28 março 2018

A nossa responsabilidade é grande

Sem dúvida, a nossa responsabilidade é grande, pois nós, cristãos, devemos ser testemunhas de Cristo e, pelo modo como nos comportamos, os outros podem intuir qual foi a mensagem que Jesus trouxe à terra. Sucede, porém, que, às vezes, o testemunho de Cristo que nós mesmos damos é pouco ou nenhum, ou é deformado de um jeito ou de outro. Temperamentos inconstantes e mentes indóceis à ação da graça dão uma ideia de Jesus segundo a imagem e semelhança deles, por isso o mundo, que vê e observa, deduz o que pode pelos dados que possui. Que a religião, por exemplo, dobra o pescoço das pessoas mas não a vontade em sua raiz mais profunda, porque aquele determinado cristão que se diz discípulo de Cristo, como é ainda ele que vive em si mesmo e não Cristo, lança uma sombra que vela, em sua pessoa, a religião que ele professa. E assim, continua e se perpetua tragicamente a separação entre os que estão afastados e aqueles que, revivendo o Amor que é Deus, deveriam atrair o mundo e conduzi-lo ao Senhor. Enfim, uma religião que não agrada, porque deformada. No entanto, mesmo nas pessoas mais agnósticas, ainda resta o fascínio ou, ao menos, o respeito, talvez disfarçado, pelo missionário que se aventura em plagas longínquas, tudo abandonando por Deus; ou pelo mártir que consuma a sua vida no sangue. E isso, tudo isso, porque o cristianismo ou é genuíno e radical, ou deixa muito a desejar. O que foi dito vale para muitos casos que se percebem de relance. Todavia, passando a um plano superior e mais sutil, não é raro que, aproximando-nos de quem se doou a Deus com vivo entusiasmo, frequentemente encontremos erros, talvez de ordem prática, que incomodam e obscurecem a beleza da nossa fé. Às vezes, a viagem por este planeta é tão dura, e este “vale” tão cheio de lágrimas, que o homem, encontrando conforto só na cruz, a ela se agarra, dela faz a sua bandeira, mostra-a também aos outros, leva-os a amá-la, mas… daí não passa. Daí não passa porque, apesar de amar de todo o coração e de amar também com obras, não acredita o suficiente no amor de Deus para com ele e para com todos. O mistério pascal está a nos testemunhar que Jesus é vida que vence a morte, é luz que rompe as trevas, é plenitude que anula o vazio. Este é, em última análise, o cristianismo, em que a cruz é essencial, mas como meio; a lágrima é portadora de consolação e a pobreza, de posse do Reino; em que a pureza abre as cortinas do Céu, a perseguição e a mansidão prenunciam a conquista da Eternidade e asseguram o avanço da Igreja no mundo. Os quinze mistérios* que adornam de pedras preciosas o rosário inteiro, a Igreja os desdobra em cinco gozosos, cinco dolorosos e cinco gloriosos. Isso faz entender que ao cristão convém esperar sempre, convém cantar como faziam os primeiros cristãos, mesmo às portas do martírio, pois é herança nossa a plenitude do gáudio que Jesus prometeu e pediu para quem o seguisse. Ajudemo-nos a ser, em nossa pequenez, testemunhas completas daquele Jesus que cativou o nosso coração, naquela Igreja para cuja beleza podemos também contribuir, a fim de que o peregrino do mundo, vendo-a, possa reconhecê-la.

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