Por Vagner Roberto Cordeschi
(Artigo que publiquei no site da Faculdades Guarulhos)
Não quero nada do mundo;
Só quero a oportunidade de dizer
Que passei por aqui
E meus rastros estão por aí.
Se alguém atrever-se em segui-los,
Por momentos, perder-se-á...
Mas logo após, encontrará o caminho e a verdade
Que me trouxeram até aqui.
Quando escrevi ‘Meus rastros’ no final dos anos 80, estava num momento de vida que me possibilitava seguir dois caminhos: um pensado e esperado por mim e, outro, na possibilidade que “outros” mudassem minha vida e caminhassem
“por mim”, ou melhor, na possibilidade que pegassem minhas mãos e me conduzissem a um caminho que não era o meu.
O desejo de mudanças que aquela década proporcionava a todos os brasileiros, (final dos anos militares; uma nova Constituição sendo construída; abertura
da economia brasileira para o mercado externo; novos planos econômicos; uma geração de “cara-pintada” que saía às ruas, pedindo o impeachment de um presidente e tantos outros motivos...)
era excelente para irrigar um coração que pulsava e queria novos ares para a Nação. Era o momento de uma vida de mudanças.
Entrei na nova década, sendo o primeiro de minha família que buscou melhorar o conhecimento acadêmico, pois até então, meus familiares estavam no
padrão primário ― até a quarta série ou até o colegial ― e depois, o mundo do trabalho. Era a necessidade que exigia e forçava a situação, dificultando as
mudanças. Com isto, arrastei outros da família.
Um período que me levou à Graduação; a mudança de país, justamente, para aprender a me relacionar com outras pessoas e outras culturas. Uma
década que me trouxe uma esposa e uma filha (as maiores mudanças até hoje).
Tudo faz parte de uma história, a minha história!
Cada pessoa tem o seu rastro a deixar ou já deixou, mas tem a necessidade de buscar o seu rastro com amor, no amor ágape, aquele que se volta para a relação
com as pessoas, com seus irmãos; numa relação de cáritas servitus (uma “servidão” de caridade).
A escritora e pensadora italiana Chiara Lubich em um de seus escritos comentou:
”... se tentares viver de amor perceberás que, aqui na terra, convém fazeres a tua parte. A outra, não sabes nunca se virá,
e não é necessário que venha. Por vezes, ficarás desiludido, porém, jamais perderás a coragem, se te convenceres de que, no amor, o que vale é amar…”
Para a mudança de rota, para a mudança de nossa vida, há necessidade de percebermos que somente amando, conseguiremos construir aquilo que vale mais.
Amando nosso próximo, nosso trabalho, nosso estudo; amando nossa família, amando o momento presente (por que o futuro não nos pertence), amando o APRENDER...
O Professor Doutor Cândido Teobaldo de Souza Andrade, o precursor das Relações Públicas no Brasil, relembrava sempre que a sociedade
é composta de grupos, que se somam às pessoas e que se tornam públicos. Ele ajudou a entender a necessidade do respeito aos públicos. A perceber a necessidade do diálogo.
A perceber, por meio da comunicação, os ganchos que nos prendem na mudança de nossas vidas e também no rumo que uma pessoa, uma associação, uma faculdade, uma empresa, possa tomar.
Ele também recordava que as opiniões são importantes, pois não fomos feitos na mesma forma, somos diferentes (em cultura e gosto). E que também estamos
em contínuo processo de mudança: “contínuo processo de formação das diversas opiniões existentes no público...” e também no privado.
Por isso, na minha comunicação, entra um detalhe importante: o saber ouvir. Sim! Ouvir faz parte de uma boa comunicação e a má comunicação
se dá quando um emissor passa a informação para um ser receptor e, este, não ouve. Dentro da cabeça dele jaz um buraco negro de ideias. A informação entrou por um lado e saiu
pelo outro. Ou, simplesmente, o receptor tem tantas considerações a fazer, que nem espera o emissor terminar a sua fala e já diz: Ok! Entendi... entendi! Entendeu nada!
O grande pulo do gato é: espere. Deixe o outro falar. Ao término diga: - Deixe-me ver se entendi tudo: você disse isso, isto e aquilo. Correto? Estando correto,
coloque seu pensamento. Estando incorreto solicite ao emissor para explicar novamente.
As grandes desavenças da humanidade passaram pelas palavras que não foram bem entendidas. Ou que não foram bem ditas... Quando o fogo da ira sai da boca sem passar
pela mente e pelo coração, ele queima. Algumas palavras só podem ser ditas quando acalmamos o pensamento e o coração.
Com isso, quero ressaltar que o processo de mudança passa pelo processo de diálogo com o outro, pela aprendizagem da observação da pessoa que está
ao nosso lado, ao nosso redor.
Num período de incertezas e contrastes, a observação e o diálogo são o caminho que devemos percorrer para entendermos aquilo que é necessário,
para a mudança primordial das nossas necessidades.
Assim construímos um caminho: primeiro, querermos a mudança; segundo, saber que aquilo que vale mais é amar; terceiro, observarmos o nosso ambiente, a nossa sociedade; quarto, a percepção que não estamos sozinhos e devemos construir o diálogo para nos relacionarmos e, quinto, assim podermos mudar o rumo de nossa história.
Mudanças na dor
Quando não temos o controle do nosso rastro, em momento de dificuldade, de dor, de perda, sofremos e, por vezes, perdemos o rumo do nosso caminho. Tudo se torna um peso e os
passos não acompanham o nosso corpo - e nossos pensamentos nos levam a andar em sentido inverso do desejado.
A dor e o sofrimento paralisam, mas a coragem de soltar as amarras que nos prendem é necessária. Caso contrário, nos tornamos um pássaro que se deixa abater
pela linha agarrada as suas patinhas; ele se enrola cada vez mais. O peso da dor faz com que andemos com grilhões que nos prendem a uma bola de aço imaginária.
Como
mudar se estamos atingidos na dureza do momento? Novamente, devemos levar em conta que temos somente o momento presente para fazer o que é melhor para nós. É o agora! Uma atitude de consciência e
de inconsciência ao mesmo tempo. Uma atitude de coragem. Olhar no espelho da alma e dizer: - Essa dor é somente minha! Eu a aceito e com ela vou caminhando. Essa dor me ajuda a perceber que estou vivo! Essa dor
pertence ao meu rastro de vida...
Ah! Mas isso é um pensamento de louco... é ser masoquista, conformista, um iludido. Não! Essa atitude é a
de um herói dos dias de hoje, da atualidade. Essa atitude pode mover o mundo. Não é conformismo o fato de alguém se superar. Não é conformismo o fato de andar mais um passo. Não
é conformismo o pai que acorda às cinco horas para ir ao trabalho e volta para casa às vinte horas. Não é conformismo o estudante que trabalha o dia todo, pega o ônibus lotado e vai
para a faculdade estudar e “sofrer” por seus sonhos. Não! É heroísmo. É vida!
Se estivermos deixando um rastro de luz, não reclamamos, mas olhamos para a estrada, somente para frente. Não olhamos para trás. O caminhar envolve o futuro, o
nosso futuro. É como quem dirige: o motorista tem uma grande vitrine em sua frente que mostra a estrada e dois pequenos espelhos que informam como ficou aquilo que passou e se tem alguém mais veloz querendo ultrapassá-lo.
A dor deve tornar-se um combustível em nossas vidas; uma alavanca que nos impulsiona a nos desgrudarmos do chão.
A dor é necessária para o nosso crescimento. Ela não é nossa inimiga. Ela tem o seu vulto próprio, que se chama oportunidade.
Para a escritora Ayn Rand, em seu livro A revolta de Atlas, a dor é retratada pelos personagens que trabalham pelo bem das suas empresas até o limite de suas forças. É o trabalho a força motriz das suas existências. É
a força da locomotiva que tem uma meta e um caminho único; chegar lá! Lá na frente. Ir aonde ninguém foi capaz de chegar. Ela tem um ponto de partida e um ponto de chegada. É a capacidade
de um caminho pensado e analisado sobre todos os pontos de vistas e todas as possibilidades.
Temos que colocar o mapa de nossa vida sobre uma mesa mental e traçar um caminho a seguir. Devemos analisar os pontos de parada, os pontos de ajustes, os dormentes a serem apertados,
a troca de linha que o nosso trem deverá passar. Encontraremos pontes, chuvas, subidas, descidas, calor, frio... dor. A nossa locomotiva deve partir. Piuiiíííí! E partimos!
No ato de querer a mudança, ela já começou em nossas vidas. A dor faz parte do processo.
Todo o nosso discurso, as nossas sensações, emoções não possuem um significado se não temos a consciência de que somente amando é
que tudo vale. A dor dá lugar ao amor. É um rasgar o coração, um doer que muda. A força do vulcão demora séculos para transformar a pedra em diamante. Aquela dor que é
somente minha pode demorar, mas se transformará em minha riqueza.
Aceitando a dor, amando, o novo passo é a observação do meu, do seu ambiente e com essa observação, direcionar o caminho. Quando estou atento às
minhas dores, transformo-as em amor e, por consequência, amo a dor do outro humano. A observação da realidade faz com que me mova a caminho do bem social. Eu faço a mudança. Entro em diálogo,
primeiro comigo e depois com a pessoa necessitada. Com a pessoa que convive no mesmo ambiente. Com o professor, com o aluno, com o atendente, com o motorista do Uber, com o porteiro... Eu falo! Eu comunico! Eu manifesto! Eu
declaro meu desejo! Sou aceito! Sou rejeitado! Sou triste! Sou alegre!... Mas sou vivo! Eu, agora, vivo!
Podemos nos perder no caminho? Claro! Somos humanos. Em meu verso eu digo “Por momentos, perder-se-á... Mas logo após, se encontrará o caminho e a verdade ― Que me trouxeram até aqui” Aprendi que tudo é bom! Tudo faz parte do fio de ouro de nossa existência.
Então?! Você se atreve a seguir o meu caminho? Ele vai lhe trazer até aqui, mas o melhor é seguir o seu trilho, seguir o seu caminho, deixar o seu rastro
de luz para a humanidade, para sua família, na sua existência.
Nossa vida está em eterna mudança.
Como Fernando Pessoa, podemos dizer: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
LUBICH, Chiara, Meditações, Vargem Grande Paulista: Editora Cidade Nova, 1955,1974,...
2019)
ANDRADE, Cândido T. S, Psicossociologia das Relações Públicas, Petrópolis: Editora
Vozes, 1975 - segunda edição em 1989 pela Edições Loyola)
RAND, Ayn, A revolta de Atlas, São Paulo: Editora Arqueiro, 2012