suas chamas no Pentecostes, quando se tornou plenamente mãe espiritual de todos nós cristãos. Devido a estes dois nascimentos, ela é modelo, tipo, forma da Igreja. A família, lugar do nascimento daqueles que, uma vez batizados são filhos de Deus, foi santificada pelo Espírito Santo, Espírito de amor, com o grande sacramento do matrimônio, e tornou-se miniatura e coração da Igreja.
Quando o Papa leu o ato de entrega da humanidade a Maria começou com estas palavras: «A família é o coração da Igreja. Deste coração eleva-se hoje um ato de particular entrega ao coração da Mãe de Jesus». E assim, de coração a coração, nesta intensa comunhão, que se criou com a celebração da Eucaristia, elevou-se, do coração do Pai universal um grito pleno de solicitude pelas necessidades da humanidade, a oração de consagração à Virgem Maria, a fim de que cuide de modo especial de toda a família humana.
O Papa estava ali, ajoelhado diante da estátua branca de Nossa Senhora de Fátima.
Naquele momento, o pensamento de muitos de nós ali presentes, dirigiu-se ao dia 13 de maio de 1981, dia do atentado. O Santo Padre escolheu esse dia para anunciar a toda a Igreja a constituição do Pontifício Conselho para a Família.
Agora, na Praça de São Pedro, completamente lotada, ao lado dele, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, como uma flor desabrochada do seu sofrimento e do seu sangue, estavam reunidas, simbolicamente, todas as famílias da Igreja, expressão de todas as famílias do mundo.
O Santo Padre, como supremo Pastor, podia contar, no momento em que entregou o mundo a Maria, não só com a comunhão de todos os Pastores da Igreja, «constituindo um corpo e um colégio», mas também com a plena adesão dos filhos da Igreja, representados por tantas famílias de muitas nações.
Todos sabemos como João Paulo II, na sua incansável dedicação ao serviço da Igreja, fala sempre da família. Ele coloca na família as esperanças da humanidade; entrega a ela o destino da vida.
Com seu característico carisma de paternidade espiritual, que se manifesta também na sua dramaturgia, como por exemplo, naquela pérola que é a Raggi di paternità, representada na Sala Paulo VI diante do Autor, no mesmo dia do Jubileu das famílias, ele sente que as ameaças do mal e as esperanças do bem passam através daquele coração da Igreja, ou seja, da família. E, agora, neste dia solene, entregando o mundo à Mãe de Deus, não deixou de recomendar que a humanidade seja libertada de alguns males que afligem a família, rezando também desta forma: «Livrai-nos dos pecados contra a vida do homem desde o seu início!».
E na oração conclusiva da sua homilia – oração que escreveu para o Sínodo de 1980 que teve como tema de estudo a família – pediu esta graça: «Que o amor, fortalecido pela graça do sacramento do matrimônio, se manifeste mais forte do que todas as fraquezas e crises que, às vezes, afligem as nossas famílias».
Todas estas significativas coincidências e expressões nos permitem perceber no ato de entrega do Papa à Nossa Senhora, uma especial referência às famílias, a todas as famílias da terra, principalmente àquelas dos «povos que, devido à própria situação, são especial objeto do teu amor e da tua solicitude». E isso, para consagrar e confiar aquele coração pulsante de vida, ou seja, a família, ao amor misericordioso de Deus; para abrir esta célula básica da humanidade ao dom sobrenatural do amor de Deus que redime e santifica, que perdoa e eleva a família e o amor conjugal à sua dignidade. E ainda mais, para implorar a Deus que liberte a família de todos os perigos e pecados que a ameaçam.
O sentido profundo desta consagração não pode deixar de levar todas as famílias cristãs a viverem – com a ajuda e o exemplo de Maria – o luminoso e fascinante projeto de Deus para a família em todas as suas expressões: o amor conjugal, segundo o plano divino, sinal do amor de Cristo pela Igreja até o total dom de si, a paternidade e a maternidade, como participação ao amor fecundo do Criador; a paz e a harmonia na superação de todas as tensões e dificuldades, como frutto de uma caridade sempre viva e incansável, propensa a manter a presença espiritual de Cristo na família e, com Ele, a unidade de pensamento e de ação; uma abertura de comunhão e de serviço a outras famílias.
O Papa, falando às Famílias Novas do Movimento dos Focolares, assim delineou e definiu a imagem ideal da família, Igreja doméstica: «Com as suas vidas, com a convivência, com o seu estilo de vida, vocês constroem a Igreja na sua menor e, ao mesmo tempo, fundamental dimensão: a “Ecclesiola”!» 1.
Se esta Igreja doméstica – esta «Ecclesiola» – deve ser o «coração da Igreja», como afirmou o Papa, deve espelhar a atitude de Maria Santíssima, à qual agora é consagrada, sendo, como Maria, transparência da vontade de Deus. Deve assumir como própria a simples mas total doação de si mesma ao plano divino, que é sempre um plano de redenção e de salvação. O gesto do Santo Padre é, de fato, um convite dirigido a todas as famílias para viverem particularmente consagradas a Maria, entregando a ela todas as angústias e alegrias da vida familiar, tendo nela o ponto de referência para um empenho comum de vida evangélica.
A mensagem de Fátima, que chama todos nós à conversão e à fidelidade ao Evangelho, torna-se assim a resposta da consagração da família, um empenho de renovação para que resplandeça sempre mais a fisionomia da Igreja que tem, de certa forma, na família cristã, a marca do seu ser «família de Deus», morada acolhedora para todos os filhos dispersos, chamados novamente à casa do Pai e convidados a entrarem nela por meio do coração materno da Mãe de Jesus.
(Em: « L’Osservatore Romano », 21 de abril de 1984, p. 5. )
08 abril 2021
O esplendor da natureza
«Contemplando a imensidão do universo, a extraordinária beleza da natureza, a sua potência, pensei espontaneamente no Criador de tudo e compreendi numa forma nova a imensidão de Deus. Esta impressão foi tão forte, tão nova que num ímpeto me ajoelharia para adorar, para louvar, para glorificar a Deus. Senti a necessidade de fazê-lo, como se essa fosse a minha vocação atual.
E, como que se meus olhos se abrissem agora, compreendi como nunca quem é Aquele a quem escolhemos por Ideal, ou melhor, Aquele que nos escolheu. Eu o descobri tão grande, tão imenso, a ponto de me parecer impossível que Ele tivesse pensado em nós. Esta impressão da sua grandeza permaneceu em meu coração por alguns dias. Dizer agora «santificado seja o vosso nome…» ou «Glória ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo» é muito diferente para mim: é uma necessidade do coração». (Rocca di Papa, 22.1.87)
«[…] contemplar, quem sabe, uma extensão de mar sem fim, uma cadeia de montanhas altíssimas, uma geleira imponente ou uma abóbada do céu pontilhado de estrelas… Que imponência! Que imensidão! E, através do esplendor ofuscante da natureza, nos voltássemos para aquele que é o seu autor: Deus, o Rei do universo, o Senhor das galáxias, o Infinito. […] Deus está presente em toda parte: nos reflexos de um riacho, no desabrochar de uma flor, num alvorecer luminoso, num rubro ocaso, num pico de montanha coberto de neve…
Nas nossas metrópoles de concreto, construídas pela mão do homem, em meio ao barulho do mundo onde raramente a natureza pôde se salvar. No entanto, se quisermos, basta um pedacinho de céu azul percebido entre os arranha-céus, para nos recordar Deus, basta um raio de sol, que não deixa de penetrar nem mesmo entre as grades de uma prisão. Basta uma flor, um prado, o semblante de uma criança…
[…] Isto nos ajudará a voltar revigorados para o convívio humano, onde é o nosso lugar, revigorados, assim como, certamente, era Jesus quando, após ter rezado ao Pai a noite inteira sobre o monte, sob o céu estrelado, retornava em meio aos homens para realizar o bem». (Mollens, 22.9.88)
07 abril 2021
Nada é impossível a Deus.
Ao nos relembrarmos disso nos momentos mais críticos, a Palavra de Deus nos mandará aquela energia que ela encerra, fazendo-nos participar de algum modo da própria onipotência de Deus. Porém, com uma condição: que vivamos a sua vontade, procurando irradiar ao nosso redor aquele amor que foi depositado em nossos corações. Assim estaremos em uníssono com o Amor onipotente de Deus pelas suas criaturas, para o qual tudo aquilo que contribui para a realização dos seus planos, em cada pessoa e em toda a humanidade, é possível.
Mas há um momento especial para poder viver esta Palavra e experimentar toda a sua eficácia: é na oração.
Jesus disse que qualquer coisa que pedirmos ao Pai em seu nome, Ele nos concederá. Portanto, experimentemos pedir-lhe aquilo que mais desejamos ou necessitamos, com a certeza de fé que a Ele nada é impossível: da solução dos casos mais desesperadores até a paz no mundo; da cura de doenças graves até a solução de conflitos familiares e sociais.
E se formos duas ou mais pessoas, unidas em pleno acordo pelo amor mútuo, a pedir a mesma coisa, então será o próprio Jesus em nosso meio quem pedirá ao Pai; e, como Ele prometeu, obteremos o que pedirmos.
Certo dia, também nós pedimos, com essa fé na onipotência de Deus e no seu Amor, que o tumor diagnosticado em N., por meio de uma radiografia, “desaparecesse”, como se fosse um erro ou um fantasma. E, de fato, isso aconteceu.
Essa confiança ilimitada, que faz com que nos sintamos nos braços de um Pai ao qual tudo é possível, deve acompanhar sempre os acontecimentos da nossa vida. Isso não significa que toda vez obteremos aquilo que pedirmos, porque a onipotência de Deus é a de um Pai, e Ele a usa tão somente para o bem de seus filhos, tenham eles consciência disso ou não. O importante é vivermos alimentando a certeza de que para Deus nada é impossível. E isso nos fará provar uma paz que nunca experimentamos antes.
06 abril 2021
Orientar a bússola
A escolha de amar Jesus no seu abandono na cruz e de preferi-lo a qualquer outro amor, tornou-se para Chiara Lubich como uma bússola que orientou a sua vida e a libertou de tantas preocupações.
[…] Verificamos que o chamado a seguir Jesus Abandonado de maneira radical não se deu de uma só vez, ou seja, apenas no início do Movimento.
Com efeito, no decorrer destes anos, periodicamente o Senhor enfatizava este chamado, por meio de episódios ou de particulares reflexões.
Assim aconteceu comigo, em 1954.[…] Pela primeira vez, um focolarino se ordenava sacerdote. Eu devia viajar de Roma a Trento para participar da ordenação do Pe. Foresi, ministrada pelo arcebispo de Trento. Porém, como eu não estava muito bem de saúde, quiseram que eu fizesse a maior parte da viagem de avião. Logo que embarquei, uma aeromoça muito gentil, para facilitar a viagem, me convidou para conhecer a cabina de comando. Chegando naquele lugar fiquei imediatamente encantada com o magnífico panorama que se podia observar: amplo, plenamente visível pela carlinga toda de vidro.
Mas não foi o panorama o que mais tocou meu espírito. Na verdade, foi uma breve explicação do piloto sobre o que é importante para pilotar um avião. Ele me disse que, para se fazer uma viagem direta e segura, era necessário, antes de tudo, orientar a bússola na direção do ponto de chegada. Depois, durante o percurso, seria preciso vigiar para que o avião nunca se desviasse da rota estabelecida.
Seguindo estas explicações, fiz imediatamente dentro de mim, um paralelo entre uma viagem de avião neste mundo e a viagem da vida que, hoje, eu chamaria de “Santa Viagem”. E me pareceu entender que também na viagem da vida é necessário, desde o início, fixar com precisão a rota, o caminho da nossa alma, que é Jesus Abandonado. A seguir, no decurso de toda viagem, devemos fazer uma única coisa: permanecer fiéis a Ele. Sim, o caminho ao qual Deus chama todos nós é somente este: amar Jesus Abandonado sempre.
Isto significa abraçar todas as dores da própria existência. Significa colocar em prática o amor, adequando sempre a nossa vontade à Sua […]. Amar Jesus Abandonado quer dizer conhecer a caridade, saber como se faz para amar os próprios próximos: como Ele amou, até o abandono.
Amar Jesus Abandonado sempre significa colocar em prática todas as virtudes que, naquele momento, Ele viveu manifestamente de modo heroico. […]
Penso poder afirmar que apontar a agulha da bússola da nossa alma para Jesus Abandonado é tudo o que de melhor podemos fazer para continuar e terminar a Santa Viagem, e até para empreendê-la com uma certa facilidade.
Se o piloto, que observei estar totalmente livre nos seus movimentos, não usava rédeas como as que se usam para guiar uma carruagem, nem volante, daqueles que se usam para dirigir automóveis, também nós, se orientarmos a agulha da nossa bússola espiritual para Jesus Abandonado, não teremos necessidade de outro recurso para chegarmos com segurança à meta.
E assim, como numa viagem de avião não nos deparamos com as surpresas das curvas, porque se voa no espaço aéreo, nem temos que afrontar montanhas, porque nos colocamos logo numa boa altitude, também na nossa viagem, com o amor a Jesus Abandonado, nos colocamos imediatamente nas alturas. Os imprevistos não nos assustam, nem sentimos muito os esforços da subida, porque, por Jesus, surpresas, cansaços e sofrimentos já são todos previstos e esperados!
Portanto, apontemos fixamente a bússola para Jesus Abandonado e permaneçamos fiéis a Ele.
De que modo? Pela manhã, ao despertarmos, apontemos nossa agulha para Jesus Abandonado com o nosso “Eis-me aqui!”. Depois, durante o dia, de vez em quando, vamos dar uma olhada: observemos se estamos sempre na rota certa para Jesus Abandonado. Se não estivermos, corrijamos a rota com um novo “Eis-me aqui!” e o sucesso da viagem não ficará comprometido. […]
Se fizermos a viagem da vida em companhia de Jesus Abandonado poderemos, também nós, no final dela repetir a famosa frase de Santa Clara: “Vai segura, alma minha, enquanto tiveres um bom companheiro no teu caminho. Vai que Aquele que te criou sempre cuidou de ti e te santificou”. […]
(em uma conexão telefônica, Rocca di Papa, 5 de janeiro de 1984)
Tirado de: “Fissare la bussola”, in: Chiara Lubich, Conversazioni in collegamento telefonico, Città Nuova Ed., 2019,
05 abril 2021
Até os 100%
Amar a Deus e o próximo quando estamos bem é muito fácil. Mas quando sofremos, inclusive fisicamente, pode se tornar um grande desafio. Chiara Lubich propõe um programa de treinamento, para nos prepararmos bem, um programa que também prevê o fracasso.
Todos sabemos que o nosso Ideal pode ser definido com uma só palavra: amor. O amor é toda a nossa vida. O amor é a alma da nossa oração, do nosso apostolado, de todas as expressões da nossa existência.
O amor é também a saúde da nossa vida espiritual individual, assim como o amor recíproco é a nossa saúde enquanto comunidade, como Corpo Místico de Cristo. Quando amamos, nada nos falta, nos encontramos “inteiros”, diante de Deus, quer gozamos de boa saúde, quer estejamos doentes.
Mas, amar quando gozamos de saúde é fácil. É fácil amar a Deus e os irmãos. Amar quando estamos doentes é mais difícil. […]
[Gostaria] de fazer a mim mesma e a vocês a seguinte pergunta: É justo que uma pessoa, mesmo encontrando-se em momentos tão difíceis de sua vida terrena, viva com tanto empenho o matrimônio de sua alma com Jesus Abandonado, enquanto nós, com mais saúde física, vivemos com mediocridade a nossa “tensão à santidade”? Será que devemos esperar que Deus nos mande provações especiais, daquelas que nos fazem chegar ao limite de nossas forças, para nos decidirmos a amá-Lo de modo total? […]
Mas então […] não podemos perder mais tempo! Todos nós temos o Espírito Santo no coração e conhecemos suas exigências e indicações. É Ele que nos diz: Agora é preciso amar Jesus Abandonado, nesta dor, neste cansaço. Nesta outra situação devemos preferi-Lo vivendo uma virtude, como o amor fraterno, por exemplo. Nesta outra, ainda, devemos escolhê-Lo num aspecto da Obra, da Igreja ou da humanidade…
Devemos cumprir o propósito de amá-Lo dia após dia, sempre, até os 100%, […]. E […], antes de cada ação, devemos repetir: “Por Ti, Jesus!”
Se uma vida assim tão comprometida nos causa medo […], recordemo-nos da frase de Jesus: “A cada dia basta o seu afã” (Mt 6,34). Amemos, portanto, aquele aspecto de Jesus Abandonado que encontramos hoje, a cada momento. Para o amanhã teremos outras graças.
Deste modo poderemos acumular dias totalmente plenos, consagrados a Ele e com os quais construiremos a nossa santidade.
Se, porém, fracassarmos, se O trairmos, se nos bloquearmos, saibamos que também por trás de todas estas circunstâncias existe o seu semblante.
Que no fim de cada dia possamos responder a nós mesmos, ou melhor, a Jesus, que nos interroga no fundo do coração sobre o andamento do dia: “Hoje foi bom, foi 100%!” […] Abraçando 100% Jesus Abandonado, o Ressuscitado resplandece em nós e entre nós e dá testemunho. […]
04 abril 2021
Para sermos um povo de Páscoa
Caros amigos, aproxima-se a Páscoa: a maior festa do ano e, com ela, a Semana Santa repleta dos mais preciosos mistérios da vida de Jesus. Esses mistérios, lembrados principalmente na Quinta, na Sexta-Feira Santa, no Sábado de Aleluia e no Domingo de Páscoa, representam para nós alguns aspectos centrais da nossa espiritualidade. […]
Como viver, então, às portas da Semana Santa e durante aqueles dias abençoados?
Eu creio que se vivermos a Páscoa, ou seja, se deixarmos que o Ressuscitado viva em nós, celebraremos do melhor modo todos esses acontecimentos.
De fato, para que o Ressuscitado resplandeça em nós, devemos amar Jesus Abandonado e estar sempre – como costumamos dizer – “além da sua chaga”[1], onde a caridade reina. É a caridade que nos impulsiona a sermos o Mandamento Novo vivido, que nos leva a aproximarmo-nos da Eucaristia, […]. É a caridade que nos leva a viver a unidade com Deus e com os irmãos. É através dela que podemos ser, de certa forma, “outra” Maria. […]
Desta forma, todos juntos, seremos realmente aquele “povo de Páscoa” que alguém entreviu no nosso Movimento. […][2]
03 abril 2021
Como distinguir a vontade de Deus da minha?
Descobrir a vontade de Deus é um anseio comum entre nós
Corresponder aos desígnios de Deus é sempre um desejo do coração daqueles que, de alguma forma, já experimentaram Seu amor. É por isso que frequentemente ouvimos alguém dizer: “Eu gostaria de saber qual é a vontade de Deus para minha vida”.
Esses dias, um jovem abriu o coração comigo, falando de seus sonhos, medos, lutas e conquistas. Ele parecia não estar satisfeito, nem demonstrava entusiasmo diante das últimas realizações. Havia uma sombra de tristeza e apreensão em seu olhar, o que me levou a lhe perguntar: “O que está lhe faltando agora?”. Ele prontamente respondeu: “Eu quero distinguir a vontade de Deus da minha”. Por providência, eu tinha acabado de ler alguns escritos de Chiara Lubich falando sobre isso, então, transmiti-lhe algumas palavras de incentivo. Depois, continuei pensando no assunto.
Sei que aquele jovem não é uma exceção. Na verdade, descobrir a vontade de Deus é um anseio comum entre nós. Pois sabemos que estar na vontade de Deus é caminho certo para a felicidade, e ser feliz é tudo o que o ser humano mais almeja neste mundo.
Chiara Lubich, fundadora dos focolares, afirma que não é difícil saber qual é a vontade de Deus e nos indica o caminho:
“É preciso ouvirmos bem dentro de nós uma voz delicada, a qual, muitas vezes, sufocamos, e que se torna quase imperceptível. Mas se a ouvirmos bem, é a voz de Deus. Ela diz-nos que aquele é o momento de estudar ou ajudar quem tem necessidade, de trabalhar, vencer uma tentação ou cumprir um dever de cristão, de cidadão. Convida-nos a dar atenção a alguém que nos fala em nome de Deus, ou a enfrentar com coragem situações difíceis. Temos que a ouvir. Não façamos calar essa voz, ela é o tesouro mais precioso que possuímos. Sigamo-la!”
Depois dessa descoberta, temos uma segunda etapa, que também é muito importante: coragem de assumir a vontade de Deus, fazendo dela o nosso projeto de vida! A condição para isso é dar os passos exigidos a cada instante. Por vezes, são coisas bem simples no início, e, ao longo da caminhada, surgem exigências maiores, que, aliás, são sempre possíveis de realizar. Deus nunca nos pede algo que não podemos realizar com Sua graça.
Segundo Chiara, a vida nos oferece duas direções: fazer a nossa vontade ou fazer a vontade de Deus. A primeira opção, que logo vai ser decepcionante, é como escalar a montanha da vida só com as nossas ideias limitadas, com os poucos meios que temos, com os nossos pobres sonhos, contando só com as nossas forças. A partir daí, mais tarde ou mais cedo, chegar à experiência da rotina de uma existência cheia de tédio, de mediocridade, de pessimismo e, às vezes, até de desespero. Uma vida monótona, apesar do nosso esforço por torná-la interessante, que nunca chegará a satisfazer o nosso íntimo mais profundo. A segunda possibilidade é quando também nós repetimos com Jesus: «Não se faça a minha vontade, mas a Tua» (Lc 22, 42).
Para compreendermos isso melhor, podemos comparar Deus a um sol. Deste sol partem muitos raios que se projetam sobre cada um de nós. E esses raios representam a vontade de Deus. Durante a vida, somos chamados a caminhar em direção a esse “Sol”, seguindo a luz do raio, que nos é próprio, diferente e distinto de todos os outros. E podemos realizar o projeto maravilhoso, pessoal, que Deus tem para cada um de nós: a vontade d’Ele. Se assim o fizermos, vamos nos sentir envolvidos numa divina aventura, nunca antes imaginada.
Seremos, ao mesmo tempo, atores e espectadores de coisas grandiosas que Deus realizará em nós e, através de nós, na humanidade. Tudo o que vier a acontecer-nos, como os sofrimentos e as alegrias, graças e desgraças, fatos importantes ou insignificantes, tudo vai adquirir um significado novo, porque nos é oferecido pela mão de Deus, que é Amor. Tudo o que Ele quer ou permite é para o nosso bem. Se acreditamos nisso apenas com a fé, veremos depois, com os olhos da alma, que existe um fio de ouro a ligar acontecimentos e coisas, a compor um magnífico bordado: é o projeto de Deus para cada um de nós.
Pode ser que, diante disso, você se decida sinceramente a dar um sentido mais profundo à sua vida. Então, comece agora a fazer a vontade de Deus, pois, se pensarmos bem, o passado já não existe e não podemos voltar a tê-lo. Só nos resta colocá-lo na misericórdia de Deus. O futuro ainda não chegou. Havemos de vivê-lo quando se tornar atual. Em nossas mãos, só temos o momento presente. É nele que devemos optar por fazer a vontade de Deus. Como? Escutando aquela suave voz que nos fala ao coração, lembrando que Deus não nos pede algo irrealizável. Estaremos juntos!
02 abril 2021
Sobre a Sexta-feira Santa: Heróica lição de amor
Ele havia dado tudo: uma vida ao lado de Maria, em meio aos incômodos e na obediência. Três anos de pregação revelando a Verdade, dando testemunho do Pai, prometendo o Espírito Santo e fazendo todo tipo de milagres de amor.
Três horas na cruz, desde a qual perdoa os verdugos, abre o Paraíso ao ladrão, dá-nos a sua Mãe e, finalmente, seu Corpo e seu Sangue depois de ter-nos dado misticamente, na Eucaristia. Restava-lhe a divindade.
Sua união com o Pai, a dulcíssima e inefável união com Ele, que o havia tornado tão potente na terra, como Filho de Deus, e ainda na cruz mostrava sua realeza, este sentimento da presença de Deus, devia ir desaparecendo no fundo de sua alma, até não senti-lo mais; separá-lo de algum modo d’Aquele do qual disse que era uma só coisa com Ele: «O Pai e eu somos um» (Jo 10, 30). Nele, o amor estava anulado, a luz apagada; a sabedoria calava.
Ele se tornava nada, então, para tornar-nos partícipes do Todo; verme da terra (Salmo 22, 7), para tornar-nos filhos de Deus. Estávamos separados do Pai. Era necessário que o Filho, no qual todos nos encontrávamos, provasse a separação do Pai. Tinha de experimentar o abandono de Deus para que nós nunca mais nos sentíssemos abandonados. Ele havia ensinado que ninguém tem maior caridade que aquele que dá a vida pelos amigos. Ele, a Vida, dava tudo de si. Era o ponto culminante, a expressão mais bela do amor.
Seu rosto está detrás de todos os aspectos dolorosos da vida; cada um deles é Ele.
Sim, porque Jesus que grita o abandono é a figura do mundo: já não sabe falar.
É a figura do cego: não vê; do surdo: não ouve.
É o cansado que se queixa.
Aparece a desesperança.
É o faminto de união com Deus.
É a figura do desiludido, do traído, parece ter fracassado.
E medroso, tímido, desorientado.
Jesus abandonado é a treva, a melancolia, o contraste, a figura de tudo o que é raro, indefinível, que parece monstruoso, porque é um Deus que pede ajuda. É o solitário, o desamparado. Parece inútil, um descartado, transtornado. Podemos vê-lo em cada irmão que sofre. Aproximando-nos dos que se parecem com Ele, podemos falar-lhes de Jesus abandonado.
Aos que se descobrem semelhantes a Ele e aceitam compartilhar seu destino, Ele se converte, para o mundo, na palavra; para quem não sabe, a resposta; para o cego, a luz; para o surdo, a voz; para o cansado, o descanso; para o desesperado, a esperança; para o separado, a unidade; para o inquieto, a paz. Com Ele, as pessoas se transformam e o absurdo da dor adquire sentido.
Ele havia gritado o porquê, ao qual ninguém havia dado resposta, para que tivéssemos a resposta a cada porquê.
O problema da vida humana é a dor. Qualquer tipo de dor, por mais terrível que seja, sabemos que Jesus o fez seu e transforma, por uma alquimia divina, a dor em amor.
Por experiência, posso dizer que apenas nos alegramos por uma dor para ser como Ele e depois continuamos amando fazendo a vontade de Deus; a dor, se é espiritual, desaparece, e se é física, converte-se em jugo suave.
Nosso amor puro em contato com a dor a transforma em amor; de certa forma a diviniza, quase continuando em nós – por assim dizer – a divinização que Jesus fez da dor.
E depois de cada encontro com Jesus abandonado, amado, encontro Deus de um modo novo, mais face a face, mais evidente, em uma unidade mais plena.
A luz e a alegria voltam e, com a alegria, a paz, que é fruto do Espírito.
A luz, a alegria, a paz que nascem da dor amada causam impacto e conquistam as pessoas mais difíceis. Pregados na cruz se é mãe e pai de almas. A máxima fecundidade é o efeito.
Como escreve Oliver Clément, «o abismo, que por um instante abriu aquele grito se vê cumulado pelo grande sopro da ressurreição».
Anula-se qualquer tipo de desunião, a separação, e as rupturas são curadas, resplandece a fraternidade universal, há lugar a milagres de ressurreição, nasce uma nova primavera na Igreja e na humanidade.
01 abril 2021
Maria, toda revestida da Palavra
DE MARIA, a Mãe do Criador e de todas as criaturas, não conhecemos nada que faça referência à atividade entre seus contemporâneos, que também eram todos filhos seus. Ela fazia apenas a vontade de Deus: amava Jesus e dava assistência aos Apóstolos. E acredito que ninguém tenha vivido o Evangelho melhor do que ela.
MARIA SANTÍSSIMA, nossa mãe, meditava a Escritura, mina sem fim, na qual hauriram e haverão de haurir até o fim do mundo aqueles que querem amar a Deus.
Desejávamos imitá-la um pouco, Ela que permaneceu no mundo, e tornarmo-nos portadores de Deus aos irmãos, de Deus ao mundo.
COMPREENDEMOS que Maria, engastada na Santíssima Trindade qual rara e única criatura, era toda Palavra de Deus, toda revestida da Palavra de Deus (cf. Lc, 2,19.51). E, se o Verbo, a Palavra, é a beleza do Pai, Maria, substanciada de Palavra de Deus, era também ela de uma beleza incomparável. […]
A originalidade de Maria – embora em sua perfeição ímpar – era a que deveria ser de todo cristão: repetir Cristo, a Verdade, a Palavra, com a personalidade que Deus deu a cada um.
Como as folhas de uma árvore são todas iguais e, no entanto, cada uma é diferente da outra, o mesmo se dá com os cristãos – como, aliás, acontece com todos os homens: são todos iguais e, no entanto, todos diferentes. Cada um, de fato, resume em si a Criação inteira. Por isso, cada um, sendo “uma Criação”, é igual aos demais e, ao mesmo tempo, é diferente.
A MÃE era a verdadeira Esposa de Deus, porque o seu nada absoluto atraiu Deus para ela, que conservava ciosamente em seu coração, e nisso meditava.
Nela, a Palavra sempre estava. Assim deve ser com a nossa alma: viver sempre com a Palavra, toda concentrada e só concentrada na Palavra. E, em segredo, pois tudo depende do meu amor: pro eis santifico meipsum (“Por eles, a mim mesmo me santifico”; Jo 17,19).
De fato, inebriar-se é viver sozinhos com Ele em segredo.
MARIA, que não é sacerdote,
mas é Mãe do sumo, eterno e único
Sacerdote,
o único em que todos os sacerdotes adquirem sentido,
permaneça para eles o modelo,
a encarnação, a visão do Evangelho,
daquele Evangelho que, sendo caridade na sua essência,
permanecerá também na outra vida,
onde não mais existirão nem hierarquia, nem sacramento.
31 março 2021
Os carismas: Evangelho encarnado
A IGREJA É UM JARDIM MAGNÍFICO onde floriram todas as Palavras de Deus, floresceu Jesus, Palavra de Deus, em todas as mais variadas manifestações. […]
Assim como a água se cristaliza em estrelinhas de todas as formas ao cair na terra como neve, também o Amor assumiu em Jesus a Forma por excelência, a Beleza das Belezas (“o mais belo dos Filhos dos homens”, cf. Sl 45,3). O Amor assumiu na Igreja diversas formas, que são as Ordens e as Famílias religiosas.
Na Igreja, floresceram, e florescem, todas as virtudes. Os fundadores das Ordens são determinada virtude transformada em vida e subiram ao Céu somente porque eram Palavra de Deus. Cumpriram o desígnio de Deus, que só pode ser Verbo, Palavra. […] Os fundadores são Palavras de Vida.
Todas essas Palavras formam a Igreja, outro Cristo ou um Cristo continuado, a Esposa de Cristo. É a Nova Jerusalém revestida de todas as virtudes.
CADA FUNDADOR organizou os próprios seguidores em família com as leis eternas do Evangelho, após ouvi-las ressoarem, com força nova e atual, pelo Espírito Santo em seu espírito.
ESSAS ORDENS e espiritualidades se mantêm, se vão à Fonte de onde obtêm Vida: Deus, o Evangelho inteiro, Jesus na expressão mais completa de si.
O QUE TODAS as Ordens religiosas, juntas, formam? Se tivéssemos todas elas, formariam um Evangelho; se tivéssemos todas elas, pensando na Palavra de Vida que foi o fundador delas, seriam a Palavra encarnada, e essas Palavras, reunidas, formam um Evangelho vivo.
E AINDA HOJE vemos realizarem-se os milagres dos discípulos de Jesus que abandonam tudo e o seguem: sinal de que Ele está presente na história e nos povos, como vinte séculos atrás.