04 março 2018

Cristo será o meu claustro

Não há coração de homem, creio, e muito menos de mulher que, ao menos uma vez, mormente na juventude, não tenha sentido a atração do claustro. Não a atração por uma forma claustral de vida, mas por alguma coisa que parece concentrar-se justamente ali, entre quatro paredes, e se faz sentir, sonora, mesmo de longe. Há nas comunidades das quais o mundo, graças a Deus, está pontilhado — como o breu da noite, de constelações — a luz da presença de Deus. Presença que ressalta viva, porque florescida sobre o cenário de pessoas que, por Deus, aceitaram imolar na sombra sua pobre aparência. Estão imersas no silêncio essas casas de irmãos unidos em Deus, mas, pela força misteriosa das coisas celestiais, falam aos corações dos homens e dizem uma palavra que o mundo desconhece, uma beatitude de união com Deus pela qual os homens anseiam. No entanto, minha casa também pode ter o perfume do claustro; as paredes do meu lar também podem tornar-se reino de paz, fortaleza de Deus no meio do mundo. Não é tanto o barulho exterior do rádio do vizinho, ligado no máximo volume, nem o estrépito dos carros, que roubam o encanto de minha casa. É, antes, qualquer barulho dentro de mim que faz do meu lar uma praça sem proteção de muros, porque sem proteção de amor. O Senhor está dentro de mim. Ele gostaria de guiar os meus atos, de permear com sua luz o meu pensamento, de inflamar a minha vontade, de ditar-me, enfim, a lei do meu ficar e do meu ir. Mas existe o meu eu, às vezes, que não o deixa viver. Se ele parar de perturbar, Deus mesmo tomará posse de todo o meu ser, e saberá dar também a estas paredes a importância de uma abadia; a este quarto, a sacralidade de uma igreja; ao meu estar à mesa, a suavidade de um rito; às minhas vestes, o perfume de um hábito sacro; à campainha da porta ou do telefone, a nota alegre de um encontro com os irmãos, que rompe, embora continuando, o colóquio com Deus. Então, sobre o meu silêncio, falará um Outro e, sobre o meu apagar-me, uma luz se acenderá. E ela brilhará até bem longe, transpondo e, de certo modo, consagrando estas paredes que protegem um membro de Cristo, um templo do Espírito Santo. E outras pessoas virão à minha casa para comigo procurar o Senhor e, nessa nossa busca amorosa comum, crescerá a chama, aumentará de tom a melodia divina. E o meu coração, mesmo estando no meio do mundo, não pedirá mais nada. Cristo será o meu claustro, o Cristo do meu coração, Cristo em meio aos corações.

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