29 janeiro 2020

Entre ceia e a cruz

      A dupla ligação com a Eucaristia e com a paixão redentora dá a esse longo texto de João uma importância decisiva, pois dá sentido profundo à instituição da Eucaristia e à Paixão redentora. É uma espécie de oferta antecipada do sacrifício da cruz, mas com a solenidade de uma oração sacerdotal, complexa e rica; nessa oração Cristo revela a nós o sentido profundo da sua doação ao Pai, por nós, no sacrifício da cruz. É como a oração que nosso sacerdote, Cristo, dirige ao Pai para exprimir com uma riqueza imensurável o sentido do seu sacrifício, antecipado nos gestos da Última Ceia.
      Mesmo João não tendo incluído no relato da Última Ceia a instituição da Eucaristia, é convicção de alguns exegetas que os cinco capítulos da Última Ceia têm um caráter tipicamente eucarístico: do lava-pés à promulgação do novo mandamento, da imagem da videira e dos ramos à oração da unidade; tudo nesses capítulos tem sabor eucarístico. De fato, nesses ensinamentos João focaliza o sentido profundo da Eucaristia vivida, as consequências de uma verdadeira vida eucarística, como um necessário complemento a tudo o que os Sinóticos e Paulo nos revelaram a propósito da Eucaristia.
      Ao mesmo tempo, no capítulo 17 de João, encontramos resposta a uma série de perguntas: com que sentimentos Cristo enfrenta a sua paixão? Com que atitudes Ele está para oferecer o seu sacrifício? Essa oração mostra totalmente a alma de Jesus, revela profundamente os seus sentimentos, diante do Pai e diante dos seus discípulos, na iminência de sua paixão e morte, que Ele vive não só com absoluta liberdade, mas também como um dom livre e total de sua vida em sacrifício.

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