27 dezembro 2016

Este Deus desconhecido

            Quando o barquinho da vida faz água e a tempestade o ameaça, pronunciamos um nome que aflora aos lábios de quem sofre, até mesmo no derradeiro suspiro: mãe.
            Não denota sempre a mãe terrena; aliás, para a pessoa um pouco familiarizada com as coisas eternas, significa Maria.
            Isto é tão real que, freqüentemente, “mãe” é o grito dos corações de Deus nos momentos da provação. “Mãe”!
            Eis aqui o segundo milagre de amor, depois da redenção: um Deus encarnado e uma Mãe para todos.
            Nela, toda a esperança para o cristão.
           
Muitas vezes ocorre-nos perguntar: como fez Maria para viver na terra, sem perder, nas longas agonias do seu coração traspassado, chamar uma,  Mãe? E o enxerto direto de seu espírito com Deus mostra o esplendor único, a grandeza, a singularidade daquela que é “elevada mais do que criatura”. Deus – sem dúvida – como para nós, e bem mais, foi o consolo do seu coração.
             É possível que ela amasse alguém que lhe configurasse com mais propriedade – como para nós ela mesma, Maria – a identificação com o amor? Imagino que algo parecido e mais, infinitamente mais, do que encontramos em Maria, tenha ela – em sua labuta terrena a serviço do Pai, ocupando-se do filho - encontrado repouso e refrigério, força e audácia, capacidade de viver, quando outras mortes a teriam esmagado, n’Aquela que sustentou a Igreja em sua época e em toda as épocas: o Espírito Santo.
             O Espírito Santo, este Deus desconhecido, que, em nossa prestação de contas final, perceberemos, com infinito pesar, não termos talvez suficientemente amado, e venerado, e agradecido.

            Ele, a alma do corpo místico de Cristo, a firmeza dos mártires de todos os tempos, a fluência das águas vivas de todo sábio, a luz dos enviados de Deus, a certeza dos papas, o mestre dos bispos, o amigo dos ministros, o perfume das virgens.

Ele conviveu com a imaculada encontrando as suas delícias em plasmar, escondido,  a flor das flores, e Maria, n’Ele e por Ele, elevou o anseio traduzido pelo coração humano com o doce termo “Mãe” à altura mesma de Deus.

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