20 setembro 2018

O AMOR – SÍNTESE DE TODAS AS PALAVRAS (A ARTE DE AMAR)


         Na meditação anterior, falamos do Evangelho, de como viver a Palavra de Deus. Desta vez, falaremos do amor, que é síntese de todas as palavras do Evangelho.

         Mas o amor que Jesus trouxe à terra é muito rico e, para vivê-lo bem, é necessário conhecer uma arte, ou seja, a arte de amar.

Ela significa um modo de viver, um “coquetel” espiritual, todo especial, no qual são contempladas todas as exigências evangélicas.

Chiara, no seu discurso no Capitólio, na ocasião em que recebeu a cidadania honorária de Roma, fez da Palavra o ponto central da sua mensagem. “A verdadeira arte de amar – afirmou – emerge toda do Evangelho de Cristo (...) É o segredo da revolução que permitiu aos primeiros cristãos invadirem o mundo então conhecido. É uma arte que exige esforço...”

         Ela requer, antes de tudo, que se supere o limitado horizonte do amor natural, dirigido simplesmente de uma forma quase exclusiva à família, aos amigos. Esse amor deve ser destinado a todos: ao simpático e ao antipático, ao bonito e ao feio, a quem é da minha pátria e ao estrangeiro, da minha religião ou de outra, da minha cultura ou de outra, amigo ou adversário ou até mesmo inimigo. É necessário, portanto, amar a todos como faz o Pai do Céu, que manda o sol e a chuva sobre os bons e sobre os maus” (Mt. 5,45).

         Este, portanto, é o primeiro ponto da arte de amar, como Chiara a propõe: amar a todos, sem distinção.

         Passemos, então, ao segundo ponto da arte de amar, aquele que, à primeira vista, pode parecer o mais árduo, o mais difícil de ser atuado.

         É aquele amor que, na escola do amor, nunca acabamos de aprender. Ele tem uma característica que o torna semelhante ao amor que Deus tem por nós.

         Um amor à imagem e semelhança de Deus: Amor “incriado” nele, amor “criado” em nós, mas um amor que ama primeiro.   

         “Não se pode amar a Deus primeiro, porque Ele nos precedeu e sempre nos precede no amor”, diz Chiara.

         Mas nós podemos, ou melhor, devemos sempre ser os primeiros a amar o nosso próximo. É isso que torna autêntico e desinteressado o nosso amor ao irmão. É um amor que, como o amor de Deus, não espera nada, não espera um gesto, uma palavra, um sorriso, para começar a amar, mas toma sempre a iniciativa.

          Agora, vejamos a terceira exigência: o amor verdadeiro não consiste somente em palavras ou sentimentos, mas é concreto. Atua-se bem o amor “fazendo-se um” com o próximo.

         É este um ponto crucial da arte de amar, que se tornou característica essencial da vida do Movimento.

         “Fazer-se um” são duas palavras mágicas – assim Chiara as definiu - que exprimem o nosso modo de amar.

         A verdadeira interpretação da palavra “amor”, “amar”, é o “fazer-se um”: penetrar na alma do outro o mais profundamente possível; entender verdadeiramente os seus problemas, as suas necessidades: carregar os seus pesos, assumir as suas preocupações e os seus sofrimentos.

         Então, terá significado o dar de comer, dar de beber, dar um conselho, oferecer uma ajuda.

         Chiara nunca escondeu as dificuldades desta práxis evangélica.

“Fazer-se um” – ela adverte – não é uma coisa simples.

         “Fazer-se um” exige um vazio completo de nossa parte: tirar todas as idéias da nossa mente; todos os afetos do coração, afastar tudo da nossa vontade, para nos identificarmos com os outros.”

         Mas, “Ele quer que, a cada dia, a cada hora, nos aperfeiçoemos nesta arte, às vezes cansativa e extenuante, mas sempre maravilhosa, vital e fecunda, de “fazer-se um” com os outros: a arte de amar.”

          E, finalmente, o quarto ponto da arte de amar.

         É necessário amar Jesus no irmão. Esta postura é imediata e clara, se pensarmos no Juízo Final, quando Jesus dirá aos bons: “Vinde benditos do meu Pai, recebei por herança o reino preparado para vós desde o princípio do mundo. Pois tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber. (...)”

         Então, os justos lhe responderão, dizendo: “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? (...)” Respondendo, o rei lhes dirá: “Em verdade vos digo: toda vez que fizestes estas coisas a um só dos meus irmãos menores, fizestes a mim” (Mt. 25, 34-40).

         Quando amamos um irmão ou uma irmã é, portanto, também Jesus que se sente amado neles.



Preparado por Enzo M. Fondi

19 setembro 2018

Uma nova estação


29 de junho de 1948
O destino da árvore frutífera dá um pouco a imagem do homem que frutifica na sua estação fecunda. Até quando floresce, ao redor da árvore há cantos e trinos, zéfiro e sol;

e quando amadurece suas maças, a natureza inteira, orgiástica, envolve-a de calor. Depois, os agricultores retiram-se aos refeitórios, aos tinelos e aos celeiros e, após algumas palpitações de vida e cores no outono, penetra o frio silêncio, sob o céu cinzento, donde as folhas, como últimas lágrimas, caem na terra seca. E assim acontece ao homem quando superou a idade de maior rendimento. Desilusões e amizades caem, como as folhas, e o silêncio sobem de todos os lados, a paisagem se entristece e ele permanece sempre a contemplar, mudo espectador, o avanço de sua própria ruína.
Da mesma forma, como naquele frio e naquela solidão, a árvore prepara a nova primavera, concentra calor e seiva, assim o homem pode fazer daquele afastamento invernal de amigos e de forças a concentração de um vigor pleno de uma nova existência: utilizar aquele abandono dos homens para aderir a Deus, preencher aquela perda de humanidade com a graça divina. E então, dentro do silêncio agigantado pela ingratidão e avareza, sobre a velhice descamada e fria, pode encher-se do calor de Deus, ascender interiormente enquanto declina externamente: dar aos homens um fruto que não se conta na economia, mas se calcula na teologia. No inverno do homem começa a primavera de Deus.

21 de junho de 1965
O tronco torna-se sempre mais desfolhado, nu. Desaparecendo as flores, cortados os frutos (quem os comeu?...), caíram às folhas, romperam-se os ramos. Humanamente, haveria lugar para o desespero.
Divinamente, ao invés, podemos ter esperança poIs que esta diminuição é uma diminuição do homem a fim de que Deus nele cresça: sempre há compensação — há quase a teandria[1] — mas à parte de Deus cresce anelando fazer-se tudo, até que chegue o dia em que não existas mais; existe Ele, e te tomas parte d’Ele, e do nada te fazes tudo.


2 de janeiro de 1960

Com o passar dos anos, os velhos, em muitos casos, retornam á religião ou se tornam mais religiosos. Esta evolução é chamada involução, este progresso, regresso, senilidade. No entanto, é um aviso instintivo da aproximação de Deus, ou melhor, da casa.

Da árvore caem as folhas, o tronco abre os ramos para o céu; recebe água, é envolta pela névoa, ferida pelos raios; olha para o alto, não mais iludida com a folhagem, não mais iludida com aquilo que passa, já habituada, prelibando o que permanece. A minha pessoa morada de Maria, situada na sua vontade, recolhe-se, sempre mais, à morada do amor Eterno, cuja obra-prima é a Mãe.



24 de agosto de 1960

Aparece nos jornais, com frequência, que algum velho — quase sempre aposentado — sobe ao sétimo andar e dali se jogam no vazio para pôr fim à vida. Ou, mais exatamente, à solidão que sofria, a doença dos velhos, criaturas arrancadas da massa para o isolamento, do rumor para o silêncio.

É uma solução lógica, embora errada.

A velhice é uma reviravolta critica, decisiva: a fase de preparação para o encontro com o Tudo, com o Eterno, com a Beleza: o encontro com o calor da juventude que não morre. É um período de evolução que chamam involução; de progresso que chamam regresso; de juventude do espírito que chamam senilidade.

O mal-estar físico e moral denota a inquietude diante da proximidade de Deus. Nessa idade avançada, a existência humana aparece como uma árvore no inverno. Ao cair das folhas, o tronco abre os ramos nus e secos para o céu e recebe água, nuvens e raios sem nenhum amparo. Mas, livre do ornamento do verde, olha direto para o alto, não mais iludido pela folhagem nem por aquilo que, florescendo de repente, cresce e morre.

E habitua-se a conversar com o céu, a sondar as nuvens, explorar as estrelas, percebendo, aos poucos, um mundo novo sem rumores e aparências.



23 de junho de 1958

Ao observar, cheio de pena, o cair das folhas (ilusão de fama, poder e amizade) da árvore da minha vida, neste outono que caminha para o inverno, percebo, melhor, que a solidão, sempre mais profunda e densa, que me rodeia é causada para efetuar um encontro amoroso mais intenso com Deus: a alma encontra finalmente tempo e conforto para estar com o Esposo. Chamam — esta — solidão, de aproximação da morte, mas é um encaminhamento para a vida. Agora, finalmente, posso deixar a minha alma escutar o Espírito Santo, conviver com os anjos e bem-aventurados, unir-se a Cristo, unir-se a Deus. E Deus é a vida. Antes, inúmeras distrações e interrupções impediam a passagem do espírito divino, que é a Vida; agora, a união, aos poucos, torna-se constante. Aprendo e preparo a vida do paraíso.

Sempre quis atingir Deus porque sempre tive fome de vida. No entanto, mesmo ao aproximar-me d’Ele, como válvulas, intercalava os meus estudos, as minhas amizades, os meus hábitos. Frequentemente comprazia-me neles, parava diante das criaturas e dos fantasmas, sacrificava o essencial ao acessório, o divino ao humano.





15 de novembro de 1957

Estou chegando ao outono da vida: os últimos frutos foram colhidos e consumidos, as últimas folhas levadas pelas ondas frias do vento. Bem sei que a juventude interior resiste fortificada pelas provações. A carência de afetos e contentamentos vindos dos homens a temperaram e quase a aguçaram, proa que avança rumo ao mistério. De tal maneira que a flor fecha-se ao anoitecer da vida para reabrir-se na eternidade.



6 de dezembro de 1957

Se a existência física é uma combustão, façamos do nosso corpo um turíbulo onde se versa, sem trégua, o incenso da oração. Assim, por um outro aspecto, é a união do humano e do divino, do corpo e do espírito; sempre uma projeção da unidade, do Homem-Deus. Todo ato de caridade derramado sobre aquelas brasas há de acender uma chama. Toda dor que nos for oferecida produzirá cinza e será uma consumação, como a chama do altar, se todo o amor, o sofrimento — o sofrimento transformado em amor

— for destinado para onde a gravitação o transporta: ao Amor Eterno. A química torna-se suporte da mística. Dá-se à natureza a possibilidade de libertar-se, abre-se a sua boca à oração. Também a matéria e as células foram criadas para voltar ao Criador.



26 de fevereiro de 1957

Têm razão quando comparam o ciclo da existência com o ciclo das estações. Ela é como a árvore que cresce, floresce e frutifica enquanto entre seus ramos, os pássaros fazem seus ninhos. Depois vem a má estação, os trabalhos e o tempo, e desfolha os ramos e os resseca: até que o divino podador os poda. Poda e reduz a planta ao essencial: a uma cruz.



15 de novembro de 1957

Caem as folhas e os frutos, e nas ervas secas do chão floresce outra primavera. Na solidão dilatada pelo próximo inverno, Deus aparece, aproxima-se, e com Ele, o relacionamento se torna mais íntimo e imediato. Na medida em que perdemos na economia humana, adquirimos na economia divina. As criaturas se distanciam para que eu me enlace ao Criador. Não encontro amor para encontrar o Amor.

A estação findará, findará também a ação com a reação dos homens, quando, finalmente, estiver com Deus. Nele não há mais história, que é um registro do tempo, quase uma crônica fúnebre. Na eternidade, a vida é pura e plena porque se desenvolve em unidade com Deus. E Deus está além do tempo com suas estações, frutos e folhas.

Vista assim, a existência é uma árvore que cresce para o céu a fim de florescer na eternidade. Estações e tragédias, desilusões e sofrimentos são podas. A árvore cresce sob uma amarga chuva (água e sol, o pranto) para mondar-se, até tornar-se pura haste elevada da terra ao céu.

A vida não é senão um processo de amadurecimento pela purificação que a dor traz. Quando amadurece, é Deus quem colhe o fruto, transplantando a árvore ao paraíso.



24 de junho de 1960

O amor é a linfa que faz a flor crescer. No homem, alimenta a liberdade; a vida no amor revela-se como um desenvolvimento na liberdade: processo de libertação. Somos de tal maneira ligados aos nossos limites, como galhos ao tronco, que quando estes aos poucos, vão sendo podados, parece-nos uma perda, mas na verdade é um ganho.

(Diário de Fogo Igino Giordani, 1980)



1.         Teandria, no seu sentido original, diz respeito à “natureza humano-divina de Jesus”: no texto:
             o “humano no divino”. (n.d.t.)

18 setembro 2018

Conclusão: Alarguem o espirito de família



E hoje, em sintonia com a nova vontade de Deus que nos foi expressa pela Igreja na pessoa do Papa João Paulo II na véspera de Pentecostes 1998, na Praça de São Pedro, eu digo: alarguem este espírito de família a todos os Movimentos e Comunidades eclesiais existentes; ofereçam o amor de vocês a todas as famílias religiosas que conosco representam o aspecto carismático da Igreja; não hesitem em oferecê-lo generosamente a Cristo que vive em todos aqueles que representam o seu aspecto institucional, para que a “Igreja-comunhão” seja uma realidade no Terceiro Milênio. E não esqueçamos aqueles que estão fora da Igreja, no mundo, pelo qual Jesus se encarnou e que nós somos chamados a incendiar.

O carisma da unidade do Movimento sempre nos orientou, a propósito de todos os aspectos da nossa vida, a pensar — por modo de dizer — em grande estilo. Isto é, a considerar, por exemplo, a saúde não só física, mas também espiritual, não só pessoal mas também coletiva.

De fato, nós ligamos a este assunto realidades espirituais como a presença de Jesus em meio e a Santíssima Eucaristia.

Jesus em meio, porque a perfeita saúde da nossa alma depende da sua presença entre nós. A nossa típica espiritualidade exige que se alcance a saúde espiritual em companhia. Como homens e cristãos somos o que devemos ser só estando em relação com os outros. É a inter-relação, o amor ao próximo que nos faz ser plenamente nós mesmos, ou seja, outro Jesus. Por isso, para podermos dizer que somos sadios espiritualmente e completos, perfeitos, realizados, na plenitude da alegria, devemos amar os irmãos até fazer com que Jesus esteja entre nós.

Unimos este aspecto também à Santíssima Eucaristia não só porque é causa da nossa ressurreição, na qual veremos aperfeiçoada e perpetuada a saúde espiritual e física, mas também porque é por ela, pela Eucaristia, que nos tornamos concorpóreos e consangüíneos com Cristo; é ela que nos transforma no Cristo que recebemos, que nos faz ser Cristo e é assim a nossa saúde espiritual.

Comecemos, então, o novo ano Ideal em todo o Movimento cuidando com atenção da saúde física e espiritual nossa e de todos, para a glória de Deus e para o bem de muitos.




17 setembro 2018

Dar o primeiro passo


Outro passo da arte de amar, talvez o que requer mais empenho de todos, que põe à prova sua autenticidade e sua pureza, pede que amemos primeiro, tomando sempre a iniciativa, sem esperar que o outro dê o primeiro passo.

      Esse modo de amar nos expõe em primeira pessoa, mas, se quisermos amar à imagem de Deus e desenvolver essa capacidade de amor que Deus colocou em nossos corações, temos de fazer como Ele, que não esperou ser amado por nós, mas nos demonstrou, desde sempre e de mil maneiras, que Ele nos ama primeiro, qualquer que seja a nossa resposta.

      Fomos criados como um dom uns para os outros e cumprimos esse nosso ser pondo todo o empenho pelos nossos irmãos e irmãs com aquele amor que antecede qualquer gesto de amor do outro.

16 setembro 2018

Coração da Humanidade


Narra a Escritura que bastaram à Serpente poucas palavras para induzir a mulher ao pecado e a ele arrastar, atrás dela, o gênero humano.

            “Não, não morrereis! Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal” (Gn 3,4-5). E ela acreditou.

            O fenômeno de então repete-se de quando em quando com tonalidade diversas, mas, de qualquer modo, tem em comum o lisonjear e transferir o gênio feminino – sempre dedicado e, portanto mais propenso às coisas grandes, até mesmo no erro – para um plano diferente do seu.

            Também hoje, na balbúrdia de mil vozes que exaltam ora uma, ora outra deformação do pensamento, uma tendência infiltrou-se e avançou muito: conceber e fazer a mulher entender – tendo na base o dolo – que “serás como o homem”.

            Procura-se exaltá-la para depois precipitá-la no abismo do absurdo, após tê-la defraudado daquilo que realmente constituía a sua beleza.

            A mulher não precisa dar ouvido a essas vozes desafinadas para cantar aquilo que o criador nela imprimiu e que é insubstituível.

            Houve uma vez respeitabilíssima, a do papa Pio XII, o qual, além dos sobrenaturais, aliava em si a idade do sábio e um entendimento secreto e profundo com Nossa Senhora. Ele, lapidarmente, definiu a mulher – e creio que ninguém no mundo jamais tenha chegado a tanto – como “obra-prima da criação”.

            Basta isto para dizer o amor de Deus para com o sexo feminino.

            Mas a mulher será uma obra-prima se realmente for mulher.

            Em seu ser - mulher está a certeza de cada atributo seu.

             A mulher é meiga, a mulher tem o coração palpitante de religiosidade, talvez porque, mais do que o homem tem o sentido e a constância no sacrifício, na dor, na qual, em última análise, o Evangelho se concentra como último passo para o amor.    

            Como mãe, e mãe santa, ela é o instrumento primeiro, benéfico, insubstituível, não só de ensinamento retos, mas de união entre os corações dos filhos que, para compor uma sociedade eficaz e produtiva, sã e saneadora, amanhã, de nada melhor precisarão do que perpetuar nela a união fraterna, base de toda paz duradoura. 

            A mulher deve ladear o marido em uma posição aparentemente secundária, mas é como a sombra de uma escultura que lhe confere relevo e vida. Através dela, se for realmente mulher, depois esposa, e depois mãe, o homem conhecerá o seu limite ao lado de um anjo que lhe mostrará com a maternidade o que sabe operar o Senhor, o Criador, o Dispensador de todo bem.

            Em tempos como os atuais, saturados de ateísmo e de aniquilamento do espírito, a mulher, com o seu natural instinto para Deus, com sua perene vocação para o amor, com sua perspicácia nas coisas e nos fatos, pela qual dá àquelas e a estes sabor e sentido, tem uma missão de primeira grandeza na renovação e recuperação da sociedade.

            E por realiza-la. Homens e mulheres, quando crianças, são criados e instruídos em seu regaço.

            Dela muito se espera hoje para a renovação da sociedade. Esta carência de Deus, este descaso que d’Ele se faz, esta luta aberta contra Ela, pode transformar-se amanhã numa expectativa, permitida pelo Céu, de uma grande época, triunfo de Deus, onde Ele, Majestade infinita, estará na boca de todos, no coração de todos, inspirador das mais belas artes, mentor nas mais altas descobertas, veia de poesia eterna, acorde de um canto novo.

            Após o temporal vem a bonança e quiçá o arco-íris.

            Esta aridez forçada, este ter privado o homem do elemento vital e vivificador, faz esperar e talvez prever um tempo não longínquo, em que a glória de Deus haverá de fulgir e os homens dirão uns aos outros com consolação e no pranto: “Onde estão os tempos em que Deus era esquecido ou até mesmo era proibido falar d’Ele?” E acrescentar-se-á: “Tinha razão Pio XII quando, olhando para o futuro, previa uma nova primavera”.

            Se as mulheres tiverem feito sua parte, poderão dizer: “Quando a mulher é outra Maria, quer dizer, virgem, mãe, esposa, pranto, paraíso, mas sobretudo “portadora de Deus”, pode fazer muito por todos, porque a mulher, se é mulher, é o coração da humanidade”.

15 setembro 2018

Comunicar a graça de Deus


Maria foi, e sempre será, a mãe de Jesus. Um dia disse Jesus:

 “Quem é minha mãe? Minha mãe é toda pessoa que faz a vontade de Deus”. Cumprindo a vontade de Deus, abandonando-se a Ele, dizendo-lhe “que tudo se faça segundo a tua palavra”, Maria foi cumulada de graças. Quando o anjo veio até ela para anunciar-lhe que ela seria a mãe de Jesus, ela respondeu simplesmente: “Eu sou a serva do Senhor”. 

      Quando Jesus entrou assim em sua vida, Maria dirigiu-se a toda pressa à casa de sua prima Isabel, para fazer o trabalho de uma serva. Ao chegar a casa de Isabel, algo estranho aconteceu. Ninguém sabia que Jesus vinha, ninguém sabia que Jesus o filho de Deus, se encontrava no seio de Maria. Mas a criancinha que estava ainda no seio de Isabel estremeceu de alegria a este primeiro contato com o Cristo, como na presença do próprio Deus.

       Que coisa estranha, ver que uma criancinha inocente e sem defesa, ainda no ventre de sua mãe, é o primeiro escolhido para recolher a vinda de Cristo Como João cada criancinha foi criada para viver o que há de mais grandioso: amar e ser amado. De qualquer maneira, Maria foi para João como que maravilha fio condutor: a graça que ela havia sido cumulada foi por ela transmitida ao filho de Isabel.

        Abandonado-nos a Deus, dizendo como Maria “que tudo se faça segundo a tua palavra”, nós podemos pedir a Deus que si sirva também de nós, através do mundo, como de fios condutores para que a graça de Deus, da qual fomos cumulados, passe através de nós e se comunique ao coração dos homens.

14 setembro 2018

Como o Criador


 A fé no amor que Deus faculta às suas criaturas, fé típica de nós, cristãos, descobrimo-la em muitos irmãos e irmãs de outras religiões, a começar pelas abraâmicas, que afirmam a unidade do gênero humano, o zelo que Deus dispensa a toda a humanidade e a obrigação de cada criatura humana de agir como o Criador, com imensa misericórdia por todos.

      Reza um provérbio muçulmano: “Deus perdoa cem vezes, mas reserva a sua suprema misericórdia para aquele cuja piedade poupou a menor de suas criaturas”3.

      Que dizer da compaixão sem limites por todos os seres vivos que Buda ensinou, aconselhando seus primeiros discípulos: “Ó monges, deveríeis trabalhar pelo bem-estar de muitos, pela felicidade de muitos, movidos de compaixão pelo mundo, pelo bem-estar dos homens”?4

      Portanto, amar a todos. É um princípio universal. Sentido pelos seres humanos de qualquer época, e debaixo de qualquer céu.



          1 Ou seja, para a realização do que Jesus pediu ao Pai na última ceia: “ut omnes unum sint, sicut tu, Pater, in me et ego in te” (“a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti”; Jo 17,21). [N.d.E.]

          2 Cf. 1Cor 13,1-13.

          3 Cf. GUZZETTI, G. M. Islam in preghiera. Roma : Elle Di Ci, 1991, p. 136.
          4 Mahagga, 19.

13 setembro 2018

Como num sonho

Unidade: palavra divina.


Se, a um dado momento, ela fosse pronunciada pelo Onipotente e os homens a pusessem em prática na suas mais variadas aplicações, veríamos o mundo de repente parar em sua andança geral, como em uma brincadeira de filme, e retomar a corrida da vida na direção oposta.

Inúmeras pessoas retrocederiam no caminho largo da perdição e se converteriam a Deus, entretanto pelo estreito… Veríamos famílias desmembradas por discórdias, arrefecidas pelas incompreensões, pelo ódio se recomporem.

As crianças nascerem em um clima de amor humano e divino, e se forjarem homens novos para um amanhã mais cristão.

As fábricas, ajuntamentos muitas vezes de "escravos" do trabalho, em um clima de tédio, senão de blasfêmia, tornarem-se um lugar de paz, onde cada um faz a sua parte para o bem de todos.

As escolas ultrapassarem a breve ciência, colocando conhecimentos de toda espécie a serviço das contemplações eternas, aprendidas nos bancos escolares como em um desvendar-se cotidiano de mistérios, intuídos a partir de pequenas fórmulas, de simples leis, até mesmo dos números…

Os Parlamentos se transformarem em um lugar de encontro de homens a quem interessa mais o bem de todos do que a parte que cada um defende, sem enganar irmãos ou pátrias.

Em suma, veríamos o mundo tornar-se melhor e o Céu descer como por encanto sobre a terra e a harmonia da criação servir de moldura à concórdia dos corações.

Veríamos… É um sonho! Parece um sonho!

Contudo, Tu não pediste menos quando rezaste “Seja feita a tua vontade na terra como no Céu”.

12 setembro 2018

Como anjos


            A virgem e um absurdo para o mundo, um enigma para os cristãos indiferentes, uma obra-prima sobrenatural, na realidade.
            A virgem é virgem, se sua vida é unicamente Deus; e só Deus explica a virgem.
Os verdadeiros virgens são imagens de Jesus e Maria, pessoas “divinas”, em que a mulher possui toda a força em si e não pede o apoio do homem, e o homem, toda a completeza em si mesmo... «como os anjos no Céu» (ML 22,30).
            No bar, num clima de intimidade, um casal conversa. E sábado. As famílias saem para a alegria do fim de semana.
            No avião, três amigos trocam impressões e comentários. Todos vivem para aquele momento de voltar para casa, ou de ir para o sítio.
            E a esposa de Deus? A consagrada ao Senhor? Trabalha o dia todo para servi-lo nos outros, mas o adora e o ama, na hora da oração, quando, comunicando-se com Ele, encontra conforto e vigor para atingir os cumes da santidade.
    Quando criaturas eleitas entram para a clausura, parece que estão abandonando alguma coisa no mundo. A verdade é que vão encontrar aquilo que é, e deixam aquilo que não é.
            Todo o vazio está na pompa que elas deixam.
            As virgens!
            Não desposam um homem, mas Deus. Não têm poucos filhos, mas muitos, todos aqueles que o Senhor colocou em seu caminho; filhos a quem elas, como e mais do que a mãe natural, protegem, estimulam, ajudam, aconselham, apoiam, se estão próximos; e sempre aguardam, se distantes; tudo esperando com a caridade que lhes é própria, com a oração junto ao seu Esposo onipotente e onipresente.
            Se, ser virgem exime da maternidade física, sempre implica uma maternidade espiritual, ampla tanto quanto o tecido social beneficiado realmente com seu amor pessoal por Cristo. Ser virgem significa colocar-se no meio de uma multidão, apontando-lhe o Céu com uma das mãos e, com a outra, sustentando-a na provação da vida.
            Ser virgem significa, sem retórica, fazer a parte de Maria, a Mãe de todos, de modo real, concreto, silencioso e sobrenatural, aqui na terra, no seu canto de mundo; porque, se Jesus ficou na terra nos sacerdotes, nos quais, como Sacerdote e vítima, continua a se oferecer ao Pai, pela humanidade inteira, de modo misterioso e divino, Maria ficou na terra nas virgens, que continuam a sua missão de maternidade, de serviço a humanidade, de cooperação com o sacrifício.

11 setembro 2018

Carta a Jesus Abandonado

Caro Jesus



         Escolhi como minha herança o teu abandono, quando me sinto abandonada.
         Reconheço muitas vezes ao dia que Tu morreste pelos meus pecados e pelas minhas infidelidades; mas quando cometo algum pecado, perco a paz, como se não pudesse ser mais perdoada.
         Iludo-me dizendo que é delicadeza de consciência a obsessão que minhas infidelidades provocam em mim, mas na verdade, trata-se de orgulho refinado.
         Ainda que tivesse cometido de olhos abertos, que importa Jesus?
         Seria a prova de que não te amo, mas não deve ser motivo para não te amar no futuro, pelo contrário!
         Acreditar no teu amor, mesmo se sou mesquinha, quer dizer ser fiel à tua herança. O teu Amor seria menos divino se me amasses por eu ser virtuosa. Reconhecer-te, abraçar-te nas humilhações que seguem minhas infidelidades agrada-te pois, então, só o amor te pode reconhecer. A inteligência não chega a tanto.
         “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor” (Jo 4,8).
         O Ideal da santidade não consiste na alegria que experimento depois de uma vitória sobre mim mesma e tampouco no me sacrificar pelos irmãos até a morte com a certeza de Te agradar; seria demasiado.
         O Ideal da santidade consiste em Te procurar quando não te sinto, quanto por ter seguido minha natureza, Te sinto distante.
         A santidade não consiste em ser sem defeitos, mas em acreditar no teu Amor, não obstante, e precisamente, pelos meus defeitos.
         Faz, Jesus Abandonado, que eu seja fiel à tua herança que, num arrebatamento de amor, escolhi para mim.


10 setembro 2018

Caminho para a unidade

Na Espiritualidade da Unidade é possível possuir a plenitude da alegria. No Evangelho está escrito: “... que sejam uma só coisa, para que a sua alegria seja plena”.(cf. Jo 15,11; 17,21).
“Consumar-se na unidade”, prontos a dar a vida realmente não idealmente, morrer pelo outro exige a morte total de nós, isto é, não apenas estar prontos a morrer por Jesus no irmão, mas morrer realmente. Foi o que Jesus fez na cruz, ele é o Tudo e fez-se nada.
Podemos chegar a verdadeira unidade porque temos em Jesus Abandonado o modelo do anulamento. E quando não conseguimos estar unidos significa que nós não aceitamos totalmente aquilo que nos faz sofrer. Talvez o aceitamos, mas não o abraçamos e amamos como um tesouro, como a única coisa desejada. Isto significa que em nós existe ainda algo de nosso:
Uma ideia, um pensamento, talvez até mesmo belo, espiritual, mas se quisermos a unidade, a presença de Deus entre nós, o Espírito Santo entre nós, devemos estar vazios! Vazios como Jesus na cruz que não tinha mais nem pai, nem mãe. Estava lá elevado entre o céu e a terra esvaindo-se em sangue e a plenitude do Pai estava nele e por isso abandonou-se a ele e ressuscitou com o corpo na plenitude divina.
Tendo escolhido Jesus no seu abandono como ideal, já nos primeiros tempos da nossa vida, queríamos conhecer tudo sobre ele e Chiara nos dizia:

“É belo viver Jesus abandonado
No momento presente e chamá-lo pelo nome:
Ele é tudo!
É todos os sofrimentos.
É todos os amores.
É todas as virtudes.
É todos os pecados
(porque se fez pecado, assumiu todos os pecados por amor).
E todas as realidades ““.

Podemos dizer, por exemplo, que Jesus Abandonado é o mudo, o surdo, o cego, o faminto, o esgotado, o desesperado, o traído, o fracassado, o medroso, o sedento, o tímido, o louco, é todos os vícios, a escuridão, a melancolia. O mudo: porque não sabe mais falar; O surdo: não ouve nem a voz de Deus; o cego: não vê mais o seu Paraíso; o faminto: nada mais o sacia; o esgotado: está sem sangue; o desesperado: não vê diante de si alguma luz; o traído: parece-lhe ser traído até pelo Pai que no momento culminante não faz mais sentir sua presença; o fracassado: tinha feito tantas coisas e tudo pelo Pai e naquele momento não vê fruto algum, nenhum reconhecimento. Tem medo a ponto de gritar, tem sede, não tem mais a coragem de chamar de “Abbá” ao Pai do céu. Parece louco pelo que diz ao ladrão. Parece todos Os vícios com os quais se carregou e que o oprimem até a morte. Prova as trevas mais escuras e experimenta a saudade por não estar em Casa.
Não é fácil de realizar imediatamente esta oração, este se identificar com Jesus. Estamos a caminho, mas isso nos leva, por meio dele, a luz e a paz em cada momento de nossa vida.

09 setembro 2018

Cada relacionamento seja caridade

É preciso traduzir em caridade, transformar em caridade, os diversos contatos que mantemos com o próximo durante o dia.
Do momento em que nos levantamos de manhã, até à noite quando vamos dormir, cada relacionamento com os outros deve ser caridade. Na igreja, em casa, no escritório, na escola, na rua, devemos encontrar as várias ocasiões para viver a caridade.
É nossa tarefa ensinar, instruir, governar, dar de comer, vestir, acudir os familiares, servir os clientes, despachar? Devemos fazer tudo isso por Jesus nos irmãos, sem descuidar de ninguém, aliás, sendo os primeiros a amar a todos.
É uma ginástica, ao longo do dia, mas vale a pena, porque, assim, progredimos no amor de Deus.

08 setembro 2018

CADA PALAVRA É AMOR

NO COMEÇO do nosso novo caminho, o Senhor fizera-nos intuir o valor do amor, ao preparar em nós o terreno para ler o Evangelho. Já o havia feito, mas agora, na leitura do Evangelho, punha em evidência máxima as Palavras que dizem respeito ao amor e impelia-nos com força a vivê-las.

      Portanto, podia-se dizer também de nós o que se dizia dos primeiros cristãos: o amor de caridade (amor a Deus e ao próximo) era a primeira coisa que um membro da comunidade aprendia a viver (cf. 1Jo 2,7).

      VIVENDO UMA PALAVRA, depois outra, e mais outra, tínhamos constatado que, pondo em prática qualquer Palavra de Deus, no final, os efeitos eram idênticos. Por exemplo, vivendo a Palavra: “Bem-aventurados os puros de coração…” (Mt 5,8), ou, “Bem-aventurados os pobres em espírito…” (Mt 5,3), ou, “Bem-aventurados os mansos…” (Mt 5,4), ou, “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39), ou, “Não faças a ninguém o que não queres que te façam” (Tb 4,15), chegávamos à mesma conclusão, obtínhamos os mesmos efeitos.

      O fato é que cada Palavra, embora sendo expressa em termos humanos e diferentes, é Palavra de Deus. Mas, como Deus é Amor, cada Palavra é caridade. Acreditamos ter descoberto, naquela época, sob cada Palavra, a caridade.

      E, quando uma dessas Palavras caía em nossa alma, tínhamos a impressão de que se transformava em fogo, em chamas, transformava-se em amor. Podíamos afirmar que a nossa vida interior era todo amor.

      SE PENETRAS no Evangelho – e esta é uma bela aventura para ti – te encontras, de repente, como se estivesses na crista de uma montanha. Portanto, já no alto, já em Deus, mesmo se, olhando para o lado, percebes que a montanha não é uma montanha, mas uma cadeia de montanhas, e a vida para ti é caminhar pelo divisor de águas até o fim.

      Cada Palavra de Deus é o mínimo e o máximo que Ele te pede. Por isso, quando lês: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19), tens a medida máxima da lei fraterna.

      VIVAMOS A PALAVRA, que é o Amor Verdadeiro e o Verdadeiro Amor.


07 setembro 2018

A felicidade

Talvez nunca como nestes últimos tempos sentimos a alegria de viver. E uma alegria pura jamais experimentada e nasce do fato de que: conseguimos encontrar!

Podemos até repetir uma frase que é a aspiração mais sincera de toda a humanidade: encontramos a felicidade.

É preciso, porém, experimentar esta felicidade, para compreender o que ela é.

Esta alegria puríssima só pode ser Deus. Aquele Deus que encontramos a cada instante, perdendo tudo no momento presente para sermos só a Sua vontade viva.

Creio que é um estado da alma, talvez um pequeno degrau alcançado, do qual, invocando o Senhor, com a esperança exclusivamente n’Ele, pedimos para não descer mais.

Não, porque esta felicidade em nós, coincide com a glória de Deus, com a extrínseca glória que a nossa alma pobre, porém tão amada por Deus, pode oferecer-lhe.

Encontramos verdadeiramente a pérola preciosa pela qual vale a pena vender tudo, perder tudo.

É Deus, o único que nos restará, daqui a pouco, ao passarmos para a eternidade, onde a nossa Mãe nos espera, sem dúvida contente de nos ter servido de “caminho” com a sua “desolação”.


06 setembro 2018

A voz de Deus




Queres aprender a amar? A amar a Deus, a amar os irmãos por Ele?
      Não esperes um minuto, não penses demais, não te detenhas querendo amar, mas ama logo no momento presente. Amar quer dizer fazer logo, agora, já, neste minuto, a vontade de Deus, não a tua.
      A vida não é feita senão de momentos presentes e, para quem quer realizar alguma coisa, são eles que têm valor.
      O que conta é o presente, o momento que escapa, que para mim, para ti, para nós, deve-se apanhar no ar e viver bem, até o fim, fazendo nele o que Deus quer de nós: estudar, caminhar, dormir, comer, sofrer, vibrar, brincar…
      Aprende a ouvir no âmago de tua alma a voz de Deus, a voz da consciência: ela te dirá o que Deus quer de ti em cada instante.
      Implicas com o teu próximo? “Cuidado”, diz a tua consciência, “deves amar a todos, até os inimigos…”
      Sentes vontade de pular na hora de estudar? “Cuidado”, diz a tua consciência, “brincarás com maior alegria depois, se fizeres o teu dever agora com perfeição”. E assim por diante…
      Vivamos bem o que Deus quer no momento presente. E, como um ponto ao lado de outro ponto compõe a reta, momento ao lado de momento compõe a vida.
  

05 setembro 2018

A Unidade e Jesus Abandonado – Excertos


E a alegria, que constitui um dos dons de Deus à unidade, é uma riqueza de que talvez não nos apercebamos suficientemente. Como no corpo não se percebe tanto a saúde, mas se percebe mais o sofrimento e a doença assim acontece na vida sobrenatural com a alegria. Ela é inseparável da vida verdadeiramente cristã, trata-se de um dom extraordinário e muito cobiçado, ambicionadíssimo.
Pois bem, Deus revelou aos cristãos – e ainda em nossos dias, a nós focolarinos – onde se encontra a fonte de alegria, onde está a mina do tesouro.

                Por viver de unidade, o focolarino é feliz. Por ser portador de unidade, o focolarino proporciona alegria.

                Sempre temos afirmado que a alegria é o distintivo do focolarino; e o que o focolarino tem para doar ao mundo é a felicidade.

“... A felicidade, aquela felicidade que experimentamos na unidade, que nos doaste ao morrer na cruz, queremos dá-la a todas as criaturas que encontrarmos! Nós não podemos retê-la somente para nós, visto que muitos... tem fome e sede dessa paz completa, desse gáudio infinito!... Ajuda-nos a ‘escancarar’ o nosso coração... a abrir inteiramente o nosso eu, para que somente tu possas viver em nós!... Escolhemos a Ti pregado sobre a cruz, no máximo abandono, como nosso tudo, e Tu nos proporcionas, em troca, o paraíso aqui na terra! És Deus, Deus, Deus”.

                Devemos agradecer a Deus por esta alegria, embora não nos devamos apegar a ele, mas transformá-la em trampolim para levar a unidade ao mundo inteiro.

“Façam disso (do esforço de manter a unidade) – diz uma carta de 1948 – um sacrossanto dever, mesmo considerando que lhes proporciona imensa alegria!

Foi Jesus quem prometeu a plenitude da alegria para quem vive a unidade!...

Regozijem-se com a unidade de vocês, mas para a glória de Deus e não por vocês mesmos...

Façamos da unidade entre nós o trampolim para nos lançarmos... lá onde ela não existe, para ali realizá-la!

Ou melhor: como Jesus preferiu para si a cruz e não o Tabor de Glória prefiramos também nós estarmos junto a quem não se encontra em unidade, para sofrer com ele e assim ter a certeza de que o nosso amor é puro!”


A unidade consiste em “fazer-se um” com os irmãos.

                E quando os irmãos não estão presentes?

                Quando tivermos que trabalhar sozinhos, descansar, distrair-nos ou estudar? Já o sabemos: inteiramente mergulhados na vontade de Deus no momento presente – única vontade de Deus, mas diferente para cada um – todos nos tornamos “vontade de Deus”. E, de vez que “vontade de Deus” e “Deus” coincidem, vivamos o nosso “ser Deus por participação”: desta maneira seremos “um” com ele e entre nós.

Unidade: eu desejo aquilo que ele deseja...

Unidade: comunhão contínua e direta com Deus mediante nossa radical mortificação, no momento presente, de tudo o que não é Deus. Só quero a Deus...

 Devemos abraçar a Jesus Abandonado que, constitui chave da unidade e deve ser amado, portanto, sempre em função da unidade.

 viver a Palavra representou de certo modo uma novidade, quando iniciamos, mas o que caracterizou o nosso Movimento foi preferentemente o fato de se compartilharem as experiências que se faziam com base na Palavra, como uma maneira de nos evangelizarmos e de nos santificarmos juntos.

Portanto, também a Palavra está a serviço da unidade, porque a unidade constitui o ponto culminante do pensamento de Jesus, ela compendia e sintetiza todos os seus mandamentos.


04 setembro 2018

Uma boa idade

Não dê importância à idade de seu corpo físico: seja sempre jovem e bem disposto espiritualmente.
A alma não tem idade. A mente jamais envelhece.
Mesmo que o corpo assinale os sintomas da idade física, mantenha-se jovem e bem disposto, porque isto depende de sua mentalização positiva.
Faça que a juventude de seu espírito se irradie através de seu corpo, tenha ela a idade que tiver.

03 setembro 2018

Como se tornar Santo?


Sucede, frequentemente, que as almas sejam atraídas pela ideia da santidade. E talvez seja mesmo a graça de Deus que nela opera, suscitando este desejo.
A consideração da preciosidade de um santo, a influência de sua personalidade em sua época, a revolução ampla e continua que ele traz ao mundo, são amiúde os primeiros combustíveis para alimentar a chama de semelhante desejo.
Mas, por vezes, a alma, que deste modo se sente tão docemente atormentada, encontra-se diante dos santos como diante de uma vala intransponível, ou de uma muralha invulnerável.
O que fazer para ser santo? “ – pergunta-se.
Qual a medida, o sistema, os meios, o caminho?”
“Se eu soubesse que basta a penitência, flagelar-me-ia de manhã à noite. Se viesse a saber que é preciso a oração, dia e noite rezaria. Se fosse suficiente a pregação, percorreria cidades e aldeias, sem dar-me trégua, anunciando a todos a palavra de Deus... Mas não sei, não conheço o caminho.”
Cada santo tem sua fisionomia e distinguem-se uns dos outros, como as mais variadas flores de um jardim...
Todavia, talvez haja um caminho válido para todos. Talvez não seja preciso ir em busca da própria vocação, nem traçar um plano, ou sonhar programas, mas abismar-nos no momento que passa para cumprir naquele instante a vontade de Quem se disse “Caminho” por excelência. O momento passado já não existe; o momento futuro talvez jamais o tenhamos em nossas mãos. O certo é que podemos amar a Deus no momento presente que nos é dado.
A santidade constrói-se no tempo. Ninguém conhece a própria santidade, nem muitas vezes a dos outros, enquanto estiver em vida. Somente quando a alma completou o seu percurso é que revela ao mundo o desígnio que Deus tinha sobre ela.
A nós não resta senão construí-la, momento por momento, correspondendo com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças, ao amor pessoal que Deus tem para conosco, como Pai celeste, amor pleno, como a grandeza da caridade de um Deus.

02 setembro 2018

A SAÚDE DA OBRA: SER UMA ÚNICA FAMÍLIA


No nosso Movimento se pensa que todos nós, que tivemos a graça de receber do Espírito Santo um carisma, que é como um sangue novo e comum que nos liga, somos e permaneceremos sempre uma única família, da qual alguns membros já partiram; uma família sempre à espera de reunir-se.
Concordamos, de fato, com o que escreveu padre Alberione, fundador dos paulinos:

Congregavit nos in unum Christi amor. Um único amor reuniu os nossos corações ao redor do Coração de Jesus Cristo. Assim acontece em cada Instituto secular, em cada família religiosa, que não se desfaz com a morte; portanto a Congregação pode ter membros na Igreja celeste gloriosa, outros em purificação, outros na Igreja peregrina. Todos com um único vínculo:
O amor (...)

Continua padre Alberione:

Os nossos irmãos da Igreja gloriosa ajudam os irmã os em purificação e os irmãos da Igreja peregrina. Os irmãos em purificação dão glória aos irmãos da Igreja gloriosa, enquanto rezam pelos irmãos da Igreja peregrina e esperam ajuda de ambos. Os irmãos da Igreja peregrina fazem sufrágios pelos irmãos em purificação e pedem ajuda aos irmãos da Igreja celeste gloriosa e em purificação. (...)

A frase seguinte é belíssima:

A Congregação se consolida — isto é, o nosso Movimento — se consolida e aperfeiçoa com a morte.

Pois esses aderentes já não podem deixar de amar. Quem estiver no Paraíso e no Purgatório não pode deixar de amar. Estão fixos na graça de Deus. Por isso, o nosso Movimento se consolida com a morte e não se enfraquece, como poderíamos pensar. Ele se consolida.

Ele se consolida e aperfeiçoa com a morte. Como irmãos em diversas condições, mas ainda unidos pelo mesmo fim: glória a Deus, paz aos homens»1

Escrevi no dia 25 de dezembro de 1973 aos focolarinos este trecho muito atual:

Se hoje eu tivesse que deixar esta terra e me fosse pedida uma palavra, como última que exprimisse o nosso Ideal, eu lhes diria (certa de que seria entendida no sentido mais exato):
Sejam uma família”.
Existe entre vocês quem sofre em virtude de provações espirituais ou morais? Compreendam-no como e mais do que uma mãe! Iluminem-no com a palavra e com o exemplo. Não lhe deixem faltar, pelo contrário, aumentem ao redor dele o aconchego da família. Existe entre vocês quem sofre fisicamente? Seja o irmão predileto. Sofram com ele. Procurem entender profundamente as suas dores. Façamno participar dos frutos do apostolado de vocês para que saiba que mais do que os outros foi ele que contribuiu para isso.
Alguém está morrendo? Imaginem estar no lugar dele e façam o que gostariam que fosse feito a vocês até o último instante.
Existe alguém que se regozija por uma conquista ou por qualquer outra razão? Alegrem-se com ele, para que a sua consolação não seja diminuída e a alma não se feche, mas a alegria seja de todos.
Existe alguém que parte? Não o deixem partir sem lhe terem preenchido o coração de uma única herança: o sentido da família, para que o leve para onde está destinado.
Não anteponham jamais qualquer atividade de qualquer tipo, nem espiritual (por exemplo, orações e missa), nem apostólica ao espírito de família com aqueles irmãos com quem vocês vivem.
E por onde andarem para levar o Ideal de Cristo, para expandir a imensa família da Obra de Maria, não farão nada melhor do que procurar criar com discrição, com prudência, mas com decisão, o espírito de família. Este é um espírito humilde, deseja o bem dos outros, não se envaidece... (...), é a verdadeira caridade, completa.
Enfim, se eu tivesse que deixá-los, praticamente deixaria que Jesus em mim lhes repetisse:
Amai-vos uns aos outros... para que todos sejam um”.

1 Tiago Alberione. A tesse di esercizi spiriluali. Capo IX - Istruzione IX.

01 setembro 2018

A RESSURREIÇÃO E O COSMO

Falando ainda da ressurreição, no Movimento às vezes se apresenta este singular modo de pensar a respeito do hábitat do homem, isto é, o cosmo.

Jesus que morre e ressuscita é certamente a causa verdadeira da transformação também do cosmo. Mas, dado que São Paulo nos revelou que nós, homens, completamos a paixão de Cristo e que a natureza anseia pela revelação dos filhos de Deus, pode ser também que Jesus espere a contribuição dos homens, cristificados pela Eucaristia, para realizar a renovação do cosmo.
Se a Eucaristia é causa da ressurreição do homem, não será possível que o corpo do homem, divinizado pela Eucaristia, está destinado a corromper-se debaixo da terra para ajudar a realizar a ressurreição do cosmo? Portanto, poderíamos dizer que em força do pão eucarístico o homem se torna “Eucaristia” para o universo, no sentido de que é, com Cristo, germe de transfiguração do universo.
A terra nos comeria, portanto, como nós comemos a Eucaristia, não para nos transformar em terra, mas a terra em «céus novos e terra nova».
É um nosso pensamento.
No Movimento cuidamos com dedicação dos lugares onde foram depositados os corpos de seus membros, destinados à Ressurreição. As Palavras de Vida, que iluminaram as suas existências, são inscritas nas suas sepulturas. E as pessoas do Movimento, visitando o cemitério e lendo-as, se edificam.
Queremos ainda que os nossos cemitérios sejam belos como jardins. Assim, também as sepulturas “falam”. Sabemos de alguém que, passando de uma a uma, e vendo nelas o amor que continua, a certa altura chorou.
O cosmo vai perdurar, sofrerá uma transformação, mas vai durar (...). Portanto, esta deve ser a nossa visão desde já: as galáxias, o crepúsculo, as flores, os pinheiros, os prados, o céu devem ser admirados com a idéia de que tudo isso permanecerá. Inclusive todas as obras do homem permanecerão, ainda mais se foram feitas por amor, pois assim já estão purificadas, se foram feitas por Jesus dentro de nós e entre nós. E as coisas feitas por Jesus perduram.
E como será o Paraíso? Será como a terra, porém transformada: não se sabe se acontecerá uma espécie de catástrofe, que vai originar uma nova terra e céus novos, ou se sofrerá apenas uma transformação. Temos a propensão de pensar numa transformação desta mesma terra, destes mesmos céus. É o que pensamos.
Estas idéias nos fazem valorizar também a ecologia que no Movimento é muito considerada. Temos que conservar bem a terra, por respeito, dado que também ela tem um papel no futuro.