Durante a instituição da Eucaristia, como foi transmitido pelos vários textos dos Sinóticos e de Paulo, Jesus “bendisse”, “deu graças” (Mt 26,26.27; Mc 14,22.23; Lc 22,19; 1Cor 11,24). Tais gestos e palavras de Jesus recordam-nos o gesto da bênção, mas não nos transmitem as palavras precisas que Jesus dirigiu ao Pai.
Sabe-se como a esse propósito as hipóteses dos estudiosos são diferentes, segundo a colocação da Última Ceia no âmbito de uma verdadeira ceia “pascal” ou de uma cena de adeus.
O que Jesus disse ao “bendizer” ou “dar graças”, tendo em suas mãos o pão e depois o cálice? Terá Ele pronunciado as palavras rituais que o pai de família usava ao presidir a ceia, segundo a tradição, e das quais temos traços na berakáh dos alimentos ou na grande oração da Páscoa? Ou será que Jesus, consciente da iminência de sua hora, rezou de maneira totalmente original, com palavras próprias, indicadoras do que Ele estava para cumprir na Ceia e na cruz? Tomo esta hipótese como a mais provável.
São Basílio já se exprimia a esse propósito, com certo pesar, aludindo talvez ao fato de nenhum santo ter conservado as palavras da oração do Senhor ao bendizer o pão e o cálice: “Que santo nos deixou escritas as palavras da epíclese, no momento da consagração do pão da Eucaristia e do cálice da bênção?”
No entanto, temos uma grande oração de ação de graças e de bênção, registrada na longa e bem articulada oração que é o capítulo 17 de João, que podemos muito bem inserir no contexto eucarístico. Trata-se de uma oração que se expressa em tom eucarístico pleno. Ela revela a psicologia de Jesus, a sua relação íntima com o Pai, os sentimentos com os quais se prepara para doar a vida pelos seus, ao passar deste mundo ao Pai.
É uma oração que resume quais poderiam ter sido os sentimentos de Cristo na instituição da Eucaristia e na proximidade da sua Paixão. Uma oração, obviamente, relida por João, como, aliás, toda a Paixão de Jesus, com uma particular visão de vitória suntuosa e de glorificação do Pai.
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