17 outubro 2020

Jesus em meio

Hoje quero explicar-lhes um dos pontos da nossa espiritualidade, mas que é importantíssimo, quase, quase diria que é o mais importante, e é Jesus em meio.

Vocês sabem, popas, que para mim, nesta época, é vontade de Deus escrever, porque um dia vou morrer. Ora, precisa deixar as coisas exatamente como nasceram, exatamente, porque mais tarde já não existirá quem as viveu nos primeiríssimos tempos e também quem as recebeu diretamente de Deus, como pode ser o meu caso. Portanto, é muito importante que eu fale em todos os encontros, etc.; porém, ainda mais importante é que eu escreva.
Por outro lado, estou me dando conta de que: mesmo após ter escrito, se eu não comunicar o que escrevi, confrontando-o com Jesus no meio, o escrito não será exatamente como eu gostaria que fosse; portanto, escrevi este tema sobre Jesus em meio, este "capítulo" da nossa espiritualidade sobre Jesus em meio.
Porém, assim que acabar de comunicá-lo a vocês, tenho a certeza de que vou corrigir alguma coisa, de modo que seja realmente Jesus em meio a nós a aprovar este meu escrito. [...]
Aconteceu assim: nos primeiríssimos tempos Deus nos encaminhou por uma estrada bem definida e era a via do amor, a via da caridade. E dado que eu não me encontrava sozinha a percorrer esta estrada, mas estava com outras focolarinas.
[...] Naturalmente, esta via da caridade transformou-se para nós em caridade recíproca e, para nós, o mandamento novo de Jesus passou a ser lei: "Amai-vos uns aos outros”. Já que estávamos sempre juntas, vivemos o “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, com todos os matizes que este conceito contém. Porque amar... não é brincadeira! Não tem nada a ver com o sentimento;
por exemplo, é tudo quanto diz São Paulo: “A caridade tudo espera, tudo crê, tudo suporta, nunca pensa mal” e assim por diante..., “é paciente...”, e continua, é tudo quanto diz São Paulo. Portanto, devíamos treinar para possuir esta caridade uma pela outra, para termos o amor recíproco.
E o amor recíproco queria dizer amar o outro como a si mesmo e vice-versa; por exemplo, colocar em comum também as nossas experiências, inclusive espirituais, porque o Senhor não havia dado limites à caridade, não havia dito: "Ama o próximo como a ti mesmo no plano material”, partilhando os poucos bens, mas também no plano espiritual, basta que seja movido sempre pela caridade, que contém em si todas as outras virtudes, como por exemplo a prudência. No sentido de que certas coisas não podiam ser ditas, porque deveriam ser ditas, talvez, ao confessor. No entanto, o que se podia dizer e era caridade dizê-lo, porque servia também às outras, devia ser dito. Logo, colocavam-se em comum as experiências, como ainda hoje se faz nos focolares, não é verdade?
Nós começamos a amarmo-nos assim e notamos que a caridade tornava-se recíproca e levava-nos em direção a Deus, vivendo uma santidade não individual, mas coletiva, a ir a Deus juntas; isto é, a minha santidade estava ligada à santidade de Lia, à santidade de Brunetta, à santidade... A tal ponto que eu dizia: “Caso eu morra, mesmo que me santifique, vocês não podem me declarar santa enquanto vocês não morrerem também, certificando-nos que se santificaram”. Naturalmente, pode acontecer que uma seja santa, talvez a Natália, e mais ninguém, porque as demais não corresponderam. Todavia, ela possuía a virtude heróica não obstante tudo. Porém, estávamos ligadíssimas.
Portanto, uma caridade coletiva, uma via coletiva, manifestou-se de imediato e foi muito clara. Talvez seja a característica... Não posso agora fazer divagações. Contudo é uma das coisas mais importantes do nosso Movimento, este coletivismo cristão, este: “juntos ou nada”, quase. (...)
Chiara Lubich.
Grottaferrata, 26 de fevereiro de 1964

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