02 agosto 2020

Ver o próprio irmão

10 de agosto de 1971

       Ao ler com certa perseverança a vida de são Vicente, percebi claramente, num determinado ponto, que ele possuiu o carisma da caridade. Também o trecho a seguir demonstra isso. Embora de origem sobrenatural, a caridade fixou-se em seu coração de carne. Para ele, a caridade deve ser profundamente humana, do contrário, se não for assim, “é” – diz – “ser cristão só de nome”.

       É necessário mesmo “parar” e “sentir” com o irmão. “Fazer-se um” até pôr nos nossos ombros o seu peso doloroso ou assumir juntos aquilo que alegra. […]

       “Não conseguir ver uma pessoa sofrer” – diz – “sem sofrer com ela; vê-la chorar, sem chorar com ela. É um ato do amor que faz os corações penetrarem um dentro do outro e sentir o que o outro sente, bem diferente do modo de agir dos homens que não provam qualquer sentimento em ver o suplício dos aflitos e o sofrimento dos pobres.”

       “Ser cristão e ver o próprio irmão que sofre sem sofrer com ele, sem estar doente com ele, significa ser sem piedade, ser cristão só de nome”.

       Esse trecho me confirma quão verdadeiro é aquele “Coração por coração” de que falei um dia. É necessária a ginástica do coração, além da ginástica da vontade, para amar a Deus e aos irmãos, para possuir aquele verdadeiro amor que conhecemos e que se alimenta no “saber perder”, numa poda contínua; o afeto por tudo aquilo ou por aqueles que não são a vontade de Deus no presente, para que o coração seja puro, mas seja intenso o amor a Deus e a cada irmão.

       Santa Clara, 1971

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