28 fevereiro 2020

A palavra se faz carne

Em geral, diz-se que Maria, no anúncio do anjo, com seu sim, obedece, declara-se disponível à vontade de Deus. Sem dúvida. Mas acontece algo mais. Deus não a convida simplesmente a executar um plano, e sim a entrar num relacionamento de amor esponsal com Ele. Depois da ruptura operada pelo primeiro homem e da primeira mulher, Deus vagava à procura de um relacionamento que saciasse sua sede de amor, pela qual havia criado o homem como seu parceiro. Na casa de Nazaré, celebra-se um rito de casamento: o sim de Maria é o juramento de amor com o qual ela responde à oferta de amor eterno e exclusivo de Deus, seu esposo.
      No mesmo instante, Maria, a virgem, torna-se mãe; Deus a fecunda; nela brota a Vida. Deus não se sente mais estéril; encontrou um ventre virgem para doar ao mundo aquele que instaurará o “reino [que] não terá fim” (Lc 1,33), que dará de novo asas a seu sonho inicial.
      Aquele que Maria carrega dentro de si é tudo o que Deus pensou de mais bonito, verdadeiro, santo; é o Pensamento, a Intuição, a Palavra do Artista. Feito
carne. Já possuía uma “carne” junto ao Pai; não era uma abstração, era concreto. Agora, vem “falar” na carne, anunciar a Boa Nova, ser a Boa Nova.

“Bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a observam” (Lc 11,28), dirá o filho de Maria, dando a impressão de arrefecer o entusiasmo de uma mulher pela sua mãe. Jesus não desmente a mulher; sua mãe não é simplesmente aquela que escuta e observa a palavra, é a mãe da Palavra. Esta Palavra que ela carrega no ventre “torna-a” palavra. Ela lhe dá a carne, sentindo-a crescer e manifestar-se dia após dia; o Filho a molda a si. Jesus se assemelhará a Maria, e Maria se assemelhará a Jesus. Quem dos dois influi mais no outro?

O Filho nascerá, sem dúvida, mas já está presente; Maria o carrega em si, está grávida da Palavra. Também a Igreja está grávida, por ser fecundada pela Palavra. Também nós estamos “gerados”, fecundados pela Palavra. Basta vivê-la.

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