19 março 2018

Doença


No Movimento se tem uma idéia bem clara dos seus membros doentes.
Quando alguém não está bem, devemos procurar todas as maneiras, todos os meios para curá-lo, porque a saúde dos membros é um patrimônio da Obra. Ao mesmo tempo ao doente é pedido o desapego da sua saúde. Não só. Ele é encorajado a ver na doença e na morte inclusive um dom de Deus (...), porque expressão da sua vontade e portanto amor de Deus.
Quando se apresenta uma doença qualquer, nós somos convidados a acreditar e a dizer que é tudo amor, amor de Deus, recordando Santa Teresa de Lisieux que, assim que teve a primeira golfada de sangue, não falou de doença, mas disse: «Chegou o Esposo!»
Todavia, se a doença e a morte são amor de Deus, que função especial elas têm?
Para nós as doenças são meios à disposição da providência de Deus para esculpir, no bloco disforme do nosso eu, a figura de Jesus, Jesus.
Por isso sempre apreciamos a explicação que São Vicente de Paulo dá sobre as doenças:

Acontece conosco o que se faz com um bloco de mármore no qual se quer esculpir uma linda estátua da Virgem Maria. O que o escultor deve fazer para concretizara idéia concebida? Deverá pegar o martelo e tirar daquele bloco tudo o que é supérfluo. Para fazer isso começa a bater no bloco de cima para baixo com golpes bem firmes... a ponto de fazer pensar que ele quer quebrar tudo. Depois que ele tiver tirado o grosso, pega um martelo menor e depois ainda o cinzel para começar a modelar a figura em todos os seus detalhes. Usará ainda outros instrumentos cada vez mais delicados para dar à estátua aquela perfeição que tem em mente. Deus usa a mesma técnica conosco (diz sempre o santo).
Tomemos como exemplo uma filha da caridade ou um missionário. Antes que Deus os tire do mundo, eles vivem de modo grotesco e rude, como maciços blocos de mármore. Mas Deus quer fazer deles belas estátuas e para isso começa a martelá-los e a golpeá-los do alto com fortes golpes de martelo.
Quem não sabe ver além das aparências (nas provações espirituais ou físicas) poderá dizer que esta filha é desventurada; mas se alguém souber ler o desígnio de Deus, verá que todos estes golpes têm por único objetivo dar uma forma àquela bela idéia.


Eu gosto desta idéia. Também nós damos o mesmo valor a isso.
No Movimento temos um conceito nosso do doente e dos doentes.
Está escrito em outro diário de 1968.

Nós, no trabalho, nos triunfos... que esta Obra exuberante e fecunda produz, às vezes somos tentados de ver nas pessoas que sofrem casos marginais que devemos cuidar, visitar, para que possivelmente se restabeleçam depressa e retomem a atividade, como se a atividade fosse o nosso primeiro dever, o centro da nossa vida. Ao invés não: aqueles que entre nós sofrem, estão doentes, morrem são os eleitos, na Obra. Eles estão no centro da hierarquia de amor do Movimento. São aqueles que mais fazem, mais agem.[1]

E em outro momento escrevi:

Veremos nos doentes hóstias vivas, que unem o próprio sofrimento àquele de Cristo, dando assim a melhor contribuição para o desenvolvimento da Obra e da Igreja.

Também o Papa João XXIII pensava assim. Ele escreveu isso a um bispo emérito:

Agora a tua missão mudou (em relação à Igreja):
deves rezar por ela. E isso não é menos importante do que a ação.

São duas idéias sobre a doença, mas suficientes para viver bem.



[1] Diário, 11.04.1968;

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