28 dezembro 2016

Deus

O Movimento começou com este grande nome que resumiu toda a sua vida: Deus!
Deus – a Trindade – mostrou-me como o sol no alvorecer de um mundo que reencontrava a paz depois do fragor da guerra; e ofereceu a nós, seus filhos, uma vida mais divina do que aquela que já levávamos, mais cristãmente coerente, mais íntegra.
Outras jovens tinham sido chamadas, em lugares, tempos e circunstâncias diversas ao mesmo ideal. Entre estas recordávamos com freqüência Clara de Assis.
“ Filha, o que desejas?”  - perguntou-lhe Francisco quando ela, aos dezoito anos, fugira de casa para seguir o Senhor. “Deus!”  - respondeu.
Deus, esta única, infinita realidade, devia resumir também para nós, sob o impulso da graça, todas as nossas aspirações, num desejo ardente de sermos fiéis a ele por toda a vida, como foram os santos.
Deus, portanto, e nada mais, pois qualquer outra pessoa ou coisa teria diminuído o encantamento do chamado divino.
Deus, que para nós foi logo, desde o primeiro instante, sinônimo de amor: o Amor!
Assim o apresenta a Escritura: “Deus é Amor”.
Deus, tudo para nós. Deus Amor. Foi uma grande novidade  para a nossa rotineira vida espiritual, uma novidade tão grande que operou uma verdadeira conversão.
Antes, de fato, embora procurássemos ser boas cristãs e estar na graça de Deus, vivíamos como órfãs, como pessoas que tinham pai e mãe, mas... somente terrenos. Depois, tendo conhecido de um modo novo Deus Amor, sentimo-nos mais conscientemente filhas do Pai que está nos céus. E duma certa maneira pudemos repetir com Francisco de Assis: “ Não mais pai Bernardone, mas Pai nosso que estais nos céus”.
Ia-se delineando para nós uma relação entre céu e terra, um novo acorde entre filhos e Pai. Foi o desenvolver-se de uma nova fé. Não se tratava somente da fé no seu amor; por isso, nada nos parecia mais adequado para a vida que estávamos iniciando do que a frase: “E nós acreditamos no Amor”.  Esta fé no amor de Deus por nós, cada um de nós, por todos, pela humanidade inteira, iluminou toda a nossa futura existência.
Deus nos amava! Ele era o nosso criador. Era quem nos sustentava momento por momento. Ele o tudo!... Nós não teríamos nenhum sentido no mundo se não fôssemos uma pequena chama desta Chama infinita – amor que responde ao Amor.
E pareceu-nos tão sublime a dignidade a que nos elevara, tão alta e imerecida a possibilidade de ama-lo que repetíamos: “Não se trata de dizer: Devemos amar a Deus; mas: “Oh! Poder-te amar, Senhor... poder-te amar com este pequeno coração!”.
E nos esforçamos para ser coerentes. Com o passa dos dias, das semanas, dos anos, pareceu-nos que ele não quisesse deixar-se vencer em generosidade.
De fato, talvez porque, como afirma a Escritura,  “ a quem me ama, manifestar-me-ei”, aos poucos Deus foi-nos revelando os tesouros semeados por ele próprio aqui na terra, por amor a nós, e a sua presença única e multíplice neste lugar de exílio à espera do céu, presença que nos esclareceu sempre mais como é infinito o seu amor e como são inumeráveis os recursos da sua paternidade. Indicou-nos onde encontrá-lo, para nos assemelharmos a ele e de que maneira possuí-lo; em suma, indicou-nos de que modo e com que meios poderia nascer ou amadurecer a união das nossas almas com ele e dele com as nossas almas.
E não nos chamou para viver num mosteiro, nem em clausura, mas onde mais reina o príncipe do mundo e dominam as trevas: “Pai, não peço que os tires do mundo, mas que os preserves do mal”.
Descobrimos, então, como crianças ao abrir os olhos, que a vinda de Deus sobre a terra por nosso amor mudara radicalmente o mundo: ele tinha ficado.
Caminhando ou viajando, não éramos atraídas pelo que acontecia ao nosso redor embora bonito e interessante. A própria Roma, por exemplo, não nos atraía só por seus maravilhosos monumentos e pelas preciosas relíquias. Os eles que ligavam o nosso caminhar por ele no mundo eram Jesus nos tabernáculos que encontrávamos.
De tal forma que cada Igreja que víamos da janela de um trem se tornava “casa” para a nossa alma.
E quando tínhamos a possibilidade de visitar algum santuário, ou a Terra Santa, que viu nascer e morrer o Salvador – lugares estes que desejávamos nunca mais deixar – quem dava alento ao nosso caminhar era Jesus na Eucaristia, presente me todas as partes do mundo, presente da mesma maneira tanto na capela de uma aldeia como na majestosa catedral duma importante cidade: ele, luz aqui e ali acendida pelo seu amor; conforto para jovens, pobres e ricos, cultos e ignorantes: Irmão universal, o mesmo para todos, que enxugava as lágrimas, que revigorava os corações, que dava o seu Espírito aos que vivessem segundo a sua lei.
Não era, portanto, tão mau assim o mundo! Jesus Eucaristia tornava-o um enorme convento e se oferecia à fome de divino que pode surgir em cada um de nós.
            E ainda mais: cada irmão – a colega de classe, o mendigo, a mulher da feira, o deputado, a criança, o doente – sob a ação da graça, mudemos a reconhecer e amar em cada próximo um membro do Corpo místico, Cristo nele. E aconteceu então que todo aquele que podia impedir o caminho rumo a Deus se tornava uma porta para encontrá-lo.
Os livros santos tinham prometido: “ Passamos da morte à vida porque amamos os irmãos”. E quanto mais se amava Cristo em todos, com o despojamento de si mesmo, mais o coração se plenificava de divino; mais facilmente, à noite, durante a oração, o Senhor nos fazia senti a sua doce presença na alma. Esta foi uma experiência que nos fez entender o quanto é agradável a Deus a caridade e como o amor fraterno é a flor do Evangelho.
Havia também irmãos nos quais Deus não devia se apenas amado, mas também obedecido. Tratava-se de pessoas que de um modo especial  o representavam: os nossos superiores eclesiásticos, os bispos, os assistentes, escolhidos com mão amorosa pela Igreja. Eram os pastores e nós as ovelhas.
E o efeito nas nossas almas e em toda a Obra, produzido por este esforço de viver como filhos de Deus na Igreja, esposa de Cristo, como ramos junto à videira, foi este: com o tempo, pareceu-nos que a própria Igreja palpitasse nos nossos corações, capazes somente de sentir com ela e de participar das suas lutas e vitórias, desejosos até mesmo de derrama o próprio sangue, unicamente pelo triunfo da Igreja.
E depois: Deus no nosso meio. Durante os primeiros dias, quando nos esforçávamos por atua as palavras de Jesus: “Onde dois ou três estão unidos no meu nome, aí estou eu no meio deles”, parecia que  o céu nos envolvesse, que o paraíso estivesse no nosso meio. Jesus retornava espiritualmente entre nós, irmãos nele, e, como Emaús, acendia os corações com uma chama que o mundo não conhecia, fazendo empalidecer homens e coisas, pondo em evidência somente o que é grande, belo e bom perante Deus.
Jesus entre os cristãos nos parecia um templo que podia erguer as colunas – os corações dos seus filhos – em toda parte, e oferecer o bálsamo de um tabernáculo espiritual, tanto numa rua barulhenta como nas terras pagãs supersticiosas ou num cárcere de perseguição.
Jesus é sempre vida e plenitude, alegria e paraíso, guia e mestre – o nosso amor recíproco podia ser a poderosa causa que o O tornava presente. Dizíamos entre nós: ! Se colocarmos vários pedaços de madeira entrecruzados e os acendermos no cimo de um monte, aquele fogo será visto de noite por todos os habitantes do vale e resplandecerá como uma estrela caída na terra; mas se dispusermos os nossos corações em unidade, amando-nos como ele nos amou, teremos o próprio Fogo, o Amor entre nós, e poderemos ser instrumentos de Deus para muitas almas”.
Deus, portanto encontrado na Eucaristia, amado no irmão, obedecido nos superiores, Deus espiritualmente presente no meio de nós. E Deus, infinito, que habita pela graça no nosso coração finito. Era necessário ajudá-lo a reinar com a sua majestade, a destruir o nosso eu e a transformar-nos nele.
E, ainda, Deus nas Escrituras, colhido e meditado sob ação do Espírito e a orientação da Igreja: a Escritura, fonte inesgotável da qual hauriram e hão de haurir a vida, até o fim do mundo, todos aqueles que o querem amar; a Escritura, que também Maria Santíssima, a nossa mãe, meditava. Desejávamos imitar Maria, que ficou no mundo, e como ela tornar-nos portadores de Deus aos irmãos, portadores de Deus no mundo.

Deus, Deus, Deus em qualquer lugar e sempre, a preencher o vazio deixado pelo pecado e superabundantemente  plenificado pelo sangue de Jesus. Deus que é Amor: este Ideal é o objetivo e finalidade da nossa vida de focolarinos.                     

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