A oração de Jesus inicia-se com uma passagem da palavra à oração: ”Assim falou Jesus, e, erguendo os olhos ao céu, disse: Pai…” (Jo 17,1). Agostinho comenta essa passagem com esta anotação: “O Senhor Unigênito… poderia ter orado em silêncio, mas Ele quis manifestar-se em atitude de oração ao Pai, para ser nosso Mestre. Quis fazer-nos conhecer a oração que por nós dirigiu ao Pai. De fato, os discípulos deviam encontrar motivo de edificação não somente no discurso que tal mestre lhes dirigia, mas também na oração que por eles dirigia ao Pai; e assim, ao ler o que os discípulos de Jesus escreveram, podemos nós também edificar-nos com a sua oração”.
Segue o gesto ritual, próprio da oração: levantar os olhos ao céu. Assim fez Jesus na oração ao Pai antes da ressurreição de Lázaro (cf. Jo 11,41); assim fazia em outras ocasiões, quando orava, como afirmam os Sinóticos. Estranhamente em nenhum dos relatos da instituição figura esse gesto, que provavelmente era também o gesto ritual da oração do pai de família na bênção dos alimentos. João é o único que, neste contexto, recorda o gesto de Jesus ligado à invocação do Pai.
Todavia, esse olhar de Jesus voltado ao Pai passou a fazer parte de muitas orações eucarísticas do Oriente e do Ocidente, como um dos gestos que fazem parte do relato da instituição da Eucaristia, indicando certa ligação entre a oração sacerdotal e a oração eucarística. Assim, o Cânon Romano, que na suas expressões fundamentais remonta ao século III, faz referência ao gesto de Jesus de olhar para o céu, ao invocar o Pai, como se encontra já em santo Ambrósio: “Levantando os olhos ao céu a ti, Deus, seu Pai onipotente…”. A antiquíssima anáfora das Constituições Apostólicas recorda: “Levantando os olhos ao céu, em direção a ti, seu Pai…”. Com o olhar fixo no Pai Jesus eleva a sua oração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário