23 junho 2021

Na casa de Loreto e no sacrário

De uma palestra na escola de formação dos focolarinos

Em outubro de 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Chiara já estava com vinte e três anos de idade. Tinha acabado de se inscrever na Faculdade de Filosofia na Universidade de Veneza. Como estudante católica, foi convidada a participar de um congresso da Juventude Feminina da Ação Católica, realizado em Loreto. “Acompanho o programa com as outras jovens” – conta ela mesma –. “Mas, assim que posso, nos intervalos, corro para a Pequena Casa3. Não tenho tempo de verificar se historicamente foi aquele o ambiente que hospedou a Sagrada Família. Ajoelho-me ao lado da parede pretejada pela fumaça das velas. Não consigo pronunciar uma só palavra. Algo novo e divino me envolve, quase me esmaga.”

É lá que ela entende a sua vocação e, na Eucaristia, encontra a força para voltar a Trento.

Grottaferrata, 17 de setembro de 1961

Quando estive em Loreto, fui como que envolvida por uma graça particular de Deus e pela ideia de que estava na casa onde o Menino Jesus, Nossa Senhora e são José tinham estado. […] Lá, manifestou-se para mim essa nova estrada que Deus queria abrir no mundo; portanto, era uma graça bem especial. Não era o convento, não era a família, não era [permanecer] virgem no mundo; era outra coisa, era a casinha [de Nazaré], que era toda a Mariápolis5.

Ali, num determinado momento, estava tão tomada pelo divino […] que não queria mais voltar para casa, para Trento, porque ali era como se tivesse encontrado o Paraíso: o divino me havia envolvido toda para me sugerir as primeiras ideias sobre uma vocação nova que Deus iria preparar, uma multidão de virgens.

O que me fez resolver voltar foi: aqui existe uma casinha maravilhosa onde [Jesus] esteve, mas em Trento existe o sacrário com Jesus Eucaristia.

Em 7 de dezembro de 1943, Chiara pronunciou o voto perpétuo de castidade pelas mãos de frei Casimiro Bonetti, um frade capuchinho e seu confessor. A fim de prepará-la para dar esse passo, o sacerdote a pôs diante da seriedade da escolha que estava prestes a fazer e lhe mostrou, de modo duro, as consequências que poderia acarretar. O que ajudou Chiara a vencer qualquer hesitação foi o pensamento em Jesus Eucaristia.

Pode-se encontrar Deus na terra de muitas maneiras, a ponto de tocá-lo. Onde aparece mais evidente é na Eucaristia; ali Deus está realmente. Um pequeno fato diz que, se não tivesse havido Jesus Eucaristia, o Ideal não teria nascido.

Deus havia-me chamado para me consagrar a Ele. Eu não conhecia ninguém [dos meus primeiros companheiros ou primeiras companheiras], ninguém, nem sabia que viria alguém. Se me tivessem dito: Olhe, Chiara, você terá uma companheira, para mim teriam diminuído a beleza [do que estava fazendo], porque eu era chamada a dar-me a Deus, a doar-me a Ele, portanto, até a ideia de um Movimento teria parecido uma coisa pequena diante de Deus. Eu não sabia nada de nada, apenas que Deus me chamava, e eu respondi.
Escrevi ao padre que ia me consagrar a Deus. Vê-se que era uma carta meio ditada pelo Senhor, porque ele ficou tão convencido que foi aconselhar-se com outras pessoas e concluiu: é preciso consagrar essa alma a Deus, e logo para sempre. Fez-me proferir imediatamente o voto perpétuo de castidade, de modo que eu fosse logo afastada do mundo.
Mas [antes disso] ele me quis pôr à prova. […] “Na vida”, disse-me, “seus irmãos e irmãs vão se casar, ter muitos filhos, ter uma casa, e você não terá nada.” [Disse-me isso] para ver se eu resistia. “Depois” – continuou – “você não vai ficar assim sempre jovem, sabe? Ficará velha e vai acabar num asilo.” […] Eu não entendia que ele fazia aquilo justamente para me provar. Eu me vi tão sozinha, porque não sabia que nasceria o Movimento, não sabia de nada. Então disse àquele sacerdote: “Enquanto houver um sacrário na Terra, não vou ficar sozinha”.
Por isso, se não tivesse existido Jesus Eucaristia, o Movimento nunca teria nascido, porque [a perspectiva que o sacerdote abria à minha frente] era realmente inconcebível, ele me mostrava uma realidade dura. Quem me deu a solução naquele momento foi Jesus Eucaristia.

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