31 agosto 2020

Amor divino e amor humano

O amor sobrenatural, sendo participação do mesmo amor que está em Deus, que é Deus, difere do amor humano de maneiras infinitas, mas é principalmente diferente porque o amor humano faz distinções, é parcial, ama determinados irmãos como, por exemplo, os irmãos de sangue, ou os que são cultos, ricos, bonitos, respeitados, sadios, jovens…; ou os que são de determinada raça ou classe social, mas não ama — ao menos não desse modo — os outros.

O amor divino, ao contrário, ama a todos, é universal.

30 agosto 2020

A primeira qualidade do amor

A primeira qualidade do amor cristão é amar a todos.

Essa arte de amar pretende que amemos a todos, sem distinção, como Deus ama. Não há que escolher entre simpático ou antipático, idoso ou jovem, compatriota ou estrangeiro, branco ou negro ou amarelo, europeu ou americano, africano ou asiático, cristão ou judeu, muçulmano ou hinduísta…

Valendo-nos de uma linguagem bastante conhecida hoje, podemos dizer que o amor não conhece “nenhuma forma de discriminação”.

29 agosto 2020

Arte que exige empenho, arte com fortes exigências…

É uma arte que pretende que se vá além do horizonte restrito do amor simplesmente natural, muitas vezes dirigido quase unicamente à família e aos amigos. Aqui, o amor deve ser orientado a todos, ao simpático e ao antipático, ao bonito e ao feio, ao conterrâneo e ao estrangeiro, de minha religião ou de outra, de minha cultura ou de outra, amigo, ou adversário, ou inimigo que seja. É preciso amar a todos como o Pai celeste que manda Sol e chuva sobre bons e maus.

É um amor que estimula a amar primeiro, sempre, sem esperar ser amado. Como fez Jesus Cristo, o qual deu a vida por nós, quando ainda éramos “maus” e, portanto, não amávamos.

É um amor que considera o outro como a si mesmo, que vê a si mesmo no outro. Dizia Gandhi: “Tu e eu somos uma só coisa. Não te posso fazer mal, sem me ferir”.

Esse amor não é feito apenas de palavras ou de sentimento, é amor concreto. Exige que nos “façamos um” com os outros, que “vivamos”, de certo modo, o outro em seus sofrimentos, em suas alegrias, em suas necessidades, para entendê-lo e poder ajudá-lo com eficácia.

Essa arte pretende que amemos Jesus na pessoa amada. De fato, embora esse amor seja dirigido a determinado homem, a uma mulher em especial, Cristo considera como feito a si tudo o que a eles se fez de bom e de ruim. Ele disse e repetiu, falando da cena grandiosa do juízo final: “Foi a mim que o fizestes… Foi a mim que o fizestes” (cf. Mt 25,40).

Vivida por muitas pessoas, essa arte de amar leva ao amor mútuo: na família, no trabalho, nos grupos e no campo social. Amor recíproco, pérola do Evangelho, Mandamento Novo de Cristo, que constrói a unidade.

São essas as características do amor verdadeiro. São as exigências que o tornam especial e que inferimos do Evangelho. 

28 agosto 2020

Jesus Abandonado, mestre da unidade

No abandono, Jesus é mestre de unidade, da unidade divina.

O Estatuto do Movimento dos Focolares, documentando uma longa experiência de vida, diz que os membros da Obra,

… em seu empenho para atuar a unidade, amam com predileção — e procuram viver em si mesmos — Jesus crucificado que, no auge de sua paixão, ao gritar: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Mc 15,34; Mt 27,46), fez-se artífice e caminho da unidade dos homens com Deus e dos homens entre si.

O amor a Jesus crucificado e abandonado — divino modelo para todos aqueles que desejam trabalhar pela unidade dos homens com Deus e dos homens entre si — leva os membros da Obra àquele desapego exterior e sobretudo interior, que é necessário para realizar toda e qualquer unidade sobrenatural. (Art. 8)

27 agosto 2020

Jesus Abandonado, nosso irmão

No abandono, reduzindo-se Jesus, por assim dizer, a um simples homem, torna-se nosso irmão. Mas, sendo Deus, elevou a nossa convivência a uma fraternidade sobrenatural, fez-nos um com Ele: “Eu neles e Tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade” (Jo 17,23).

Pois, tanto o Santificador quanto os santificados, todos, descendem de um só; razão porque não se envergonha de os chamar irmãos. (Hb 2,11)

Também nós notamos muitas vezes que Jesus, após a ressurreição, chamava os seus discípulos de irmãos.

“Não temais! Ide anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galiléia” (Mt 28,10).

26 agosto 2020

Controle

CONTROLE o tom de sua voz!
Já verificou como é desagradável quando alguém se dirige a você em tom áspero?
Pois faça aos outros o que gosta que os outros façam a você.
Mesmo quando repreender, faça-o com voz calma e educada, como gostaria que o repreendessem quando você erra.
Lembre-se de que, em geral, somos odiados ou amados, de acordo com o tom de voz que empregamos.


25 agosto 2020

Amar a quem?

Rocca di Papa, 12 de fevereiro de 1987

E visto que falamos de próximos, perguntemo-nos: A quem amar primeiro? A quem amar mais? Por quem ter preferência?

Na vida, escolhemos Jesus Abandonado. Devemos ter preferência por aqueles que, pelas situações em que se encontram, lembram de certo modo a fisionomia Dele: todos os que, mesmo sendo católicos, vivem separados da Igreja; e, depois, todos os que, de um modo ou de outro, estão, quem mais, quem menos, afastados da verdade que é Cristo; e chegar até aos que não creem.

Devemos ter em mira, sobretudo esses. […]

Comecemos pelas pessoas que, de certa forma, estão mais distantes de nós.

Então, viveremos não apenas segundo o objetivo geral da Obra, que é a caridade, mas também segundo o objetivo específico do nosso Movimento que é o ut omnes [“que todos sejam um”, cf. Jo 17,21], para cuja realização queremos contribuir, inclusive por meio dos quatro diálogos.

Tenho a impressão de intuir que, nestes tempos, Deus nos impulsiona todos a alcançar tal objetivo. […]

Reavivemos o amor aos irmãos, “fazendo-nos” assim “um” com eles a ponto de viver – por modo de dizer – a vida deles. E comecemos por aqueles que nos parecem mais distantes do nosso modo evangélico de pensar e de viver, pelas pessoas que não têm fé. Comecemos por eles. […] Jesus Abandonado nos espera ali. Ali é o nosso lugar. Para atuarmos isso é que o nosso carisma desceu à terra.

22 agosto 2020

Não a minha, mas a tua

“Não a minha vontade, mas a tua seja feita” (Lc 22,42).        
Esforça-te por permanecer na sua vontade e que a sua vontade permaneça em ti. Quando a vontade de Deus for feita na terra como no Céu, o Testamento de Jesus estará realizado.        
Olha o Sol com os seus raios.        
O Sol é símbolo da vontade divina, que é o próprio Deus. Os raios são essa divina vontade sobre cada um. Caminha para o Sol na luz do teu raio, diverso, distinto de todos os outros, e realiza o particular, maravilhoso desígnio que Deus tem sobre ti.        
Infinito número de raios, todos provenientes do mesmo Sol… única vontade, específica sobre cada um. 
Os raios, quanto mais se aproximam do Sol, mais se aproximam entre si. Também nós, quanto mais nos aproximamos de Deus, pela observância sempre mais perfeita da vontade divina, mais nos aproximamos entre nós.        
Até sermos todos um.

21 agosto 2020

Dá-me todos os que estão sós

Senhor, dá-me todos os que estão sós…      
Senti em meu coração a paixão que invade o teu, por todo o abandono em que nada o mundo inteiro. 
Amo todo ser doente e só: até as plantas sem viço me causam dó…, até os animais solitários.        
Quem consola o seu pranto?        
Quem tem pena de sua morte lenta?        
E quem estreita ao próprio coração o coração desesperado?        
Meu Deus, faze que eu seja no mundo o sacramento tangível do teu Amor, do teu ser Amor: que eu seja os braços teus que estreitam a si e consomem no amor toda a solidão do mundo.

20 agosto 2020

Passarão o céu e a terra

Cada vez mais percebo que “passarão o céu e a terra…” (cf. Mt 24,35), mas o desígnio de Deus sobre nós não passa.        
A única coisa que nos satisfaz plenamente é revermo-nos sempre lá onde Deus ab æterno nos imaginou.  
E ali permaneceremos por toda a eternidade.

19 agosto 2020

Provações interiores

       Havia algum tempo, o Senhor começara a provar alguém entre nós com provações interiores pesadas, com longas noites… Elas não são típicas de nossa espiritualidade coletiva, mas as circunstâncias eram tais que, às vezes, impediam a comunhão entre nós com Jesus em nosso meio que, em geral, tudo resolve. Na solidão, elas não faltavam. Para se ter uma idéia, aqui vão algumas frases a respeito de uma provação:        

… E a noite chegou. Terrível como só quem a experimenta sabe.
       
Ela me tirou tudo: Deus-Amor, como eu o conhecera naqueles anos, a vida física e (a) espiritual. 
       
Faltou-me saúde, do modo mais cruel. A paz me faltou… 
       
Entendi naqueles dias que a caridade era tudo, que a vida era amor. Faltando-me o amor, faltou-me a vida. 
       
Entre dores inenarráveis, aceitei, como só Deus sabe, essa escuridão em que já nada mais tinha valor…

18 agosto 2020

Giordani e a família

 «Principal função da família é crescer e multiplicar: aumentar a vida, cooperar na obra criativa do Criador. A sua unidade não se interrompe, mas aumenta e se prolonga na prole. Na prole o amor dos esposos encarna-se, a unidade torna-se pessoa: pai, mãe, filho, formam uma vida à imagem e semelhança – de alguma maneira – da divindade da qual foram criados e são vivificados. Três pontos pelos quais passa o circuito do único amor, que parte e se alimenta do amor de Deus». (Giordani, 1942).

Ao traçar o perfil divino da família, nesse texto Giordani antecipa o que em seguida será declarado nos textos do Vaticano II, seja salientando o privilégio dos esposos de «cooperar na obra criativa do Criador», seja ao ver a família como espelho da vida trinitária, da qual deriva o seu desígnio. Uma doutrina muito amada por João Paulo II, que a inserirá como tema de suas históricas catequeses sobre o amor humano, na década de 1980.

No dia 23 de junho passado, a Comissão preparatória do Sínodo divulgou o Instrumentum Laboris, objeto de reflexão para os padres sinodais no próximo mês de outubro, para depois propor ao Santo Padre possíveis soluções a serem atuadas em favor da família. O documento, centralizado na vocação e missão da família, inicia com um olhar sobre as múltiplas problemáticas que investem a família hoje e os graves desafio culturais e sociais que a comprometem. Mas tal situação crítica não foi percebida apenas nesses tempos. Em 1975, uma carta do episcopado do Quebec continha uma análise preocupante nesse sentido. A carta tocou profundamente Giordani, ao ponto que citou alguns trechos dela num seu escrito, para depois oferecer a sua mensagem, alta e luminosa, a todas as famílias:

«As dificuldades da vida não esmagam uma família ancorada em Deus; enquanto que, em casos demais, a destroem porque ancorada apenas no dinheiro. A união dos cônjuges é a força deles: mas a união é fruto do amor. Amarem-se, portanto, faz parte do interesse terreno e celeste deles, aproveitando as provações, os sofrimentos, os desenganos, para santificar-se.

O matrimônio não une somente os esposos um ao outro, enquanto esposos, pai e mãe: une-os a Deus. Essa unidade em Deus, do homem e da mulher, dos pais e dos filhos, é o sentido mais profundo do matrimônio e da família». (Giordani, 1975).

17 agosto 2020

A palavra

O Evangelho. A aventura da unidade, iniciada por Chiara Lubich tinha um só “texto”: a Bíblia, o Evangelho, a Palavra de Deus. Para elas, a vida que levava a Deus existia somente nas páginas do Evangelho. Foi naquele período que, não por acaso, tomou corpo uma prática já intuída por Chiara quando era professora, e que se generalizou em todo o mundo do focolare, e não só: a “Palavra de Vida”. Viviam uma frase do Evangelho e a grande novidade, para aqueles tempos, era que Chiara e suas primeiras companheiras, para estimularem-se reciprocamente e crescerem juntas, contavam umas às outras os frutos que a vida da Palavra tinha provocado nelas.

Chiara escreveu: “A guerra continuava. Cada vez que a sirene do alarme tocava, a única coisa que podíamos levar conosco aos refúgios era o pequeno livro do Evangelho. Nós o abríamos, e embora aquelas palavras já fossem conhecidas, pelo novo carisma se iluminavam, como se uma luz se acendesse, os corações se inflamavam e nos sentíamos impulsionadas a colocá-las em prática imediatamente. Todas nos atraíam e procurávamos vivê-las, uma por uma. Por exemplo, eu lia: ‘Ama o teu próximo como a ti mesmo’ (Mt 19,19). O próximo. Onde estava o próximo? Ali, perto de nós, em todas as pessoas atingidas pela guerra, feridas, sem roupas, sem casa, famintas e sedentas. E imediatamente nos dedicávamos a elas, de muitas maneiras.

O Evangelho garante: ‘Pedi e vos será dado’ (Mt 7,7). Pedíamos o que os pobres necessitavam e cada vez recebíamos todo tipo de bens! Coisa extraordinária em tempo de guerra. Um dia, e este é um dos primeiros fatos, que sempre contamos, um pobre me pediu um par de sapatos número 42. Sabendo que Jesus tinha se feito pobre com os pobres, dirigi ao Senhor uma oração. Estava na igreja de Santa Clara, ao lado do hospital que tinha o mesmo nome: ‘Dá-me um par de sapatos número 42, para ti, naquele pobre’. Saindo de lá uma jovem me entregou um pacote, o abri e era um par de sapatos número 42.

Lemos no Evangelho: ‘Dai e vos será dado’ (Lc 6,38). Damos, e toda vez que damos recebemos de volta. Um dia tinha só uma maçã em casa e a demos a um pobre que pediu. Na mesma manhã um parente trouxe uma dúzia. Demos aquelas também para outras pessoas que pediam, e à tarde chegou uma mala cheia de maçãs. Assim, sempre assim.

São fatos, um depois do outro, que surpreendem e encantam. A nossa alegria é grande e contagiosa. Jesus tinha prometido e cumpria a promessa. Ele não é uma realidade só do passado, mas do presente. E a constatação de que o Evangelho é verdadeiro colocava asas no caminho que estávamos iniciando. A quem ficava curioso diante da nossa felicidade em tempos tão tristes, contávamos o que estava acontecendo, e eles percebiam que o que estavam vendo não eram só algumas jovens ou um movimento que nascia, mas encontravam Jesus vivo”.

16 agosto 2020

Jesus Abandonado

 No ano 2000, num discurso, Chiara Lubich recorda a primeira “descoberta” de Jesus Abandonado: «Um fato, acontecido nos primeiros meses de 1944, nos levou a ter uma nova compreensão sobre Ele. Por uma circunstância viemos a saber que o maior sofrimento de Jesus, e portanto o seu maior ato de amor, foi quando, na cruz, experimentou o abandono do Pai: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46). Ficamos profundamente tocadas com isso. E a jovem idade, o entusiasmo, mas principalmente a graça de Deus, nos impulsionaram a escolher justamente Ele, no seu abandono, como caminho para realizar o nosso ideal de amor. Desde aquele momento pareceu-nos encontrar o seu semblante em toda parte».

Outro momento determinante para a compreensão deste “mistério de dor-amor”. Estamos no verão de 1949. Igino Giordani foi encontrar Chiara, que tinha ido para o Vale di Primiero, na região montanhosa do Trentino (Itália), para um período de repouso. Com o primeiro grupo vivia-se intensamente a passagem do Evangelho sobre o abandono de Jesus. Foram dias de luz intensa, tanto que no final do verão, devendo descer daquele “pequeno Tabor” para voltar à cidade, Chiara escreveu, num só ímpeto, um texto que inicia com verso que tornou-se célebre: «Tenho um só esposo sobre a terra, Jesus abandonado… Irei pelo mundo buscando-o, em cada instante da minha vida».

Muitos anos depois ela explicou: «Desde o início entendemos que em tudo existe uma outra face, que a árvore tem as suas raízes. O Evangelho lhe cobre de amor, mas exige tudo. “Se o grão de trigo caído na terra não morre – lê-se em João – permanece só; se morre produz muito fruto” (Jo 12,24). A personificação disso é Jesus abandonado, cujo fruto foi a redenção da humanidade. Jesus crucificado! Ele havia experimentado em si a separação dos homens de Deus e entre si, e tinha sentido o Pai distante. Nós o vimos não apenas nas nossas dores pessoais, que não faltaram, e nos sofrimentos dos próximos, muitas vezes sós, abandonados, esquecidos, mas em todas as divisões, os traumas, as separações, as indiferenças recíprocas, grandes ou pequenas: nas famílias, entre as gerações, entre pobres e ricos, às vezes na própria Igreja, e mais tarde entre as várias Igrejas, e depois ainda entre as religiões e entre quem crê e quem possui uma convicção diferente.

Mas todas estas dilacerações – continua Chiara – não nos assustaram, pelo contrário, pelo amor a Ele abandonado, elas nos atraíram.  E foi Ele que nos ensinou como enfrentá-las, como vivê-las e ajudar a superá-las, quando, depois do abandono, recolocou o seu espírito nas mãos do Pai: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46), dando assim a possibilidade para que a humanidade se recompusesse, em si mesma e com Deus, e indicando-lhe o modo de fazê-lo. Ele manifestou-se como chave da unidade, remédio para qualquer divisão. Era Ele que recompunha a unidade entre nós, cada vez que era rompida. Era Ele que reconhecíamos e amávamos nas grandes, trágicas divisões da humanidade e da Igreja. Ele se tornou o nosso único Esposo. E a nossa convivência com um tal Esposo foi tão rica e fecunda, que me levou a escrever um livro, como uma carta de amor, como um canto, um hino de alegria e gratidão a Ele».

15 agosto 2020

Jesus Abandonado expressão culminante da misericórdia do Pai

É Jesus Cristo quem revela o verdadeiro rosto de Deus (cf. MV 1), quem é para todos nós imagem do Pai, sua expressão, seu esplendor, sua beleza, beleza do seu amor (cf. Jo 14,8-9). Mas até que ponto chegou Jesus a nos amar? Até morrer por nós. De fato, a cruz é o modo mais profundo de a Divindade se debruçar sobre a humanidade (cf. DM 8). No cumprimento do mistério pascal, Jesus vence a dor, o pecado, a morte, e transforma tudo em misericórdia (cf. Rm 5,20) Deus se fez homem para amar – afirma Chiara Lubich – não só com o Amor, mas também com a Dor: assumiu sobre Si “todas as dores do mundo, todas as faltas de unidade do universo e as fez: Amor, Deus!” Ele, cobrindo-Se dos nossos pecados, traduz a dor em amor, traduz a miséria em Misericórdia”. Numa cartinha datada de 1945, Chiara confidencia: “Também eu caio com frequência e sempre. Mas quando levanto o olhar para Ele, e o vejo incapaz de vingar-se, porque está pregado na Cruz por um excesso de Amor, eu me deixo acariciar pela sua Infinita Misericórdia e sei que só ela deve triunfar em mim. Para que serviria ser Ele infinitamente misericordioso? Para quê? Se não fosse pelos nossos pecados?” E num impulso vital, que revela a sua escolha original e a sua consagração a Deus no seu abandono, Chiara exclama: “Quisera testemunhar ao mundo que Jesus Abandonado preencheu todo vazio, iluminou toda treva, acompanhou toda solidão, anulou toda dor, cancelou todo pecado”.

Estes são, em síntese, alguns pontos da espiritualidade traçada por Chiara Lubich, vistos na chave da misericórdia na direção da qual o Ano Santo nos impele a voltar o olhar. Não podemos terminar sem um breve aceno a Maria, mãe de misericórdia e mãe da Obra fundada por Chiara e intitulada a ela “Obra de Maria”. “Uma mãe – afirma Chiara – não deixa de amar o filho se ele é mau, não deixa de esperá-lo se está longe, nada mais quer do que reencontrá-lo, perdoá-lo, reabraçá-lo: porque o amor de uma mãe perfuma tudo de misericórdia. (…) O seu amor, por estar acima de tudo, é um amor que tudo quer encobrir, ocultar. (…) O amor de uma mãe é por natureza mais forte do que a morte. (…) Pois bem, se é assim com mães normais, pode-se muito bem imaginar como é com Maria, Mãe humano-divina do menino que era Deus, e mãe espiritual de todos nós! (…) Mas Deus em Maria deposita o seu desígnio para a humanidade (cf. Lc 1,49); em Maria revela toda a sua misericórdia pelos homens”.

14 agosto 2020

Não alimente inimizades

 Não alimente inimizades!

Procure fazer as pazes com todos aqueles que estão de mal com você.

Aproveite a oportunidade de estar ao lado de seus adversários, para fazer-lhes bem, em troca do mal que lhe fizeram.

Não deixe escapar o ensejo de anular o mal em torno de você, enquanto estiver na Terra, para que, ao sair dela, tenha sua consciência tranquila.

13 agosto 2020

Sementes de comunhão para a humanidade do terceiro milênio

 Trecho de um discurso de Chiara para o congresso “Sementes de comunhão para a humanidade do terceiro milênio”, em junho de 1993


Na sociedade como na família:

(...) É assim que a família se tornará (...) semente de comunhão para a humanidade do terceiro milênio.

 Na família, é natural colocar tudo em comum? Eis a semente que pode desenvolver na sociedade uma economia para o homem. Eis a semente de uma “cultura da partilha”, de uma economia de comunhão.

 Na família, é espontâneo viver um para o outro, “viver o outro”? Eis a semente de acolhida entre grupos, povos, tradições, raças e civilizações, primeiro passo para a inculturação recíproca.

 Na família, a transmissão de valores acontece espontaneamente de geração em geração? Isto pode então servir de incentivo a uma nova valorização da educação na sociedade; e a maneira de corrigir e perdoar na vida de família pode iluminar o modo de conduzir a justiça.

 Na família, a vida do outro é tão preciosa como a própria? Eis então a semente da cultura da vida que deve inspirar as leis e as estruturas sociais.

 A família cuida da própria casa e reflete nela a própria harmonia? Aí está a semente de uma atenção renovada ao ambiente e à ecologia.

 Na família, o estudo tem por objetivo o amadurecimento da pessoa? Esta é a semente que pode dar à pesquisa cultural, científica e tecnológica a capacidade de descobrir gradualmente o misterioso desígnio de Deus para a humanidade e de trabalhar para o bem comum.

 Na família, a comunicação é desinteressada e construtiva? Eis a semente de um sistema de comunicação social a serviço do homem que ressalte e difunda o que há de positivo e seja um instrumento de paz e de unidade planetária.

 Na família, o amor é o vínculo natural entre os membros? Eis a semente de estruturas e instituições que cooperem para o bem da comunidade e dos indivíduos, até chegar à fraternidade universal, valorizando cada povo. (...)

 Deus criou a família como sinal e modelo de toda e qualquer convivência humana. Esta é, portanto, a missão das famílias: manter o amor sempre acesso nos lares, reavivando desse modo aqueles valores que foram doados por Deus à família, para levá-los a toda parte na sociedade, generosamente e sem tréguas. (...)

12 agosto 2020

Venha o Teu reino

 21 de fevereiro de 1967


“Venha o teu reino.”     
“Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus…”
       

Senhor, o que significa isso?
       

Antes de tudo, que Tu reines dentro de mim, senhor absoluto, ocupando tudo e esvaziando a minha cela interior de qualquer outra coisa que não seja Tu, a tua vontade, o teu amor por ti e pelos outros. Para tudo o mais, repetir como quando ainda éramos muito jovens: “O que importa? Amar-te importa!”

11 agosto 2020

Uma resposta de amor

        “A Deus que nos ama imensamente, respondemos procurando amá-lo imensamente. Não teríamos sentido no mundo, se não tivéssemos sido uma pequena chama deste braseiro infinito: amor que responde ao Amor.”

       Assim se expressou Chiara em épocas recentes, relembrando a experiência vivida com as suas primeiras companheiras nas origens do Movimento e “condensando” em poucas palavras a indissolubilidade daqueles momentos primordiais da Espiritualidade da Unidade: descobrir Deus como Amor, escolhê-lo como Ideal de suas vidas e a decisão de – para amá-lo – cumprir a vontade Dele.

       “… Não olhando para as coisas que se veem, mas para as que não se veem; pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno” (2Cor 4,18).

       Foi o ponto de partida do nosso Ideal. Quando vimos que tudo desmoronava – pois, com as circunstâncias (bombardeios da guerra), Deus nos mostrava com fatos a vaidade de todas as coisas –, apegamo-nos a Deus, o único que não podia ser atingido. Então, fizemos Dele o Ideal da vida.

       Queríamos tornar nossa vida coerente com o Ideal abraçado, absolutamente coerente, sem concessões ou reservas. Por isso, perguntamo-nos o que deveríamos fazer.

       O primeiro mandamento (“Ama-me com todo o coração, com toda a alma…”) mostrou-se-nos novo em seu significado, e lógico. Deus devia ser amado com todo o coração […] pois teria sido um absurdo colocar o coração, e a mente, e as forças, em outras coisas. Tudo passava. […]

       Logo entendemos que amá-lo não significava apenas um sentimento, mas uma ação.

       E o Evangelho confirmava: “Quem me ama, observa a minha Palavra”.

       Fazer a vontade de Deus foi a expressão prática do nosso amor a Ele.

       Fizemos imediatamente unidade entre a nossa vontade e a vontade de Deus. Queríamos a vontade de Deus. Nossa única vontade era a vontade de Deus.

10 agosto 2020

A secularização

Mais ainda: aquele relaxamento, onda longa da secularização que corrompeu a moral e transviou diversos filhos da Igreja, até entre os melhores. E ainda hoje — embora menos do que ontem — sacerdotes e religiosos se laicizam, e freiras deixam os conventos: imagens em que não podemos deixar de vislumbrar Jesus Abandonado, no qual o divino está totalmente oculto.        

Esses e outros filhos, por exemplo, entre os consagrados, que abandonam os seus compromissos, ferem a Mãe-Igreja, empobrecendo-a em si mesma com a perda de quem fora escolhido e mandado para anunciar o Evangelho, decalcando no rosto dela o de Jesus Abandonado, a Verdade que cala. 
       

E ainda, especialmente no Ocidente, mas não só ali, a difusão de idéias que ameaçam a fé pela raiz confinando a religião no âmbito do particular, pondo dúvida em tudo e em todos: outra expressão de Jesus Abandonado, imagem aqui da insegurança. 
       

Por fim, se é que se pode falar de fim dessas coisas, o consumismo, triunfo do ter que deixa os pobres sempre mais pobres, como Jesus Abandonado, imagem dos pobres que se sentem enterrados cada vez mais numa pobreza sem fundo. Consumismo tão distante de Jesus Abandonado, reduzido a nada, a vazio, triunfo do ser, do ser amor

09 agosto 2020

Vai além da natureza

CHIARA LUBICH:«“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19). É uma tensão contínua porque a nossa natureza ama a si mesma.
Não raro, a imprensa noticia desastres, terremotos, ciclones que fazem vítimas, feridos, desabrigados.
Entretanto, uma coisa é estar entre eles, outra é não estar.
E, mesmo podendo oferecer algo para socorrer os outros, nós não somos eles.
Amanhã, poderá acontecer o contrário: eu, num leito de morte (se me for dado um leito!), e os outros lá fora, ao sol, gozando a vida como podem.
“Ama o teu próximo como a ti mesmo”: tudo o que Cristo nos mandou fazer vai além da natureza.
Mas também o dom que Ele nos fez, o dom de que falou à Samaritana, não é de natureza humana.
Por isso, é possível o vínculo com a dor do irmão, com a alegria e com as preocupações do outro, porque temos em nós a caridade, que é de natureza divina.
Com esse amor, ou seja, com o amor cristão, o irmão pode ser realmente confortado e, amanhã, eu posso ser confortado por ele. Assim é possível viver, pois, do contrário, a vida seria bem dura, difícil, e às vezes poderia parecer impossível».

08 agosto 2020

O amor vence tudo

CHIARA: «A certa altura, ressoa em mim uma frase, que é aquela que desejo deixar para vocês: "O amor vence tudo!" Eu disse: "Também isso o amor deve vencer? Também isso!" Na manhã seguinte nos dirigimos para a nossa casa. Ela estava semidestruída. Eu não tinha dito nada aos meus pais. Subi as escadas todas quebradas e encontrei meu pai. Eu me ajoelhei na sua frente e lhe disse: "Papai, eu não posso partir com vocês!" Meu pai compreendeu e disse: «Filhinha, eu lhe dou a minha bênção".
De manhã meus pais caminharam na direção das montanhas e eu na direção da cidade. As árvores estavam caídas, as casas destruídas e recordo que veio na minha direção uma mulher que saía de uma dessas casas. Ela me pegou pelos ombros e me disse: "Quatro dos meus morreram! Quatro dos meus morreram!" Eu, que ainda estava chorando por causa dos meus pais, enxuguei as lágrimas e compreendi: "Esqueça do seu sofrimento e se dedique ao sofrimento da humanidade". E assim o Movimento foi em frente!
Porém, o que resolveu esta situação foi a frase: «O amor vence tudo». Ela também ajudará você: "O amor vence tudo"». 

(A Noite de "Estrelas e Lágrimas": O Amor vence tudo. Chiara Lubich aos estudantes no Colégio "Maria, sede da sabedoria", Fontem (Camarões, 15 de maio de 2000)

07 agosto 2020

A primeira qualidade do amor

       A primeira qualidade do amor cristão é amar a todos.

       Essa arte de amar pretende que amemos a todos, sem distinção, como Deus ama. Não há que escolher entre simpático ou antipático, idoso ou jovem, compatriota ou estrangeiro, branco ou negro ou amarelo, europeu ou americano, africano ou asiático, cristão ou judeu, muçulmano ou hinduísta…

       Valendo-nos de uma linguagem bastante conhecida hoje, podemos dizer que o amor não conhece “nenhuma forma de discriminação”.

       

06 agosto 2020

A caridade

       Amar. Deus convoca todos os cristãos a amar. É porque, no cristianismo, o amor é tudo.

       Santo Agostinho, mestre da caridade, diz em tom muito forte:

       “Só o amor diferencia os filhos de Deus…

       Se todos fizessem o sinal da cruz (que é um ato religioso), se todos dissessem amém e cantassem o aleluia (ou seja, se praticassem as liturgias, que são muito importantes, mas só fizessem isso…); se todos recebessem o batismo e entrassem nas igrejas, se mandassem erguer as paredes das basílicas, permaneceria o fato de que só a caridade distingue os filhos de Deus…

       Quem possui a caridade nasceu de Deus, quem não a possui não nasceu de Deus. Eis o grande critério de discernimento.

       Se tu tivesses tudo, mas te faltasse essa única coisa, de nada serviria o que tens. Se não tens outras coisas, mas possuis essa, cumpriste a lei…”

05 agosto 2020

O pão de cada dia

       “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.”
      (Mt 6,11)

       Hoje. Tu queres mesmo que vivamos a teu modo, Senhor!

       Mas quem, no mundo, quem vive o hoje e só para o hoje, entregue ao futuro como os passarinhos livres, para os quais Tu provês o que comer e vestir?

       Viver para o hoje simplifica, mas também aterroriza o nosso ser humano, que preferiria entregar-se a um amanhã seguro. No entanto, o amanhã poderia não existir… e Tu, Senhor, nos queres vigilantes, pois nos chamarás a ti numa hora e num dia para nós desconhecidos, e não podes contradizer-te.

       Dá-nos, então, a graça de viver bem cada dia que dispuseste, pela vida que nos resta.

04 agosto 2020

O Mandamento Novo, raiz de um novo caminho

       No decorrer dos anos, Chiara Lubich retornava com insistência e de várias maneiras à sua redescoberta de Jo 13,34, para ser fiel à luz recebida. Vivendo o Mandamento Novo com seu Movimento, compreendia e explicava a importância e a novidade dele. E também enxergava a sua manifestação em muitos “sinais dos tempos”.

       De um discurso aos dirigentes do Movimento dos Focolares

       Chiara ressalta que é Cristo em nós que ama com a caridade.

       Rocca di Papa, 24 de outubro de 1978

       O Senhor usou de toda uma pedagogia para nos ensinar a amar o irmão, permanecendo no mundo sem ser do mundo. De imediato, fez-nos entender que era possível amar o irmão, sem cair no sentimentalismo ou em outros erros, por que Ele mesmo podia amar em nós, com a caridade. […]

       A caridade é uma participação no “ágape” divino. […]

       Depois de ter dito que Deus nos amou, são João não conclui – como teria sido mais lógico – que, se Deus nos amou, devemos amá-lo em troca, mas diz: “Caríssimos, se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo 4,11).

       E, somente porque a caridade é participação no “ágape” de Deus, podemos ultrapassar os limites naturais e amar os inimigos, e dar a vida pelos irmãos.

       É por isso que o amor cristão é próprio da era nova, e o mandamento é radicalmente novo e introduz uma “novidade” absoluta na história humana e na ética humana. Como escreve Agostinho: “Este amor nos renova, para que sejamos homens novos, herdeiros do Testamento Novo, cantores do cântico novo” (cf. Io. Evang. tract. 65,1; PL 34-35).

03 agosto 2020

O nosso guia

Rocca di Papa, 30 de dezembro de 1975
    Aos focolarinos/as externos

   
    Enzo: Jesus no meio é preciosíssimo. Você disse em Loppiano que devemos ser apegadíssimos a Ele. Pode nos dizer, já que estamos prontos a dar a vida a fim de tê-lo entre nós, como podemos estar certos de que é Ele que nos guia, que é realmente Ele que estamos seguindo?”

    Chiara: Vocês podem ter essa certeza quando são unânimes, quando estão de acordo também com o pensamento, quando, ao decidirem uma certa ação juntos, um certo modo de agir, algo a ser feito, a ser atuado, todos vocês estão de acordo. Em resumo, vocês reúnem as suas ideias, quando surge aquela ideia que vai bem para todos, aquela vem de Jesus no meio. Entenderam? Ele traz a unidade de mente, a unidade de coração, de vontade e também a unidade de mente na ação, porque imagino que vocês querem saber, quando estão juntos, como fazer, por exemplo, para realizar um encontro para os gen ou então outra reunião na Mariápolis… Um dá uma ideia, outro dá outra ideia: “Façamos uma coreografia; cantemos uma canção; façamos uma dança;...”. “Mas a dança não pode ser, porque falta a parte, mas...”. E vai, vai, vai…!    Conversam, conversam, Jesus os guia, os guia, até que encontram a estrada. Assim estão certos de que caminham com Jesus no meio. E este fato já é uma boa preparação, porque, agindo assim, vocês sabem como fazer a vontade de Deus que lhes foi manifestada na preparação.

02 agosto 2020

Ver o próprio irmão

10 de agosto de 1971

       Ao ler com certa perseverança a vida de são Vicente, percebi claramente, num determinado ponto, que ele possuiu o carisma da caridade. Também o trecho a seguir demonstra isso. Embora de origem sobrenatural, a caridade fixou-se em seu coração de carne. Para ele, a caridade deve ser profundamente humana, do contrário, se não for assim, “é” – diz – “ser cristão só de nome”.

       É necessário mesmo “parar” e “sentir” com o irmão. “Fazer-se um” até pôr nos nossos ombros o seu peso doloroso ou assumir juntos aquilo que alegra. […]

       “Não conseguir ver uma pessoa sofrer” – diz – “sem sofrer com ela; vê-la chorar, sem chorar com ela. É um ato do amor que faz os corações penetrarem um dentro do outro e sentir o que o outro sente, bem diferente do modo de agir dos homens que não provam qualquer sentimento em ver o suplício dos aflitos e o sofrimento dos pobres.”

       “Ser cristão e ver o próprio irmão que sofre sem sofrer com ele, sem estar doente com ele, significa ser sem piedade, ser cristão só de nome”.

       Esse trecho me confirma quão verdadeiro é aquele “Coração por coração” de que falei um dia. É necessária a ginástica do coração, além da ginástica da vontade, para amar a Deus e aos irmãos, para possuir aquele verdadeiro amor que conhecemos e que se alimenta no “saber perder”, numa poda contínua; o afeto por tudo aquilo ou por aqueles que não são a vontade de Deus no presente, para que o coração seja puro, mas seja intenso o amor a Deus e a cada irmão.

       Santa Clara, 1971

01 agosto 2020

Quando, tendo conhecido Deus…

       Quando, tendo conhecido Deus, não tivemos o merecimento de sua luz, porque não fomos vigilantes no amor e nos deixamos abater pela cruz sem desfrutar da graça, a alma tateia no escuro e na angústia, e o procura.

       Procura o Amor, clama por Ele, por Ele implora, grita às vezes e geme. Mas não o encontra. Não o encontra porque não ama.

       Deus não cede. Ele tem uma lei imutável. Passarão o céu e a terra (cf. Mc 13,31). E são palavras suas sem exceções.

       A alma não tem direito ao amor antes de amar. Recebe amor quando tem amor para dar.

       Deus a criou à sua imagem e semelhança e nela respeita a dignidade com que a revestiu.

       É ela que há de tomar a iniciativa e amar, como que por primeiro, correspondendo à graça. Então Deus vem, manifesta-se a quem o ama, dá a quem tem e este continuará na abundância.

       A alma que ama participa de Deus e sente-se rainha. Nada teme. Tudo para ela adquire valor.

       Passa-se da morte para a vida quando se ama.