De uma conferência telefônica
Rocca di Papa, 22 de dezembro de 1994
E aqui estamos no quinto instrumento da nossa espiritualidade coletiva, que denominamos “colóquio”.
Ele também serve muito para o progresso de nossa vida espiritual. […]
Assim como nem sempre são suficientes nossos cuidados para manter a saúde do corpo, mas nos confiamos a especialistas, talvez para um check-up completo; assim como não basta lavar e cuidar com precaução do nosso carro para viajarmos tranquilos, mas, de vez em quando, é necessário o olho de lince do mecânico, também é bom controlar de vez em quando a caminhada de nossa alma com alguém que conhece mais do que nós a vida do espírito. […]
Também Jesus fazia colóquios com pessoas individualmente. O Evangelho traz alguns. E foram tão importantes quanto os seus discursos para as multidões.
Por exemplo, Ele conversou sozinho com a samaritana (cf. Jo 4,1-26), bem como conversou de noite com Nicodemos (cf. Jo 3,1-21).
Visto que se encontrava junto a um poço e tinha sede, pediu de beber à samaritana e, na mesma circunstância, revelou-lhe a situação dela: tinha vivido com cinco homens e nenhum deles era seu marido, como também não era o que tinha naquele momento.
Apesar disso, continuando o colóquio, Jesus fala com aquela mulher até mesmo sobre o dom de Deus, a graça, que nos faz filhos de Deus, e a ela se revela inclusive como Messias: “Sou eu, que estou falando contigo” (Jo 4,26).
Revelações grandiosas, divinas… a uma pobre samaritana, com quem Jesus não deveria nem ter falado, segundo os costumes.
E a Nicodemos, cuja fé e piedade conhecia, Jesus diz que quem não é gerado pelo Alto não pode ver o Reino de Deus; que, portanto, é necessário renascer da água e do Espírito por meio do batismo.
Outra revelação altíssima referente ao Reino. O quanto Jesus amava as pessoas!
E é justamente Dele que precisamos aprender a fazer os colóquios.
Ele não fecha os olhos para a realidade das pessoas que tem diante de si: a samaritana pecadora; Nicodemos, homem de piedade, embora medroso. E encontra, em todos os casos, o modo de revelar a eles as grandes realidades que veio doar ao mundo.
É assim que nós nos devemos comportar nos colóquios que fazemos com os nossos irmãos: devemos partir da situação presente deles – que viremos a conhecer se nos colocarmos na atitude apropriada (a de amá-los com todo o coração e a mente) e se estivermos totalmente vazios (como nos ensina o mistério de Jesus Abandonado) – para que o irmão possa abrir-se totalmente, esvaziando em nosso coração a enchente que às vezes tem em seu espírito, de modo que se dê início à realização, entre nós, daquele relacionamento trinitário que devemos estabelecer com ele.
Depois, ouvindo o Espírito Santo que certamente fala em nós se tivermos amado, falamos, prontos não só a fazer voltar a paz e a serenidade ao irmão, mas a lhe revelar novamente, em seus mil matizes, o Ideal que um dia o iluminou e arrastou pelo caminho da espiritualidade coletiva.
E como nos devemos comportar se somos nós que estamos em posição de receber?
Já está claro. Também nós devemo-nos dispor a estabelecer um relacionamento trinitário com o irmão ou a irmã, que está presente para nos ajudar. E, também nesse caso, Jesus Abandonado é mestre, Aquele que, tendo dado tudo, tornou-se o vazio.
Mas aqui, é preciso criar o vazio em nós, doando a nossa situação espiritual com as suas lutas e as suas vitórias, os seus regressos e os seus progressos.
E depois, colocamo-nos em atitude de ouvir, certos de que o Espírito Santo dará a sua luz a quem nos deve iluminar, e conscientes de que é sobretudo a Ele, ao Espírito Santo, que devemos a nossa gratidão se fomos ajudados, aliviados e encorajados.
Se tudo decorrer desse modo, também aqui, como na “hora da verdade”, o resultado será uma alegria profunda: alegria pela paz readquirida ou ampliada, alegria por enxergar de novo e cada vez melhor o nosso caminho atrás de Jesus, causa de toda nossa felicidade.