18 abril 2021

A medida do “fazer-se um”

De uma conferência telefônica
Rocca di Papa, 21 de outubro de 1982

Estamos ainda no clima de festa que marcou a canonização do padre Maximiliano Kolbe.

Os jornais a noticiaram, a televisão projetou filmes sobre ele, suas biografias, novas e velhas, estão em circulação. E nós também ficamos tocados.

Entretanto, ao folhearmos uma dessas biografias, o que mais nos impressionou foi o fato de que o novo santo (tão próximo a nós pelo seu amor apaixonado a Nossa Senhora e por ter amado com a medida de Jesus, até dar a própria vida), diante de um prisioneiro destinado a morrer de fome no bunker da morte – pessoa que ele não conhecia, mas que se tornou seu próximo naquele momento presente de sua vida –, esqueceu, de repente, toda a grande obra (que estava realizando, não por interesse próprio, mas em benefício do Reino de Deus), toda a vasta atividade editorial, as suas cidadezinhas da Imaculada, os seus filhos [espirituais], as suas cartas (vi-o, em uma foto, diante de uma escrivaninha abarrotada), para tomar o lugar de outro.

Será que padre Maximiliano Kolbe não podia pensar que, com aquela Obra, que ele suscitara na Igreja, ele poderia glorificar mais a Deus estando vivo do que morto? Mas, ao contrário, ele não titubeou e ofereceu a sua vida para salvar a vida de um pai de família.

Caríssimos, muitas vezes também cumprimos obrigações durante o dia, que são importantes, ao menos aos nossos olhos. E, às vezes, no momento em que estamos dedicados a isso, somos “perturbados” – é o que pensamos – por algum próximo, que entra, imprevisto, em nossa vida pedindo-nos algo, ou pessoalmente, ou por telefone, ou por carta, ou de outra forma.

Então, “inchados” pela importância (assim nos parece) do trabalho que estamos realizando, não lhe dirigimos sequer um olhar, não damos atenção a um pedido seu, dispensamo-lo, quando não deixamos de tratá-lo bem.

Vem então padre Kolbe dar-nos uma lição solene a esse propósito. Não é assim que amamos o próximo, não é assim que servimos: diante de cada um, devemos saber esquecer (embora por poucos segundos, se o dever nos chama para outra coisa) tudo o que fazemos de bom, e de grande, e de útil, e estar prontos a “nos fazermos um” com ele totalmente, a “nos fazermos um” com a medida do saber morrer pelo outro. Isso é vida cristã.


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