A oração de Jesus é antes de tudo uma oração filial, feita em alta voz, diante do Pai e dos discípulos. Essa dimensão filial aparece nas seis vezes que ressoa intensa a palavra “Pai”, duas delas acompanhadas de qualificação: “Pai santo”, “Pai justo”.
Constitui, também, uma oração na qual os discípulos são envolvidos, quase imersos, no mesmo círculo de amor trinitário: um dom do Pai a Jesus, um dom de Jesus ao Pai. Eles participam do mesmo dinamismo de amor (“como” Tu me amaste), ainda de modo precário, mas que se tornará definitivo na glória. E com os discípulos são envolvidos todos os fiéis, de todos os séculos… No olhar de Jesus a oração atravessa os séculos e chega até nós.
É oração sacerdotal, oração de mediador. Jesus coloca-se entre o céu e a terra, com o Pai e com os seus… Há uma referência clara à oblação do supremo sacrifício. É uma oração de oblação de si mesmo. Jesus oferece uma interpretação sacerdotal e sacrifical da sua iminente Paixão, antecipa na oração a sua oblação futura. Essa oração entre a Ceia e a cruz é como a oração do Sumo Sacerdote no dia da expiação no Sancta Sanctorum, segundo uma bela intuição de Edith Stein. Essa oração dá valor à Ceia e à cruz, à Eucaristia que Jesus instituiu e à cruz que é a realização do corpo entregue e do sangue derramado.