30 abril 2017

Uma declaração sagrada

De uma conferência telefônica

      Sierre (Suíça), 25 de agosto de 1994

      O primeiro princípio sobre o qual se apoia [a nossa espiritualidade] é, sem dúvida, o Mandamento Novo de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (cf. Jo 15,12). […]

      Não será nada mau – penso eu – que nos exercitemos um pouco em profundidade nesse primeiro princípio, fundamento de toda a construção.

      E o que fazer concretamente?

      Eu diria que reavivássemos esse amor entre nós e, para que o nosso agir tenha seriedade e se assinale como que uma nova etapa no caminho da nossa Santa Viagem4, aconselharia a vocês e a mim que nos redeclarássemos esse amor entre nós, […] com todos aqueles com os quais convivemos normalmente, embora de modos diferentes. Fizéssemos como fizeram as primeiras focolarinas quando se declararam: “Estou pronta a morrer por você; eu, por você”, ou seja, todas por qualquer uma, lançando assim os fundamentos da nossa Obra5. E depois, procurar viver coerentemente, com toda a intensidade.

      Isso não significa, vocês sabem disso, que, mediante o amor mútuo, a unidade se realiza uma vez para sempre. Ela precisa ser renovada todo dia, mediante propósitos e fatos. […]

      É sagrada essa declaração de amor mútuo, é sagrado esse pacto que lhes peço; é solene, mesmo quando feito na simplicidade; e não está isento de dificuldades. De fato, será fácil pronunciá-lo com alguns; com outros, será necessário preparar o terreno. É um ato não isento de sacrifício, porque às vezes será necessário vencer o respeito humano, outras vezes, superar a indolência ou a rotina espiritual em que talvez tenhamos caído. Será necessário praticar a humildade para fazer o amor próprio calar; em resumo, pagar o primeiro preço da passagem de um modo de viver individual para uma espiritualidade coletiva.

      Mas, Deus abençoará todo esforço e, se depois formos fiéis ao que dissemos, ele nos dará a alegria de divisar a sua presença, efeito da unidade, aonde quer que nos dirijamos.

29 abril 2017

Reavivar os relacionamentos

Rocca di Papa, 26 de maio de 1988

      Há uma página do Evangelho que encontra uma ressonância particular em nós e nos aponta o que fazer [para viver como cristãos autênticos]. Jesus diz: “Se observardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor”. “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros” (Jo 15,10.12).

      Portanto, tudo está contido no amor mútuo.

      Vivendo assim, encontramos o meio de ser Ideal vivo3.

      Nessas últimas semanas, esforçamo-nos para amar com as obras.

      Mas existe modo e modo de praticar obras.

      A grande e, ao mesmo tempo, simples revolução que o nosso Movimento trouxe, e traz, ao mundo é justamente esta: com relação às obras, viver conforme o pensamento de Cristo, e não diferentemente. Eram, e são, muitos aqueles que agem, e agem, num ativismo não inteiramente cristão. Vale para eles a admoestação de Paulo: “Se eu gastasse todos os meus bens no sustento dos pobres […], mas não tivesse amor, de nada me aproveitaria” (1Cor 13,3).

      O Senhor nos concedeu a graça de nos impelir sempre a colocar o amor mútuo na base de qualquer outra coisa: “Sobretudo, cultivai o amor mútuo, com todo o ardor” (1Pd 4,8).

      “Sobretudo”. É assim que nossa ação adquire valor.

      E é para isso que convido todos, nesses próximos quinze dias. Assim como numa fogueira é necessário, de vez em quando, mexer as brasas com um ferro para a cinza não as cobrir, também […] é necessário, de tempos em tempos, dedicar-nos a reavivar o amor mútuo entre nós, reavivar os relacionamentos, para não serem encobertos pela cinza da indiferença, da apatia, do egoísmo. […]

      Reavivar os relacionamentos: aproveitar todas as ocasiões do dia para fazer saírem chamas de amor incandescente de nossos corações e dos corações dos irmãos.

      Desse modo, veremos todas as expressões do nosso Movimento revitalizarem-se, reavivarem-se, rejuvenescerem-se, e todos nós nos tornarmos mais fervorosos, mais belos, mais nós mesmos, como Deus nos quer.

28 abril 2017

Um amor que seja visto

De uma conferência telefônica

      Rocca di Papa, 11 de maio de 1989

      Há uma palavra que Deus com certeza repete constantemente a todos nós. […] É a palavra que pronunciou quando [o Movimento] nasceu; que dirigiu a todos nós quando nos chamou, um por um, para esta nova vida e que não cessa jamais de nos lembrar, porque é nela que encontramos a nossa identidade. É por ela, vivida, que o Movimento encontra e reencontra sempre sua verdadeira natureza.

      Essa palavra é “Amai-vos uns aos outros”.

      É a vocação de todo cristão, mas, poderíamos acrescentar, particularmente nossa.

      Nestes dias, as palavras que se diziam dos primeiros cristãos fizeram-me pensar: “Vejam como se amam e estão prontos a morrer um pelo outro” [Tertuliano, Apologético, 39,7].

      Portanto, via-se que cada um estava pronto a morrer pelo outro. Talvez isso dependesse do fato de que, naqueles tempos de perseguição, não era raro o caso de alguém se oferecer para morrer em lugar do outro. Resta, contudo, o fato de que se via entre os cristãos essa medida de se amarem.

      Geralmente, não se chega a exigir de nós a morte física. Mas, é preciso estarmos prontos. Cada ato de amor mútuo nosso deve fundamentar-se nisso.

      E então, o que fazer nestes dias?

      Aumentemos a temperatura de nossa caridade mútua. Que até mesmo um simples sorriso nosso, ou um gesto, ou um ato de amor, ou uma palavra, ou um conselho, ou um elogio, ou uma correção na devida hora, dirigidos aos irmãos, revelem a nossa prontidão em morrer por eles. Que se veja o nosso amor, não por vaidade, certamente, mas para nos garantir a arma poderosa do testemunho.

27 abril 2017

Em conexão com a Igreja apostólica

Chiara Lubich gosta de se referir diretamente ao Evangelho e a alguns Padres da Igreja, ou escritores eclesiásticos dos primeiros séculos, para evidenciar a centralidade do amor mútuo.

      De uma palestra com o título “A influência espiritual de Maria no homem de hoje”

      Roma, Basílica de Santa Maria Maior, 30 de novembro de 1987

      Os primeiros cristãos haviam compreendido o ensinamento de Jesus sobre o amor mútuo, tinham-no centralizado como ponto focal da Boa Nova e o colocavam-no em prática com muito empenho. De fato, os pagãos, que os observavam, diziam deles: “Vejam […] como se amam entre si […], como estão prontos a morrer um pelo outro” (Tertuliano, Apologético, 39,7).


26 abril 2017

O coração da antropologia cristã

Da aula por ocasião da ortorga do título de doutora honoris causa em Teologia na Universidade de Santo Tomas

      Manila, 14 de janeiro de 1997

      Jesus, de fato – compreendemos então –, é o Verbo de Deus que se fez homem para ensinar aos homens a viverem segundo o modelo da vida trinitária, a vida que Ele vive no seio do Pai.

      Ele não se contentou em evidenciar e ligar estreitamente entre si os dois mandamentos centrais do Antigo Testamento: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento […]. Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,37.39b). Mas ensina-nos o mandamento que Ele mesmo não hesita em definir como “seu” e “novo”, com o qual podemos viver a vida trinitária na terra: “Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (cf. Jo 13,34; 15,12).

      O mandamento do amor mútuo vivido segundo a medida do amor de Jesus por nós, até ao abandono que nos faz plenamente um com Ele, define – como sublinhou também o Concílio Vaticano II (cf. Gaudium et spes no 22 e 24) – a visão do homem que nos foi revelada por Jesus, o coração da antropologia cristã.

      Assim, quando vivemos o Mandamento Novo buscando acolher o dom da unidade em Jesus, que nos vem do Pai, a Vida da Trindade não é mais vivida somente na interioridade de cada pessoa, mas circula livremente entre os membros do Corpo Místico de Cristo.

      Ele pode, assim, tornar-se plenamente o que é pela graça da fé e dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia: presença do Cristo ressuscitado na história, que revive em cada um dos seus discípulos e no meio deles.

25 abril 2017

À imagem de Deus Uno e Trino


      Da palestra “Quem é o irmão”

      Rocca di Papa, 5 de outubro de 1978

      “Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo a nossa semelhança…’ ” (Gn 1,26).

      Irineu, bispo de Lyon, escreve: “[…] os anjos não poderiam ter feito a imagem de Deus, nem ninguém mais […]. Deus não precisava deles para fazer o que deliberara fazer […]. De fato, estão sempre à sua disposição o Filho e o Espírito […]. A eles fala, quando diz: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança’ (Gn 1,26)” (Adv. Hær., IV,20,1 – PG 7,1 032).

      Quão verdadeira me parece essa interpretação! De fato, Deus criou no homem a humanidade em seu conjunto, como alguém que está diante Dele. E a humanidade só pode ser à imagem de Deus Uno e Trino, se quiser ser como Ele a quer. Os homens devem estar em relação de amor uns com os outros como estão as pessoas da Trindade, a cuja imagem eles foram criados.

24 abril 2017

Uma chave para entrar no evangelho


      Do opúsculo O pequeno manifesto inofensivo

      Este escrito, já citado, do qual oferecemos outra passagem, ressalta o Mandamento Novo como chave para penetrar no Evangelho.

      1949

      Observamos que esse mandamento constituía o testamento de Jesus, como que a coroação de qualquer outro mandamento seu; que o Juízo Final seria todo sobre o amor fraterno (Mt 25,35-36.42-43). Compreendemos em profundidade as palavras de são Paulo: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: Não cometerás adultério […] se resumem neste: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm 13,8-10) e fizemos do amor fraterno a mais bela expressão do amor a Deus.

      Sem a caridade, qualquer outra obra seria vã: “Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, mas não tivesse amor, eu nada seria. Se eu gastasse todos os meus bens no sustento dos pobres e até me entregasse como escravo, para me gloriar, mas não tivesse amor, de nada me aproveitaria” (1Cor 13,2-3).

      Portanto, com a caridade tudo – inclusive as pequenas coisas – teria valor porque onde está a caridade, aí está Deus.

23 abril 2017

Amem-se

Rocca di Papa, 5 de novembro de 1995

      Na história da Igreja, nas Regras, os santos fundadores chamaram a atenção de seus discípulos para este mandamento.

      Diz a Regra de santo Agostinho, por exemplo: “Em primeiro lugar – já com este fim vos congregastes em comunidade – vivei unânimes em casa e tende uma só alma e um só coração orientados para Deus”.

      A Regra de são Bento:

      “Antecipem-se uns aos outros em honra, […] rivalizem em prestar mútua obediência; ninguém procure aquilo que julga útil para si, mas, principalmente, o que o é para o outro; ponham em ação castamente a caridade fraterna […]”.

      E a de são Francisco:

      “E amem-se uns aos outros, conforme diz o Senhor: ‘Eis o meu mandamento, amai-vos uns aos outros como eu vos amei’. E a caridade que se devem mutuamente ‘mostrem-na por obras’, segundo diz o Apóstolo: ‘Não amemos de palavras nem de língua, porém de obra e de verdade’. […] não reparem nos menores pecados dos outros, mas ‘com o coração amargurado’ pensem antes nos seus.”

      Entretanto, o que se nota nessas Regras maravilhosas é que – ao que parece – nem sempre se deu continuidade ao tema para explicitar aquele “como”.

      No Movimento, tínhamos entendido desde os primeiros tempos que a fidelidade ao amor mútuo, vivido segundo o modelo de Jesus crucificado e abandonado (eis aí o “como”!), desembocaria na unidade segundo a vida da Santíssima Trindade.

22 abril 2017

A morrer por você

Da palestra aos seminaristas

      Roma, Seminário Romano, 22 de maio de 2001

      Fortemente tocadas pelo compromisso que esse mandamento exige, pela beleza e pelo radicalismo dessas palavras, olhamo-nos de frente uma para a outra, e nos declaramos: “Quero estar pronta a morrer por você”, e a outra: “Eu, por você”, “Eu, por você”…” Todas, por qualquer uma. É um pacto solene, feito inclusive diante da morte: todas, por qualquer uma. Esse pacto haveria de ser o alicerce sobre o qual todo o Movimento dos Focolares se apoiaria; é o coração do cristianismo.

21 abril 2017

O estilo

De uma palestra aos jovens da Jornada Mundial da Juventude

      Santiago de Compostela, 17 de agosto de 1989

      Então, formamos um círculo – éramos sete, oito moças – e, olhando-nos uma para a outra, dissemos: “Eu estou pronta a morrer por você”. A outra: “Eu estou pronta a morrer por você”. “Eu, por você”. “Eu, por você”. Todas, por qualquer uma.

      E começamos esse novo estilo de vida, o estilo do Mandamento Novo, prontas a morrer: portanto, prontas a ceder também as pequenas coisas que tínhamos, prontas a talvez passar a noite em claro para ficar ao lado de uma que estivesse de cama doente, prontas a ceder um pouco de pão, a ceder uma roupa, porque estávamos prontas a morrer uma pela outra.

20 abril 2017

Poder curador

O pensamento e a palavra têm poder curador.

O corpo é o veículo através do qual se manifestam, no plano terrestre, o espírito e a alma, da qual o corpo é apenas o reflexo materializado.

Por isso, espelha aquilo que pensamos, na saúde e na enfermidade, porque recebemos de acordo com os nossos pensamentos, e somos aquilo que pensamos.

Pense sempre certo para ter saúde perfeita!

19 abril 2017

Até estarmos prontos

De um discurso aos muçulmanos

      Nova York, Mesquita de Harlem, 18 de maio de 1997

      Pensamos um dia, sempre diante da morte: existe uma vontade sua que ele considera de modo especial? Gostaríamos de pôr em prática justamente essa, antes de morrer.

      No nosso Evangelho, encontramos esta frase de Jesus: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (cf. Jo 15,12-13). Era um mandamento que Ele dizia ser “novo” e “seu”. Exatamente do que precisávamos.

      Então entendemos que, se até aquele momento, o ensinamento do Evangelho nos havia impelido a amar os outros, agora devíamos voltar a atenção também uma para a outra e nos amar assim: até estarmos prontas a morrer uma pela outra.

18 abril 2017

Será o nosso mandamento

Chiara tinha ido a Berlim um ano antes da construção do Muro, quando alguns focolarinos já estavam além da chamada “Cortina de Ferro”. Na ocasião, dirigiu-se aos estudantes de teologia.

      Berlim, 7 de julho de 1960

      Jesus havia dito muitas coisas que para nós eram vontade de Deus, e nasceu em nosso coração um desejo. Uma vez que podíamos morrer de um momento a outro, porque não estávamos absolutamente protegidas da guerra, tivemos este desejo no coração: saber, estudar, ver se havia uma vontade de Deus a que Jesus dava especial importância, porque nosso coração realmente se inflamara por Deus e queria terminar os últimos momentos do melhor modo possível.

      Então, lembramo-nos de que Jesus disse, antes de morrer: “Dou-vos um Mandamento Novo: amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. E Ele disse que é o seu mandamento: o meu mandamento. Então, por amor a Jesus, por amor a Deus, dissemos: será o nosso mandamento.

17 abril 2017

Em torno de si

Derrame raios de sol de alegria em torno de si.

Desta maneira, formará um círculo de pessoas que sentirão prazer em estar a seu lado.

Quando algum amigo seu estiver triste, sabe que encontrará alegria em você.

Derrame sua luz sobre todos os que o rodeiam, porque a alegria é obra divina.

Seja um raio de luz a iluminar a vida das criaturas que se acercam de você.

16 abril 2017

Exigência do Mandamento Novo


      E o amor mútuo não era sentimentalismo. Era um sacrifício constante de todo o próprio eu para viver a vida do irmão. Era a renúncia perfeita de si [cf. Mt 16,24], era um carregar os fardos um do outro. Era viver o irmão para viver Cristo crucificado vivo no irmão. Como fez Jesus que, tendo-se tornado homem, tomou sobre si todos os nossos pecados e as nossas dores. Era fazer o irmão partícipe de tudo o que era nosso (material e espiritual), como fez Jesus, que se doou por inteiro a nós na cruz e nos dá, na Eucaristia, alma, corpo e Divindade.

      E nesse amor mútuo completo e perfeito, percebemos que vivíamos o Testamento de Jesus ao Pai [cf. Jo 17,21], testamento que se tornou nossa Regra, como síntese evangélica. […]

      Essa unidade, que devia ser mantida perfeita, custava-nos no início (“Ou tudo ou nada”, dizíamos, porque tínhamos experimentado que Deus difunde a Sua caridade lá onde não existe nada – e daqui derivam as espiritualidades dos Santos baseadas no aniquilamento, na pobreza altíssima, na pequenez… e a grandeza de Maria, por ser ela a mais humilde das servas).

      Ser um com o irmão queria dizer esquecer-se de si absolutamente, para sempre. Nunca mais encontrar-se de novo. Era perder tudo, inclusive a própria alma, para viver as dores e as alegrias do outro, a fim de mostrar a Jesus o nosso amor: sermos crucificados com Ele vivo no irmão e com Ele estarmos alegres.

      O irmão era o nosso convento onde a alma devia sempre se recolher. O irmão era a nossa penitência, as mortificações, porque amá-lo exigia a morte completa do eu.


15 abril 2017

Amar a Deus significa amar um ao outro

Do artigo “O Natal de uma Ideia”

      Fevereiro de 1948

      A narração sobre o tema do amor mútuo, da qual damos aqui um excerto, é, conforme documentação existente, a primeira apresentação da experiência que será chamada “história do Ideal”. Como já foi lembrado, Chiara Lubich e as suas companheiras ainda eram terciárias franciscanas na época; as “almas filhas do Pai Seráfico” mencionadas são as primeiras focolarinas.

      As circunstâncias, vozes de Deus, afastavam tudo do coração daquelas pessoas filhas do Pai Seráfico e as dispunham a gritar com São Clara, “a plantinha”4: “Desejo somente Deus!”

      “Amá-lo” foi o programa.

      Mas, amá-lo significa fazer aquilo que Ele quer: o amor mútuo. Amá-lo significa amar-se com amor prático, efetivo e com amor delicado, afetivo.

      Essas pessoas amaram-se para amá-lo.

14 abril 2017

Controle

Controle o tom de sua voz!

Já verificou como é desagradável quando alguém se dirige a você em tom áspero?

Pois faça aos outros o que gosta que os outros façam a você.

Mesmo quando repreender, faça-o com voz calma e educada, como gostaria que o repreendesse quando você erra.

Lembre-se de que, em geral, somos odiados ou amados, de acordo com o tom de voz que empregamos.

13 abril 2017

Olhar todas as flores

Do escrito “Olhar todas as flores”

      Em 1949, valendo-se da metáfora de um jardim florido, Chiara Lubich descreve a novidade da experiência espiritual que Deus a fez experimentar, de 1943 até aquele momento. O texto é uma introdução ao que Chiara chamaria de “o caminho do irmão”, na década de 1950 e, mais tarde, “a espiritualidade coletiva”3.

      6 de novembro de 1949

      Deus, que em mim reside, que a minha alma plasmou, que nela repousa como Trindade (com os santos e com os anjos), também reside no coração dos irmãos.

      Portanto, não é razoável que eu o ame só em mim. Se assim fizesse, meu amor ainda manteria um quê de pes­soal, de egoísta: amaria Deus em mim e não Deus em Deus, porquanto a perfeição é: Deus em Deus (que é Unidade e Trindade).

      Por conseguinte, a minha cela (como diriam as almas íntimas a Deus) é nós: o meu Céu está em mim e, do mesmo modo que está em mim, está na alma dos irmãos.

      E, como o amo em mim, ao recolher-me nesse meu Céu – quando estou só –, amo-o no irmão quando ele está junto a mim.

      Então, não amarei o silêncio, amo a palavra (expressa ou tácita), ou seja, a comunicação do Deus em mim com o Deus no irmão. Se os dois Céus se encontram, existe aí uma única Trindade, em que os dois estão como Pai e Filho e, entre eles, está o Espírito Santo.

      É necessário, sim, recolher-se sempre, inclusive na presença do irmão sem, contudo, esquivar a criatura – mas recolhendo-a no próprio Céu e recolhendo-se no Céu dela.

#ChiaraLubich

12 abril 2017

Ameis uns aos outros

Janeiro de 1948

      Ouve-se dizer hoje que a Ordem Terceira Franciscana está ultrapassada.

      Aparentemente, talvez possa ser verdade.

      Mas a semente de uma Ideia, que é o próprio Cristo, não pode ficar ultrapassada.

      Ainda existem pessoas que, indo além das formalidades exteriores, talvez não muito atuais, sabem compreender o pensamento do seu Pai seráfico e sabem reencontrar a vida para si mesmas e para o seu tempo.

      E sentem que, em momentos muito semelhantes aos de Francisco de Assis, a única luz que salvará a humanidade, dividida por falsas ideologias, e a Pátria, dividida em muitos partidos que ainda entram em conflito entre si, como os guelfos e os gibelinos1, será a Luz que saiu do Coração do Pai no qual somente Jesus vivia.

      Sim, os homens, particularmente os italianos, clamam a Jesus, e Jesus voltará. Queremos que volte. Contudo, se voltar, não será como quando estava na sua Palestina, mas voltará NOS CRISTÃOS, na vida dos cristãos e, especialmente, nos católicos, fazendo deles outros Jesus e resolvendo divinamente o problema de cada coração humano, cristão, que, talvez sem saber, invoca a luz, a paz, o gáudio, o amor do Coração de Jesus.

      Jesus voltará ENTRE OS CRISTÃOS CATÓLICOS porque dizer Jesus quer dizer fraternidade; quer dizer: “Eu vos dou um Mandamento Novo: que vos ameis uns aos outros”.

#ChiaraLubich

11 abril 2017

Alegria

Seja alegre e otimista!

Quando se dirigir a seu trabalho, faça-o de coração alegre.

O trabalho que você executa é digno de sua pessoa. Por menor que pareça, é de suma responsabilidade para você e para o mundo.

Não se esqueça jamais de agradecer a Deus o trabalho que proporciona o pão de cada dia.

Chegue ao local de trabalho com o coração feliz, e o trabalho se tornará um passatempo, um estimulante, que lhe trará, cada novo dia, imensas alegrias e felicidade incalculável.

10 abril 2017

Adeus

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos, 
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar 
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos 
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame, 
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste. 
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança. 
E eu lhe digo adeus.

09 abril 2017

Amar-nos por Ele


      De uma carta à irmã Josefina e à irmã Fidente

      A longa carta, pequeno tratado sobre como viver a unidade, é articulada em dois pontos. Transcrevemos um trecho do segundo ponto, intitulado “Sejam entre vocês uma só coisa”.

      3 de outubro de 1946

      Que uma veja na outra não mais irmã Josefina ou irmã Fidente, mas tão somente Jesus! Digam a Jesus que a prova e a medida do Amor com que o amam é o amor com que vocês se amam por Ele!

      Amor quer dizer: vontade total dirigida a Deus, a quem damos todo o coração, toda a mente, toda a alma, momento por momento. E, por Ele, damos à irmã toda a vontade, toda a mente, todo o coração, toda a alma (medida do nosso amor por Deus) da qual queremos a mesma Santidade que desejamos para nós.

      Amem-se. E terão feito tudo.

      E, amando-se entre vocês, aprendam a amar igualmente todas as irmãs.


08 abril 2017

Servir a Deus

Saiba compreender o que significa servir a Deus.

Deus, a Onipotência absoluta e Infinita, de nada precisa.

Entretanto, quer ser servido, mas indiretamente, através de suas manifestações, que são as criaturas, animadas ou inanimadas.

Todas as vezes que servimos a um semelhante, a um animal, a uma planta, estamos servindo a Deus, porque Deus se manifesta ao homem através do próprio homem.

07 abril 2017

Do opúsculo - Opequeno manifesto inofensivo


      1949

      Víamos que “entrar” no irmão nutria o renascer do irmão.

      Somente a caridade conta. E assim, sentindo-nos pecado com o irmão pecador, erro com o irmão que incorre em erro, fome com o irmão faminto, excomunhão com o irmão excomungado, a Vida que existia em nós passava para ele e éramos por ele amados de volta. Ele via novamente a Luz porque sentia o amor e, na luz, via a esperança, que desterrava o desespero, via a caridade por nós e por todos. O Espírito de Jesus invadia um outro membro do seu Corpo Místico. […]

      Era um reviver a Vida de Jesus. Continuá-Lo. Como Ele “se fez um” conosco para nos levar ao Pai; se fez treva conosco, que éramos trevas, para nos dar a luz; pecado conosco, pecadores; dor conosco, adolorados; morte conosco, mortos, para nos dar a vida e nos fazer ressurgir com Ele, ressuscitado, assim era a nossa vida em contato com todo irmão que nos acompanhava. Transformarmo-nos nele, como Jesus, para transformá-lo em nós. Ou seja, para dar a ele aquela plenitude de alegria, que a vida de comunidade nos havia dado, no amor mútuo. Assim, um membro do Corpo Místico, porque unido ao Cristo (Ele estava entre nós como Cabeça), estando nós unidos, continuava a redenção – sofrendo em si as dores do irmão, como prosseguimento da paixão – no sentido de que era causa da plenitude da vida do irmão. […] Quantas conversões aconteceram amando assim como Ele havia amado.

#ChiaraLubich

06 abril 2017

O Mandamento Novo, raíz de um novo caminho

No decorrer dos anos, Chiara Lubich retornava com insistência e de várias maneiras à sua redescoberta de Jo 13,34, para ser fiel à luz recebida. Vivendo o Mandamento Novo com seu Movimento, compreendia e explicava a importância e a novidade dele. E também enxergava a sua manifestação em muitos “sinais dos tempos”.

      De um discurso aos dirigentes do Movimento dos Focolares

      Chiara ressalta que é Cristo em nós que ama com a caridade.

      Rocca di Papa, 24 de outubro de 1978

      O Senhor usou de toda uma pedagogia para nos ensinar a amar o irmão, permanecendo no mundo sem ser do mundo. De imediato, fez-nos entender que era possível amar o irmão, sem cair no sentimentalismo ou em outros erros, por que Ele mesmo podia amar em nós, com a caridade. […]

      A caridade é uma participação no “ágape” divino. […]

      Depois de ter dito que Deus nos amou, são João não conclui – como teria sido mais lógico – que, se Deus nos amou, devemos amá-lo em troca, mas diz: “Caríssimos, se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo 4,11).

      E, somente porque a caridade é participação no “ágape” de Deus, podemos ultrapassar os limites naturais e amar os inimigos, e dar a vida pelos irmãos.

      É por isso que o amor cristão é próprio da era nova, e o mandamento é radicalmente novo e introduz uma “novidade” absoluta na história humana e na ética humana. Como escreve Agostinho: “Este amor nos renova, para que sejamos homens novos, herdeiros do Testamento Novo, cantores do cântico novo” (cf. Io. Evang. tract. 65,1; PL 34-35).

#ChiaraLubich

05 abril 2017

Aprender a viver o Mandamento Novo em profundidade

De uma resposta aos jovens que se preparam para entrar para o focolare

      Castel Gandolfo, 7 de abril de 1996

      Já foi mencionada a expressão “espiritualidade coletiva”, que Chiara Lubich cunhou, nos anos 1990, para evidenciar a novidade do dom recebido de Deus.

     

      Existe na “espiritualidade coletiva” algo especial que você ressaltaria para quem faz a experiência de se preparar para viver no focolare?

      Para mim, tudo deve ser ressaltado […], tudo deve ser ensinado.

      Entretanto, se você quiser saber uma coisa que me urge que vocês aprendam é o que são João dizia nas primeiras comunidades: “Eu vos dou um mandamento novo, mas que é antigo, porque o aprendestes desde o início” [cf. 1Jo 2,7; 3,11], e era o Mandamento Novo de Jesus.

      Portanto, também nós, que somos os cristãos do Terceiro Milênio, devemos aprender a viver em profundidade o Mandamento Novo de Jesus. Tanto mais que tudo o que você aprender, todas as leis que você assimilar, do Evangelho, da Escritura, da Igreja, do Magistério, todas são úteis para realizar o Mandamento Novo do melhor modo possível.

      Portanto, exercite-se logo nesse aspecto porque ele é o mais importante de sua vida.

#ChiaraLubich

04 abril 2017

Cristo em nós que ama com a caridade

De um discurso aos dirigentes do Movimento dos Focolares

      Chiara ressalta que é Cristo em nós que ama com a caridade.

      Rocca di Papa, 24 de outubro de 1978

      O Senhor usou de toda uma pedagogia para nos ensinar a amar o irmão, permanecendo no mundo sem ser do mundo. De imediato, fez-nos entender que era possível amar o irmão, sem cair no sentimentalismo ou em outros erros, por que Ele mesmo podia amar em nós, com a caridade. […]

      A caridade é uma participação no “ágape” divino. […]

      Depois de ter dito que Deus nos amou, são João não conclui – como teria sido mais lógico – que, se Deus nos amou, devemos amá-lo em troca, mas diz: “Caríssimos, se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo 4,11).

      E, somente porque a caridade é participação no “ágape” de Deus, podemos ultrapassar os limites naturais e amar os inimigos, e dar a vida pelos irmãos.

      É por isso que o amor cristão é próprio da era nova, e o mandamento é radicalmente novo e introduz uma “novidade” absoluta na história humana e na ética humana. Como escreve Agostinho: “Este amor nos renova, para que sejamos homens novos, herdeiros do Testamento Novo, cantores do cântico novo” (cf. Io. Evang. tract. 65,1; PL 34-35).

03 abril 2017

Otimismo e bondade

Se você quiser encontrar paz e alegria neste mundo, espalhe em torno de si otimismo e bondade.

Não se deixe ficar inativo na comodidade que nada produz.

É pelo trabalho em benefício do próximo que armazenamos energias, a fim de vencer os embates da vida.

Não pare jamais, não perca as oportunidades que se apresentam diariamente de fazer o bem, para que o bem venha abundante sobre você.

02 abril 2017

Viver isolado

O homem não pode viver isolado.

Lembre-se de que cada companheiro de jornada é um amigo que o ajuda a quem você precisa também ajudar.

A cooperação existe entre todas as coisas criadas.

Procure você também cooperar com tudo e com todos, em benefício da própria Terra que o acolhe bondosamente, permitindo sua evolução.

Ajude sempre, e jamais desanime.

01 abril 2017

Palavra de Vida – Abril de 2017

 “Fica conosco, pois já é tarde.” (Lc 24,29) 


Foi esse o convite dirigido ao desconhecido que os dois companheiros de viagem encontraram no caminho que ia de Jerusalém à localidade de Emaús. Eles “falavam e discutiam” entre eles sobre o que tinha acontecido dias antes na cidade. 

O homem dava a impressão de ser a única pessoa que não sabia de nada. Por isso os dois, aceitando a sua companhia, lhe falaram desse “profeta poderoso em palavras e em obras diante de Deus e dos homens”, em quem eles tinham confiado totalmente. Ele tinha sido entregue aos romanos pelos chefes dos seus sacerdotes e pelas autoridades judaicas, sendo depois condenado à morte e crucificado1. Uma tragédia terrível, cujo sentido eles não eram capazes de entender. 

Ao longo do caminho o desconhecido ajudou os dois a compreender o significado daqueles acontecimentos, baseando-se na Escritura. E assim reacendeu no coração deles a esperança. Chegando a Emaús, pediram que ele ficasse para jantar: “Fica conosco, pois já é tarde”. Enquanto ceavam juntos, o desconhecido abençoou o pão e o repartiu com eles. Esse gesto fez com que eles o reconhecessem: o Crucificado, que estava morto, agora estava ali, ressuscitado! Imediatamente os dois mudaram de programa: voltaram a Jerusalém e procuraram os outros discípulos para dar-lhes a grande notícia. 

Também nós podemos estar desiludidos, indignados, desencorajados diante de uma trágica sensação de impotência diante das injustiças que atingem pessoas inocentes e indefesas. Também na nossa vida não faltam a dor, a incerteza, a escuridão... E como gostaríamos de transformá-las em paz, esperança, luz, para nós e para os outros. 

Queremos encontrar Alguém que nos compreenda profundamente e ilumine o caminho da vida? 

Jesus, o Homem-Deus, aceitou livremente experimentar, como nós, a escuridão da dor, para ter a certeza de atingir no mais profundo a situação de cada um de nós. Aceitou a dor física, mas também a dor interior: desde a traição por parte dos seus amigos até a sensação de ser abandonado2 por aquele Deus que Ele sempre tinha chamado de Pai. 

Por causa da sua confiança inabalável no amor de Deus, superou aquela imensa dor, confiando-se novamente a Ele3. E Dele recebeu nova vida. 

Ele conduziu também a nós, homens, por esse mesmo caminho e quer acompanhar-nos: 
“(...) Ele está presente em tudo aquilo que tem sabor de dor (...). 

Procuremos reconhecer Jesus em todas as angústias, as aflições da vida, em todas as escuridões, as tragédias pessoais e dos outros, os sofrimentos da humanidade que nos rodeia. São Ele, porque Ele os tornou seus (...). Bastará fazer algo de concreto para aliviar os ‘seus’ sofrimentos nos pobres (...), para encontrar uma nova plenitude de vida”.4 

Uma menina de sete anos conta: “Sofri muito quando meu pai foi preso. Amei Jesus nele. Assim consegui não chorar diante dele quando fomos visitá-lo”. 

E uma jovem esposa: “Acompanhei meu marido Roberto nos últimos meses de sua vida, depois de um diagnóstico sem esperança. Não me afastei dele nem por um instante. Eu via Roberto e via Jesus... Roberto estava na cruz, realmente na cruz.” O amor mútuo entre eles tornou-se luz para os seus amigos e eles se envolveram numa competição de solidariedade que nunca mais se interrompeu; pelo contrário, se estendeu a muitos outros, dando origem a uma associação de promoção social chamada “Abraço Planetário”. “A experiência vivida com Roberto”, diz um amigo dele, “nos arrastou com ele numa verdadeira caminhada rumo a Deus. Muitas vezes nos perguntamos qual o significado do sofrimento, da doença, da morte. Creio que todos os que tiveram a sorte de fazer esse percurso ao lado de Roberto tenham agora a compreensão bem clara de qual seja a resposta”. 

Neste mês todos os cristãos celebram o mistério da morte e ressurreição de Jesus. É uma ocasião para reacender a nossa fé no amor de Deus que nos permite transformar a dor em amor; cada desapego, separação, fracasso e a própria morte podem tornar-se para nós fonte de luz e de paz. Na certeza de que Deus está perto de cada um de nós em qualquer situação, queremos repetir confiantes o pedido dos discípulos de Emaús: “Fica conosco, pois já é tarde”.

Letizia Magri 

1 Cf. Lc 24,19ss. 2 Cf. Mt 27,46; Mc 15,34. 3 Cf. Lc 23,46. 4 Cf. Chiara Lubich, Palavra de Vida, revista Cidade Nova, abril de 1999.